30 maio 2007

Ponte de Lima ainda pode ser relevante agricolamente?

A tudo nos habituamos. Até a ver silvas onde antes havia vinhas frondosas com cachos de saborosas uvas em vez de amoras. E aqui é que entronca o problema da agricultura e da sua viabilidade como factor económico.
O carácter de agricultura promíscua e de subsistência alterou-se para uma actividade menos intensiva, supletiva e quase residual, cada vez mais residual. Cada vez há menos espaço no mercado global e no terreno local para uma agricultura mercantil, que aqui só existiu a espaços.
Se pusermos o problema em relação a essa agricultura supletiva, facilmente constataremos que ela se adaptará aos novos tempos, introduzirá novas espécies para acrescentar à variedade que se pretende ter para auto-consumo e abandonará aquilo que se revelar mais trabalhoso.
Os pequenos pomares, só existentes em quintas mais cuidadas, generalizaram-se. Em contrapartida a criação de suínos e vacas diminuiu drasticamente estando a caminho da extinção.
Se colocarmos o problema da produção mercantil, a evolução tem sido no caminho da degradação do seu valor, não havendo compensação para os antigos rendimentos. O número daqueles que conseguem sobreviver com alguma dignidade só com esse trabalho diminui dia a dia.
Antigamente, mercê é certo de uma vida de sacrifícios de caseiros, jornaleiros e até de senhorios das terras, a lavoura ainda ia permitindo algumas economias. Entesourava-se em ouro, gado ou terras.
Os produtos das rendas que sobejavam do auto-consumo eram vendidos a intermediários locais que, devido à fraca dimensão da maioria das propriedades, tinham que ir juntando os seus produtos para posterior venda a armazenistas das cidades mais próximas.
Eram principalmente milho, feijão, tremoço e mais alguns produtos que em menor quantidade também se vendiam na feira aos habitantes locais e a pequenos intermediários que lá se deslocavam.
O gado era vendido preferencialmente na feira com destino a outras paragens mas com a melhoria dos transportes passou a ser também vendido e recolhido por intermediários nas cortes dos lavradores.
O leite era vendido para o consumo dos habitantes, para pequenas fábricas de manteiga e queijo, depois para a fábrica de queijo Limiano que veio a agrupar as fábricas existentes.
A Agros haveria de monopolizar a compra do leite por efeito do associativismo agrícola corporativo. A recolha era feita em postos, em salas de ordenha colectivas e raramente individuais. Mas depois de uma grande expansão territorial, houve um declínio rápido com o fecho de postos e salas de ordenha, devido à contenção de custos da Agros para fazer face à concorrência. Restam algumas vacarias de razoável dimensão.
O vinho era vendido directamente aos taberneiros ou a grandes armazenistas exteriores pelos maiores produtores mas também havia armazenistas locais que seleccionavam os melhores.
O Estado, através da Federação Nacional dos Produtores de Trigo, fazia mesmo fora dos períodos de racionamento, a recolha dos cereais de sequeiro que também cá se produziam, em especial nas terras mais altas.
Este comércio foi a base da economia local durante séculos e daí a importância das feiras neste contexto. Nos anos sessenta o sucesso da Adega Cooperativa na produção do vinho, em especial branco e de preferência adamado, levou pela primeira vez no campo limiano à monocultura intensiva.
As vinhas sempre tinham sido de bordadura com latadas feitas de madeira e posteriormente de ferro em T, colocados sobre esteios de pedra. A permissão de vinhas em latadas contínuas, feitas ao mesmo feitio ou em cruz, mais tarde em bardos, levou a uma alteração radical com dispensa de muita mão-de-obra e a exploração directa pelos proprietários das quintas.
Os erros cometidos pela Adega, a perca dos mercados tradicionais criados à volta das colónias de emigrantes, as campanhas contra o consumo de álcool que erradamente se associa só ao vinho, as campanhas contra o vinho branco por mais doentio, a deterioração da vinha de tinto e o pouco cuidado com ela, a grande variabilidade na sua qualidade e quantidade anuais, porque não, a melhoria do gosto dos consumidores, levou a rapidamente se depreciar o contributo do vinho para a economia local.
(Continua)

28 maio 2007

Perguntas não respondidas no seminário sobre Património Paisagístico

Realizou-se a 25 de Maio em Ponte de Lima um seminário sobre património paisagístico do Vale do Lima que, podemos dizer, teve duas vertentes, uma mais geral, relacionada com a paisagem, outra mais específica e relacionada com os jardins.
Ambas tiveram os seus momentos de interesse mas salientarei a perspectiva geral, que tem mais a ver com o ambiente, como a que me despertou maior empenho. A perspectiva mais geral das gerais foi apresentada por Ilídio Araújo sobre a proto-história de Entre Douro e Minho.
Foram tão surpreendentes as teses apresentadas por este estudioso, que era grande a exigência que se imponha a quem quisesse levantar alguma questão. Logo pelo seu título “A evolução do povoamento, da economia e das paisagens” as questões eram vastas e controversas, de difícil confirmação.
Teresa Andersen “divagou” entre a necessidade da cedência à prática e o saudosismo por um passado perdido. Impuseram-se outras utilizações da terra, outras ocupações, outras dinâmicas, o que, aliás, haveria de ser confirmado numa intervenção sobre a Rede Natura 2000 acerca da pulverização das moradias nas encostas do Vale.
A acentuação na mudança paisagística operada com a eucaliptação foi realçada, mas não tendo podido colocar a questão na hora, direi que o problema limiano já é anterior começou com a pinheirização.
A difusão do pinheiro por encostas e veredas de muitas das serras circundantes a Ponte de Lima deveu-se a Salazar que colocou os serviços florestais, com os seus guardas disseminados pelas serras, a plantar pinheiros nos sítios que eram pastos dos animais, o que chegou a criar conflitos com os seus normais utilizadores.
Foi um avultado investimento que nunca haveria de ter retorno, dados os incêndios que sempre fustigaram essas plantações. Foi um desastre económico, ambiental e paisagístico. A invasão de infestantes nos terrenos ardidos é fruto dessa política.
Falou-se no aspecto negativo da urbanização massiva dos terrenos nos subúrbios das grandes cidades. Mas não se deu o devido realce ao facto de a dispersão da habitação por todo o território, como cá acontece, também levantar os seus problemas. Ponte de Lima ficou rural sem ruralidade e não passou a urbana porque lhe falta urbanidade.
Henrique Pereira, director do Parque Nacional da Peneda-Gerez, apresentou uma visão “fundamentalista” de como se deve pôr fim ao cultivo de algumas áreas. Apresentou mesmo os socalcos do Sistelo como exemplo de área que deveria ser entregue a zona de reserva integral.
Ignorou decerto que isso seria o princípio do fim. Deixando de ser cultivados esses socalcos seguiriam o exemplo de outros que, em pleno Parque, já estão a desabar devido à infiltração de água, raízes, infestantes.
Sem áreas de cultivo, sem habitantes, presumo que sem parques eólicos, o que é controverso, dados os objectivos próprios do Parque, o PNPG ficará à mercê unicamente das forças incontroladas da natureza.
O Parque não quer dar nada, ainda quer que lhe paguem a fruição do seu ambiente, a preservação das suas nascentes, os ninhos de águia e os lobos. Foi pena que devido à inauguração do festival de Jardins, não tivesse havido tempo para serem colocadas estas questões.

27 maio 2007

Os instintos e as formações marginais na blogosfera

A nossa adesão à blogosfera parte de um pressuposto de primordial importância: A nossa participação não está sujeita a qualquer outro estatuto editorial que não seja o por nós definido, também nos cabe definir as limitações ao nível de linguagem e dos objectivos a atingir.
No entanto, como no trato social, colocamo-nos sempre nalgum enquadramento, queremos que os outros respeitem a plataforma que, sem presunções, nos cabe perfilhar e não vão além das barreiras que nós próprios colocamos como definidoras do campo inviolável das nossas convicções.
Na blogosfera prescindimos de mediações, usamos mesmo o anonimato, mas não é aceitável ferir a dignidade alheia. Se na blogosfera dizemos aquilo que em conversa dizemos só aos amigos, com a reserva que eles nos concedem, na linguagem que com eles usamos, ressalve-se a diferença entre oralidade e escrita, aqui esse resguardo não existe.
Esta razão só por si já é suficiente para que se firam algumas susceptibilidades, que amigos nós seleccionamo-los e internautas não. Só que nos dias de hoje susceptibilidade é sinónimo de imaturidade e não se pode exigir que as questões que são para nós de algum melindre sejam abordadas pelos outros à nossa maneira.
Na blogosfera cruzam-se imensas visões e perspectivas que não encaixam entre si, que não encaixam nas ideias de cada um. Os mais avisados, que não estão para dar para peditórios que lhe desagradam, puxam da sua descrição e afastam-se.
O problema é quando surge aquela vontade irresistível de comentar, de responder, de achincalhar. Quando se não consegue dar uma resposta ao nível da forma como o assunto é abordado. Quando a parte racional já não funciona e tudo se torna instintivo, pior ainda uma miscelânea indistinta dos instintos mais primários e das formações mais marginais e desviantes.
Não falta quem pretenda usar a blogosfera para ultrapassar a barreira da razoabilidade porque tem o espírito mesquinho. Mas também não falta quem não tenha aquela noção do que é sensato ou não fazer. Na blogosfera surgem os ataques mais soezes, ordinários e execráveis, vindos dos que não partilham do mais vulgar bom senso.O problema agrava-se quando a linguagem usada nos meios “normais de comunicação” perde qualidade. Para isso tem contribuído o Execrável e outros políticos da nossa praça. Quando estes baixam o nível, que podemos nós exigir aos outros?

Tem que se ganhar credibilidade para vencer esta guerra

O Português médio acredita pouco em si, na sua capacidade de auto-domínio, de percepção do interesse geral. Grita contra a burocracia mas, no mesmo instante, quer regulamentação apertada para tudo. É esta que o inibe, ou pelo menos quer que iniba o vizinho de fazer as tontarias que ele próprio gostaria de aproveitar.
Toda a regulamentação exige burocracia e fiscalização. Se nós não conseguimos viver sem tantas normas, se o bom-senso não chega, porque para nós é coisa de fracos e temerosos, então temos de arranjar quem passe a vida a tramar a nossa e ainda temos de lhes pagar.
Como lhes pagamos, todos nos sentimos com razão de prosseguir a nossa saga persecutória, de dar força a tudo que é fiscal para que no terreno obste a todas as barbaridades de que não gostávamos. Mas logo barafustamos que os burocratas exageram ao querer passar tudo à lupa, principalmente se nos atingem. Pagamos duplamente. Pagamos as dificuldades e, porque as queremos, pagamos facilidades para tudo.
Uma maior responsabilização pessoal por todos os nossos actos, com normas simples, coisas que todos entendam, não é nada connosco. Por isso tememos que, com a regionalização, se vão andar uns bons dez anos somente a pôr as leis na ordem, a analisar as questões e nelas destrinçar o que fica na velha competência, o que muda, ou aquilo que passa a ser partilhado.
E depois o partilhado será mais um campo fértil de luta política, de dirimir de argumentos, de debates parlamentares, de apelos presidenciais, de aferições da constitucionalidade, de campanhas na imprensa, de jogadas subterrâneas.
Enquanto o próprio governo não puser a casa em ordem, corremos o risco de, em vez de transferir competências, estejamos a arrastar para o lado os problemas, os vícios e esquemas, a irresponsabilidade e o despesismo usados na administração central.
Irão continuar sempre a denegrir a regionalização com o argumento da duplicação da burocracia, que agora há aqui um vasto domínio em que as coisas têm de ser apreciadas na região por uns tantos, no poder central por outros mais e se não houver ainda uma intervenção de direito ou por recurso àqueles outros que lá em Bruxelas tanto dinheiro ganham do nosso, ah! Desculpem, aquele não é nosso. Ou será?
E os mesmos farão da regionalização a causa de todos os males, que antes é que era bom, o Governo tinha uns A.S.A.E.s, perante os quais os seus sucessores, os A.S.A.E.R.s, parecerão uns pombinhos que deixam fazer bolos de bacalhau com lingue e o arroz de cabidela com frangos de cinco semanas.
Naquilo que o governo é rigoroso haverá tendência para abandalhar mas, pelo contrário, para mostrar serviço, far-se-á uma enérgica investida em algum domínio em que o governo se tem mostrado inoperante. Seria bom que, tendo a administração regional braços mais curtos, conseguisse um maior equilíbrio na sua actuação de regulador de vários aspectos da vida da sociedade.
O mapa da regionalização, sendo importante, não é o fundamental. O verdadeiro problema da regionalização está em consensualizar um modelo, uma complementaridade não conflitual, uma forma de dirimir conflitos, uma definição dos poderes autónomos que as Regiões exercerão no âmbito dos poderes de soberania detidos pelo Estado.
Para exercer os seus poderes, as Regiões terão de merecer a autonomia, de ganhar a credibilidade que permita que a opinião pública não exija uma sobreposição de competências nos domínios em que é possível entregar-lhas. Na maioria dos casos não faria sentido o governo fazer daqueles que hoje fazem as coisas, fiscais de uns tantos outros que as passam a fazer depois.
Não restarão dúvidas que haverá um período inicial de maior sobreposição de competências e será disso que o eleitorado não gostará. O Estado não cede poderes sem esforço e considerará sempre que toda a cedência corresponde a passar um cheque em branco, como se vê com certos Presidentes de Câmara.
Era bom que o resultado do referendo fosse claro, expressivo, para que fosse significativo e inquestionável para as pessoas. Para que se pudesse avançar mais depressa, se apostasse mais na credibilidade desses novos órgãos de poder. Um “Sim” claramente vencedor seria mais responsabilizador e diminuiria a dúvida corrosiva, permitiria o trabalho consciente e seguro no difícil período que se seguirá.
Se se conseguir que as pessoas não temam essa fase transitória aligeirar-se-á esta tomada de decisão referendária. Não é colocando esta resolução em tons dramáticos que se consegue atrair ao voto e ao consenso regionalista a expressiva maioria do eleitorado.
Muitos pensam que é acentuando as críticas ao governo que se ganham adeptos para a regionalização. Se as críticas fossem selectivas, visassem os aspectos cuja transferência se pretende, tudo bem, era desejável. Mas a crítica indiscriminada também facilmente é atribuída às Regiões.
Só um “Sim” esclarecedor mostrará que o eleitorado está preparado, que os políticos estão habilitados, que as certezas serão maiores do que as dúvidas, que se não vai herdar uma guerra, mas que se considerará que todos estão de boa fé e não para satisfazer projectos pessoais. Neste processo os que tenham veleidades desintegradoras só atrapalham.

24 maio 2007

A Portugalidade está a um preço exagerado

A invocação de questões de origem étnica, etnológica, de proximidade, até de antiguidade nada acrescenta às possíveis razões para a regionalização. Respeitando e até louvando os estudos de pormenor que sobre esses aspectos se vão fazendo, não é por aí que chegaremos a algo de consistente que constitua uma mais valia irrecusável.
É que razões para nos separarmos, para ao menos nos demarcamos, sempre se arranjarão. Para nos unirmos é que é mais difícil. Faz-me lembrar os tempos de Salazar, os quais na área agrícola só agora se estão a modificar, em que a agricultura era estudada tão ao microscópio que havia regiões, sub-regiões e micro-regiões para tudo.
Aqui porque a vinha era a latada e ali de enforcado. Aqui porque as quintas eram delimitadas a muros de lei e acolá não. Aqui porque o gado tinha cornos, mais além era galego. Aqui porque a couve era galega, lá mais longe havia a penca de Chaves.
Quando queremos, tudo serve para nos zangarmos com o vizinho. Dir-se-á que os princípios não interessam, que os nascimentos se podem fazer em leito de palhas ou de mato. O aspecto principal é as consequências. Mas nós não queremos uma regionalização cujos fundamentos assentem na zanga.
A Lei determina e bem que haja um referendo, que haja um consenso tão vasto quanto possível, uma colaboração entre as partes e entre estas e o todo. Só há um princípio que a Lei não estipula e o devia fazer de forma vinculativa para todos:
Para dar seguimento à regionalização, o Sim no referendo teria que ocorrer em todas as regiões em que se quer retalhar o País. Não podemos obrigar uma região a existir se ela própria acha que não tem condições para tal, mas que já teria se englobada noutra ou com um a diferente partição.
Acima de tudo é necessário preservar a unidade nacional, garantindo a coesão territorial. Se Portugal nasceu a Norte, fixou cedo as suas fronteiras, cimentou cedo o uso de uma língua e de valores espirituais comuns, fortificou a sua coesão lutando em todas as zonas do País contra os adversários externos.
Portugal resistiu em uníssono contra a força centralizadora de Castela, garantiu de tal modo a sua identidade nos século XIV que, quando dinasticamente caiu na esfera espanhola, já as diferenças eram tantas que não era fácil suavizá-las.
De qualquer modo valeu-nos a derrota da Armada Invencível e toda a ajuda inglesa. Não se sabe se melhor ou pior, mas a história teria sido seguramente outra. São as contingências da sorte, do destino, do fado.
Em Portugal nunca ocorreu uma tentativa separatista com esse fim último. A Portugalidade faz-se sentir de S. Gregório a S. Vicente, nas Ilhas Atlânticas e até pelo mundo fora. O esforço desenvolvido pelos descobridores não foi feito pelos moradores da Ponta de Sagres, mas por todos sem distinção.
A produtividade do Minho em homens sempre se diluiu por Portugal, por Lisboa, pelo mundo. Aí não há diferenças. Lá fora os nossos casam-se mais entre si que cá dentro. A nossa fraca mobilidade interior é secular e já fez que nós só conhecêssemos o caminho do mar de Viana do Castelo a Lagos e das cidades ribeirinhas de Porto e Lisboa.
São movimentos que se não podem atribuir a má vontade dos políticos de hoje. Os nossos melhores cérebros seguem os mesmos caminhos há séculos de migração e emigração. Os nossos políticos, mesmo sem serem cérebros (serão?), são na maioria “provincianos”, até têm vaidade nisso.
Furtamo-nos à força centralizadora da Meseta Ibérica, o Planalto Castelhano, e caímos noutras. Os nossos primeiros barcos partiam de Sagres, mas quando passaram a trazer especiarias e oiro era de Lisboa que largavam e onde fundeavam. Pouco podemos fazer contra esta centralidade. Não podemos reescrever a história.
Podemos e devemos dizer que nem com Salazar houve um aparelho central tão vasto, tão forte, tão cheios de mordomias, tão convencido, tão afastado das realidades nacionais, tão parasitário, tão sugador de recursos.
Tudo o que for possível conquistar tem que ser efectivo e não por duplicação. As sanguessugas não podem passar de “produtoras” a “fiscalizadoras”. Ninguém pode ser cosmopolita à custa dos outros.
A regionalização tem que se fazer em prol de um Estado mais eficiente, enquadrada numa perspectiva nacional, que não podemos menosprezar mas que não nos pode sair ao preço por que está actualmente. A regionalização tem que constituir um reforço da nacionalidade.

Ponte de Lima, rural sem ruralidade, urbana sem urbanidade

O património paisagístico de uma região, seja o caso que nos interessa, o Vale do Lima, caracteriza-se pelos seus aspectos inalterados, como as elevações, os miradouros, a constituição morfológica, os bosques naturais, a fauna e a vegetação nativas, os rios e outros cursos de água, o céu e o que dele vemos.
Mas o homem vai actuando sobre esse fundo, que dificilmente podemos imaginar virgem, tão antigo é o povoamento nesta zona. Planta novas árvores, introduz elementos exóticos na paisagem, adopta novas culturas, delimita a propriedade, cria novos animais e novas espécies, organiza a produção.
O homem transforma a paisagem porque nela se encontra muita da base do seu sustento e é nela que trabalha, habita e se movimenta. A paisagem assumiu sempre um aspecto funcional na vida das pessoas porque todos os lugares são bonitos para viver desde que acolhedores para o homem.
Se hoje se dá relevo à arquitectura paisagística é porque se pensou que toda a intervenção humana se pode enquadrar melhor no meio ambiente e o homem pode tirar melhor partido das belezas naturais, para lá do simples incremento patrimonial.
Mas também porque houve uma grande evolução nos meios e materiais que permitem que se crie diversidade, se lute contra a monotonia e se incluam elementos heterogéneos que não agridam a natureza local, antes sirvam, de algum modo, de contraponto à predominância de cores e texturas da região.
O perigo está no passo que vai daqui até à violentação da tradição. Por exemplo tradicionalmente o povoamento fazia-se em zonas abrigadas, de preferência do Norte, porque os materiais eram fracos e havia que arranjar um contra-vento. As casas mais pobres encostavam-se mesmo a um socalco.
O local de construção era o mais perto possível das terras de cultivo. Hoje constrói-se em lugares ermos, em cima de penhascos, em sítios à mercê da inclemência do tempo. Muitos vêm nisso uma ofensa gratuita à tradição, mas quem gosta de horizontes abertos extasia-se.
No tipo de construção, após a pedra sobre pedra, vieram as “maisons”. Hoje quase todos se renderam de novo à pedra, agora trabalhada à serra, com menos mão-de-obra. Renasceram as varandas apoiadas em colunas, as escadas exteriores. Mas em simultâneo vai aparecendo a arquitectura sem rosto, tipo bunker, obra de desenraizados, de paraquedistas.
Altera-se significativamente a paisagem com a predominância dada às casas, quando anteriormente elas eram dissimuladas na paisagem. Hoje identifica-se uma casa a dez quilómetros. Se havia uma antiga que lhe esteve na base, propositadamente ou não, ela só era vista a cem metros ou menos.
Sendo a habitação um elemento importante, estruturante, até porque atrás de si vão as vias de comunicação e outros equipamentos, a sua influência não é considerada como seja desestabilizadora da paisagem, mas os seus efeitos não são neutrais na sua configuração.
Não nos podemos abstrair das habitações que existem, embora nelas devemos reparar, mas não para emendar erros que isso não seria praticável. Com toda a probabilidade mesmo eles se manterão se continuar a ser seguida a politica dos últimos anos. Tudo vai continuar na mesma e não vai haver alterações significativas na configuração urbana do concelho.
Não havendo planificação, nem incentivos para a criação de centros urbanos de média dimensão, a proliferação de casas vai continuar, mas a qualidade de vida vai-se degradar. Em primeiro lugar porque se vai deteriorar o valor e diminuir o tempo dispendido com o espaço circundante.
Se as casas na paisagem são uma mais valia é necessário saber se há condições para as pessoas se fixarem efectivamente lá e se responsabilizarem pelo amanho das terras ao redor. Porque os jardins, as hortas, os pequenos quintais não podem ser deixados a criar silvas.
Depois, sem alguma concentração urbana, não é possível fornecer às pessoas os serviços a que elas estão habituadas numa cidade. Numa paisagem cheia de casas continuaremos a ver a urbanidade bem distante destas terras. Somos simplesmente rurais sem ruralidade e urbanos sem urbanidade.

23 maio 2007

Ponte de Lima será ainda um concelho rural?

Ponte de Lima é um concelho rural, dizem.
A ruralidade é um dos valores que devem ser preservados, opinam.
Há que manter a todo o custo as características mais genuínas de uma viver já moribundo, defendem.
De toda a parte surgem recomendações, conselhos, opiniões.
Todos gostam de dar para este peditório virtual. Os de fora porque os santos da sua terra não fazem milagres. Os de cá por uma estranha subserviência que faz com que quase todos pensem igual.
Atribuído brilho a cabeças que descobriram o descoberto, todos querem partilhar esse brilhantismo. Não lhes interessa que se encandeiam com tanta luminosidade, que se deslumbram com tanto esplendor, que não vejam mais que isso, o que está para além da aparência.
Não será que vêm com olhos velhos uma realidade mutante?
Há olhos para ver o futuro. Quem no presente só vê o que nele existe de atávico, também só vê o passado através das visões que dele subsistem, cheias de encanto e beleza e não vê o que no presente se transforma.
Há quem diga que se não devem tirar as ilusões a quem as tem, que elas já são tão poucas. Entendemos que pior que isso é mantê-las.
Vejamos para já dois aspectos da questão: A ocupação profissional e os hábitos de vida dos habitantes do concelho.
Hoje quem vive exclusivamente da agricultura poder-se-á contar pelos dedos da mão em cada lugar. Se não estamos na média nacional, não faltará muito. A diferença estará no trabalho feminino.
Embora entre as camadas mais jovens, para baixo dos quarenta anos, a procura já seja por um emprego fora do meio rural, ainda há bastantes mulheres a trabalhar exclusivamente nesse sector. Mas poucos são os casais que vivem ambos dos rendimentos auferidos na lavoura.
O trabalho masculino é exercido essencialmente em sectores ligados à construção civil, ao comércio e às indústrias tradicionais. Imensa gente que cá habita trabalha fora do concelho e até do País.
As pessoas aproveitam o período pós-laboral, as que podem, e os fins-de-semana, os outros, para irem fazendo alguma lavoura, para terem alguma coisa na horta, terem algum vinho e um pouco de milho para as galinhas. E também para ter a terra bonita que no geral isso nos terá ficado de gerações anteriores mas dificilmente deixaremos às gerações seguintes.
A nossa inserção numa sociedade mercantil está feita, aquilo que é poesia para os olhos de alguns não pode ser imposto como obrigação para os outros. Recuperar e manter um quadro pastoril, agrícola em decadência acelerada não é tarefa para quem não é escravo da terra.
É verdade que as pessoas vão mantendo o que podem por gosto, mas o gosto é algo complexo que se forma ao longo da vida e que se não transfere já elaborado. Quem se transfere são as pessoas.
Os novos procuram os meios urbanos, a libertação das peias familiares, a desvinculação dos trabalhos mais penosos, a construção de uma vida cada vez com menos conexão aos meios naturais e mais integrada num mundo pensado e elaborado pelo homem.
Nos meios rurais ficam os velhos, os quase caquécticos, parcos em relações humanas, resignados e contemplativos, até que os alberguem num asilo, ou os padres lhes mandem a sopa a casa, que do espírito também já eles não sabem tratar.
Esta mudança silenciosa está à vista de quem queira abrir os olhos. Não para ver a paisagem, que essa extasia, mas para passar para além do deslumbramento, para as profundezas da alma, a voracidade da economia, a avidez dos corpos, a concupiscência dos espíritos.

21 maio 2007

Um destaque familiar nas jornadas de canoagem em Abrantes


Pela progressão verificada nos últimos anos a António Trigo merece este destaque. Já se deslocou a Ponte de Lima por duas vezes para participar nas jornadas de canoagem que cá se têm realizado em Setembro. Teve classificações modestas. Hoje é o terceiro a nível nacional na sua classe. Pertence ao Clube "Os Patos" de Abrantes e como o nome indica é de ascendência limiana: é meu sobrinho-neto. Muita da sua melhoria se deve de certo aos pais que o incentivam, acompanham e apoiam. Parabéns particulares. Ainda te vou pedir a tranferência para o C.N.P.L.

Clube Nautico de Ponte de Lima - Campeão Nacional de Canoagem em Esperanças





O Clube Náutico de Ponte de Lima não deixou os seus créditos por mãos alheias na deslocação das suas Esperanças da Canoagem a Abrantes. Além de subidas ao pódio em várias das subcategorias, venceu esta terceira prova, e o campeonato nacional respectivo, colectivamente.
O mérito é de um grupo heterogéneo de atletas pelas suas idades e características, capaz de brilhar em todas as provas, homogéneo na vontade, na união, no espírito de grupo e grande na dimensão e valor. A grande coesão demonstrada, o apoio mútuo, o incentivo dado pelos colegas e líderes também contribuíram significativamente para garantir estes sucessos.
Mas tal só é possível através de um trabalho profundo, continuado e empenhado de directores e monitores que, numa população tão dispersa como a limiana, conseguem pesquisar, agregar, dar consistência a um colectivo que assim se vem refrescando, reforçando e afirmando cada vez mais no panorama nacional
As dificuldades são imensas. Começam logo pela própria incompreensão de muitos pais em relação à importância, ao carácter quase fundamental que a actividade desportiva assume nos dias de hoje, tanto por si mesma, como pela sua função de encaminhamento dos jovens para um aproveitamento saudável dos seus tempos livres, para a convivência que passe ao lado das sub-culturas lesivas para a juventude mas que sempre se insinuam entre ela.
Até na questão dos custos, muitos pais consideram qualquer gasto monetário que garanta a prática desta actividade (equipamentos, deslocações, refeições) um dispêndio inútil, o que é perfeitamente absurdo. As Associações, com tantos problemas que têm, não dispõem de meios para assumir todo este investimento, mas que custa a ser percebido como tal por vários pais.
Depois de outros problemas “menores”, há o grande problema do local de prática desportiva. Aí toda a gente se diz pronta a colaborar, mas acho que muitos, em lugar de ajudar, só atrapalham. Embaraçam pelo seu silêncio, que simplesmente o falar deste assunto parece perturbá-los.
Uma das razões pelas quais se vive hoje este problema dramático para a modalidade em Ponte de Lima é não se ter pensado seriamente nele e na maneira de o obviar quando se fez o açude e o Centro Náutico. Mas em Ponte de Lima o que interessa é o momento dos foguetes e do cortar das fitas.
Ninguém decerto, dos que tinham obrigação disso, pensou na manutenção em boas condições do espaço adequado à canoagem. O Saber e a Experiência terão ficado para melhor ocasião, como infelizmente é costume.
Esta obra foi importante, o que é diferente de ser bem feita, está longe de ser uma obra de fachada, mas é uma obra que deveria ter continuidade, não se pode ficar por uns anos, como se ela fosse efectivamente só para a ocasião.
Depois de tantas transformações que o Rio levou, das agressões de que foi vítima, pensou-se em o proteger. Se a intenção foi essa, em muito se conseguiu. Mas porque é necessário efectuar agora um estudo de impacto ambiental para fazer um desassoreamento perfeitamente definido, limitado, que está longe de repor as condições existentes no passado?
Erros destes não se deveriam cometer, mas há que o corrigir e não voltar a cair neles. Se a Lei o exige, se tem que ser feito, que se faça, mas em função de uma intervenção continuada que vai ser imprescindível levar a cabo mediante um acompanhamento permanente das condições de navegabilidade do rio. Não se pode andar a pagar estas coisas todos os dias.
Que se faça e que haja quem pague. É obrigação, mais do que dever, da Câmara fazê-lo, dar o pontapé de arranque para que não morra nas suas mãos o sonho, hoje realizado, de ter em Ponte de Lima, o maior Clube Náutico do País.

18 maio 2007

As resistências que se deparam ao movimento pelas regiões

Quando a Europa estava mergulhada no imobilismo feudal, surgiram pessoas e movimentos que deram expressão ao fervilhar das ideias que queriam pôr termo a esse flagelo e eram centralistas.
Ao Renascimento quis a Igreja pôr fim com o manto negro da Inquisição. Esta reacção deu forças a tiranos e tiranetes que a aproveitaram em proveito próprio. Só mais tarde haveria de surgir um movimento mais vasto, já com a intervenção das forças económicas que se foram libertando da sombra em que se tinham que movimentar até aí, a lutar a favor da centralização do poder.
Se este movimento deu origem ao absolutismo e ao iluminismo, não se ficaria por aí. Levaria ao romantismo, ao liberalismo e à criação dos grandes Estados Europeus, que haveriam de condicionar toda a evolução que se seguiu. Todos ficaram satisfeitos com o centralismo.
O problema europeu é que o surgimento de Estados centralizados e fortes levaria, até pelo fraco desenvolvimento do resto do mundo, a ambições imperialistas e a guerras fratricidas. A centralização não tem limites espaciais e criaram-se turbilhões dilaceradores, cada um dos quais intentava vencer.
Se nós Portugueses fomos intervenientes marginais neste processo evolutivo, sentimos o apelo ao centralismo, tanto durante o liberalismo como com os regimes republicano e corporativo. Neste houve uma associação das forças mais retrógradas e das centralistas, tanto devido ao problema colonial como às suas próprias fraquezas.
Se após o 25 de Abril se manifestaram algumas vozes reactivas a este estado de coisas, logo os problemas se acumularam de maneira que não tem havido largueza de pensamento para pensar nas vantagens e desvantagens do estado actual face à regionalização.
No espírito das pessoas de hoje já se vai formando uma dicotomia, mas não escondamos a verdade: O poder central é glorificado, por oposição a um poder que se imagina fragmentário, imediatista e irresponsável.
Não falta mesmo quem fale em governos universais, mas governos a sério, não Roma a comandar párocos devassos. Mas mesmo assim não haveria necessidade de outros poderes mais próximos da população?
Os espíritos mais “avançados” dirão que não. Isto de poderes “regionais” não é para cérebros iluminados. Mas é para a maioria, o comum dos mortais. Com um governo universal, continental ou nacional haverá outro tipo de unidades administrativas que executarão melhor alguns tipos de acções.
O mais importante porém é colmatar as falhas de visão que quem está no centro tem necessariamente. E aí mesmo os mais “avançados” terão que ceder. Podemos sonhar, sonhar mas olhos mágicos é que não há.
Podíamos ainda imaginar um grande computador impessoal que tudo geria. Os empreendedores, gestores de ambiente, de urbanismo, do ensino, da saúde, do turismo, da mobilidade, sei lá, cada um que quisesse mexer uma palha, ir morar para outro lado, definir um plano de estudo, abrir uma taverna, perguntava ao Grande Mestre que lhe daria a resposta e indicaria alternativas, se fosse caso disso.
Alto lá! Não vamos aí. Durante muitos séculos, tantos quantos serão mais que suficientes para fazer reformas hoje, não haverá esse super-computador, com um super-olho integrado na sua estrutura.
Posta de lado esta solução, que absorveria todas as soluções parcelares, fiquemos com as regiões como a dimensão média, capazes de gerir melhor que o centro determinado tipo de competências que os órgãos de poder se atribuem e que os municípios não podem agregar às suas.
Se, pela história e pela especulação, há nas nossas mentes um forte pendor centralista, se há uma forte resistência movida pela centralidade em que os nossos espíritos mais se revêem, é necessário que sejam explicados os processos que estão na origem desta situação e a que ambições e desejos a regionalização poderá dar melhor resposta.
Os convencidos gostam de impor as suas “verdades”. A forma inteligente de actuar é contribuir para que as pessoas não criem dicotomias estreitas, mas antes ganhem a largueza que lhes permita pensar, sejam críticas e não percam o exercício crítico, ganhe ou não a sua opção.

17 maio 2007

Novo Hotel em Cepões para os cães deslocados de Regadas

Consumou-se a transferência dos cães de Regadas para o lugar da Foz em Cepões. Poderíamos rejubilar se fossemos cínicos. O martírio dos habitantes das cercanias acabou, mas não podemos deitar foguetes.
Agora é o Rio Labruja que vai aguentar com todos os dejectos deste imenso número de cães que está sempre em crescimento. Com tantos Euros gastos no Canil Intermunicipal da Valimar em Fornelos, há uma Associação comandada por uma mulher obstinada que não aceita as suas regras, que mais não são que as regras comunitárias.
Esta situação está a assumir contornos de crime contra a saúde pública, com a benevolência ou a conivência dos órgãos responsáveis por fazer cumprir a Lei. A Câmara Municipal não pode licenciar qualquer tipo de construção naquele local.
Não há lugar na legislação portuguesa para associações que desrespeitam sistematicamente a Lei. Quando a maioria do executivo camarário se tem manifestado contra esta situação doentia, parece que só o Presidente da Câmara se vai refugiando em desculpas e mais desculpas, que já não têm qualquer consistência.
Está-se a preparar em Cepões um abaixo-assinado contra esta invasão canídea promovida por gente irresponsável e arrogante. Não brinquem com o povo, que o povo não tolera gente assim.
O lugar é maravilhoso. Situado na confluência do Rio Labruja com a ribeira do Cabrão, não se pode fazer dele um lugar imundo para os cães que ninguém quer. Daniel Campelo também deveria ter posto nos seus cartazes: Não traga para cá cães. Também não devemos pagar esta. Mande a factura de os matar para o Valentim Loureiro.

16 maio 2007

Liderança com equipamento, hino e bandeira

Os que não querem trabalho clamam, para afugentar a tristeza que lhes vai na alma, por uma figura carismática ao Norte, uma voz, um trombone por aí, que se imponha a cépticos e convencidos. Ninguém se preocupa pelos líderes de outras regiões, eles que se amanhem.
Julgávamos que esta questão da identificação de um grupo tão vasto e heterogéneo de portugueses com uma personalidade, ou com um grupo, se faria pelo empenho e pelo trabalho desenvolvido por este(s) e por ter(em) manifestado ideias claras sobre a questão política em apreço.
A não ser os nossos antagonistas no espaço, os algarvios, ninguém tem sequer ideia para onde há-de cair, se é que quer cair para algum lado, ou se antes quer, como aqueles, uma capelinha só para si. A solidariedade nacional impor-nos-ia que fossemos leais para todos e que eles se pronunciem também.
Com os nortenhos a lamentarem assim tão alto esta falta de liderança, correr-se-á o risco de criarem uma correria louca a umas hormonas que façam engrossar a voz. Porque a maioria já sabe que isto de liderança é muito mais que um dom divino.
Hoje sabe-se que a capacidade de liderança, que não seja prepotência e obstinação, é cada vez menos fruto da improvisação, mas do estudo, da experiência, do labor e do receber e dar colaboração a quem tenha ensinamentos e sensibilidades diversas.
Quando há muito se anunciou a falência dos modelos de liderança GDL (Gomes, Pintos & Loureiros), serôdios e já plenamente ultrapassados, é necessário que não se venha a cair no erro de querer impor líderes artificiais, que não tenham a preparação adequada à função.
Só porque alguém se destaca na música ou na gestão de lojas dos trezentos, logo há quem descubra um líder regional. Estas transferências que, pelo que se vê, parecem fáceis, de gestores de papel para gestores de cervejas ou de automóveis, só podem ser a excepção e não a regra.
Um gestor da bola, turístico ou imobiliário não é transferível, que o carisma adquirido nesse cargo não é coisa que se transmute facilmente. Igualmente será imperdoável esquecer que há perfis colectores e perfis gastadores, o que faz com que a maioria dos autarcas e advogados falhem quando sobem a ministros.
Também há que ter em conta que dizer uma generalidades, mesmo que harmoniosas ao ouvido, tem o seu lugar, mas não transforma ninguém em candidato a líder de coisa alguma.
Seria bom, mas não é talvez realizável, que não fossem os partidos a dar a cartilha e a indicar os líderes regionais. Seria bom que, mesmo entre as hostes partidárias, surgisse quem não estivesse à espera do desenvolvimento “normal” da sua carreira política, para alvejar alcandorar-se a líder regional.
Seria “normal” que qualquer político encartado tivesse ideias claras sobre a regionalização e não agisse só em termos de agendamento político, de empolar ou não a agenda dos outros, de pesar a dádiva para “peditórios” que podem ou não dar origem a festa.
Os partidos não gostam de voluntarismos, de franco atiradores e torcem o nariz a causas “perdidas”. Embora quase todos eles tenham esta questão em agenda, não colocaram ainda as suas secretarias a trabalhar para isso e pedem contenção aos seus membros.
Infelizmente muitas vezes os políticos actuam por reacção, mas também é assim que normalmente o eleitorado se comporta. Os governos, os autarcas, toda gente que perde não é porque a oposição ganhe. Poucos votam por convicção, muitos votam pelo mal menor.
É por isso que os referendos nunca são apelativos. No caso da regionalização a manterem-se estes padrões de comportamento, a vitória só será possível se o eleitorado se convencer que o mal menor está nas regiões, o que nas actuais circunstancias é difícil.
Com os vozeirões que há por aí, com a equipe GPL, não se vai lá. Em vez de males menores teremos males maiores. São necessárias vozes serenas, avisadas e livres. Não se queira dar já um equipamento, um hino, uma bandeira. Não façamos da regionalização um reino da bola.

14 maio 2007

Uma das faces da paisagem limiana

O lixo existe e pode ser belo. É esta a temática do Festival Internacional de Jardins 2007 de Ponte de Lima que será inaugurado a 25 de Maio e estará aberto até finais de Outubro.
Nas sociedades rurais como Ponte de Lima o lixo nunca constituiu qualquer problema. Pode-se dizer que só o passou a ser após a utilização daquelas embalagens cavernosas com insecticidas, bactericidas, pesticidas e toda a espécie de substâncias químicas que eliminam esses seres tenebrosos.
Mas surpreendentemente em Ponte de Lima este é o ano do lixo. O lixo aqui é Rei. De repente alguém se apercebeu que o lixo é Arte. O mesmo alguém, presumo, também constatou que o lixo é um incómodo, menos para quem o faz. O próprio alguém, e aqui é garantido que é o mesmo, até reparou que o lixo era caro e pespegou-lhe o preço pelas estrada concelhias.
À falta do colorido, deslumbrante e inimaginável espectáculo das trinta toneladas de lixo amontoadas no Largo de Camões, que o mesmíssimo alguém resolveu cancelar, venha a Ponte de Lima deambular por este labirinto de jardins à beira rio plantados.
Já agora que cá está dê uma olhadela, procure ver o que ninguém vê, suba montes e embrenhe-se nos labirintos das aldeias, olhe a realidade de quem não fala nos telejornais e não está contagiado pela febre mediática, que afinal os reivindicadores que lá nos aparecem são sempre os mesmos e falam à mesma voz, têm cartilha.

A outra face da paisagem limiana

Este é um espectáculo que começa a ser normal. A causa próxima é os dois anos de produção que a Adega tem em dívida para com os seus sócios. Mas além da má gestão feita a partir da importação de mostos para adulterar o nosso vinho há uma conjugação de causas que tornaram este fim inevitável.
Já não são só latadas, mas também os bardos que foram cortados ou ficaram sem poda a dar uvas para os pássaros. À espera de um subsídio para o seu corte pela raiz, talvez.
A transferência pura e simples da Adega Cooperativa em que a Câmara insiste será só o retardar de um colapso inevitável. Depois dos erros cometidos pelas gestões anteriores em todas as cooperativas, mas em especial nesta, só resta à Adega transformar-se num prestador de serviços de vinificação e deixar a comercialização para os produtores ou outros intervenientes. A marca Adega Cooperativa já não vende.

12 maio 2007

O ambiente e a paisagem num contexto de regionalização

Entre as pessoas pouco dadas a preocupar-se com o nosso futuro colectivo, mas que de quando em vez perscrutam o horizonte e dele recebem mensagens assustadoras, corre a frase seguinte: “ainda se há-de ver trabalhar de novo todas estas courelas que estão agora ao abandono”.
Nunca se pode dizer que não. Efectivamente os socalcos podem virar frondosos declives, os vinhedos passar a plantas rasteiras que produzam álcool para automóveis, o milho mudar para alguma abóbora híbrida ou transgénica mais vantajosa para a alimentação animal. A paisagem é que jamais será a mesma.
Aquela frase servia para assustar os jovens, pô-los de sobreaviso, dar-lhes uma reprimenda sobre o seu desleixo. De igual modo, quando se via alguém de coluna vertebral ao alto, lamentando-se pela falta de trabalho ou a pedir, logo alguém dizia que fosse trabalhar para a lavoura que não faltava onde.
Quem hoje disser isso não nos está apontando o caminho da abundância, mas o da miséria. Já não é realista usar tais frases. Duvido que seja ainda possível dar às courelas do Alto Minho a produtividade que em tempos alimentou milhares. Tornam-se necessárias novas soluções, mas quase é certo que adulterarão a paisagem e mudarão o ambiente.
Desde que a batata e o milho de maçaroca invadiram estes campos que cá não houve mais fome. Ao superpovoamento sempre se respondeu com a emigração, mas nunca ia a família inteira. As raízes cá ficavam mesmo que sustentadas a broa e caldo de couves e feijão adubado com a carne do bízaro.
De modo maciço, com grupos familiares completos, a nossa emigração é recente. Nos últimos vinte anos é que tem havido uma progressiva debandada. Em certos casos mais específicos terão ocorrido migrações internas deste género devido à fome de meados do século passado. Para o exterior só desde a década de setenta. Hoje a quem se vai dizer que volte?
Os concelhos de Paredes de Coura, Arcos de Valdevez, Ponte de Lima e Ponte da Barca são os que mais sofrem no Alto Minho com a desertificação do meio rural, com a deterioração da paisagem, com a destruição do arquétipo da exploração rural secular.
Por todo o lado já se vêm socalcos destruídos. No Sistelo, candidato sempre adiado a Património da Humanidade, corremos o risco dos seus socalcos tombarem também. Será possível criar zeladores da natureza e do meio rural, para manter artificialmente uma paisagem, que já não um modo de vida, mas o equilíbrio precário possível entre o homem e o ambiente?
Nas quintas e quintais, frondosos jardins a que a vinha contínua já produzira alterações, abandonou-se a agricultura promíscua. Outrora cultivava-se em cinco níveis no mesmo plano vertical: feijão, milho, vinha, oliveira, nogueira. Hoje já se só vêm matos, silvas, giestas e codeços.
Mesmo aqueles que tentam obstar a esta invasão fazem-no pela beleza, sabendo que têm prejuízos. Muitos que iam arranjando trabalho por perto de casa faziam-no nas horas sobrantes. Cultivavam com a mulher a sua courela ou até a de outros. Mas hoje vão trabalhar cada vez para mais longe, as mulheres entraram no mercado de trabalho não agrícola e o tempo e a vontade vão escasseando. Só no sábado se vê alguma gente a trabalhar no campo.
Aos velhos deram-lhes um terço e um baralho de cartas para estiolarem nos Centros de Dia em vez de os deixarem livres de fazerem o que lhes aprouvesse, andar com a vaca pela soga, dar uma sachadela nas batatas, aquelas selvajarias que os bem pensantes e ordenados não queriam ver.
De certo conforme o local, estamos no princípio, no meio e em alguns sítios no fim de um mundo que, mesmo difícil, deixa saudades a muitos. A saudade de estar na América e ter um irmão a conduzir pachorrentamente os bois, estar na Austrália e saber que pode voltar às terras que um primo lhe trabalha.
Agora já não voltará ninguém. É inútil até pedir ao governo, à comunidade dinheiro para fantasmas. A manutenção da paisagem só será possível com um enquadramento específico para a população que nela habita, com um trabalho perto de casa e um estímulo para preservar o ambiente. Se isso fosse implementável haveria pessoas interessadas.
Há um conhecido autarca que se quer reformar dessa actividade para ser pastor e até já diz: “a terra para quem a trabalha”. Será que uma nova lei das sesmarias resolveria esta situação? Claro que nos faltam leis inovadoras para regulamentar o uso da terra.
Até agora só tem havido preocupação em abrir estradas para que os que cá estão possam fugir mais depressa e para que alguns venham cá passar um fim-de-semana encurralados numa casa que dizem de campo, mas que cada vez mais se parece com um inestético bunker.
A regionalização não pode servir para querer fazer no Norte a cópia do que se faz no Sul. Também vejo muita gente preocupada com o lado macroeconómico, com indicadores, subtilezas estatísticas e pouca preocupada com os problemas reais. Estamos todos condenados ao racionalismo económico que levará à desertificação inevitável?

10 maio 2007

Apresentação do Cartaz da Vaca das Cordas em Ponte de Lima



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09 maio 2007

Vamos à Vaca - Augusto Canário


Velhinha Ponte de Lima
Terra de festas e borgas
Mantém tradição antiga
A famosa Vaca das Cordas.
Na véspera do Corpo de Deus
Dia Santo e Feriado
A “Vaca” em Ponte de Lima
Tem o seu dia marcado

Lá vai velho, lá vai novo
É tamanha a xinfrineira
Escuta-se a voz do povo
Cantando desta maneira

(Refrão)

Vamos à Vaca, vamos à Vaca
Vamos à Vaca
Que é dia de muitas borgas…
Vamos à Vaca, vamos à Vaca
Vamos à Vaca
Mas é à Vaca das Cordas

Antes do toque das Trindades
Dos curros da Casa D’Aurora
Com foguetes a estourar
A “Vaca” sai cá p’ra fora

Duas cordas amarradas
Prendem a cabeça ao macho
Há pegas e gargalhadas
Rua acima, rua abaixo…

Entre olés e correrias
Dá três voltas à Matriz
Rega-se a Vaca com vinho
E o povo canta feliz.

(Refrão)

No areal junto ao rio
A Vaca é toureada
Há quem a pegue com brio
E quem leve uma cornada…

Quando a Bichinha é recolhida
É hora de encher o bandulho
Vai tudo dar ao “serrote”
Tudo vai ao sarrabulho…

A noitada continua
A alegria nunca falta
E alguns dos mais atrevidos
Vão cantando em voz alta

(Refrão)

Vamos à Vaca, que bela Vaca
Vamos à Vaca
Que é dia de muitas borgas…
Vamos à Vaca, que bela Vaca
Vamos à Vaca
Mas é à Vaca das Cordas

Onde estava no original Conde troquei por Casa por duas razões: Na Républica não há condes, depois porque efectivamente os curros são da Casa que admiro e respeito.
Sobre a minha relação com a Vaca leia em http://trigalfa-publicado.blogspot.com/search/label/Pessoal

08 maio 2007

Defendamos regiões viáveis não caricaturas

Muitas causas se perdem, não pelo seu valor intrínseco, mas pela maneira como são defendidas. Assim aconteceu com a regionalização por nunca se ter conseguido contextualizar a sua inserção na realidade nacional.
Um dos males de que enferma qualquer debate sobre a regionalização é que sempre se usam exemplos para dar força à argumentação e nós carecemos deles. Os que existem estão longe de nós e não suficientemente divulgados. Os que estão próximos não se nos aplicam.
Desde logo porque a regionalização insular é de uma outra natureza que, pela descontinuidade, cria características tão marcantes que chegam aos aspectos psicológicos e sociológicos que, no entanto, não o são tanto que careçam de outro quadro legal.
Desde logo também porque a regionalização espanhola assenta essencialmente em unidades linguísticas, raciais, culturais ou sociais, com um longo passado de diferenciação, com alguma forte centralidade, mas também com outra dimensão e outro potencial próprio.
Nós, ao falarmos em regionalização temos de nos referir ao País todo e não argumentar somente com aquilo que serve o Norte e não servirá ao Sul ou ao Interior. Porque das características que fazem com que se crie no Norte um movimento mais forte, e que de algum modo tem cabimento para lhe dar razão de ser, é uma forte centralidade à volta do Porto, o que mais justificaria porém que se dividisse o País em duas ou três regiões.
Isto faz que ao discutir a regionalização, ao querer que novos aliados se juntam a um processo nesse sentido é necessário que esse aspecto passe a não ter qualquer relevância no argumentário respectivo.
O Porto, por ser o mais forte entre os fracos, não ganha nada em acentuar as suas particularidades, antes ganharia em que se deixasse diluir no caldo de cultura nortenho e fosse o pólo representativo de todos. Não ganha nada em se armar em farol em terra de cegos.
O cariz cosmopolita do Porto tenta ser uma cópia do lisboeta e, quando o não é, cai no ridículo “jardinista” de pôr vozes folclóricas a falar abusivamente por uma realidade nortenha que a maioria está longe de conhecer. O Porto assume as vitórias como fugas à ridicularia e à vulgaridade.
Tendo em conta que a cultura poderá constituir de algum modo o cimento para uma comunidade, não é a mistura aleatória entre o mais endógeno e a cultura sem pátria que pode dar frutos saborosos.
Todos sabemos que se torna necessário, para nos não deixarmos diluir na uniformidade, que a nossa cultura mais ancestral passe por um processo de modernização, adaptação e universalização para que as nossas raízes venham a frutificar um dia e tornem o ambiente reinante menos adverso.
Para já só vejo uma unidade com características suficientemente comuns e maugrado as tentativas e alguns “frustrados” sucessos divisionários dos vianenses, que é o Minho. Mas, como região, é demasiado pequena, embora bem maior que o Algarve. A única hipótese a Norte é mesmo o Norte.
O problema é que, assim sendo, não há qualquer razão para outras regiões. Todas serão artificiais e então o Algarve nem se fala. Mas a criar o Norte ter-se-ia que criar o Sul, sem qualquer referência a qualquer província existente, talvez a sul de Vila de Rei ou do Alto da Serra. E Lisboa, como zona metropolitana ficaria de lado.
A não ser que o Norte queira ser a maior região e para tal defenda a divisão a retalhos do resto do País. Não chega sermos egoístas. Se a única hipótese a Norte é mesmo o Norte, a Sul que se entendam? È necessário que defendamos coisas viáveis não caricaturas

Espalhemos esta beleza pelo universo

Há quatro grandes pedreiras no Concelho de Ponte de Lima mas só uma dá nas vistas, preocupa os políticos do Largo do Zarolho. Vitorino das Donas está longe, Fornelos e Ribeira estão nas costas.
A pedreira do Monte de Antelas está de caras. E é isso que incomoda. Não interessa as pessoas que vivem da sua actividade. Não interessa a necessidade dessa matéria-prima para obras escultórias e de construção civil.
A alma dói? Há almas que se condoem mas não me parece que sejam as de Gondomar. Não é por isso que eles deixarão de cá vir. Para mim é maior dor de alma ver quintas inteiras com as vinhas destruídas, cheias de silvas e matos, nem uma vaca, quando muito umas ovelhas mirradas.
Nós não estamos numa zona de paisagem passiva, numa área de reversa integral. A nossa paisagem tem que bulir, é preciso que na paisagem haja sinais de vida. A paisagem não é uma natureza morta.
As agressões ambientais silenciosas são bem mais perigosas sem que não deixemos de pugnar para que aqui se cumprem as boas práticas ambientais. Não é por se extraírem umas toneladas de pedra que devemos estar alerta. É pelo destino do pó das serras que nos devemos preocupar.
Não é por haverem manchas brancas na paisagem. É pela desflorestação sistemática que se está operando em todo o lado. Não é por haver detritos de pedra abandonados. É por se continuar a trabalhar sem condições.
A estruturação e regulação destas actividades de extracção e transformação de granitos estão em curso e é pela sua perfeita integração no ambiente e pelo seu controle legal que devemos pugnar.
Que os nossos granitos, duma terra de canteiros afamados e de escultores da pedra, vão cada vez mais longe, sejam transformados de natureza bruta em beleza esculpida. O deficit que cá se criar será largamente compensado pelo colorido e esplendor das obras de que está na origem.

06 maio 2007

Os poucos regionalistas não correm o risco de serem corredores solitários?

A regionalização é ciclicamente introduzida no debate político como solução para muitos dos males de que sofremos. Em primeiro lugar porque entre a maioria dos políticos encartados existe a noção de que todo o que for alastrar o seu campo de acção é benéfico para o País.
Os políticos de província vão discutindo periodicamente a regionalização como resultado da sua apetência pelos poderes discricionárias. Se conseguirem furtar-se a uma orientação nacional, livremente escolhida pelo povo, fazê-lo-ão por capricho ou vaidade e poucos por convicção.
Há uma fraca intervenção da sociedade, mesmo dos que mais poder detém, dos que são independentes do poder político mas essencialmente não dependentes do poder do Estado. Porque aqueles que forem dependentes deste poder sempre acharão que, estando ele mais perto, mais facilmente deitam a mão à “teta”.
Sabendo nós quanto mal funciona o aparelho de Estado não é liquido que o passe a ser na sua versão regionalista. Acredito mais na reorganização que o Governo está a empreender do que do passar tão simplesmente parte da máquina para a tutela de outros poderes.
A criação de um patamar intermédio traz tantos problemas de interligação e de ajustamento funcional e legislativo com os patamares superior e inferior do poder político que antes que as peças se adaptem decorreria muito tempo e esse também é hoje um bem escasso para ocorrer à solução dos problemas mais prementes.
A regionalização não se pode, nem é tida pela generalidade das pessoas, como uma obsessão. Pelo que a obsessão de uns tantos faz legitimamente levantar suspeitas e cria aversão em relação a um modelo que carece de uma definição prévia.
A nossa experiência em termos de regionalização, mesmo assim de diferente natureza e com uma justificação natural, cinge-se aos Açores e àquele caso paradigmático de folclore institucional que é a Madeira.
Qualquer opção colocada em termos de aceitação/rejeição por uma nova situação que desconhecemos, que nos querem impingir como um salto para o escuro, não é justo muito menos leal para o eleitorado.Os que são a favor terão que provar os benefícios dessa opção e não quem defende que tudo fique na mesma. A pura confiança política, mesmo que os proponentes tivessem mais credibilidade que o Pinto da Costa e a maioria dos dirigentes da bola, não pode servir. Os cheques em branco são cada vez mais perigosos.

04 maio 2007

O que define o carácter … ou a falta dele

Nesta época primaveril parece que os espíritos se abrem mais, se esquecem das segundas intenções que as palavras podem comportar, apresentam-se mais terra a terra.
Depois do Paulo Portas ter dito que “o trabalho liberta”, para manifestar decerto o que lhe vai na alma depois de ter passado dois anos na Assembleia da Republica sem nada fazer, temos agora o Execrável a dizer da sua justiça.
Disse há tempos que não falaria mais dele, que não vale a pena falar de tão fraca personagem, mas agora tem que ser, é mesmo por uma afirmação que ficará como um caso paradigmático, para não dizer outra coisa.
Muitas vezes dizemos que este tipo de figura devia desaparecer, pela sua pequenez, pelo carácter abominável das suas tiradas mais insidiosas, mas não há dúvida que acabam por fazer falta como maus exemplos para todos, como os drogados são um mau exemplo para os jovens.
Então não é que o Execrável veio afirmar numa entrevista de 04/05/2007 à RTP, a propósito da demissão do executivo camarário de Lisboa, quanto lhe custou tomar essa atitude que “Não é de ânimo leve que o P.S.D. coloca o seu imenso poder em jogo nas mãos do eleitorado”.
E eu que julgava que era no eleitorado, em última instância no povo, que residia a fonte de todo a soberania. Que era o povo que delegava nos políticos, nem que eles sejam tão só um grupo de indivíduos mancomunados num partido. Que neste caso a delegação até era num indivíduo independente mas que afinal é refém da estratégia do partido dos verdadeiros suspeitos.
E eu que julgava que o povo delegava em pessoas com a necessária credibilidade e não recebia de um bando esse poder soberano. O povo parece que só cá está para que resolver os problemas que em momentos de crise estes homens sem princípios e sem moral, a quem a boca com estes lapsos foge às vezes para a verdade quanto à maneira como vêm a política, não conseguem remediar.
O Execrável não saberá bem o que disse. O Execrável, que há muito se imiscuiu em assuntos que lhe não dizem respeito para ter algum protagonismo, cometeu o mais grave atentado que se pode fazer à soberania popular.
Se houvesse um tribunal para julgar este tipo de gente, este homem em particular, que anda a vegetar há tantos anos pelos corredores do poder, ao qual acedeu pela mão do Patriarca Eurico de Melo, há muito estaria irradiado.
Estas são as verdadeiras falhas de carácter. Um indivíduo que se afirma dono do poder é um crápula arrogante, que não possui a humildade para exercer qualquer cargo público por delegação do povo.

O açude insuflável de Abrantes, um exemplo para Ponte de Lima

Encontra-se já plenamente instalado o açude insuflável do rio Tejo em Abrantes. Ele vai permitir uma gestão permanente do espaço fluvial existente entre Abrantes e o Rossio ao Sul do Tejo, cujas margens também já constituem um espaço agradável, aberto e convidativo.
Com a possibilidade de, sempre que necessário, as águas possam voltar à sua altura e largura normais, o que está previsto acontecer duas vezes por ano e excepcionalmente em períodos de inundações na bacia do Tejo, está garantido que não haja assoreamento, acumulação de inertes e lixo, inevitável nos diques fixos como o de Ponte de Lima.
Entretanto o lençol de água criado será o ideal para a prática dos desportos náuticos não motorizados, lá se deslocando já no próximo dia 20 de Maio o Clube Náutico de Ponte de Lima para participar em campeonatos nacionais.
O meu gosto particular vai para os diques de pedra do género do construído na Ponte da Barca, para as velhas pesqueiras que vão sobrevivendo para jusante da barragem de Touvêdo, das quedas de água naturais, como a existente em frente aos moinhos da Ribeira na Gemieira.
Mas aqui é necessário conciliar a robustez e a eficácia com a beleza e a modernidade, o que não foi de maneira alguma conseguido com o açude de Ponte de Lima. Está destroçado, seccionado, desconfigurado.
Em Leiria e em Águeda este exemplo de Abrantes vai ser seguido a uma dimensão menor nos rios Liz e Águeda. Aqui em Ponte de Lima será necessário pensar mais alto, mas não está fora das nossas possibilidades vir a construir um semelhante ao de Abrantes, tal a largura do nosso rio.
Muitas vezes, em vez de improvisações saloias mais valia esperar que os técnicos nos fornecessem uma solução mais consistente. Ela está encontrada. Agora é dizer adeus ao dinheiro gasto e avançar.
Mesmo assim bastante proveito já teria sido conseguido com o açude que temos, para a canoagem e para a defesa das pontes, dado o arrastamento que estava a ser feito das areias. Mas agora estamos num dilema:O Clube Náutico não tem condições para operar, necessitava de uma drenagem do excesso de areias que se acumulou e essa drenagem só temporariamente resolverá o problema. A solução definitiva deveria ser já pensada e passa por um açude idêntico a este.

03 maio 2007

A propriedade da cor

Sou visceralmente contra aquele cartaz indigno, brutal, revelador de uma falta de nível confrangedora. Mas nada tenho contra a sua cor, mas também nada tenho contra que se brinque com ela.
Aquilo que seria uma trivialidade passou a ter contornos mais sérios a partir da altura em que um representante do P.S.D. se insurgiu contra o seu uso em plena Assembleia Municipal de Ponte de Lima de 30/04/2007.
Efectivamente disse o Sr. Pedro Ligeiro, com os cotovelos a arder por lhe usarem a cor, que “Curiosamente ou não, o cartaz com a mensagem mais ofensiva é cor de laranja, precisamente a cor do P.S.D.”.
Claro que me fez lembrar o P.C. nos idos de 1974 quando se arrogava a propriedade da foice e do martelo, que nunca ousou sequer tentar apropriar-se da cor. Os símbolos são importantes mas será melhor diferenciarmo-nos por outras vias.
Talvez isto aconteça, os laranjinhas reivindicarem o seu uso exclusivo, a sua propriedade, porque o laranja tem pouca serventia, mesmo na natureza não é muito frequente.
Ora os publicistas sabem que uma cor assim pouco usada tem uma atractividade acrescida. Por mim aquela cor de fundo no cartaz não tem qualquer significado especial, a não ser este, não leva a qualquer associação.
Nós sabemos que há mentes pervertidas que tudo associam, mas para puro divertimento, gozem muito com isso. Quando se querem tirar outras ilações corre-se o risco que cair num campo mais doentio.
É por esta razão que me sinto na obrigação de fazer este reparo, para que a oposição ao Daniel Campelo não dê tiros nos pés, para que lhe não dêem azo às suas tiradas hilariantes destinadas àquelas que no fundo da sala estão sempre à espera de dar o seu contributo para a boa disposição geral.
Este P.S.D. é mesmo especial, não quer que lhe usem a cor e ainda ninguém se lembrou de lhe utilizar as setas. Quem quer dar nas vistas por estes meios não vai lá. Seria bom que não deitassem achas para a fogueira e deixassem o Daniel Campelo a fazer o espectáculo sozinho.

“O trabalho liberta”, diz o "novo" velho Messias

Veio à baila estes dias uma expressão usada por Paulo Portas e que o nazismo colocou à entrada de um campo de libertação, com o intuito decerto de fazer humor negro: “O trabalho liberta”.
Não seria intencional mas não será uma reminiscência vinda directamente dos manuais do nazismo mas é reveladora da proximidade de pensamento, que não estarão longe ao usar uma mesma alegoria.
O homem, para sobreviver, para se movimentar e dominar os outros seres, para controlar na medida do possível a sua existência, teve que trabalhar. O trabalho tem este e tão só este carácter de necessidade.
É a manifestação da vontade de o homem dar continuidade a uma existência que muitas vezes até carece de sentido. É da mais pura indignidade obrigar os homens a trabalhar só por trabalhar.
Sem descurar a obrigação de contribuirmos com trabalho para a manutenção e o aperfeiçoamento do tecido social, o que pode ser visto como um imperativo ético, tem que haver outras razões para dar sentido à existência.
Até porque, se cada um de nós não tiver um rumo definido, corre o risco de cair no questionamento desta civilização, o que pode ser filosoficamente correcto, mas realisticamente inglório e existencialmente frustrante.
Façamos do trabalho aquilo que efectivamente é, algo que satisfaz pelos rendimentos que proporciona, pela independência que nos pode trazer, que, seja qual for o fim que se pretende atingir, pode ser mais ou menos agradável de praticar, mas não é um fim em si mesmo.
Exercendo-se por necessidade ou não, o certo é que devemos executar as funções a que nos comprometemos com a máxima lealdade para com a entidade para a qual as prestamos.
Se quem trabalha o faz com alegria, porque o consegue enquadrar melhor na sua vida, porque consegue gerir convenientemente o seu próprio tempo, incluindo o tempo que dedica a essa rotina tanto melhor.
Se quem trabalha adquire mais auto-estima por não estar à espera de usufruir de bens sem contribuir directa ou indirectamente para a sua concepção, fabrico ou manutenção, tanto melhor para si. É sinal de que o trabalho compensa.

02 maio 2007

Em Abril as mudanças foram mil

O discurso sobre a história fica normalmente agarrado à realidade actual. Esta visão não permite o encontro de explicações e justificações para as mudanças operadas no passado.
Se dermos à história um sentido tendencial, que não determinístico, mas que admite retrocessos e avanços, só nas fases de retrocesso nós poderemos fazer a explanação clara, objectiva e significativa dos factos que levaram de uma existência (um estádio superior) a uma ausência (estádio inferior).
Contrariamente, numa fase evolutiva não temos forma de, utilizando o mesmo método, chegar a conclusões sobre o alcance e a natureza das transformações operadas no passado que tenham constituído uma avanço significativo, em termos civilizacionais.
Passar da ausência à existência não é compreensível para quem não viveu a primeira e até para quem a viveu sem sentimentos claros de rejeição desse passado. Também a simples emotividade vivida pela ocorrência de um acontecimento marcante não é suficiente para a sua compreensão.
È isto que se passa em Portugal em relação ao 25 de Abril e que explica a “ignorância” das novas gerações, e mesmo da geração que o viveu, em relação aos méritos desse momento decisivo que permitiu todas as transformações que se operaram depois.
Antes houve ausência, ausência de quase tudo, até de sentimentos profundos de repulsa por uma situação desprezível e de expectativas consistentes em relação a um futuro perfeitamente não expectável.
Hoje há existência, existência de quase tudo, até de sentimentos profundos de ingratidão em relação a uma situação de algum modo satisfatória e de expectativas exageradas em relação a um futuro de que se não aceita ser menos que o céu nesta terra, que corre o risco de nos morrer nas mãos.
Claro que as evoluções não são lineares. Cabe-nos identificar aquilo que correu mal, aquilo que podia correr melhor, tentar controlar alguns dos efeitos mais perversos, apelar a mais solidariedade, a mais homogeneidade social, a mais dignidade da pessoa humana.

01 maio 2007

A falta de solidariedade com o trabalho humilde

Tempos houveram em que ocorria uma clara demarcação entre trabalhadores e uma classe ociosa de guerreiros, nobres, clero, detentores da terra e depois proprietários das manufacturas, das minas, da indústria. “Trabalhar”, para esta gente, era indigno.
O trabalho estava essencialmente ligado à terra, as pessoas dispersas pelos sítios mais produtivos e só com a progressiva formação de cidades o trabalho se foi diversificando e novas formas da sua prestação se foram criando e os próprios patrões mais modestos foram trabalhando.
Mas se a desvinculação da terra constituiu uma libertação que trouxe ao homem alguma dignidade, logo surgiram novas formas de “esclavagismo” que tornaram o homem dependente, mais dependente ainda em termos de sobrevivência embora mais livre de se movimentar.
A proletarização, um desenraizamento que levou a uma perca de “domínio” sobre o meio de produção e das condições de trabalho, criou uma nova dependência e deu origem a movimentos libertários, de um dos quais derivaria a celebração deste 1.º de Maio.
Até há poucos anos estas realidades estavam em Portugal confinadas e algumas zonas mais industrializadas e o meio rural continuava a ter um peso determinante, com vastas camadas da população alheias àquele fenómeno.
À medida que os sectores secundários e terciários foram ganhando terreno, à medida que o rendimento do trabalho da terra foi declinando, aqueles sectores foram absorvendo a generalidade das pessoas e criando mais poder reivindicativo.
Simultaneamente criou-se uma necessidade generalizada de trabalhar. Hoje a bandeira de trabalhador é empunhada pelas mãos de quem há uns anos era vitima das maiores suspeições, não entrava na sua definição estrita.
Mas a própria estrutura da indústria se foi alterando, criando uma indústria menos massiva e menos vulnerável à pressão sindical. A proliferação de unidades empregadoras também dificulta a conjugação de esforços em comparação com os antigos proletários.
Hoje até o sindicalismo vive de profissões que outrora estavam incluídas no sector dirigente e estruturante da sociedade, perdeu as suas raízes populares. O conceito de trabalhador evoluiu porque evoluiu a sociedade e não é mais possível definir claramente qualquer linha que o demarque.
Os tradicionais sindicatos cada vez mais se diluem entre outras organizações criadas para defender os direitos de grupos profissionais. E quem adquire mais poder reivindicativo são aqueles que menos se justificaria pois são quem mais se vai elevando em detrimento de sectores mais vulneráveis.
Às associações sócio-profissionais, cada vez mais egoístas, falta o poder da solidariedade para com aqueles que mais se vão vendo presos à base da pirâmide social, cujo trabalho é cada vez mais desvalorizado. As mais poderosas são as que se opõem ao Estado, que perante a iniciativa privada o seu poder é hoje quase diminuto, não fosse o estado interferir na regulação.
Hoje os que merecem solidariedade continuam a ser os mesmos de há séculos e paradoxalmente sindicatos e quejandos estão agora do lado de cima e a contribuir objectivamente com a sua quota-parte para a manutenção e até para a acentuação das diferenças sociais.
O Estado também tem contribuído muito para isso, vergando-se ao poder efectivo dos seus gestores e dos muitos sindicalizados que pertencem a órgãos de soberania e às estruturas superiores da administração pública, autênticos sugadores do orçamento de Estado.
Se não fizermos força em contrário até veremos os governos que aí vêm a voltar a remar em seu favor. Só podemos tirar força e dinheiro a estas sanguessugas e a todos os corruptos se tirarmos força e dinheiro ao Estado, mas o soubermos aplicar. Teremos que quebrar a sua lógica, que é a lógica adoptada pelos sindicatos, de que tirar o dinheiro é a quem o tem.
Corremos o risco de, esquecidas as razões orçamentais que vão constituindo algum travão, logo que estas ultrapassadas, a tendência seja de voltar de novo ao velho ciclo da desbunda.
O dia do trabalhador deve ser hoje o dia dos que não têm trabalho, o dia dos que não têm meios de defesa, o dia dos que necessitam da dignidade de contribuírem para o bem da sociedade e de receberem por isso, o dia da valorização dos trabalhos mais humildes mas necessários.
Se não for assim, este dia Primeiro de Maio deixará de ter significado.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana