31 outubro 2009

A corrupção visível e invisível

Normalmente atribui-se a corrupção à existência de um Estado forte, de um grande sector empresarial desse Estado, à promiscuidade que se estabelece nas relações do Estado com a iniciativa privada. Não fora isso e parece que seríamos uns santos.
É velha a presunção, para muitos é uma certeza, que só se consegue competir, ultrapassar os outros, comprando os apoios de alguém alojado em organismos com poder. Quando se querem bons negócios partilham-se os lucros com alguém. Sejam árbitros, polícias, políticos, decisores enfim.
Mas tinha-se a ideia que os corrompidos eram gente pobre ou remediada, que queria acrescentar uns cobres ao seu pecúlio. Na realidade cada vez mais isto é jogo para os muito ricos, aqueles que querem ser cada vez mais ricos e uns porque querem açambarcar tudo à sua volta, outros porque querem aproveitar tudo o que lhes vem à rede.
O caso do sucateiro de Aveiro até parece que se enquadra no modelo antigo, daquele individuo que vem do nada e repentinamente constrói um império da sucata. São os casos que mais se realçam na sociedade, mas é evidente que gente há muito bem instalada que se dedica a este jogo sem precisar de tanto frenesim para obter apoios.
A corrupção também não existe somente nas relações da economia privada com o sector empresarial do Estado. A diferença também está somente na visibilidade. Os gestores ou outros decisores do Estado e do seu sector empresarial roubam para a sua carteira e dão mais nas vistas. Os privados podem roubar para a sua empresa, que para si é.

30 outubro 2009

Um subsídio a tudo e todos! Fim à ditadura do ensino!

Colocar o Estado a pôr a sua mão salvadora sob os micros, pequenos e médios empresários foi uma tarefa a que todos os partidos se dedicaram com afinco nos “antes” eleitorais. É o comércio tradicional, é a indústria manufactureira, são os pequenos serviços, tudo está numa crise que já vem de longe, de antes desta crise, doutras crises que o processo capitalista foi gerando e vai continuar a gerar decerto.
O capital em grande faz supermercados, deslocaliza a indústria, cria artigos de usar e deitar fora, torna incorruptíveis os metais, cria autómatos para substituir os homens, até para cortar relva, enfim, condena noventa por cento ou mais das pessoas a serem empregadas das outras. Se fossemos empregados do vizinho ainda vá, mas ser empregado de quem se não conhece é desmoralizador.
Unicamente nos põe a competir por um lugar numa hierarquia que criaram para nos controlar, a nós e a todos, menos a eles próprios, aos senhores do capital em grande. Ah! Que sorte têm aqueles felizardos que trabalham para o Estado, têm cunhas para meter, amigos para os proteger, conspirações a que se podem dedicar. Só um senão: O capital anseia por privatizar tudo para que alguma mais valia fique no seu bolso.
Contra a maré só tínhamos o Governo anterior, apostado em defender os seus funcionários, mas claro desde que eles tivessem dignidade para tal. Submerso pela ferocidade de professores e outros que tais que a direita há-de um dia pôr a trabalhar para os privados, pagos à hora e sem benesses idiotas.
Não sei para que construíram tanta escola, mas acho que um governo de direita virá que fará bom dinheiro delas, dando de borla os professores para se ver livre deles.
Viva a escola privada!
Viva a liberdade de escolha da escola!
Viva a liberdade de escolha dos professores!
Viva a liberdade de todos darem aulas!
Um subsídio para os alunos, já!

29 outubro 2009

Que incógnita esta!

Até parece que sentimos saudade dos dias em que havia estocadas para todos os gostos. Previamente condenado, o Governo era a fonte de todos os males e o bombo de todos as festas. Outra acção não era necessária senão a de esperar pelas notícias, que todas tinham bom aproveitamento no afã de demonstrar ao Povo que os governantes eram inaptos e acima de tudo mal intencionados.
Hoje foi necessário vir a madrasta de uma criança que faleceu, presumivelmente vítima da gripe A, gritar para a porta de uma Escola a sua indignação por ainda estar aberta e ganhar assim o direito ao seu minuto de fama e glória televisiva. Noutros tempos, não há muito, não faltariam políticos a fazer essa figura com menor sinceridade mas decerto com outra veemência.
Suspeitas de corrupção, padres pistoleiros, crianças vítimas do álcool nas frias terras russas, os assuntos não têm faltado, só nos falta a palavra sábia dos políticos, pelo menos o seu comentário a propósito.
Incrivelmente os políticos calaram-se, gastaram toas as suas energias, estão a retemperar forças, a reorganizar as suas cabeças, os seus dossiers, os seus tiques e trejeitos, as suas vozes e entoações, os seus objectos de arremesso e os seus alvos e deixam-nos suspensos da sua enorme sabedoria para derrotar governos e terminar com asfixias.
O Governo mirrou, já não ocupa todo o cenário, há que acrescentar alguém para fazer uma maioria a abater. Ao menos que se clareiem as águas, que a esquerda acuse a direita de se querer amancebar com o Governo e que a direita se abespinhe a acusar a esquerda de um conluio secreto com o Governo ou vice-versa, tanto faz. Ou continuaremos a ter todos ao molho e fé no Cavaco. Que incógnita esta!

28 outubro 2009

As classes e as suas alianças e traições

Acho que, em termos políticos, isto da aliança Povo/MFA veio baralhar a velha questão das classes e suas alianças, veio estragar todo o discurso político anterior. Havia antes algumas forças de esquerda que falavam dos soldados e marinheiros como bons aliados para o proletariado, mas, quando muito, só iam até aos desgraçados dos sargentos que, na realidade, em condição se não distanciavam muito dos primeiros. Não havia oficiais na aliança, senão excepcionalmente.
Mas a força dominante à esquerda, o PC, instituiu na sua doutrina, pela pena do ABC, a aliança dos proletários com o pequeno campesinato e a pequena intelectualidade. Era essa a bissectriz da divisão de classes e só por via dos intelectuais se admitia uma penetração nas classes possidentes. Com o 25 de Abril também o PC cedeu à promiscuidade das alianças.
O mundo como era dividido antes tinha uma certa lógica, entretanto já tornada irracional na URSS e noutros países, mas que no mundo ocidental e com mais razão no Portugal Amordaçado, teve bastante aceitação, mesmo para além da queda do muro de Berlim. E não é de forma imediata que se substitui a luta de classes por uma qualquer outra forma de lutar contra a desigualdade, a injustiça e mesmo a iniquidade.
Para muitos ainda continua a existir no seu esquema mental lugar para colocar as pessoas devidamente enquadradas em grupos de interesse, vulgo, classes sociais. E na realidade todos nós nos sentimos como pertencendo a um colectivo mais vasto, intermédio entre nós e o Povo, mesmo quando nos sentimos em claro desacordo com a maioria dessa classe ou grupo social.
É ver quando um governo põe em causa os interesses de um grupo como todos correm a colocarem-se debaixo de uma cobertura qualquer, nem que seja um sindicato do mal. A falsa solidariedade existente entre os sindicatos é um dos motivos mais fortes do descrédito do sindicalismo, da luta de classes, da divisão política entre esquerda/direita.

27 outubro 2009

O esvaziamento dos discursos

As eleições têm o mérito sublime de esvaziar muitos discursos. Não esvaziam, claro, o do PC que se mantém fiel ao seu lema de propor que se inverta a política. Ninguém sabe o que quer dizer com isso, mas parece haver no espectro dos discursos políticos um espaço reservado para isso, para essa inversão sempre proposta, sempre adiada, sempre repetida.
Simplesmente o discurso catastrófico, que tornou a crise tema quase exclusivo, ou pelo menos à volta da qual tudo o resto tem que ser pensado, excepto, claro, aqueles, como os professores, que não querem saber da crise para nada, antes parece comprazerem-se em que à crise suceda a crise, dizia eu que o discurso catastrófico cedeu e deixou a crise como que órfão, sem pai e sem preceptor.
O grande sacerdote anda calado depois de ter minado já o caminho com as suas bombas retardadas. Os partidos classistas têm uma dificuldade evidente em traçar a fronteira dos proletários e dos outros, os partidos interclassistas que querem reservar um lugar no capitalismo do futuro para os micros, os pequenos e médios empresários esgotaram todos o seu discurso nas últimas campanhas eleitorais e têm agora uma mão cheia de nada para oferecer, prisioneiros que estão da lógica do grande capital, antes até do capital em grande, sem qualquer identificação senão a que lhe emprestam aqueles divinos gestores, super remunerados e super poderosos.
Por tudo isto as soluções para a crise surgem-nos sem ideologia, numa miscelânea intragável duma direita a oferecer o céu aos deserdados e uma esquerda a oferecer a defesa e a justa remuneração dos capitais amealhados, que aliás já não são nossos, estão todos hipotecados.

26 outubro 2009

Os jovens perante a indignidade da política

Há uma imensidão de gente que entrega de mão beijada a “salvação” do futuro aos jovens. Há uma imensidão de gente que se sente incapaz de dar qualquer contributo positivo para esse efeito. Limita-se a produzir aquilo que quer, a que é obrigado, não com mais um esforço extra que isso pode ser mal interpretado, não vá alguém pensar que o merece.
Há quem diga que os jovens serão capazes porque se furtarão a esta sociedade mesquinha, particularmente não se imiscuirão na classe política existente, antes estarão prontos a substitui-la radicalmente. Decerto que há-de haver alguma alteração neste estado de coisas, mas falta saber de quem partirá a iniciativa, caso seja possível definir um começo.
Na verdade não sabemos se estamos na curva descendente ou na ascendente, se atingimos algum ponto mínimo ou mais alguma queda nos estará reservado para o futuro. Na verdade nem os jovens sabem e nós especulamos demasiado para sermos um guia seguro. A crença ou a descrença também de nada nos servem.
Necessariamente os jovens envolver-se-ão onde os mais velhos já estão comprometidos. Quando muito “sujar-se-ão menos” se estiverem munidos das defesas necessárias, se estiverem imunizados pelo menos para os males mais benévolos. Mas, como todos nós até hoje, não havendo quem nos guie, teremos que nos imiscuir na “sujidade” para podermos chegar a conclusões e traçar um caminho mais digno.

25 outubro 2009

Dar aos jovens a possibilidade de serem cidadãos

Conheço imensa gente incapaz de abordar qualquer assunto sério numa perspectiva construtiva. Dando de barato que assuntos sérios são abordados com uma perspectiva construtiva no ensino oficial, e eu enquanto estudei assim pensei, sempre me preocupei em ser capaz de expor de uma maneira pessoal esses assuntos, independentemente de ter sido ludibriado ou não, acho essa aprendizagem essencial naquele tempo e lugar.
Quem hoje estuda tem imensa gente a contestar a validade do que lhe é transmitido. Para muitos isso servirá de desculpa para a sua incapacidade de problematizar as questões. Mas também servirá para elaborar uma contestação que periodicamente está em moda, independentemente da razão. Só que não é fácil tornar esta contestação consistente, tornar sustentável qualquer oposição que nela se baseie.
São muitos os estudantes que passam pelo ensino sem nunca se saber qual o processo mental que está em germinação nas suas cabeças. Normalmente captam algumas ideias soltas, uns processos primários, algumas conclusões sibilinas. Cruzam dados, reduzem tudo a processos de intenção, dicotomizam as questões, transferem essas dicotomias para o domínio moral.
É um pouco uma sorte que as ideias base em que alicerçam as certezas que os hão-de guiar pela vida fora sejam boas ideias, consistentes, sólidas, intemporais. A escola não partilha desta preocupação e alheia-se da responsabilidade de fornecer directrizes para a vida. Perante as facilidades imensas de comunicação dos jovens de hoje as famílias deixaram de poder controlar e orientar por essa via. Hoje exige-se uma participação muito mais activa da família e da escola do que no passado.

24 outubro 2009

O cada vez maior papel da indústria social na economia

A indústria hoteleira é uma forma relativamente recente e cada vez mais importante de actividade económica. Com o acréscimo de mobilidade das pessoas, com o aumento dos seus tempos livres e com o incremento da mais antiga necessidade de deslocação em negócio, tomou para si uma parte substancial da economia.
A indústria social é uma forma ainda mais recente mas já vai tomando para si outra parte importante da economia. Tem alguns pontos de contacto com a indústria hoteleira mas destina-se a uma franja de pessoas com menos mobilidade, mais tempo livre e menos meios monetários, menos iniciativa e mais dependência.
No entanto a indústria social destina-se a pessoas com recursos, que mais não sejam os da sua aposentação. O apoio social dado pelo Estado a pessoas com carências também se destina a suprir carências de jovens e velhos mas é normalmente feito em organismos do Estado ou totalmente subsidiados.
A indústria social, tenha expressamente ou não intuitos lucrativos, está a proliferar como nunca e já fornece grande quantidade de emprego. No entanto este emprego é no geral precário e mal remunerado. Está dependente de toda a outra economia para subsistir. Os meios de subsidiação do Estado são reclamados para outras funções, os meios próprios dos utilizadores dessa indústria têm que ser repartidos cada vez por mais dependentes.
Poucos se podem dar ao luxo de recorrer a meios de apoio pessoal mais personalizado. No entanto os jovens necessitam dele cada vez mais e os idosos, vivendo cada vez mais, tornam-se dependentes durante cada vez mais tempo. A indústria social nunca poderá ter o nível da indústria hoteleira, mas da dignidade do seu exercício depende muita da qualidade do serviço prestado.

23 outubro 2009

Os sentimentos numa sociedade dominada pela economia

Há uns poucos séculos atrás as crianças eram coisas sem valor. Os poderosos entregavam-nos às amas, depois a preceptores, os afectos eram nulos. Os pobres deixavam-nos arrastar na terra e na lama ao cuidado dos mais velhos e vizinhos. Eram um encargo irrelevante, a ter em conta só no termo de outros mais imediatos.
O capitalismo deu às crianças o valor que têm os futuros trabalhadores. Valor relativo, simples peças necessárias na engrenagem da produção. Hoje, e cada vez mais, as crianças têm o valor de já serem efectivos ou pelo menos potenciais consumidores, e de virem a ser produtores, elementos de pleno direito de uma economia, seja ela qual for.
Criou-se mesmo um temor de que a ausência de crianças possa representar falta de trabalho e de rendimento no futuro para suportar o pagamento das pensões de quem hoje trabalha. A crer no passado, a sociedade estaria a marimbar-se para as crianças, o que quer é manter o seu equilíbrio. O lado positivo é que esta situação levou à criação doutros sentimentos positivos em relação às crianças e não já sentimentos de compensação.
Cada vez mais cada pessoa é uma unidade básica da economia, com direitos e deveres, que não pode ser ignorada, marginalizada, excluída, antes tem que ser considerada nas suas características e potencialidades. Quando uma pessoa é incapaz de encontrar o seu lugar é a sociedade que tem de encontrar um lugar para ela.
Cada pessoa existe, não para que seja objecto de caridade, de perdão, de exclusão, para estar ao sabor de sentimentos pessoais, subjectivos, tendenciosos, mas para ser objecto de apoio, de condescendência, de inclusão, para ter sempre a seu lado uma ajuda solidária e institucional, ter um papel a desenpenhar.

22 outubro 2009

O lugar dos jovens numa sociedade dominada pela economia

A economia no seu desenvolvimento incontrolado encarrega-se de nos baralhar os conceitos. Em tempos a família era a unidade básica da economia, mas esta encarregou-se de fazer com que a sociedade fosse ao encontro da economia e tudo mudasse. A primeira tentativa nesse sentido foi o Maio de 1968, quando os estudantes franceses reivindicaram uma autonomia nunca antes reclamada.
Em tempos o chefe de família era o gestor das economias domésticas e todas as outras unidades da família eram perfeitamente irrelevantes para os cálculos económicos. Hoje cada elemento tem um peso específico, mas um peso cada vez mais próximo do peso do elemento acima. Se cada elemento não tem por si rendimentos próprios, há uma redistribuição cada vez mais equitativa dos rendimentos dos mais idosos em benefício dos mais jovens.
Antes de Maio de 68 os estudantes transgrediam. Em Maio de 68 reivindicavam um salário próprio. Agora já não usam a voz própria. Participam directamente no orçamento familiar em igualdade de direitos com os outros membros. Paradoxalmente a família cedeu o lugar aos seus membros como unidades a serem tidas em conta pela economia. O valor actual, potencial, futuro de cada elemento é determinante em várias avaliações que a economia se encarrega de fazer.
Falhada a hipótese da autonomia dos jovens, ou por outra da sua passagem da dependência da família para a dependência do Estado, resta a autonomia dentro da família. A família é a grande vigilante da interacção dos jovens contestatários com a sociedade assimiladora. Cada vez menos, e ainda bem, há lá um lugar reservado para cada um de nós. Se não temos todas as hipóteses em aberto, temos o número suficiente para nos ocuparmos com a sua escolha.

21 outubro 2009

A Liberdade de Imprensa e o choradinho nacional

Os profissionais da imprensa não estarão a ver bem os problemas da Liberdade de Imprensa. Ou então não são claros nas razões que têm para denunciar falhas que poderão existir. Como em quase tudo em Portugal o culpado é sempre o governo e esquece-se assim aqueles que às claras ou sub-repticiamente manipulam e controlam para obter uma dada orientação.
A imprensa escrita é hoje a mais dependente dos seus proprietários. Estes decerto seriam mais condescendentes se obtivessem lucros da sua actividade, mas como no geral acumulam prejuízos tornam-se mais exigentes em relação à orientação que querem ver imprimido nas suas publicações.
É natural que ao governo, a qualquer governo, não agrade uma imprensa que preferencialmente diz mal e só raramente realça o bom. Em qualquer assunto em que existam aspectos positivos e negativos são estes últimos que ganham a prevalência., quando não a exclusividade. Na imprensa oral aprendeu-se uma forma de dizer, incisiva e acintosa, que impede mesmo que se refira alguma coisa de positivo.
Outro problema da nossa imprensa é a cobertura que dá ao choradinho nacional. Decerto que há muita gente que gostaria, teria toda a razão e deveria ser-lhe dado o direito de gritar bem alto a sua indignação a sua revolta pela iniquidade, pela humilhação, pela injustiça. Mas no geral o que surge são casos caricatos, profissionais da simulação, carpideiras sem vergonha. As pessoas dignas não se misturam com esta gente.

20 outubro 2009

Salário Mínimo e Indexante de Apoios Sociais

Os patrões, curiosamente os grandes, já se manifestaram contra o aumento do Salário Mínimo previsto para passar dos actuais 450 € para 475 € em 2010 e para 500 € em 2011. A justificação será a ausência de inflação ou mesmo a inflação negativa e a necessidade de manter a competitividade com a economia global.
O Salário Mínimo (SM) afecta essencialmente os pequenos patrões e nas grandes empresas só afectará as de trabalho intensivo. Assim é natural que os grandes patrões só se preocupem por este assunto pelo efeito da influência que ele sempre exercerá na fixação dos salários em geral.
Ora esta deve ser uma preocupação diferente porque o objectivo do SM é precisamente, não o de contribuir para grandes aumentos acima dele, mas para, por via dum acordo, corrigir as anomalias e diminuir as discrepâncias salariais existentes. Impõe-se pois que o SM cresça mais do que os restantes salários para evitar grandes desequilíbrios sociais.
Problema diferente vai ser o da fixação do Indexante dos Apoios Sociais (IAS) actualmente fixado em 419,22 €. Como referencial desde 1 de Janeiro de 2007 determinante da fixação, cálculo e actualização das contribuições, das pensões e outras prestações sociais tem uma enorme influência nas despesas do Orçamento de Estado.
O IAS tem tido um aumento inferior ao SM porque crescendo o apoio social do Estado em número de utentes não poderá manter o mesmo ritmo de aumento de volume. Com o IAS só ganham os Independentes que não vêem assim crescer as suas contribuições ao ritmo do SM.

19 outubro 2009

A formação das Juntas de Freguesia

Porque se torna imperioso informar aqueles que se não querem submeter à chantagem das forças do poder e para desmascarar aqueles que a ela se submetem na mira de obter algum prato de lentilhas alertamos para que a constituição das Juntas de Freguesia se faz agora por iniciativa do Presidente eleito.
A lei em vigor desde 2002 dá todo o poder de iniciativa ao Presidente da Junta que só terá que trabalhar com pessoas da sua confiança. Se houver um bloqueio à sua escolha para os dois cargos da Junta e ele não quiser ceder a uma outra solução terá que ocorrer uma outra eleição de novos membros para a Junta.

Lei n.º 169/99

Artigo 24.º
Composição

1 — Nas freguesias com mais de 150 eleitores, o presidente da junta é o cidadão que encabeçar a lista mais votada na eleição para a assembleia de freguesia e, nas restantes, é o cidadão eleito pelo plenário de cidadãos eleitores recenseados na freguesia.
2 — Os vogais são eleitos pela assembleia de freguesia ou pelo plenário de cidadãos eleitores, de entre os seus membros, nos termos do artigo 9.º, tendo em conta que:
a) Nas freguesias com 5000 ou menos eleitores há dois vogais;
b) Nas freguesias com mais de 5000 eleitores e menos de 20 000 eleitores há quatro vogais;
c) Nas freguesias com 20 000 ou mais eleitores há seis vogais

Lei n.º 5-A/2002

Artigo 24.º
Composição

1 —
2 — Os vogais são eleitos pela assembleia de freguesia ou pelo plenário de cidadãos eleitores, de entre os seus membros, mediante proposta do presidente da junta, nos termos do artigo 9.º, tendo em conta que:
a)
b)
c)


Tudo o que não for como o especificado nesta última lei é ilegal.

18 outubro 2009

O regresso à demarcação esquerda/direita

Inevitavelmente estaremos dentro em pouco a falar da política nacional. As eleições deixaram-nos à mercê de tentativas de afirmação de política à esquerda e à direita que os respectivos partidos acharão imprescindíveis.
À direita o CDS quer crescer mais de modo a que numa futura coligação à direita consiga exercer a influência que não tem obtido. O PSD quer crescer para suplantar o PS e demarcar-se suficientemente do CDS para numa futura coligação não ficar dependente duma afirmação excessiva deste.
À esquerda o PC manter-se-á inflexível na sua tese de que é necessário haver uma mudança global de política. O PC defende-se assim da obrigação de fazer compromissos. Mantém uma pretensa pureza ideológica que qualquer intervenção prática comprometeria. Não cuida de que, para manter a capacidade actual de intervenção social, tenha tido de exercer uma acção ziguezagueante, apoiando indiferentemente tudo que é contestação.
Também à esquerda o BE, mais frágil, com uma capacidade de intervenção mais variada mas menos firme, com menos dependência da velha ideologia e de referência anteriores mas campeão das questões novas e fracturantes, não vai querer deixar este caminho que tantos proveitos lhe tem dado. Maugrado o aviso das autárquicas, nas quais não tem pessoal politico para enquadrar os seus argumentos, não vai querer assumir responsabilidades, seja, pagar ao povo o que este lhe emprestou.
Os primeiros vinte anos na Comunidade Europeia iam fazendo esquecer que havia direita e esquerda, criou uma realidade complexa em que as questões analisadas por um prisma de justiça social não correspondem à velha análise pelo posicionamento político.
Os partidos ainda se não adaptaram à nova divisão social e tem de optar entre a confusão, o cruzamento de apoios que têm usado neste últimos anos ou uma clarificação e uma nova demarcação de campos entre direita e esquerda.

17 outubro 2009

A nossa atenção já está noutro lado

Terminado o rescaldo das eleições autárquicas em Ponte de Lima, salvo alguma controvérsia sobre a eleição a realizar na Freguesia da Labruja, ultrapassados estados de alma, sem o cinismo de baixar a bandeira e dar as mãos, parece-nos sensato descer os decibéis, deixar trabalhar, conspirar, unir e dividir. Julgaremos depois.
Vamos manter-nos somente como referência da imagem que se quer para Ponte de Lima, do ambiente que se quer respirar, do ambiente em que queremos viver, dos sentimentos de boa vizinhança, solidariedade e entreajuda que se quer partilhar. Não se trata de uma imagem pessoal, mas de referências intelectuais que cada um personalizará à sua maneira.
Na vida temos muitas evasivas mas quem se quer dar ao empenho em ser executivo não pode fugir a ter presente aquilo que quer para o futuro, tem que ser receptivo a outras vozes e submeter os seus projectos à critica alheia de modo a que eles possam ser beneficiados e partilhados. Quem como eu não tem em vista objectivos desses pode-se evadir e virar mais a atenção para outro lado.
Afinal construir o futuro, se tem muito a ver com os factores que são condicionados pelo poder de proximidade, mais tem a ver com o que se possa desenrolar a nível global. A nossa preocupação está onde os dramas se congeminem, onde se gerem as forças dilaceradoras do universo.
O nosso objectivo é que aí possa imperar o bom senso e também que nós possamos contribuir para que se atenue a raiva, se desvaneça a vingança, se suavize o ódio, se discuta o ressentimento, se evite a desavença. Se a nossa preocupação está lá, acreditamos que a nossa força mental também por lá se aventure.

16 outubro 2009

O voto dos que o dão de barato

Em Ponte de Lima perdeu o pluralismo democrático. Espalhou-se um conceito estranho de que não são necessários os partidos políticos, esses são para concorrer ao governo do País, no concelho toda a desunião é prejudicial, o que interessa é uma equipe dita competente, na qual já se expressam as opiniões dos melhores dos nossos.
Houve outros concelhos com maiorias ainda superiores mas formadas com base numa força política com outra projecção nacional. Em Ponte de Lima é um partido revanchista, retrógrado, populista que relega para posições perfeitamente residuais os outros quatro partidos nacionais, os partidos que até têm uma intervenção mais homogénea em todo o território.
Todos os partidos perderam, mas o que mais perdeu foi sem dúvida o PS. Perdeu um vereador, três elementos da Assembleia Municipal, duas Juntas de Freguesia. Baixou 26% e 35 % em relações às eleições anteriores para a Câmara e Assembleia Municipal e teve 40 % dos votos do PS nacional nas legislativas anteriores. Dos mais de 7.000 votos das legislativas não conseguiu segurar sequer 3.000.
Se o eleitor socialista já não era muito fiel, desta vez ultrapassou todas as expectativas que um observador menos atento alimentaria. É uma situação tão desastrosa que deixa qualquer socialista com um pouco de pundonor perfeitamente humilhado e descrente. Será que em Ponte de Lima não haverá socialistas capazes, honestos, destemidos, fortes para fazer frente a esta vaga desconexa, desordenado, mas avassaladora?

15 outubro 2009

O voto dos que vão atrás do voto

Quem venceu em Ponte de Lima, terá sido o CDS? Não terá sido só a sigla emprestada a um núcleo de direita, saudosista e retrógrado, mas que, para conservar o poder, gerou uma amálgama à sua volta, agregou como seus satélites gente proveniente de todos os quadrantes políticos e lhes vai dando umas benesses, algumas bem ridículas?
O que torna o ar de Ponte de Lima irrespirável é esta forma de fazer política que, em vez de reconhecer e apoiar iniciativa de qualquer origem e dar a liberdade de as pessoas manterem os seus vínculos e tendências, aproveita tudo o que floresce para o colocar debaixo da sua alçada e para o aproveitar politicamente.
Há imensa gente que não encontrou outra forma de ter visibilidade, de se sentir segura, de manter uma ligação ao poder, de conseguir resolver com alguma facilidade os seus problemas a nível da gestão autárquica, de fugir ao sentimento de orfandade. Quando assim é, essas pessoas são levadas a não olhar os “pormenores” que neste contexto são sempre a competência, a formação, a qualidade moral, a probidade dos que ocupam o poder e daqueles que o pretendem ocupar e mais desconhecidos são ainda.
Há também uma imensa maioria de pessoas que não conseguem destrinçar entre a obra feita por uns e a que outros fariam. Essencialmente porque olham para o exemplo doutras Câmaras de características idênticas e vêem-nas todas a seguir uma moda, a copiarem-se, com uma gestão estereotipada, a serem vítimas/ fautores dos mesmos conluios com a construção civil. São todos os mesmos, dizem.
As pessoas são condescendentes com quem está no poder, são exigentes com aqueles que lá querem chegar. A verdade é que quem está na oposição tem de agir com mais rectidão e não esperar que os outros mudem de opinião sem uma razão forte. Quem está no poder pode chamar ingrato aos outros, quem está na oposição não lhe pode passar tal pela cabeça.

14 outubro 2009

Os benefícios e o modo de esquecer Campelo

Adelino Ferreira Torres é um velho amigo de Daniel Campelo. Também ele achou que a sua terra, Marco de Canavezes, já era pequena para ele e há 4 anos concorreu a Presidente da Câmara de Amarante e perdeu. Quis voltar ao Marco de Canavezes mas já havia sido esquecido ou foi rejeitado devido aos processos em que está envolvido. Também Fátima Felgueiras perdeu, dizem por falta de ânimo, por cansaço.
Num e noutro caso a imagem da terra descolou-se da imagem da pessoa com que a terra mais se identificava. Há um processo de afastamento que pode ter tido origens diversas mas conduziu a um resultado idêntico. Em Ponte de Lima o processo de afastamento teve um primeiro passo com as afirmações de Daniel Campelo, pouco relevadas e não aproveitadas pela oposição ao CDS, que o colocam nesse processo com base de um amor maior por Viana do Castelo e de uma subalternização da sua terra, a modos semelhantes aos que levaram Ferreira Torres a concorrer a Amarante.
Em Ponte de Lima ainda há quem pense que Daniel Campelo fez um interregno de 4 anos para voltar quando puder fazer mais três mandatos. Aceitando uma certa probabilidade de isto estar congeminado, para que o seu destino seja o de Ferreira Torres mais algo haveria de acontecer. Ou Vítor Mendes se desliga da imagem do “chefe”, ganha autonomia e se opõe a tal regresso ou os acontecimentos se encarregarão de desactualizar a imagem que Daniel Campelo emprestou a Ponte de Lima.
A oposição está parva com o desaire e permanece apática. Uma das tarefas dos políticos nos próximos tempos é avivar aquelas declarações de Campelo em menosprezo por Ponte de Lima. Criar a noção nas pessoas que a imagem “natural” de Ponte de Lima nada deve a Campelo, antes pelo contrário. O abandono da agricultura tradicional e o crescimento do cimento vertentes a cima corresponde ao desagregar de uma imagem rústica de Ponte de Lima. Campelo não trabalhou para a identidade limiana.
Aquilo que Campelo acrescentou a Ponte de Lima em termos arquitectónicos, artísticos e culturais, salvo o Festival dos Jardins, é de uma petulância atroz. Em termos arquitectónicos começou por um vanguardismo totalmente inoperacional e acabou numa parolice extrema. Em termos artísticos vai da descabida ópera Fabber à intoxicação folclórica. Em termos culturais vai do repositório das figuras supostamente ilustres a uma descabida defesa de bens imateriais como o ruralismo, o limianismo e outros mimos de uso exclusivamente político.

13 outubro 2009

O velho problema das pessoas na política

Esta questão de nas autárquicas as pessoas contarem mais tem tido sempre uma confirmação nas eleições de Ponte de Lima. Muitas vezes tem sido mais por demérito dos opositores do que por mérito dos vencedores, mas contam. As pessoas contam e pronto. Claro que há outros factores, mas a nossa luta tem que ser no sentido de que estes pesem cada vez menos. As pessoas contam e devem contar cada vez mais.
Quando alguma votação local não corresponde minimamente ao peso do respectivo partido a nível nacional só há mesmo um factor a que se há-de atribuir as culpas: o valor politico dos seus candidatos locais. Só que o valor político de uma pessoa se constrói, se destrói, elabora-se como qualquer construção intelectual, desarticula-se. O difícil é que este processo tanto pode durar anos, como só durar meses. Até podemos ser surpreendidos num curto lapso de tempo.
Milagres podem efectivamente haver, mas não será realista esperar por eles. Também a ansiedade é má conselheira e a precipitação é uma rasteira que nos pregamos e em que caímos periodicamente. Escolher pessoas é um processo difícil. Normalmente as pessoas com mais sucesso são aquelas que se põem em bicos de pé.
Se na verdade ninguém pode ser coagido a ser político sem sentir que esse deve ser pelo menos o seu ofício alternativo, também é verdade que é necessária alguma pressão para alguém aceitar sê-lo. Não se pode é aceitar o primeiro que aparece. É melhor encontrar alguma resistência do que uma entrega à primeira.
Mas cada vez mais nos temos de convencer que para ser político é preciso uma preparação mais ou menos formal. As pessoas escolhem pelo aspecto e têm cada vez mais a noção de que para se ser um político a sério não é necessário andar a espalhar lamentos e temores e ter um aspecto carrancudo. Cada vez se exige mais optimismo e a capacidade de transmitir ânimo aos outros. E boas pessoas a ajudar.

12 outubro 2009

Uma primeira análise às autárquicas de 2009

A minha análise logo que foram apresentadas todas as candidaturas às autarquias limianas era esta http://trigalfa.blogspot.com/2009/08/uma-apreciacao-breve-das-candidaturas.html. Como é evidente nem em tudo acertei, mas sinto-me particularmente satisfeito pela aproximação entre a minha análise e aquilo que veio a ser a realidade.
Entretanto alguns dados foram apurados, algumas intervenções públicas dos candidatos foram produzidas, os programas foram publicados, produziu-se um debate entre todos os candidatos. A população também se manifestou sensível a estes aspectos, ao grau de aproximação dos candidatos em relação à população em geral, à sua leitura do que são os seus interesses e à forma de os transmitir.
Em alguns aspectos os resultados foram piores do que eu previ. Previ a perca do vereador socialista, mas não previ um resultado tão mau do PSD. O PS teve em relação a 2005 menos 1325 votos para a Câmara e menos 1582 votos para a Assembleia Municipal. Além do vereador perdeu 3 mandatos para a Assembleia Municipal. O PSD também teve menos votos e menos 2 mandatos para a Assembleia.
Os 2000 votos que o CDS teve a mais deram-lhe uma projecção global que nunca tinha tido. Ameaçou mesmo a Junta de Freguesia de Arcozelo, um dos poucos bastiões de resistência a esta onda Azul. O PS perdeu 22 de 46 mandatos nas Freguesias. O PSD recuperou 11 mandatos nas freguesias. A CDU ficou com 1 dos 3 mandatos que tinha nas freguesias e ganhou 1 mandato na Assembleia Municipal.
O PS e o PSD têm de tirar conclusões rápidas destes resultados. Amanhã já é tarde para as suas direcções se demitirem.

09 outubro 2009

Uma carta afrontosa de um autarca sem a'p'rumo

Daniel Campelo quer dar uma oportunidade a Arcozelo. Segundo ele Arcozelo tem andado sem rumo e só o seu olhar providencial tem evitado o descalabro. Além disso nota-se que com a sua afirmação de necessidade de mudança de rumo pretende dizer que não fez tudo o que podia, o que é evidentemente um crime.
Não tenho conhecimento de que a Junta e a Assembleia de Freguesia de Arcozelo alguma vez se tenham oposto a qualquer iniciativa da Câmara. O que eu conheço é imensos casos em que a Câmara se opôs a iniciativas da Freguesia. Esta promessa de que com uma Junta de Freguesia em sintonia política com a Câmara muita coisa seria possível fazer é uma tentativa reles, antidemocrática, desleal.
Este enxovalho de nos querer impingir um candidato e uma lista perfeitamente ridículas, esta tentativa de compra do voto a troco de não se sabe o quê, e que fosse de um bom candidato e de uma boa lista e de boas realizações para a Freguesia, não pode passar sem uma resposta à altura deste eleitorado cioso das suas prerrogativas e direitos.
Tenho ouvido muito sobre Daniel Campelo, conheço-o de alguma forma por contactos directos, indirectos, conheço a sua imagem directa e reflectida, reconheço-lhe o discernimento demonstrado na abordagem de muitas questões referentes à gestão municipal, inclusive sobre a reorganização administrativa do País, com a criação de regiões e eliminação de freguesias e como sei que a inteligência é perversa, sei que ele tem estas lacunas graves na sua personalidade política.
Mas além disso há uma grave ofensa pessoal aos outros candidatos de Arcozelo pois ele diz que com o candidato que apoia haverá mais transparência e mais segurança no investimento público. Os outros são corruptos, ladrões?
Daniel Campelo não sai bem ao achincalhar desta maneira, ao humilhar todos aqueles que não se submetem ao domínio da máquina que ele deixou. Como eleitor de Arcozelo repudio esta grave ignominia.

Uma declaração de voto autárquico

Em Agosto, interrogado pelo Jornal Cardeal Saraiva sobre como votaria face ao não avanço de uma possível candidatura pelo Bloco de Esquerda à Assembleia Municipal de Ponte de Lima, declarei que pensava seriamente votar no PSD como forma de dar força a um candidato jovem que se apresentava como desligado de velhas querelas locais.
O problema é que, se as minhas reservas já eram muitas, mais se agravaram com a formação da lista, a apresentação do programa e as entrevistas e outras declarações do candidato em causa. O debate na ROL, que não ouvi, parece ter sido confrangedor, segundo testemunhos insuspeitos.
Também as eleições legislativas me levaram a pôr mais em guarda perante a velha maneira social-democrata de fazer política e perante a colagem que estes candidatos a autarcas limianos vieram a manifestar em relação às posições revanchistas de Ferreira Leite. Uma colagem tão grave que os levou a colocar a nível local problemas que não existem ou estão em vias de solução, como por exemplo a nível do ensino e saúde.
Mas a colagem mais grave é o caso do TGV, de que fazem um inferno movediço, como se fora necessário criar uma funda cova ao longo do concelho, sem qualquer túnel ou viaduto, sem passagens transversais, que, mesmo vendo-se só os viadutos, teria o sortilégio de estragar toda a paisagem. Além de se não preocuparem com a posição de Vítor Mendes a quem seria pressuposto oporem-se, fazem uma afirmação peremptória, que só não é para a eternidade porque depressa serão corridos, como outros o já foram.
Como apoiante do Partido Socialista e pondo de lado as muitas objecções já manifestadas, resta-me o voto nele, com exclusão da Assembleia Municipal por razões obvias. Renego os seus cabecilhas em absoluto.

Uma carta afrontosa de um vereador perdido

Se eu fosse da Ribeira em Ponte de Lima teria recebido uma carta de um vereador, recandidato a novo mandato com Victor Mendes. No estilo chantagista a que nos habituou afirma que fez imenso pela Ribeira no penúltimo mandato, de que só destacou o Centro Educativo, e a população da Ribeira foi de uma ingratidão imensa ao não votar no CDS há quatro anos. Em paga nada terá feito nestes quatro anos.
Mas afirma este candidato que a Ribeira está a tempo de se dirimir desta falta e entrar no rumo certo. Além de manifestar o reconhecimento de ter cometido uma ilegalidade, este autarca indigno de exercer tais funções, quer agora dar um rebuçado após este interregno na sua vontade de ajudar a freguesia onde terá nascido, empenhar-se-á em a apoiar.
Este candidato continua a afirmar-se independente, o que é estranho numa pessoa que aprendeu melhor a lição do que qualquer outro dos discípulos de Daniel Campelo. É um bom executante, bom manipulador e a sua acção é demonstrativa do menosprezo a que vota o povo, simples utensílio que coloca ao sabor da sua voracidade insaciável.
Se eu fosse da Ribeira e recebesse tal carta mandaria às urtigas o seu conteúdo e ao papel não lhe daria a dignidade de acabar no lume. Teria um destino bem mais apropriado. Qualquer democrata se sentirá enojado com esta maneira de fazer política, com a baixeza desta afronta, com a mesquinhez destes argumentos, com a desfaçatez de quem vê o seu lugar em perigo.

O que se deve abandonar e o que se deve manter

O CDS está a gastar nas eleições autárquicas de Ponte de Lima rios de dinheiro. Não é para publicitar o candidato que ele é vereador há oito anos e é bem conhecido. Não é para publicitar as suas ideias porque elas se resumem à promessa de continuar no rumo certo sem especificar qual é, que ultimamente Daniel Campelo se encarregou de tornar sinuoso.
O cabeça de lista é possivelmente mais simpático que Daniel Campelo, menos marcado pelas lutas políticas e pelas contrariedades da vida. Como rosto, de tão inexpressivo, é mais enigmático, de leitura mais difícil pela ambiguidade, é má técnica expô-lo à curiosidade alheia não apostando na sua idiossincrasia.
As ideias são seguidista mas falta saber verdadeiramente de quê. Vítor Mendes não assume claramente a herança porque sabe que, mesmo ganhando, Daniel Campelo pode voltar. Vítor Mendes não assume o deslumbramento de Daniel Campelo porque está na posição ambígua de herdeiro/substituo temporário, de alguém a quem é exigido que ganhe, não estrague a efígie de Campelo, não a procure ensombrar, não vá ele próprio ganhar asas para voos autónomos.
Mesmo assim reconheçamos que os cartazes são sérios neste aspecto, mas não está garantido que o sejam noutro. É que o rumo definido por Campelo será um rumo só dele conhecido. Ele já se podia dar ao luxo de ser assim. Umas fugas, umas veleidades, pouco CDS, o quanto baste, algumas certezas reconheça-se que sendo contraditórias para o seu campo político são por ele aceites com afinco.
Também assumir parte da herança e desdenhar da outra pode ser problemático. Vítor Mendes também não vai trabalhar, se ganhar, para se apagar e há-de reclamar algo do trabalho feito e algo de diferente no trabalho a fazer. O rumo jamais será o mesmo até porque Vítor Mendes cederá mais a pressões externas.
Se Vítor Mendes ganha e der continuidade à estatuária, às intervenções arbitrárias no leito do rio, na Zona Histórica, se mantiver o desprezo pelas aldeias, sem tentar desenvolver uns quatro ou cinco pequenos centros urbanos estamos mal e cada vez mais tramados. Se colaborar com o Governo na educação, na reorganização administrativa, na valorização das pessoas andará no rumo certo. O rumo de Campelo tem muito de incerto.

08 outubro 2009

Uma campanha deslocada no tempo e no espaço

O PSD de Ponte de Lima tem uma fixação no PS nacional e no seu Governo que só se preocupa em contrapor ideias àquelas que o PS procura por em prática. Na sua candidatura à Câmara Municipal era pressuposto que se propusessem ideias com aplicação em Ponte de Lima e acima de tudo que se expusesse o mal feito, se contestasse aquilo que o CDS pretende fazer. Não é aquilo que “outros” pretenderiam fazer que deve ser debatido.
O PSD com a conivência de Abel Batista pretendeu colocar a Assembleia Municipal de Ponte de Lima a cavalgar a ideia de oposição ao TGV. Ora este TGV é um projecto nacional e como tal pode e deve ser discutido. O que não se pode é confundir o plano do interesse nacional com o interesse local. Neste plano pode também ser discutido o seu benefício, mas também em relação ao seu impacto, Não pode é ser negado que ele cá passe, se tal for do interesse nacional e não houver outra alternativa válida.
Neste caso nem chegou a palavra de Daniel Campelo, pronto a negociar, obter contrapartidas e minimizar os impactos para que PSD e Abel Batista abandonassem a ideia de avançar com uma comissão falaciosamente denominada de acompanhamento, que aliás nunca se chegou a formar. Ao levantar o problema na campanha eleitoral o PSD não especifica contra quem anda a lutar: Se contra o PS, se contra a candidatura do CDS, que decerto não seguirá o fundamentalismo de Abel Batista e deixará passar o comboio.
Por estas e por outras é que a candidatura de Filipe Viana se revela uma candidatura oca, com um programa deslocado no tempo e no espaço, desprovida de uma linha de rumo, sem um pé bem assente no chão, sem um objectivo claro a atingir, sem a designação de um adversário a vencer. Ao querer escolher o campo do confronto perante adversários mais consistentes perde-se em bagatelas politicamente inócuas nesta campanha.

07 outubro 2009

Duas ou mais formas diferentes de ver a política

Quando se faz oposição a uma linha política não se vai falar das coisas boas do adversário, quanto mais em campanha eleitoral. Quem tenta fazer pedagogia realça os aspectos positivos, não se importando em saber quem vai capitalizar com isso, só que isso é difícil com certos interlocutores.
Eu gosto de ser claro: Quando tento fazer política sou claro, posso ser parcial, eventualmente posso defender questões com as quais não estou totalmente de acordo. Quando faço pedagogia concordo com o meu raciocínio em absoluto.
Mas uma questão importantíssima é ter a plena consciência do nível a que se faz política. É assim que em relação ao TGV e a nível nacional eu sou ligeiramente contra mas dado o posicionamento das forças políticas, em especial do PSD, e do excessivo papel que este quer dar à questão, eu já sou a favor.
A nível local só me interessa ser pedagógico, interessa analisar aspectos positivos e negativos e deixar a sua pesagem para cada um.
Quando tento ser pedagógico, eu revelo os condicionantes da minha decisão, para gáudio dos palermas que se vão deleitar com a incoerência e sinuosidades de um processo de tomada de decisões. Como se as decisões deles, pelo menos as que mexem com os seus interesses, não fossem complexas e difíceis de sustentar.
A grande maioria das pessoa tem inteligência para pensar pela sua cabeça, a não ser na política, em que muitos acham que é seu dever embarcar com o líder de ocasião e para eles o líder tem sempre razão, é o iluminado, o escolhido, o ungido.
Como não sou candidato, não sou inscrito em qualquer partido e embora tendencialmente me aproxime do PS nem sempre estou de acordo com ele, e manifestei-o, tendo-me oposto a António Guterres, porque a político não é idealismo somente, escrevo para que as pessoas aprendam algo.
Influenciar não é deslocar ninguém. Se influencio alguém fico satisfeito, mas o aspecto imediato é-me indiferente. Sei que tenho contra mim os fanáticos do PSD que só vêm o poder toda a vida, os fanáticos da situação limiana que querem que a campanha passe depressa porque depois se estão marimbando para comentários e para as pessoas, alguns ceguinhos do PS. Mas desprezo tal gente.

06 outubro 2009

Um PSD sem emenda não é útil para ninguém

Após se ter gorado a hipótese de uma candidatura alternativa aos orgãos autárquicos, em que me integraria com gosto, declarei estar a pensar em votar útil e que nessa altura aquela utilidade me levava a pensar no PSD como única alternativa viável.
Sabia que no seguimento da orientação da sua direcção nacional, que não de muitos dos seus destacados dirigentes, o PSD local se manifestava contra o TGV com argumentos respeitáveis e alguns mesmo aceitáveis. Mas daí a tornar esta questão fulcral no contexto da luta autárquica vai um passo de gigante que no caso penso ser para o precipício.
Filipe Viana disse: "TGV não interessa ao concelho. Iria rasgá-lo a meio, destruir a beleza ambiental, atentar de morte contra a nossa ruralidade”. Esta pequena frase tem asneiras que bastem para que qualquer mortal se ponha a fugir desta gente como o diabo foge da cruz.
Interessa porque não é uma barreira é um canal de transporte que pode vir a ser aproveitado a qualquer momento. Não rasga. O seu impacto é imensamente menor do que o de uma auto-estrada e nós já nos habituamos a duas. Tem menos largura, a sua pouca inclinação leva a que a maioria seja em viadutos e túneis cujo impacto é quase nulo. Só o seu carácter mais rectilíneo leva a que tenha alguns impactos sobre casas e benfeitorias agrícolas. Quanto à sua transposição é muito mais fácil.
O TGV não irá afectar em nada a beleza ambiental, antes pelo contrário: é mais um elemento para diversificar a paisagem. Quanto ao atentar de morte contra a nossa ruralidade, e se esta tiver o mesmo significado que tem para Daniel Campelo, tomara que assim fora. Falar em ruralidade é para mim uma sentença de suicídio para quem a profira. Não é o primeiro candidato da oposição a falar de ruralidade como algo defensável, mas tal só revela a incultura desta gente, a sua natureza atávica, a dimensão mesquinha do seu mundo. Não voto nesta gente.

05 outubro 2009

Um conselho que já vem atrasado

Analisando a forma de votar da população limiana nas eleições legislativas podemos concluir que, se excluirmos o efeito que nas últimas se verificou do voto útil em Abel Batista, teríamos a Presidência da Câmara Municipal de Ponte de Lima entregue ao PSD e mais dois vereadores seriam do mesmo partido, dois do PS e outros tantos do CDS, sendo que o último podia eventualmente ser disputado entre o PSD e o CDS com tendência para este.
Pode-se ter uma derrota, pode-se não conseguir os objectivos almejados, mas tudo será perdoável se não se tiverem cometido lapsos políticos graves que não possam ser superados pelo uso de uma técnica apropriada em todas as operações eleitorais. Num País em que não há uma formação política específica para o exercício de funções autárquicas a escolha dos candidatos é de primordial importância. Mas também a escolha das pessoas que se querem integrar naquelas operações.
Outro passo importante é a escolha dos temas em que a candidatura deve “bater como um ceguinho”. Não pode é ser cega, tem que saber de que lado há-de bater. Nisso o critério do candidato, a sua imaginação é determinante na escolha da forma a usar para o efeito. Do mesmo modo têm que ser definidos os temas “tabu” e preparar cada candidato para se esquivar de modo conveniente a situações embaraçosas.
Numa campanha não há tempo para grandes escolhas, mesmo que vivamos no remanso de uma aldeia e pensemos que estamos preparados para falar de tudo. Perante a escassez de tempo só um acontecimento imprevisível pode fazer alterar as escolhas previamente feitas, que devem ter a ver com a sua receptividade por parte do eleitorado potencial. Será importante ter muitas opções num documento programático, desde que sejam sérias, mas é prejudicial andar a falar de todas até à exaustão.
Nem nós temos tempo, nem o eleitorado tem tempo para degustar a informação viciosa que lhe transmitimos. Há um limite, mas também há uma carência de motivos para justificar o voto. Digamos que é necessário uma meia dúzia de razões para votar em nós e outra meia dúzia para não votar no adversário. Se conseguirmos isto e perdemos, estamos de consciência limpa e a nossa obrigação é continuar.

04 outubro 2009

Exige-se ao PSD de Ponte de Lima clareza de propósitos

Ponte de Lima é o concelho mais retrógrado do Alto Minho. A direita sempre cá ganhou folgadamente e a esquerda a custo consegue um terço do eleitorado nas eleições legislativas e até já esteve fora do Executivo Municipal. O PS recuperou há oito anos um vereador em sete após uma ausência de 12 anos e resistiu há quatro anos. Desta vez pode deitar outra vez tudo a perder, que é o que acontece quando há uma bipolarização à direita.
Na realidade mesmo sendo à direita Ponte de Lima anseia por uma mudança. Aqui sim há asfixia e não é pouca. Mesmo sabendo do carácter mesquinho de que são possuidores os militantes sociais democratas mais destacados, capazes de fazer chantagem sobre Ponte de Lima quando estão no poder em Lisboa e de pôr em causa os interesses de Ponte de Lima para agradar ao poder de Lisboa quando ele é seu, em Ponte de Lima há a ideia de que valia a pena correr o risco e dar-lhes uma oportunidade.
Infelizmente o PSD local não consegue ver para além da sua cartilha e decerto os seus líderes nacionais mais lúcidos dispensá-los-iam de serem mais papistas que a Papisa. Não consegue ter ideias próprias a que dê mais importância do que as controversas ideias vindas de Lisboa ou, quando muito, vindas, via Paulo Morais, do Porto. Não consegue desenvencilhar o novelo de interesses em que a maioria dos seus homens mais conhecidos está presa.
O PSD local, perante a impossibilidade de unir esforços dos seus, só irá lá se clarificar quais os apoios que aceita ou não, quem fala ou não pelo partido, se afirmar que está disposto a fazer oposição clara seja qual for a evolução politica a nível nacional.
O PSD só lá irá se conseguir fazer um nó cego a todos os que falsamente são seus apoiantes e antes congregar apoios entre todos os desiludidos com a política local, mesmo vindos do CDS. Apoios para o nível nacional como o de Gaspar Martins são perniciosos, apoios para o nível local agradeciam-se porque pensamos ser o cabeça de lista do PSD garante de não haver negócios obscuros através de contrapartidas de qualquer natureza.

03 outubro 2009

Metade do eleitorado limiano anda deslumbrado

A candidatura favorita à Câmara Municipal de Ponte de Lima adopta o método do CDS mas na sua composição abarca gente de todos os quadrantes, é heterogénea. Além de integrar nas suas listas gente de diversificada origem, conseguirá possivelmente o apoio de metade dos votantes do PS e do PSD. O problema está nos interesses que alimenta.
Mas porque será que tanta gente que não tem relações de custo/benefício com a Câmara vota nesta gente somente interesseira. Na sua política de assimilação, o CDS não pergunta de onde a pessoa vem, qual o seu passado, qual o seu comportamento cívico, não discrimina ninguém, tudo aceita e por esta razão capta para si todos aqueles que se expõem à sua política de chantagem/coação/ sedução.
Dever-se-á fazer a política assim? Estaremos nós errados ao pensar que as listas devem ser elaborados com os mais capazes, competentes, preparados, sensatos, equilibrados, honestos, incorruptíveis, transparentes, humildes e possuidores de qualidade de solidariedade e partilha?
O problema é que para nós todas as qualidades são necessárias e a falta de alguma já quase é impeditiva. Para o CDS a existência de alguma já é suficiente. Nós somos, em geral quem está na oposição é demasiado perfeccionista, exige o impossível, põe defeitos a todos, em especial aos que estão ao seu lado. Reconhecemos as qualidades nos outros porque não os vemos globalmente, não analisamos o conjunto. Procuramos o particular. Condicionamo-nos por sermos mesquinhos.
Campelo é em muitos aspectos competente, dedicado mas sobrestima-se. Podemos mesmo dizer que se deslumbra consigo próprio. Isto deveria ser impeditivo de votarmos nele e muitos disto aplica-se aqueles que ele deixou a começar por Gaspar Martins. Só no próximo 11/10 se saberá se continuamos a deixarmo-nos deslumbrar com o deslumbramento alheio.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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