09 julho 2010

O pensamento único em Economia

Na Europa de hoje o único bem que circula livremente é o capital. Circular no sentido de poder ser aplicado, poder ser convertido noutra forma. A própria natureza de muitos dos outros bens não lhes permite a mobilidade que o capital tem. Mesmo as pessoas tem limites à sua circulação livre, no sentido de não poder trabalhar livremente, não ter garantia de manter os mesmos direitos e os mesmos rendimentos. A própria natureza do bem “pessoa” põe-lhe limites à liberdade que o capital não tem.
A pessoa para trabalhar dá a cara e sujeita a todas as limitações e entraves. O Capital não dá a cara, pelas regras actuais ninguém consegue saber quem é o dono último do dinheiro, onde se situa a verdadeira fonte do poder. A pessoa não pode aceder a determinados trabalhos e funções noutros países, mesmo que na União Europeia. O Capital de que ninguém conhece a face pode aceder à titularidade de bens essenciais para o funcionamento duma sociedade e dum Estado.
A União Europeia tem assumido o princípio de que só tem que garantir a liberdade do capital, só tem que assegurar regras de concorrência e a economia que fique ao critério livre e arbitrário dos seus protagonistas, em que o capital assumiu um ascendente nunca antes visto. É de crer que muitos daqueles que defenderam a supremacia do mercado, nunca pensaram que neste o capital haveria de assumir um papel de uma preponderância quase absoluta. A relação trabalho/capital está profundamente desequilibrada a favor deste.
Cada vez mais os teóricos sensatos concluem que não acabou a intervenção do Estado na economia. Novos equilíbrios vão ser necessários para que a sociedade possa resolver os seus problemas, novas intervenções do Estado vão ser necessários para instituir regras, mas também para ter uma palavra a dizer nos caminhos da economia. O Estado não vai poder desistir de intervenções casuais, selectivas, modelares. Essa intervenção não se pode limitar sequer a “golden shares”, mas ser mais ampla e estruturada. Tem que ser derrotado o pensamento único que se quer impor e de que a maioria dos protagonistas são inocentes úteis.

08 julho 2010

O pensamento único em Arte

Periodicamente há umas investidas do pensamento único sobre a Arte. Alguém surge com a intenção de decretar uma só forma de ver, uma diferença nítida e universal entre o belo e o feio. Não estamos perante uma campanha dessas, mas, no pequeno meio Vianês, assume esse carácter e é contra a promoção da diferença na pluralidade o ataque feito ao Cartaz das festas da Agonia. Uns patetas resolveram decretar a fealdade do cartaz e querem impor esse pensamento a toda a gente.
Suportam-se em vários argumentos e fazem por esconder aquilo que na realidade é o motivo dos seus ataques: A pretensa frieza do elemento feminino do cartaz. Porque esse aspecto é aquele que, no boca a boca, é realçado com a pretensão de decretar que a sua escolha se deve a fazer um favor a alguém e não a qualquer apreciação artística ou argumento doutra natureza.
O autor, e ninguém melhor do que ele nos pode explicar, se é que um artista tem que explicar algo, mas já deu justificações de natureza não artísticas, com alguma relevância, contestável é certo, indicou a tradicional participação da pessoa que consta do cartaz nos festejos vianenses. Este critério é contestável pela sua aplicação em si mesmo, mas também porque se imagina que no universo a atingir será reduzido o número de pessoas conhecedores deste facto, para quem a protagonista seja familiar. No entanto há uma justificação artística, como tem que ser.
O que custa a abordar são os fundamentos em que assentam os estereótipos criados e a submissão que o pensamento único presta a estes. Parece que são iguais quaisquer cartazes publicitários, sejam para promover dentífricos, detergentes, festas ou o que for, tenham natureza comercial ou outra. Para isso quer-se impor um modelo de símbolos sexuais a que os contestatários do cartaz obedecem cegamente, mesmo que não o queiram reconhecer.
Se uma mulher num cartaz não projectar sexo sobre o espectador, mesmo que esteja em causa uma manifestação de diferente natureza, esse cartaz não presta. A mulher mesmo que faça a propaganda de fraldas tem que apetecer ir para a cama com ela. Neste caso não me parece que a mensagem que quer ser transmitida seja de que venham a Viana que cá tudo são caras bonitas e disponíveis, o que não pode ser o caso. Para mim chega que a figura transmita uma alegria saudável de viver.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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Ponte de Lima, Alto Minho, Portugal
múltiplas intervenções no espaço cívico

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck
O mais perfeito retrato da solidão humana