
Daí a importância do desgosto, como privação daquilo de que gostamos, sem previamente nos adaptarmos. O que deixa de existir ou é adulterado e deixa repentinamente de ser “objecto de gosto” é a fonte do desgosto.
Uma das formas de não sofrermos desgostos é lutarmos para que as coisas não deixem de existir tal qual gostamos delas, mas isso é impraticável. Outra é virmos adaptando o nosso gosto à medida da deterioração dos “nossos” objectos. Só que esse não é, não pode ser, o nosso caminho, enquanto tivermos forças para tal.
Tudo nos leva a apurar o nosso gosto e a termos cada vez mais desgostos. E a termos de suplantar este estado de “expectativa do desgosto”.
Uma das formas para ultrapassar esta situação é seleccionarmos aquilo de que mais gostamos, que nos poderia causar maior desgosto, e desligá-lo desta situação imponderável, passando-o à categoria de “objecto de amor”.
Por exemplo, eu não gosto, eu amo Ponte de Lima.
Como readquirir agora o gosto sem querer ser expectante do desgosto?
Mas como, se, como qualquer português, sou leviano e imprevidente?
Afinal o que melhor caracteriza o português não é ser triste, é ser um “expectante do desgosto” e o prazer que tem em que os outros sejam assim.
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