30 abril 2008

O pior da política local talvez more por aqui

Nós, que tão exigentes nos mostramos perante o governo central, somos de uma permissividade confrangedora em relação ao poder local. Quase todas as pessoas têm a convicção que é praticamente impossível ganhar o poder local, a não ser que quem o detém o perca. Quem lá está terá que cometer uma grande barbaridade para o perder.
Acho que se enquadra muito bem nesta categoria o tipo de atitudes que o Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Defensor Moura, tem vindo a praticar. Rejeitar a adesão a uma associação intermunicipal imprescindível para enquadrar uma série de projectos que há que desenvolver a bem desta terra já tão prejudicada é perfeitamente lamentável.
Defensor Moura pretende enganar o eleitorado do seu concelho apresentando-se como defensor irredutível das suas prerrogativas como o maior concelho do Alto Minho. Só que não apresenta qualquer caso em que por efeito das regras que presidirão à Comunidade Intermunicipal do Minho-Lima possa vir a ser prejudicado. As regras da associação em que actualmente está integrado, a Valimar, não lhe dão maior poder.
O medo de Defensor Moura é não poder manipular os outros cinco municípios como o faz em relação aos da sua associação. A sua política é a da facilidade, não quer arriscar, sente-se bem com o Daniel Campelo, ainda se não sabe se este o vai apoiar, mas para já há uma aliança que só tem de estranho o facto de serem de partidos diferentes.
Estes políticos que gostam de obter vantagens à margem do jogo democrático estavam bem no mesmo partido. Já houve quem lhe chamasse do queijo limiano, mas acho que devem ser eles a escolhê-lo. Mas os partidos decentes têm de se livrar de gentes desta.

29 abril 2008

A última oportunidade para o PSD, tal como existe, dizer que Estado quer

É natural que um certo frenesim venha a tomar conta da campanha eleitoral de alguns concorrentes à liderança do PSD. No entanto para já existe uma estranha calma, quase só perturbado por uma espécie de ressonar vindo do lado de lá da Madeira. È um ressonar nervoso, não vá o homem sofrer algum ataque cardíaco. Nós queremo-lo vivo.
No fundo, como ninguém quer romper com uma prática, como não há para aí tantas ideias como seria desejável, o melhor era o João avançar, teríamos talvez algo a ganhar em o ver ao leme deste País, pelo menos virtualmente, para avaliar os seus méritos e afinal a têmpera do País, se este se deixa manipular por alguém com as suas características.
Manifestar medo em relação a este demagogo é não acreditar em nós mesmos para desmascarar a sua pouca consistência e na melhor das hipóteses para ele na capacidade das restantes instituições para controlar as suas tentativas de subversão do regime.
A manterem-se as coisas como estão, arriscamo-nos a ver os mais aguerridos a reservarem-se para outra ocasião e a preferirem o discurso delicodoce do Passos Coelho para ultrapassarem esta fase mais complicada. Por este andar só nos vamos limitar a ver um pouco já fora do contexto a discussão que Santana Lopes e Ferreira Leite desejaram ter em meados de 2004 sem que essa oportunidade se apresentasse.
Será que Sócrates nada fez entretanto? Sem dúvida que lhes amaciou o caminho, clarificou a situação financeira do Estado, definiu melhor as funções do Estado, reduziu os poderes cooperativos, tornou mais claro o papel dos lobbies. Sócrates não quebrou espinhas, não anulou todas as prepotências existentes na nossa sociedade mas retirou obstáculos a uma reestruturação do Estado. Seria interessante saber o que estes dois propõem.

28 abril 2008

A última cartada de muita gente

O alargamento do tempo de campanha eleitoral para a liderança do PSD pode vir a revelar-se um penoso percurso que os candidatos têm que percorrer. Não se sabe bem o que de novo eles venham a dizer, nem que diferenças vão manifestar durante os debates directos ou indirectos que se seguirão. Mas pelo menos alguns vão-se sentir cansados.
Até João Jardim vai ter tempo para pensar e repensar que não está posta de parte a hipótese de ele avançar, mesmo que à última hora. Aliás retirando um certo fraseado típico de JJ podemos dizer que ele já é candidato embora o seja com fortes possibilidades de desistir à última hora. Tudo dependerá de ele antes querer jogar a sua última cartada agora ou depois das eleições de 2009.
O problema para a maioria deles está mesmo em ser a última cartada. Mesmo que subitamente muitos entenderam que tinham que ir a jogo, que não havia mais hipótese de adiar, como vão ter que dar tudo por tudo, apertados que estão contra a parede. A parede do seu tempo e a parede da ambição do partido de chegar ao poder. João Jardim ao colocar a sua candidatura com os condicionantes que apresenta é o único que pode protelar até depois das eleições de 2009 a última oportunidade da sua vida. E em certo sentido Passos Coelho, neste dependendo dos votos que venha a ter.
Muitos vão ansiar que este período de debate interno passe depressa. JJ é mesmo de opinião que lhe devem entregar tudo a ele que com o povo ele se entende bem. Mas mesmo que o debate se comece por fazer entre figuras, sem curar de saber as suas ideias fundamentais, não haverá dúvida em ninguém que o debate terá que resvalar para coisas sérias. Esperemos.

27 abril 2008

As grandes vítimas nunca se resignam

Há imensa gente a apresentar-se como vítima. Deve haver mais lugares disponíveis para as vítimas do que para as pessoas com sucesso. Mas aqueles que levam a sério a sua vitimização depressa se apercebem que afinal ela não é assim tanta que chegue para satisfazer o seu ego.
Então vá de arriscar de novo, submeter-se a novo processo, arriscar o impossível, se necessário, para que a vítima tenha afinal bons motivos de se queixar, alguma consistência própria. Filipe Meneses e Santana Lopes são pessoas desta estirpe que nunca se quererão sujeitar a ficar para a história como vítimas infelizes de uns amigos traiçoeiros.
Tanto um como o outro virá as vezes que for preciso à luta, não para que o seu nome seja limpo, que não o acham sujo, mas para que mesmo como vítimas apareçam na sua verdadeira grandeza. Uma vítima que se preza não pode ser amesquinhada, tem que ser altiva, dominadora. E tem que dizer presente sempre que se acha solicitada.
João jardim é uma falsa vítima que nunca saiu do seu quintal, que nunca arriscou ser apunhalado pelas costas. Por isso Santana Lopes se acha na obrigação de avançar, ele que dá o corpo ao manifesto, que tem andado por cá, mesmo quando não querem que ele ande por perto.
O Jardim só ganha votos no seu sítio, nunca provou que do lado de cá dessa fronteira natural que é o mar ele conquiste mais votos que os outros para o seu partido. Santana Lopes sabe o que é ganhar tendo que se fazer ao mar alto, nem que as suas viagens sejam só até à Figueira ou a Lisboa, tem que competir com amigos e inimigos e não lhes pode chamar tolos.
Santana Lopes sabe a que nível pode baixar e não há dúvida que não é o mesmo do João Jardim. Pode-nos incomodar muitas vezes, mas Santana Lopes é um político civilizado que, como outros, só condescende com João Jardim porque ele está longe e ainda se não terá posto a jeito para levar uma estocada. Nunca foi tão generalizada a rejeição das suas atitudes folclóricas.

26 abril 2008

À procura de uma nova derrota ou o desejo de renovação

O PSD transporta consigo uma série de questões mal resolvidas entre os seus dirigentes. Alguns odeiam-se, alguns somente se não podem ver, outros toleram-se a contra-gosto, poucos se gostam sem artifícios. Estas questiúnculas continuarão, possivelmente até sempre, maugrado haja já quem faça convites para que alguns se vão embora.
Uma bonança temporária conseguir-se-ia se o PSD resolvesse esta crise com um salto em frente e a eleição de João Jardim. Talvez alguns tivessem vergonha e batessem com a porta, mas não sei porque é que a sarna só os preocuparia se ele viesse para o continente. Talvez fosse um preço caro a pagar mas decerto que o homem adquiriria outra postura e linguagem.
Creio porém que a disputa se ficará entre aqueles que ainda são a favor do controle do deficit e os outros, os mais faladores que se estão a marimbar para ele, o que lhes interessa é alargar o cinto, sejam quais forem as consequências, tenha-se ou não a Comunidade aí à perna, a castigar-nos por esse inacreditável atrevimento.
Com Ferreira Leite na corrida o tema não pode ser escamoteado e só por esse facto a sua candidatura era necessária. É bom que antes da campanha eleitoral nacional este tema seja debatido no PSD. É bom que haja no PSD quem não ande a prometer construir castelos na areia.
Ninguém duvidará que no espaço político do PSD haja técnicos competentes e gente que, se tivesse oportunidade, teria sucesso na política. O problema é que as câmaras só se viram para indivíduos da estirpe de um António Borges, que quer reduzir o seu mau carácter a uma questão de permitir que acreditem nele ou não.
A renovação do PSD ainda se não fará nesta campanha. É evidente que ela só poderá ocorrer se for forçada. É necessário uma nova e boa derrota para que isso aconteça. Também quero contribuir para isso.

25 abril 2008

O 25 de Abril, vergonha ou vaidade?

As divergências sobre o 25 de Abril estão mais esvanecidas, mas nem por isso esquecidas. Aliás a atitude tomada nessa ocasião ainda hoje condiciona pessoas e partidos políticos. Atribuem-se culpas pelo mal causado aos muitos que se opuseram às atitudes aventureiros de uns poucos, como aos poucos que tentaram ser vanguarda dos muitos.
Normalmente nem se fala em bem, ou fala-se de rompante. Se alguém diz bem, aparece logo um desmancha-prazeres dito de esquerda, às vezes algum bandalho qualquer que não viveu o negrume do fascismo ou nessa altura se conformou a dizer que bem não, poderia ter sido, mas aí uns contra-revolucionários estragaram tudo, isto com uns insultos à mistura.
Ou então é um retornado, ou coisa parecida, que atalha logo a dizer o crime que foi cometido, quanta terra ficou do lado de lá do mar, quanto sacrifício se terá perdido, quantas pessoas foram maltratadas sem razão. Mesmo os partidos da direita vão buscar ao passado do pós 25 de Abril razões para justificar medidas gravosas que querem hoje tomar.
Quando se falam em pessoas que quiseram ter uma intervenção que excedia a sua dimensão e a dimensão económica, social e cultural do meio e de outras que se dizem terem sido ignoradas e colocadas à margem, daquelas pessoas cujos actos foram feitos com um propósito, mas que os condicionalismos tornaram relevantes, ninguém se entende sobre a sua importância relativa.
Por tudo isso é bom viver o 25 de Abril, recatadamente, sem grandes alaridos e sem tentativas de aproveitamento. Mas não há dúvida que os jovens precisam de entender o presente e para isso é necessário conhecer o passado.

24 abril 2008

Santana Lopes será capaz de dizer o que quer?

Ele bem disse que ia andar por aí e cumpriu. Foi fazendo umas tentativas para se fazer à pista, até que sempre conseguiu a aterragem desejada. Santana Lopes não nos vai largar. Há-de ser velhinho, talvez caquéctico e de bengala e ainda o vamos ter que aturar.
Esta figuras que a sociedade cria têm estas virtudes. Elas são genuínas, dão a cara a características que a sociedade aprecia, de que a comunicação social gosta. Se a criatura se vira contra o criador está o caldo entornado, mas Santana Lopes não cai nesse erro, sabe dosear os seus ímpetos, moderar as ambições, gerir as benesses possíveis que o poder lhe dá.
Como espelho da sociedade Santana Lopes tem a pior das qualidades que um político pode ter: tem muitos amigos, sem que se lhe conheça um verdadeiro. E tem inimigos de estimação que lhe vão fazer sempre a vida cara, que ele, com aquela cara nasceu também para sofrer. O cariz viçoso que transporta dá origem a muita inveja. Tanto sorriso inquieta os agnósticos.
Não sei se ele tem esperança de ganhar esta disputa fratricida por uma liderança que nunca foi tão temporária. Ele conformar-se-á com a marcação da sua posição e uma votação significativa, para se posicionar como alternativa, como reserva sempre pronta a avançar. Mas se ganhar dificilmente este partido ficará como está. Entregue de vez ao populismo, será impossível a alguém sério vir a reconquistar a sua liderança.
Santana Lopes é já quase o único que se apresenta como o legítimo herdeiro de Sá Carneiro. Na confusão que é o PSD, são cada vez mais as vozes que clamam por uma clarificação doutrinária. Também a tradição que ele quer representar precisaria de uma actualização e modernização. Será Santana Lopes capaz de dizer o que quer?

23 abril 2008

O boato deixa sempre alguma sujidade

O boato progride melhor nuns meios do que noutros. Não digo que deslize melhor em meios mais atrasados para não ferir a sensibilidade de algumas pessoas que lá vivem e se deveriam portar de modo diferente, mas se sentem bem mergulhadas no mesmo mar de lama em que vivem muitos que infelizmente não têm meios para de lá sair.
Infelizmente até por razões políticas se exploram hoje os boatos e é uma das razões porque muitas pessoas “bem formadas” aparecem como os primeiros a lhes dar seguimento. Mas é o meio que vai caracterizar o boato. Este surge como a conjugação de dois ou mais factos que tem entre si alguma verosimilhança. É a imaginação do meio que vai criar uma série de outros factos que agregados vão dar origem ao dito boato. E este será tanto mais sujo quanto mais ordinário for o meio.
Para as pessoas ditas “normais” o boato pode não ter qualquer fundamento, mas há sempre quem veja ligações que muitas vezes não existem. Normalmente são as pessoas menos “vividas”, mais abstrusas, que têm uma imaginação mais fértil, mais doentia. Por isso os meios atrasados são os mais perigosos, não como geradores, mas como difusores do boato.
Com o faz por ignorância, não o fará por maldade. Mas como o boato deixa sempre alguma sujidade, a verdade é que nenhuma ignorância é inocente. Há muita gente sem qualquer hipótese de se limpar daquilo que resta, até quando o boato cai por ele. Aqueles que têm meios não se limpam facilmente, aqueles que os não têm conformam-se a esperar que o tempo lhes dê razão.
A maioria de nós gostaria de viver num meio sem boato. Para isso é necessário que as pessoas não tenham medo dele e o abortem à nascença ou desmantelem no seu percurso expansivo. É legítimo exigir o silêncio sobre um boato quando ele tem algum fundamento mas o facto que lhe deu origem pode ser resolvido dentro do meio que o gerou e em tempo útil, sem causar prejuízos aos envolvidos.
Não é legítimo querer manter com o estatuto de boato aquilo que é referido em organismos públicos. No caso da Santa Casa haverá generalizações abusivas, se há prejuízos já feitos há que os minimizar explicando a todos os intervenientes o que está em causa: a integração normal de alguns jovens com problemas numa sociedade fraterna.
Há também que excluir a grande maioria dos jovens internados dessa confusão que se criou, não deixando que a eles chegue alguma sujidade que paire no ar. Mas não é mandando calar, como alguns pretendem, que se consegue nem isso, nem a recuperação dos que enveredaram por alguma delinquência.

22 abril 2008

A maledicência é a fonte do boato

Quando as notícias escasseiam e não se expandem pelas vias normais, os que não estão interessados na sua difusão apelidam-nas logo de boato, não lhes interessa a veracidade. Notícias falsas, tendenciosas não faltam e também não deixam de ter acolhimento nos meios de comunicação.
Só que estes também encontram muitas barreiras à sua missão. Quando procuram confirmar a veracidade das suas informações, muitas vezes deparam com um muro de silêncio, uma recusa a colaborar no esclarecimento das questões, um refugiar no seu carácter pretensamente pessoal porque convém, como se todas as coisas não tivessem aspectos pessoais e públicos.
Muitas vezes as pessoas são acusadas de falar do que não sabem, no dar seguimento a boatos sem fundamento, de empolar factos sem importância. As mais díspares desculpas são apresentadas para não dar explicações. No caso dos rapazes da Santa Casa, alegadamente envolvidos em actos menos lícitos, não falta quem apelide toda a gente de boateira, quando muita coisa já se tornou voz corrente, sem uma explicação plausível.
A Santa Casa tem tido jovens com problemas e isso é público, tem-nos mercê de actos judiciais públicos e desde que extravasou para fora do domínio privado da Santa Casa uma actuação menos própria todos temos o direito à informação. A pretensa defesa dos rapazes perante a devassa dos seus actos e antecedentes não tem cabimento. A condenação da sociedade não se pode fazer só através de um acto judicial mas de forma mais ampla para ser eficaz.
Pretender que eles assim ficarão manchados para toda a vida é não acreditar nas virtudes do perdão e no julgamento social. Problema diferente é dizer que, ao nos referirmos a estes rapazes problemáticos, estamos a meter tudo e todos no mesmo saco. Uma mente sã, não maledicente, não procede assim, porque não chega a pensar desse modo.
Só aqueles para quem a perfídia é o dia a dia, cujo carácter maledicente já está arreigado, ousarão generalizar aquilo que são casos pontuais e devidamente identificados, mas que, para serem tratados com cuidado e a atenção requerida, não necessitam de permanecer secretos. E claro transportados por boato, que para muita gente parece ser uma maneira leal.
Só se acaba com o boateiro se eliminarmos o boato à nascença.

21 abril 2008

Humanistas à custa de quem?

A moralidade e a legitimidade do lucro são muitas vezes postas em causa. Numa coisa todos concordamos, o Estado não existe para dar lucro, não faz sentido. Para as restantes entidades parece que o lucro é legítimo. Mas será que as instituições que perseguem fins próprios do Estado, por exemplo as chamadas IPSS, moralmente devem ter lucro?
Uma boa gestão pressuporia que estas instituições mantivessem ou incrementassem o seu valor patrimonial somente através de donativos voluntários destinados a esse efeito específico. Tudo o que fossem subsídios do Estado, donativos para a manutenção deveria ser utilizado para esse fim.
Ninguém deveria receber subsídios para os meter na conta bancária. Aliás deveria ser utilizada uma conta bancária para cada fim e, quando se justificasse, feita a contabilidade analítica. Existe uma grande promiscuidade na gestão de fundos públicos por parte de algumas instituições privadas. Por mais que se diga que estas gerem melhor não estou de todo convencido.
Há instituições que se apropriam indevidamente de subsídios do Estado, que exigem dos apoiados jóias indevidas (Verdadeiro acaso, ao escrever estas linhas está a noticiar na RTP1 um caso destes na Santa Casa de Misericórdia de Santo Tirso). Infelizmente a Segurança Social não controla a movimentação de utentes que se verifica por exemplo nos centros de dia, subsidiando por protocolos desactualizados. Paga refeições que ninguém come.
Periodicamente a imprensa aborda um caso ou outro mas a cultura reinante é permissiva porque se entende que tirar ao Estado não é pecado, pelo menos quando a sua gestão é entregue a discípulos de uma qualquer religião. A religião não tem culpa pelos prosélitos que tem, mas não pode servir de capa a quem dela se serve.
Não podemos relativizar tudo, nem partir do princípio que dum lado estão os bons e do outro estão os maus. Há quem se sinta gratificado por ajudar, mas é necessário saber quem é que no fim sai ajudado, se é o utente se é a instituição. Esta constatação que nada tem a ver com aproveitamentos pessoais, parte do princípio que, sendo nós imperfeitos, podemos instituir sistema perfeitos, ou pelo menos mais perfeitos do que o somatório daquilo que em nós se pode entender como perfeito.
É fácil pedir rigor aos outros, difícil é praticá-lo. São fáceis as lições de humanismo, mas este não tem que ser contabilizado em qualquer conta de deve e haver. Façamos sim o débito/haver da ajuda que é dada num conjunto de situações semelhantes, porque isto de andar a dizer que tudo dá prejuizo não me convence a mim.

20 abril 2008

Em estado de nojo por entre armadinhas e novelos

O homem está em estado de nojo. Vai estar vigilante, não vai andar por aí, mas sim vai estar aí mesmo. E tanto é verdade que já veio dizer: Vai ganhar quem ele apoiar, e quem ele apoiar não vai ser mais do que uma segunda escolha. Isto é, a primeira escolha só pode ser ele.
Filipe Meneses quer ser o pai e colocar na liderança alguém que seja um pau mandado. Normalmente estas coisas são ao contrário. Alguém que marcou um regime e por qualquer impossibilidade delega noutro uma liderança temporária. Mas este Filipe não tem uma herança para deixar, não tem nem um conjunto de ideias, uma ideologia, nem um conjunto de práticas com aplicação comprovada, uma política.
Filipe Meneses quer que alguém faça aquilo que ele não conseguiu fazer, sem que se saiba propriamente o quê. Quem será que se sujeitará a esse papel de ser um joguete na mão de alguém tão inconstante como ele? Ou o seu propósito será mesmo o de que não apareça ninguém que lhe queira agarrar o facho e ele possa ressurgir como a única solução?
O futuro do PSD está cheio de armadilhas destas. Todos se julgam senhores de uma coutada qualquer, mas este agora ultrapassa tudo e julga-se senhor quase do reino. Filipe convence-se que tem as bases na sua mão, isto é, os autarcas. Para isso já lhes deu uns rebuçados, negou-se a apoiar a Lei Eleitoral que o PSD tinha apoiado. Filipe apoia-se na parte mais desregrada, desordenada, empírica e porque não corrupta da política.
Mas além das armadilhas, o PSD está cheio de novelos. O mais famoso é o Santana Lopes/Filipe Meneses. Mas também nesta caso o Filipe parece querer ganhar ascendente, retirando a Santana o seu próprio espaço de manobra. Até que ponto este se conformará a ser aguadeiro de quem é manifestamente mais fraco do que ele mesmo?

19 abril 2008

A ansiedade psicopata do PSD

Não é fácil pôr aquela máquina, o PSD, a trabalhar para aquilo que seria pressuposto ser a razão da sua existência, o interesse nacional. Claro que nem todos podemos ter o mesmo entendimento sobre esse interesse, mas seria expectável que os seus principais dirigentes soubessem o que querem.
O mal do PSD, aquilo que leva muito boa da sua gente a perder as estribeiras, a ir por caminhos ínvios, é a ansiedade com que vêm as próximas eleições legislativas. A maioria dos seus militantes está pronta a vender tudo, inclusive a alma, por ganhar essas eleições.
O afastamento do poder faz perder a cabeça a muito boa gente. A doutrina política do PSD é a gestão corrente dos interesses do Estado, casuisticamente, oportunistamente, clientelarmente. Aleivosamente os seus dirigentes mais aguerridos falam de falta de liberdade de falar quando o seu problema é não saber dizer nada de jeito.
O que incomoda o PSD, todos os seus actuais, possíveis e imagináveis dirigentes é o que lhes mostra o afastamento do poder. Essa falta de liberdade que não existe, a não ser para os malcriados e verbalmente destravados que proliferam nas suas hostes, é um sinal de quem sente que tem uma falta visceral de poder.
A quem não falta poder é ao JJ, súmula de tudo aquilo que no PSD é mais execrável, detestável e odioso. Esse até pode chamar louco ao Aguiar Branco e a qualquer outro que lhe apareça e não pense como ele. E todos se vergam despudoradamente perante tão insolente figura.

18 abril 2008

Que sucessão para estes demagogos do PSD

Inesperadamente Filipe Meneses convocou eleições directas para a direcção do PSD. A sua posição era insustentável face à impossibilidade prática de atingir os seus próprios objectivos. Colocou a fasquia alta mas deixa também para os outros a fasquia à mesma altura.
Filipe Meneses não tinha condições para agregar à sua volta tantos barões quantos os necessários para ofuscar aqueles que se quiseram pôr desde logo em oposição a si. O seu grupo mais próximo de apoiantes era da mais baixa qualidade.
Independentemente de a manutenção de Filipe Meneses poder ser a garantia da vitória de José Sócrates, a verdade é que o País se livrou de viver uma situação de esquizofrenia colectiva, que em nada lhe era favorável. Quem vier a seguir que queira manter este clima de uma ansiedade doentia que destoa com o sentimento mais geral da população, está de igual modo condenado ao fracasso.
A população pode ter razões de queixa, pode sentir que há coisas que poderiam ser feitas de modo um pouco diferente, mas decerto que já não acredita em demagogos da estirpe deste grupo que se congregou à volta de Filipe Meneses.
Pelo que se vê, pelo exemplo de alguns que se colocam na rampa de lançamento como António Borges, parece que não devemos ter esperança. O mesmo afã na tentativa de destruir o trabalho da governação vai continuar. O PSD profundo está refém desta forma primitiva de fazer política.

17 abril 2008

O divórcio não é garantia nem perca de direitos do casamento

A problemática casamento/divórcio é normalmente abordada com muita hipocrisia permitindo que se confundam os vários aspectos da questão dando-lhes mais ou menos importância ou omitindo alguns conforme o interesse da perspectiva que se quer defender.
Se considerarmos a família como uma instituição que deve ser favorecida na sociedade e o casamento como a única forma que o Estado tem para conseguir esse objectivo, então o facto de duas pessoas se entenderem sobre uma vida em comum até pode ser considerado irrelevante.
No entanto o Estado não tem que criar novas formas de relacionamento entre as pessoas, tão só de analisar as implicações das relações que se criam e regulamentá-las de modo a prevenir efeitos negativos nas relações sociais. E isto parece levar a que a família seja cada vez mais vista como uma questão que se cruza com a do casamento sem se confundir com ele.
No fundo não se pode considerar o casamento como a resolução de todos os males, como podendo comportar todas as regras que tornem a família assim constituída como inabalável. Nem o facto de ser mais ou menos facilitado o divórcio não deve constituir uma forma de esvaziar o casamento.
O que interessa é legislar para o normal das pessoas. Aqueles que têm situações de grande desafogo vêm normalmente estas questões na comparação das vantagens e desvantagens que o casamento possa ter em relação às uniões de facto. Aqueles, normalmente os mais novos, que estão a começar a assumir obrigações sociais também assim procedem.
No entanto é bom que assim seja e que se não queira misturar tudo, igualar tudo, fazer das formalidades um aspecto folclórico em que embarcamos ou não. Nas suas implicações sociais as uniões de facto não podem ser ignoradas, mas não podem comportar pretensos direitos que poderiam ser garantidos por outras vias.
Os casamentos não podem acabar como as uniões de facto. Para que isso aconteça, para garantir direitos adquiridos, tem que se cumprir algumas regras, sem que seja necessário determinar culpados, isto é, sem que a culpa seja considerada para efeito do ganho ou perca de direitos.

16 abril 2008

Menos poeira precisa-se!

A vida privada de José Sócrates tem sido motivo de um interesse mórbido, até sem paralelo em Portugal. Sócrates suscita ódios de muitos camafeus e talvez isso justifique tudo para essas pessoas. Numa nova tentativa para denegrir Sócrates veio agora a lume, pela voz verrinosa de um social-democrata, um pretenso favorecimento a uma amiga pessoal do primeiro-ministro.
O caso é apresentado com contornos de um compadrio rebuscado, com a ponta do cordel puxada por uma jornalista do Diário de Notícias e com Sócrates na outra ponta, algures na sombra, por trás da RTP2. Os sociais-democratas sabem bem como estas coisas se fazem, só que neste caso a especulação os conduziu ao erro.
Infelizmente nem que acertassem não lucrariam grande coisa com a denúncia. A nossa sociedade tem o compadrio embrenhado na sua alma. Mete-se cunha para garantir o justo e o legal, como se mete para ultrapassar e prejudicar os outros. Pela impunidade com que isto se faz, passou a ser aceite que se dê aos amigos os bons empregos, até mesmo que se venha a poder utilizar a chantagem para conseguir favores de todo o tipo.
Pela vulgaridade qualquer denúncia há-de beliscar sempre um amigo, um correligionário, um contribuinte para a nossa bolsa pelo que o melhor é deitar poeira para cima. Estas denúncias despropositadas não ajudam nada a alterar este estado de coisas, antes pelo contrário. Teriam que vir de gente acima de qualquer suspeita, mas esses não aparecem na televisão.

15 abril 2008

Menos irascibilidade precisa-se!

João Jardim está a tornar-se de todo irascível. Quando há uns tempos se virava apenas para o continente, insultando-o e acusando-o de todos os males, agora já não tolera muitos daqueles que diz defender. Se paternalmente lhes chamava até aqui ingratos agora chama-lhes loucos.
João Jardim de modo algum aceita que lhe não agradeçam o simples facto de existir. É natural que, quanto mais próximo estiver do seu fim físico se sinta com cada vez maior necessidade de exaltação da sua imagem. Este tipo de pessoas sofre até à urna pela falta de um clone.
Com a oposição mais activa nas suas ilhas, João Jardim tem dificuldade de se abstrair do ruído de fundo, da contestação que atrás de si se desenvolve. Habituado a ocupar todo o palco mediático, deslumbrado com a sua própria obra, maravilhado com a sua possibilidade de dizer tudo, hipnotizado pelo poder que absolutizou, as palavras saem-lhe fluentes com a certeza da impunidade que a sua caricata figura suscita.
Só a seriedade das posições do Primeiro-Ministro e do Presidente da República, e os protestos de quem não é louco como ele, podem ajudar a melhorar este estado de coisas. Pode ser que João Jardim, que está hoje mais perto do burlão do que do palhaço sério, olhe um dia para o espelho e opte por inverter a sua marcha descendente para a degradação.
A comunicação social pode ajudar muito neste aspecto porque por ela passa o que a sociedade coloca na distinção entre o burlesco e a javardice. A comunicação social deveria fazer a clara demarcação entre o que é o riso saudável, comunicativo, que até deve ser incentivado e o riso mórbido, negro, que muitas vezes aceitamos, mesmo a contra-gosto, porque nos não é dirigido, mas que deve ser sempre repudiado.

14 abril 2008

Mais moderação precisa-se!

São características do sindicalismo comunista os bruscos amortecimentos, os súbitos afrouxamentos, os entendimentos imprevistos. Há que consolidar a retaguarda e as conquistas, não arriscar tudo, não esticar demasiado a corda, aprender com as lições da história.
O sindicalismo estava de tal maneira desacreditado que sair da crise sem correr demasiados riscos parece ser a sua única estratégia. No geral o sindicalismo não tem conseguido grandes avanços. No caso específico dos professores é certo que os conseguiu há uns anos atrás mas sem que a população veja melhorias no ensino, a propósito do qual surgiram todas as suas reivindicações.
Para cúmulo, tendo conseguido vantagens materiais inimagináveis noutros sectores, os sindicatos viram os seus associados virarem-lhes as costas, as cotas dos sindicalizados a diminuir, o governo a reduzir-lhes o número daqueles que, a desculpa da actividade sindical, se puderam dedicar a tempo inteiro à subversão do sistema escolar.
Os sindicatos viram-se na necessidade de repensar a sua acção, de tentar dinamizar o sector, de assumir reivindicações mais mobilizadoras. Mas o entusiasmo súbito que provocaram não deve ter tido expressão prática na cotização e na aproximação dos professores à actividade sindical. Os paradoxos mantêm-se.
Este processo reivindicativo terá antes ajudado a que franjas marginais de professores, baseados numa aparente facilidade de mobilização, ganhem ânimo e queiram prosseguir a mesma saga irresponsável e desonesta. Mas os professores sabem que esta gente é boa quando tem um objectivo específico mas terrivelmente prejudicial por os pretender instrumentalizar para além da actividade sindical.
Os sindicatos sabem que facilmente conseguirão retomar as rédeas, que esses sectores radicais se caracterizam por constituírem manifestações gangrenosas localizadas. Os sindicatos apostam numa maior credibilidade da sua actuação, na consolidação dos ganhos que foram adquirindo, numa imagem de respeitabilidade, porque também está em jogo a sua própria sobrevivência.

13 abril 2008

Menos moralidade precisa-se!

As instituições privadas que albergam jovens são atacadas, como o são os funcionários públicos que desempenham as mesmas missões. A discussão de qual a solução mais barata para o erário público é velha e não é fácil de ser abordada em todas as suas implicações. Deixemo-la por agora.
Se porém o Estado transfere a sua responsabilidade no crescimento ou mesmo na recuperação dos jovens que, por um motivo ou outro, não podem viver em ambiente familiar, convirá saber se coloca todas as suas disponibilidades ao dispor dos privados para que eles não falhem na sua missão. Se tal se verifica, convirá saber se são bem aplicadas.
Facilmente podemos partir do princípio que o Estado não dá dinheiro a mais. Todos dizemos que o Estado dá pouco e muitos prometem mais, mas todos estamos obrigados a sermos rigorosos. Se os privados aceitam o encargo, têm que o cumprir em todas as suas implicações e deixar de se desculpabilizarem pela exiguidade de verbas.
A Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima está a falhar no cumprimento das suas obrigações, isto parece evidente, mas a solução preconizada por Daniel Campelo, Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, não é de modo algum legítima. Parece-me que, garantida a boa aplicação dos dinheiros do Estado Central, lhe não ficaria mal ajudar naquela missão espinhosa.
Quanto às palavras de Abel Batista, Presidente da Assembleia Municipal de Ponte de Lima, revelam um bom discípulo de Paulo Portas na utilização da moralidade como arma política. Mas num político nós nunca sabemos a verdadeira ideia de fundo sobre uma questão. De qualquer maneira não creio que a ideia de Campelo seja queimar estas crianças, embora saibamos que à esquerda e à direita há pessoas que pensam assim.

12 abril 2008

Mais humanismo precisa-se!

Em Ponte de Lima entende-se que há um grupo de jovens internados nas antigas Oficinas de S. José, hoje administradas pela S.C. da Misericórdia de Ponte de Lima, que lá não deveriam estar. São casos problemáticos, oriundos de outras regiões do País e que para aqui vêm mercê de um acordo da Santa Casa com a Segurança Social e Serviços de Reinserção Social.
Na recente reunião da Assembleia Municipal de Ponte de Lima realizada a 11-04-2008 o Presidente da Câmara, Daniel Campelo deu voz oficial àquele sentimento de rejeição, aliás já por ele manifestado em casos parecidos, sem contestação visível. Porém desta vez o Presidente da Assembleia Municipal, Abel Batista, no prosseguimento da sua demarcação da gestão de Daniel Campelo, entendeu dar um puxão de orelhas a este, apelidando a sua atitude de falta de humanismo e de apoio à inserção social dos jovens, sendo sinal de um bairrismo despropositado, duma visão estreita.
Teoricamente todos deveremos estar com esta posição de Abel Batista mas o que Daniel Campelo não quis revelar é a falta de condições da Santa Casa para albergar jovens naquelas condições, sem instalações adequadas, sem técnicos de acção social preparados, sem vigilantes, sem um acompanhamento dos jovens dentro e fora das instalações, permitindo que eles sejam acusados de se violentarem uns aos outros e de praticarem pequenos delitos dentro do burgo.
Por mais que digam que este serviço é bem executado por privados, que estes não têm fins lucrativos, que o Estado gastaria mais e faria pior custa-me a acreditar, maugrado a relatividade existente nestas coisas. Querermos ser mais humanistas uns do que os outros é uma discussão sem nexo, quando se deveria estudar a razão última das coisas acontecerem assim. E verificar se a Santa Casa em vez de prestar um serviço de qualidade não estará apenas preocupada com o lucro, como tem sido seu apanágio.

11 abril 2008

Mais rigor precisa-se!

Em Portugal criou-se uma situação bizarra que permite que os dirigentes sociais-democratas andem a dizer que Sócrates não está a cumprir os seus compromissos. Ora nem os sociais-democratas são os fiéis depositários de quaisquer garantias que o sistema desse a quem vote por compromissos, nem a base social de apoio socialista, a não ser umas franjas, o que é natural, deixou de acreditar em Sócrates.
Embora muitos perguntem para que se faz eleições, não há dúvida em que todos os princípios democráticos dão razão a Sócrates. Seria impensável que, por Sócrates dizer que não iria aumentar os impostos, os não aumentasse quando isso era imperioso pelas mais diferentes razões, incluindo pelos acordos estabelecidos no âmbito da Comunidade Europeia.
Seria impensável também convocar eleições ou um referendo nacional para esse efeito. Ninguém gosta de mais impostos, poucos se convencem da sua imprescindibilidade, mas todos querem apoio do Estado. A base social de apoio de Sócrates poderá é quer mais apoio do Estado, politicas sociais mais activas, pelo que na sua maioria não é propriamente contra a existência de impostos. Pode é contestar a sua distribuição e falta de rigor na sua aplicação.
Se a direita económica, a mais racional e prática, aceita o sistema de impostos, porque é que a esquerda os não há-de aceitar, já que sem eles não há sistema possível de política social e redistributiva. A política de impostos só deve ser contestada pela esquerda quando ela constituir um entrave efectivo ao desenvolvimento económico. Isto é, a direita será a primeira a rejeitá-la quando isso se verificar. Empenhemo-nos antes no rigor da sua aplicação.

10 abril 2008

Mais república precisa-se!

Se os políticos se fizessem com um método de ensino, com uma forma, qual bolo metido ao forno, estávamos arranjados. A monarquia não foi mais do que a tentativa de formar uma classe dirigente a partir de um grupo de pessoas que faziam parte de uma raça vencedora. As várias monarquias convergem todas nos métodos, a sua miscigenação é uma consequência desse facto.
A república é esta situação em que as contingências da sorte, convergindo com a contingência de outros factores mais ou menos aleatórios, determinam que qualquer um pode ambicionar ser político, isto é chegar a dar orientações políticas ou a ocupar cargos por mandato político. As contingências não são defeitos mas chamo-lhes assim por que influenciaram de modo diverso conforme o tempo e o lugar em que cada um vive.
O único defeito da república é a dificuldade de destituição de alguém que, colocado numa posição de influência, a usa de modo menos próprio para reforçar a sua posição pessoal. Há sempre quem queira utilizar a posição adquirida para fins menos lícitos e há sempre quem queira puxar para a defesa dos seus interesses quem em princípio não está comprometido a isso.
Já que não há maneira de, quando se escolhe um político para determinado cargo, lhe definir todos os passos que ele deve dar, há que escolher em que sentido e com que amplitude ele pode legitimamente variar nas suas posições. Ou é a base social que deve ser mais respeitada ou são eventuais compromissos que devem ser mantidos mesmo que a prejudiquem.
É evidente que os compromissos envolvem factores muitas vezes imponderáveis pelo que o político deve respeitar a sua base social de apoio e responder periodicamente perante ela. Entretanto deve ter as mãos relativamente livres e agir segundo as suas convicções e pelas conclusões que vai extraindo do efeito da sua acção.

09 abril 2008

Mais certeza precisa-se!

Há muito que em Portugal se abandonou a ideia de que há que ter razão para que se defenda uma atitude, um projecto, uma política. O que é necessário é ter certezas ou pelo menos agarrarmo-nos a algum bloco de ideias que defendemos como nossas com unhas e dentes.
Essas ideias podem ser denegrir, denegrir, denegrir as ideias e acções dos outros à espera que a sorte, qualquer virar brusco de ventos permita uma nova perspectiva, uma adesão que não seja só por antipatia ao que existe. O normal seria apresentar em tempo alternativas, aqui trata-se de criar primeiro antipatia e esperar que outras ideias floresçam no lodaçal sobejante.
Porque é necessário criticar mesmo aquilo que se tem por inevitável, porque a barragem tem que ser constante e diária, à falta da possibilidade de uma demarcação clara, que as pessoas entendam facilmente, à falta de aceitação do obvio, que as pessoas podem entender ser dar o braço a torcer, os antagonistas de hoje entram facilmente no ataque pessoal.
O João Jardim que tinha tentado toda a espécie de cócegas no Sócrates, virou-se agora para o M. das Finanças. O Meneses, na sua pequenez intelectual e moral, quer-se pôr em bicos de pé e receber troco do Primeiro-Ministro. Qual cachorro sempre pronto a ladrar às pernas do transeunte não merece que alguém desça ao seu nível.
Se a nossa comunicação social tivesse personalidade, exigência na qualidade, crítica nos métodos dos que a querem utilizar, se houvesse a preocupação de nos livrar de discursos ocos, incoerentes e desconexos, faria a triagem, a selecção destas personagens em que o atrevimento é bem superior à qualificação.
A actual geração herdou uns tristes trastes na área social-democrata que os outros estão mais calados. Os profissionais da comunicação dizem que não têm melhor para apresentar e terão que os ouvir se os não puserem a dizer baboseiras todos os dias. Até quando? Tenham pena de nós!

08 abril 2008

Mais perspicácia precisa-se!

Há muito que se criou em Portugal a ideia de que o problema não reside nos actos que se praticam mas na comunicação que deles se faz. O governo tem obrigação de comunicar a sua acção de forma perceptível pelos cidadãos, simplesmente isso é levado muitas vezes ao nível do artifício para fazer passar por bom o que é mau. E até às vezes é.
De qualquer modo os meios de comunicação dos dias de hoje não são permeáveis a mensagens lineares e todo o comunicador tem que estar preparado para as fazer passar através das subtilezas da actuação daqueles meios. Não é só o problema de estes terem proprietários com objectivos próprios, terem ideias e interesses a defender mas também porque há uma forma ligeira de abordar os assuntos que valoriza o imediatismo.
O imediatismo consiste não só em ver o efeito a curto prazo mas na escolha prévia da tese que se quer provar, como se todas as acções tivessem que ter o mesmo efeito, independentemente dos seus objectivos e do plano em que se inserem. O trabalho de enquadrar qualquer acção num domínio mais vasto é das coisas mais difíceis de fazer porque exige tempo e estudo de modo a conseguir simplificar o resultado numa mensagem curta e incisiva.
Explicações muito complexas não têm aceitação na comunicação social, só raramente os seus meios dão o tempo e o espaço suficientes para que elas sejam dadas. A importância dada à comunicação deriva muito do facto de hoje não ser possível levar a discussão dos assuntos até à exaustão, de a razão nunca ser atribuída de modo absoluto a alguém.
Vamos lá, que já outra notícia vem aí e quem lê já sabe do que está à espera. Então, sinceramente, não vale a pena ler. É o que eu faço com muito blog, muito jornal, muito livro, muita rádio, muita televisão com pena de perder alguma prosa ajeitada. De alguma nova qualidade estamos nós precisados para saber escolher sem “ver”. Chamemos-lhe perspicácia, à falta de melhor.

07 abril 2008

Mais confiança precisa-se!

Uma das razões pelas quais os actos de indisciplina devem ser solucionados preferencialmente no âmbito escolar é a visibilidade que é dada à solução encontrada e que pode assim funcionar como exemplo positivo em contraponto com o exemplo negativo que é dado pelos actos não solucionados.
É bom que alguém que, pelas mais diversas razões, que as há, teve comportamentos menos apropriados, possa dar exemplo da sua correcção, que pode ser não só um melhor domínio de impulsos exibicionistas, de ascensão a lideranças, como pode ser a compreensão da ineficácia de impulsos destrutivos resultantes de um ambiente social deprimente
Embora as comunicações permitam que hoje se criem ambientes virtuais, o ambiente primordial de vida, de relacionamentos dos alunos é a escola e essa ligação visual, física, de contacto vai continuar a ser necessária para o estabelecimento de relacionamentos saudáveis e como tal deve manter a centralidade em todos os aspectos, juntamente com a família.
As experiências na escola são marcantes, tão só pela idade em que se desenvolvem, como pelo seu conteúdo, para todo o resto da vida das pessoas. Mesmo que possa ser errado, a maioria das pessoas não contesta nunca mais aquilo que aprendeu, a perspectiva pessoal que adquiriu sobre muitos dos assuntos com que vai deparando pela vida fora.
Também a desconfiança criada na escola em relação a ela mesma se transfere para desconfiança na sociedade. Substituir a inoperância da escola pela falta de agilidade da sociedade para resolver de fora os problemas que dentro dela possam surgir é agravar em muito as dificuldades de inserção social que se manifesta em quem tem percursos escolares complicados.
A escola tem que “fornecer” à sociedade pessoas confiantes em si mesmas e merecedores da confiança dos outros para que não se tornem auto excluídos.

06 abril 2008

Menos injustiça precisa-se!

É sempre difícil ter a certeza de que um determinado problema disciplinar está totalmente ultrapassado. Mas na escola, havendo um acompanhamento diário do aluno, havendo uma série de intervenientes no processo habituados e quase sempre habilitados a lidar com jovens e a aferir do seu estado psicológico para a aceitação da disciplina, tudo está mais facilitado, haja colaboração de todos os interessados.
Poderemos no entanto pôr ainda a questão, mesmo que o problema em relação a um aluno determinado esteja resolvido, e tendo em vista que a sua ocorrência criou ondas, tem sempre um efeito nefasto na disciplina colectiva, se esse aluno há-de ser responsabilizado por isso. Na verdade será mais difícil de aferir se esse efeito lateral se extinguirá simultaneamente.
O sistema normal de justiça assenta muito na necessidade de penalização de um acto qualquer pelo seu efeito de exemplaridade, isto é, parte do princípio que é preciso um castigo exemplar para quem dá um mau exemplo, para quem pratica um acto de indisciplina que se possa propagar.
O sistema normal de justiça não se fica pela eliminação da origem do mal, é um sistema persecutório, que não acredita nas possibilidades de recuperação das pessoas e que esses bons exemplos também se possam propagar, ganhar novas adesões e dar origem ao desarmadilhar de percursos que os jovens fazem muitas vezes inadvertidamente.
Sabe-se que em muitos casos a escola se demite de resolver os seus próprios problemas. Mas o sistema normal de justiça está de tal modo desacreditado, é tão injusto, tão susceptível a preconceitos e esquemas preconcebidos, pratica uma justiça tão discriminatória, tão cingida aos papéis sociais dos que dela necessitam, que o aluno é sempre tido por um elemento inconveniente numa ordem justiceira de papéis rígidos.
A escola tem que reequacionar os ensinamentos que deram origem a este tipo de justiça e tem que, até onde possa, subtrair os seus alunos a este império da maldade.

05 abril 2008

Mais abertura precisa-se!

O “exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo”, nas palavras daquele ilhéu Jaime Gama, o senhor João Jardim tomou agora mais uma atitude digna desse qualificativo que também serve para enobrecer quem o elogia.
O congresso do PSD-Madeira vai ser fechado à comunicação social. A não ser a mensagem inicial e final do seu chefe, o que diga-se de verdade só ocorrerá se os jornalistas não tiverem vergonha na cara, tudo o resto é para ficar secreto ou então com a versão oficial e alguma oficiosa que algum congressista mais liberal queira dar.
Não seria sequer a ocasião própria para pôr a questão da falta de isenção dos jornalistas, mas o João Jardim também não é tolo de todo para se deixar ficar só. Os jornalistas dão demasiadas vezes oportunidade para que se ponha em causa a sua falta de preparação para abordar os problemas com seriedade. O assédio a que submetem muitas vezes os políticos tem razões políticas evidentes.
Os jornalistas caem constantemente na tentação de cair na pergunta insidiosa, daquelas que eles fazem e refazem sem aceitar uma outra resposta que não seja aquela que eles previamente definiram como a que constituiria um furo informativo e os poria a receber um subsídio vitalício da sua agência ou do seu órgão de informação.
Os políticos, por seu lado, querem marcar a agenda e fogem a responder a qualquer pergunta que lhes não agrade. Também disso se tem atacado Sócrates mas é evidente que políticos em situação muito mais livres de assédio se portam muitíssimo pior. Ninguém tem o mau humor mais à flor da pele do que João Jardim e Filipe Meneses. São uns falsos alegres.

04 abril 2008

Menos diversão precisa-se!

Este líder social-democrata deverá ter confundido divergência com diversão. Para si as duas são verdadeiras porque não gosta de quem diverge de si e diverte-se à grande em ser um rapaz truculento. Quanto ao governo há local para a divergência, não haverá é para a diversão.
Meneses inventou um possível medo de divergir que teria tomado conta das hostes social-democratas. Esse medo derivaria de uns três dos seus correligionários terem sido advertidos, prejudicados ou de qualquer forma referenciados por se terem oposto insidiosamente às normas a que devem obedecer os funcionários públicos ou por terem falhado a outro qualquer dever de urbanidade e lealdade.
Para certas pessoas sem formação cívica adequada ter medo de tomar atitudes destas é um facto positivo, uma medida de higiene mental. O medo só funciona para quem subestima as regras de convivência social, se deixa facilmente condicionar por impulsos de transgressão, sem qualquer motivo lógico para tal, para quem qualquer contenção nesse domínio é tida como um grave revés no seu egocentrismo.
A Meneses não lhe ficaria mal algum medo de dizer tanta asneira, de proferir aleivosias atrás de aleivosias, de manifestar uma arrogância de todo imprópria para tanta ignorância. Vá divergindo, vá, mas dê um rumo à sua política, não ande aos zig-zag, que nós não estamos aqui para nos divertirmos, mas para julgar as suas capacidades de liderar alguma acção política benéfica para o País.

03 abril 2008

Menos desfaçatez precisa-se!

Mais um paraquedista da área social-democrata chamado António Borges quer assentar arraiais no terreno político. Despedido do banco estrangeiro em que era quadro destacado quer desculpabilizar-se com tudo o que sejam desculpas de mau pagador. Para assinalar a sua entrada resolveu deitar antecipadamente uma bomba para causar o devido efeito. Não há nada como atacar o governo pensou.
O problema é que o governo que tinha rejeitado o seu trabalho até foi o do seu partido, no seguimento da rejeição por parte da Comunidade Europeia do mesmo trabalho. Na verdade o seu destempero foi tal que até o próprio ministro da economia não respondeu devidamente quando foi confrontado com a sua falsidade de que tinha sido prejudicado por este governo.
Calhou de o acto final do seu trabalho para o governo ter decorrido depois do congresso do PSD para este atrevido e descarado querer que as pessoas concluam que foi penalizado pelas suas declarações aí proferidas de que estava pronto para enfrentar o governo. A verdade é que um contrato que só trazia prejuízo para o Estado tinha que acabar em qualquer altura e só não acabou antes porque o ministro PSD disse não querer tomar essa atitude quando o seu mandato já tinha os dias contados.
Quando tudo parece ser possível uma afirmação destas não pode ser tomada como um lapso, um erro de cálculo, mas é claramente intencional, visa desacreditar os outros, quando quem a faz se coloca afinal numa posição tão vulnerável que o melhor será procurar melhor emprego. Tanto cinismo, tanta desfaçatez não têm lugar na política.

02 abril 2008

Menos autoritarismo precisa-se!

A análise de dois fenómenos idênticos, um envolvendo alunos do ensino obrigatório e outros adultos que frequentam voluntariamente uma formação apropriada tem que ter em consideração as naturais diferenças. Se nestas idades qualquer problema que surja pode ser resolvido invocando a justiça geral porque será mais ou menos displicente o efeito da sua aplicação tardia, naquelas idades isso seria terrivelmente prejudicial.
Os problemas de disciplina têm que ser resolvidos pelos órgãos próprios e próximos, de modo rápido e com eficácia imediata. Quando os problemas ultrapassam certo limiar e entram no domínio da violência intencional e perniciosa então poderá ser de pensar em reflexos só atingíveis com sanções que os corpos próprios da escola não tenham poder para aplicar.
Despudoradamente certos sectores políticos pretendem aproveitar esta ocasião, em que se debate o problema da disciplina e violência na escola, para defender a intrusão no seu funcionamento de uma lógica justicialista de todo inadequada, que meteria todas as questões na mesma embrulhada e trataria jovens indefesos e adultos como se fossem iguais.
O meio é comum às duas partes mas cada uma vive-o de modo manifestamente diferente. As duas perspectivas têm que estar bem presentes, o que não é garantido no sistema normal de justiça. Além da idade, da maturidade, há evidentes diferenças nos objectivos que cada uma das partes tem presente, na pressão a que cada um está sujeito.
Da parte do aluno é necessário ver que o próprio ensino pode ser por ele visto como uma violência inoportuna e os próprios professores têm que reconhecer nele uma certa violência implícita. Depois é muito mais natural que na sua idade haja uma presença contínua e à flor da pele de sentimentos contraditórios, contrariamente à maior estabilidade emocional dos adultos.
Da parte do professor justifica-se a preparação para a não tomada de atitudes autoritárias, principalmente quando é só o aproveitamento que está em causa e não qualquer problema de disciplina. É suficiente mostrar a autoridade só quando está alguém pretender dispersar a atenção no ensino.

01 abril 2008

Mais equilíbrio precisa-se!

“A professora tirou-me o telemóvel, pedi-lho, ela não mo deu e comecei-lhe a chamar nomes, mas não foi nada de grave.” Estas palavras dão mesmo uma ideia do ambiente de permissividade que será possível detectar nas escolas. E o não cumprimento da disciplina é um dos motivos mais fortes do não aproveitamento escolar.
A perca da atenção nas aulas, seja pela utilização do telemóvel, mesmo que só em mensagens entre os alunos, seja pela indiferença m relação ao ensino em geral ou a uma disciplina em particular, seja pelo clima de “gozo” que se tenha criado numa turma por não reconhecimento da qualidade, do merecimento ou capacidade de domínio sobre os líderes informais de algum professor, é a razão do insucesso persistente de muitos alunos.
A actuação dos professores deve ter em vista num regime democrático a aplicação de uma disciplina adequada a criar a atenção necessária ao ensino e não mais do que isso. Se conseguirem fazer isso já estão a contribuir seriamente para que os alunos aprendam a necessidade de serem disciplinados em casa e noutras actividades que venham a exercer. Se a disciplina tiver sucesso na escola os próprios alunos a promoverão cá fora.
Mesmo que os alunos mais difíceis sejam apontados às vezes como os possíveis futuros criminosos é de tomar em conta que eles normalmente aceitam activamente a disciplina na sua actividade criminosa. O que quer dizer que a disciplina é sempre funcional. Mas o que quer também dizer que o facto de a disciplina ser aceite não é suficiente para avaliar os seus méritos.
Aqui o mérito tem que ser medido pelo progresso do aluno em regime de autoavaliação e seguindo os objectivos da escola. Não se pode pretender que a mensagem que se enquadra naqueles objectivos passa melhor com autoritarismo ou com permissividade. A mensagem passa melhor pelo exemplo de equilíbrio e pela receptividade do que pelos tiques que se adoptam.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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