25 abril 2007

Problemas, soluções e realizações de Abril

Eram tantos os problemas à espera de solução que o 25 de Abril, ao se apresentar ao povo como o despertar da Liberdade, fez também um desfilar das questões sobre as quais esse povo era enfim chamado a pronunciar-se.
Era natural a falta de preparação para o assumir de tantas responsabilidades que se gerou uma grande indecisão sobre quem melhor representaria os interesses do País e mais capacidade teria para dar o devido seguimento às soluções encontradas.
Os projectos pessoais foram caindo e os mais colectivos foram-se digladiando de modo que só passados 19 meses se chegou a uma definição aceite pela maioria e a que a minoria se haveria que submeter com mais ou menos contra vontade.
Entretanto o que havia que decidir em termos de descolonização estava decidido, que o País não tinha coluna vertebral que lhe permitisse ter qualquer palavra significativa a dizer nesse domínio. Já não tinha força para se opor ao que quer que fosse.
Golpes baixos, apoios encobertos, preferência por projectos inviáveis, no meio de uma certa confusão, prenúncio de outras bem mais graves que viriam a seguir, a debandada portuguesa saldou-se principalmente pela entrega à morte daqueles naturais que tinham sido o sustentáculo local do regime e cuja lealdade o exército português não honrou. Salvou-se a assimilação que foi feita dos retornados, que hoje se pode dizer ter sido exemplar, por dela já não existirem rastos.
Daí até cá tem sido o percurso sobressaltado mas mesmo assim normal de uma democracia, que seguiu exemplos e serviu de exemplo para outros e que se tem aspectos negativos tem aspectos positivos mais relevantes.
Habituados há tantos séculos a vivermos isolados, umas épocas mais enclausurados, outras recebendo do exterior algum ar fresco, mas que nunca chegou a constituir um vento revigorador, eis-nos já a viver problemas que nada têm a ver com as opções tomadas na aceleração desse ano e meio de revolução. As resistências enfraqueceram, as fronteiras abriram.
A nossa entrada na Comunidade Europeia, a nossa adesão ao Euro, moeda, a globalização, com a abertura de praticamente todos os mercados e as facilidades de circulação e migração mudaram todo o ambiente em que se desenrola a actividade económica.
Simultaneamente desenvolvem-se novos consumos, a informação e a publicidade confundem-se e levam à uniformização dos consumos e dos comportamentos. O espectáculo e o lazer generalizam-se e alteram a natureza da própria sociedade, cada vez mais hedonista.
Há hoje uma série de problemas que enfrentamos, com que não estamos habituados a lidar, que nos fazem esquecer o passado que tivemos, a transição operada, a herança que recebemos. Mas para enfrentarmos o futuro haveríamos que saber de onde viemos. Só podemos atribuir culpas ao passado ou só o podemos glorificar se o conhecermos.
Não viemos de homens gloriosos, daqueles que pretensamente resolvem tudo em pouco tempo. Todos suportam e infligem muitos sacrifícios para chegarem a lugares desconhecidos, porque normalmente a glória é a necessidade.
Viemos antes de um povo sofrido, que teve que fazer muitas vezes das tripas coração, suportar déspotas iluminados e outros menos, aguentar a arrogância, a vaidade, o desprezo, o terror.
È este povo que fez a história e é dele e só dele que devemos falar, tanto nas situações em que parece actor, como naquelas em que parece somente vítima. Principalmente não se queira dizer que o povo anda a reboque quando as resistências vêm da parte das pessoas.
Só que muitos que resistem à mudança se fazem depois passar por heróis. O problema afinal só reside em saber se a mudança é favorável ou não e em que altura deve ocorrer. As mudanças do 25 de Abril teriam sido muito mais favoráveis se tivessem ocorrido mais cedo.

24 abril 2007

Afinal, para nosso desconsolo, não vai haver lixeira no Largo de Camões

Afinal vamos ter que arranjar outra forma de comemorar o Dia do Ambiente. Daniel Campelo está em período de reflexão, tem outras preocupações, e entendeu que já se não justifica o aproveitamento mediático que um monte de lixo no Largo de Camões proporcionaria.
Afinal o Largo de Camões é a nossa sala de visita e rebaixada a tal ponto não era digno, valha-nos os momentos de alguma lucidez, que todos temos. Sempre será melhor escolher outra iniciativa, mais simples, mais escorreita, mais didáctica, mais orientada para a educação cívica.
Que tal fazer uma exposição fotográfica e documental sobre os focos de poluição que persistem e se expandem no nosso concelho e que já conspurcam as nossas águas e os nossos montes. Não é que assuma aspectos dramáticos, mas já há casos a causar alguma apreensão.
É sempre melhor cortar o mal pela raiz do que perder o controle da situação. Havia legislação que defendia as linhas de água, os nossos riachos, ribeiros e rios mas muita caiu em desuso, deixou de ser respeitada pelos confinantes, pelas freguesias, pela câmara, pela população em geral.
Se as câmaras outrora quase não interferiam nestes domínios, hoje têm que assumir esse problema como seu. Todo o sistema hidrográfico deve ser visto como um todo, que os problemas começam na nascente, não é suficiente ter a cara lavada num lugar ou outro.
Também o lixo antigamente não era problema. As pessoas dividiam o que hoje se considera lixo pelo galinheiro e pela pocilga e o restante enterravam ou queimavam. A reciclagem era natural. Hoje mesmo as pessoas que vivem em meios rurais, mesmo sabendo que esse método seria melhor, carregam os caixotes com tudo, assim não tem mais problemas.
Mesmo assim este problema pode ser minimizado. Em lugar de se despejar o lixo em contentores metálicos, onde o lixo fechado fermenta dias e dias, será melhor por à disposição das pessoas estes recipientes que se mostram na fotografia e que são de uma aldeia de um concelho vizinho.
Depois há o problema dos forasteiros. Sabe-se que infelizmente já não é mais possível usufruir indiscriminadamente de todo o espaço livre no ambiente. A Câmara não se pode demitir da resolução deste problema, ordenando e estruturando os espaços públicos em especial junto aos centros urbanos.
Os forasteiros não se mandam embora. Encaminham-se como as crianças de infantário, se necessário, controla-se-lhes o acesso e veda-se o usufruto livre. Os comportamentos civilizados podem ser induzidos.

23 abril 2007

Sem a mão de Paulo Portas a aura de Campelo vai-se desvanecer

A luta intestina que se desenrolou no C.S.S./P.P. de Ponte de Lima deixará inevitavelmente marcas. A demarcação entre os contendores foi feita de modo tão contundente que só um extraordinário espírito de sobrevivência fará com que se deitem a mão uns aos outros, para não naufragarem.
Talvez Daniel Campelo, descurando mais a gestão municipal que nele já causa enjoo, se preocupe em projectar a sua imagem para outros voos, que se viu que ela não tem qualquer consistência para além do seu feudo natural. Só que a possível vitória em eleições para as comissões concelhia ou distrital, por si só não contribuirá significativamente para este objectivo.
O discurso de D.C. sobre a realidade nacional não vai além da sua repercussão sobre o domínio municipal e regional. A projecção da sua imagem a nível nacional está feita, mas mais pelo lado da caricatura do que pelo lado da apologia de uma política de rigor, coerência e de solidariedade nacional. No galarim mediático cada qual tem o seu papel.
Contrariamente ao seu discurso anti-mediático, também D.C. tem usado o mediatismo para obter popularidade. Só que se terá que convencer que a graça televisiva tem de ser deixada ao “Gato Fedorento”. O carácter contraditório do seu discurso não passa despercebido a ninguém. Se, estando no galarim da fama por um motivo, pensa que pode mudar de papel está enganado porque terá que começar por baixo.
D.C. tem muitos impulsos mas raramente lhes dá seguimento. Utiliza balões de ensaio, fogo de artifício, efeitos multimédia, mas recua com a mesma velocidade, com igual destreza, apagando o rasto das suas incursões, minimizando os seus fracassos, relativizando a sua importância.
Esta maneira de agir é tolerada no campo local mas não no campo nacional. Neste campo os erros perdoam-se às segundas e terceiras linhas mas não aos “cabeças de cartaz”. Se copiou os impulsos pelo Guterres era bom pensar também nas consequências que Guterres suportou.
Localmente D.C. está habituado a estar só, a arquitectar cenários, a conspirar alianças, a aliciar apoiantes. D.C. não dá qualquer hipótese que os seus “amigos” lhe contestem o gosto. Mas um politico consistente, se tem que estar só no assumir de responsabilidades, não pode estar só no domínio do delineamento da acção, nem pode dar suporte só aos seus gostos.

22 abril 2007

O que muda com Paulo Portas na liderança do seu P.P.

Não mudará muito, mas nem tudo ficará como está. Quem, em "segredo", já mudou foi Paulo Portas e está preparado para mostrar essas mudanças à Nação Lusitana. P. P. quer agora uma relação directa com ela. Já não vai invocar intermediários, sejam eles os ex-militares, os retornados, as peixeiras, os feirantes, os agricultores. Agora vai falar directamente com o Povo no seu todo.
P. P. para já só se apresentou fisicamente e como razão só apresentou a falta de oposição que os outros estão a fazer a José Sócrates. Os crentes, que nunca tinham deixado de o ser, os seus mais próximos apaniguados estão prontos a serrar fileiras à sua volta e contribuir para o coro e para a fotografia. Marques Mendes que se cuide, ou até não, que vai ser ignorado.
P. P. na sua obsessão de iluminado, vai falar para a frente, sem olhar para o lado, sem perguntar o que pode dizer. Sem compromissos, sem acordos, está livre para conspirar, articular, estruturar e quando houver que contar espingardas à direita esperem por ele. Aprendeu muito, até com José Sócrates vejam lá, e agora sabe que as pequenas causas não rendem, é preciso encontrar as grandes.
P. P. está preparado para apresentar uma linha política que depois não precise de cedências para fazer coligações. P. P. quer ser ele a ter a liderança ideológica da direita e centro-direita e quer apresentar um programa de governo consistente com os seus princípios. P.P. quer deixar Marques Mendes, ou o que vier a seguir, numa situação de ter que ser este a aderir ao projecto alheio, do P.P. e não o contrário, como sempre tem acontecido.
A incógnita está em saber se M.M. se encontra preparado para esta armadilha vinda do seu próprio campo ideológico. P.P. deitou Ribeiro Castro pela borda fora, por não aguentar a ondulação. P.P. está preparado para fazer o mesmo a M.M., porque ambos navegam nas mesmas águas e Marques Mendes provavelmente não será capaz de aguentar a ondulação.
Mas será o mesmo deitar pela borda fora um homem que estava no mesmo barco ou fazer o mesmo a um que se encontra num barco ao lado? Aliados não lhe faltarão no barco vizinho. Meio P.S.D. está à espera disto quanto antes.
Porém M.M. não é homem para se deixar ir a baixo com o enjoo. Tem tacto para manobrar e conseguir apoios. Só o tempo corre contra ele, que P.P. tomando conta do leme do seu barco vai conduzi-lo na direcção que lhe pretende imprimir. E a M.M., ou a outro que tarde muito, só restará seguir-lhe a rota com medo de se afundar.

20 abril 2007

Esta campanha das Novas Oportunidades é um nojo!

O Governo quer dar à força uma qualificação às pessoas. A qualificação está certa para quem a merecer. O que está mal é o “à força”, o frenesim que leva o Governo a fazer todo o género de campanhas para solicitar a aderência das pessoas a uma iniciativa de cuja bondade a maioria não acreditará.
O Governo socorreu-se de quatro “bem aventurados”, cujo sucesso pretensamente se terá devido ao seu estudo no que convencionalmente se designa por ensino. Até por este lado as escolhas não são de modo algum acertadas. São pessoas que vivem muito do mediatismo das suas profissões, da sua iniciativa mais do que da sua formação de base, muitas vezes à margem do que aprenderam na escola.
Mas um problema maior se levanta. Estes “bem sucedidos”, que não têm qualquer problema em mostrar a cara, são colocados em contraponto com outros desgraçados, anónimos e envergonhados, que para sempre terão caído nas garras da ignorância e não têm qualquer possibilidade de subir na vida…
A não ser que uma miraculosa nova oportunidade lhes apareça, trazida por estes novos feiticeiros, guias espirituais de alguns fieis mas não necessariamente daqueles que eles desprezam, numa postura que, se é feita para uma campanha, não andará longe da realidade…O desprezo por aqueles que exercem profissões ditas menores é o efeito pretendido nesta encenação.
Muitos dos que exercem estas profissões, em especial aqueles que nasceram nas grandes cidades antes da década de sessenta, e mesmo os que nasceram em muitas terras deste País nas décadas de sessenta e setenta não tiveram qualquer hipótese de estudarem, não abandonaram o ensino como pretensamente se quer fazer crer.
Esta campanha é vergonhosa, porque se está a mentir quanto ao mérito das pessoas e porque se está a desprezar uma larga facha da sociedade que terá que continuar a exercer as profissões que falsamente se rejeitam.
Para que se saiba quem tão mal ganha este dinheiro é:
Um actor famoso Um contraponto anónimo
Maria Gambina Uma trabalhadora de lavandaria.
Carlos Queiroz Um trabalhador de limpeza dum estádio.
Judite de Sousa Uma empregada de biblioteca.
Pedro Abrunhosa Um arrumador de cinema.
Quem souber o caché de uns e outros é favor.
Quem souber o idiota que idealizou esta campanha agradece-se.

A Câmara de Ponte de Lima debita-nos uma ilegal taxa de justiça

No Concelho de Ponte de Lima, em particular na Vila e suas redondezas, o abastecimento de água é feito pela própria Câmara Municipal e o pagamento deste serviço é feito mediante o envio de uma factura que pode ser paga na tesouraria da Câmara ou no Multibanco. È esta última a forma que eu uso normalmente.
Esqueci-me, caso normalíssimo, de pagar a factura de Fevereiro, que deveria ter feito até 27/02/2007. Entretanto recebi a factura seguinte, de Abril, o pagamento é bimensal, sem qualquer referência àquele facto.
Dias depois recebi um aviso de corte, ameaça que é feita numa pequena referência como que escondida no canto superior direito. O pequeno texto não faz referência a qualquer Lei ou regulamento, fazendo uma nova ameaça de penhora de bens. Fecha a pedir colaboração com a Câmara Municipal.
Este palavreado “sujo, imundo, conspurcado, primário, parolo” não respeita qualquer norma legislativa, nomeadamente o Art.º 36º do código de procedimento e de processo tributário, se se lhe aplicasse.
Acresce que esta citação com a data de emissão de 10/04/2007 foi por mim recebida a 19/04/2007 com data limite de pagamento para esse dia, o que também é perfeitamente ilegal. Ao pagar aplicaram-me uma taxa de justiça de 12 € atribuída a cobrança coerciva.
Mas o principal é que pelo n.º 3 do Art.º 56º da Lei 2/2007 de 16/01 “Compete aos órgãos executivos a cobrança coerciva das dívidas às autarquias locais proveniente de taxas, encargos de mais-valias e outras receitas de natureza tributária que aquelas devam cobrar, aplicando-se o C.P.P. Tributário com as necessárias adaptações.”
As taxas municipais são criadas respeitando o estipulado no Art.º 15º da Lei 2/2007 de 16/01 e às dívidas daí originadas aplica-se o artigo acima citado. Diferentemente o preço do abastecimento de água é determinado pela Câmara utilizando o Art.º 16º da mesma Lei e as dívidas daí resultantes não tem natureza tributária. São resultado duma tarifa de gasto não de uma taxa de uso.
Tudo é ilegal no procedimento da Câmara. Muito mais grave ainda, porque resvala para o mais puro cinismo, é dizer “Colabore com a sua Câmara Municipal”, quando se não notifica para pagar num determinado prazo somente com juros, quando as citações não são enviadas no seu devido tempo, quando se trata os munícipes como criminosos, ladrões, relapsos a pagar o que gastam, estúpidos que não precisam de saber em que normas legais se tomam atitudes destas.

18 abril 2007

Dentre dois candidatos anquilosados sairá um vencedor

Ambos os candidatos à liderança do C.D.S. parecem anquilosados. À sua imobilidade junta-se a sua pouca visibilidade, o que os torna quase fantasmas. De vez em quando lá se ouve um gemido, um protesto, uma chamada de atenção.
Para uma direita que precisa que lhe alimentem as expectativas, pouco tem transparecido, ou o principal só é dito em reuniões secretas. Do pouco que se sabe retive a informação de que Paulo Portas é a favor de uma cultura não rural, suburbana, urbana, europeia, mundana, mas sim cosmopolita.
Bem me parece que um dos seus objectivos é humilhar Daniel Campelo. Sinceramente vejo as coisas tão negras que não consigo ver qualquer entendimento futuro entre as duas facções que se digladiam e particularmente no universo limiano.
Afinal as clarificações são sempre dolorosas, mas a direita há muito descobriu que os seus interesses se defendem mais eficazmente longe do seu próprio campo de actuação. Os interesses da direita são bem defendidos por quem não era suposto o serem, e que se espalha por aí.
O abandono por Paulo Portas de tibieza própria da direita tradicional, da sua ligação aos valores mais ancestrais relacionados com os terra tenentes e o atraso cultural e a sua defesa da evolução e do cosmopolitismo farão trazer o C.D.S. para mais perto da realidade, das pessoas cujos interesses realmente defende, dos bem instalados, liberais na economia, conservadores na política e no exercício da autoridade, com preocupações ecológicas decorativas.
Se é desagradável ver uma personagem deste jaez a vencer, seja lá aonde for, convenhamos que há uma evidente clarificação, o abandono de algum disfarce, uma melhor adaptação à realidade. E, a vencer, que vença entre aqueles que o merecem.

17 abril 2007

Quem tem gerido as nossas expectativas no ensino

Todos os que se apresentam à sociedade como gestores de expectativas têm de ser entendidos como só parcialmente responsáveis pelas consequências dessa gestão. Temos de saber como elas se formam em nós para sabermos aquilo que lhes pomos na mão.
As expectativas não se criam num dia, num ano, talvez não numa vida. As expectativas transmitem-se, herdam-se, na sua formulação entram amigos, os pais, as organizações, a sociedade em que se vive.
As expectativas sofrem das transformações veiculadas pelo ambiente geral, exigem adaptação, uma atitude activa de quem não quer ficar para trás, preso a moinhos que já não fazem qualquer aproveitamento da sua energia. Quem não procede assim é na literatura um Velho do Restelo e na política um salazarista ou um comunista, ou quem lhes veste a pele.
O abandono das expectativas é um processo doloroso e pode ser traumatizante se não se conseguir geri-lo convenientemente. Nunca é bom deixar chegar o dia em que essas expectativas têm, por força das circunstâncias, de ser efectivamente abandonadas, contra-vontade do próprio.
O bom senso dirá que se não deixe aquecer demasiado as expectativas, quando o mais provável é haver um arrefecimento súbito. O abandono das expectativas que possam ocupar a maioria do tempo de uma pessoa, que, digamos, passa a vida a trabalhar para elas, pode, por falta de uma alternativa evidente, próxima, compensatória e com o mínimo de viabilidade, levar a uma descompressão tal no imaginário pessoal que leve à desorientação, à perca de rumo, à falta de motivos e razões, inclusive, para viver.
Um outro problema surge quando nós entregamos a gestão das nossas expectativas, venham elas donde vierem, nas mãos de outrem, sejam políticos, gestores, amigos. As necessidades de abandono dessas expectativas cria revolta mas em termos pessoais é menos desgastante. Afinal podemos deitar as culpas a quem atribuímos as nossas expectativas. Esta atitude de muita passividade é a maior característica da nossa sociedade.
Uma nova classe de gestores de expectativas se criou uns anos após o advento da Liberdade. O Estado demitiu-se dessa função no campo do ensino superior e surgiram as Universidades Privadas. Estas assumiram não só a gestão do ensino ministrado, mas também a própria gestão das expectativas.
Muitos destes gestores deram a cara no programa “Prós e Contras” e, como bons gestores, procuraram levar a coisa para a brincadeira quando era a sério e levá-la para a seriedade quando seria ocasião de risota.
Portaram-se como qualquer português médio, mais não seria de esperar. Evoluíram também alguma coisa de modo que Salvato Trigo, em vez de falar de críticos de taverna, falou de críticos de café. É como quem já tenha saído mentalmente de Estorãos e agora esteja na Vila de Ponte de Lima. Mas é pouco falar das diferenças entre o ser e o ser considerado.
O Sr. Tribolet definiu bem de quem são as culpas para que o ensino privado continue a ser (considerado) coisa de brincadeira. Os visados não puseram o dedo na ferida porque têm medo de comprometer a sua vida, não se querem queimar nas labaredas que os políticos se mostram incapazes de travar e que têm obrigação de fazer porque foram eles que as atearam.
O sistema desenvolveu-se anarquicamente, tornou-se complexo, porque, mesmo com todos os problemas, as expectativas lá foram sendo geridas a contento de todos, dos que ganham com isso, dos que viram o povo satisfeito com a proliferação de “doutores”, dos “doutores” eles mesmos, mesmo que não arranjem trabalho facilmente, que os tradicionais filões, professorado, função pública, profissões liberais secaram.
Ninguém tem conseguido pôr o sistema a funcionar devidamente. Mas todos se atribuem boas intenções, ideias também vão havendo. O povo lança as culpas ao Estado e com razão, porque aqui se não trata até de gerir bem ou mal mas de pura demissão. As expectativas têm que ser geridas na sua quase globalidade pelo Estado, é o governo que vai a votos.
O Estado, não necessariamente o governo porque aqui cabem órgãos autónomos embora tudo ande misturado, tem de estar à cabeça para legislar, regulamentar, fiscalizar, avaliar. Aos gestores universitários que se deixe só a gestão corrente do ensino, todo igualmente subsidiado pelo Estado, e chega. Sempre haverá quem seja melhor que outro.

16 abril 2007

O nosso modelo de desenvolvimento e a OTA

O modelo de desenvolvimento adoptado para Portugal, como para qualquer país imerso na economia global, a intervenção do Estado quase se limita aos aspectos mais estruturantes, deixando quase tudo o mais à iniciativa privada, com mais ou menos um incentivo.
Também quando um empreendimento é de grandes dimensões, complexidade ou complementaridade interna, mesmo que a maioria do investimento seja privado, é necessária uma intervenção do Estado no sentido de assegurar a sua coerência, a sua viabilidade, a sua exequibilidade.
Neste tipo de investimento que são os que maior celeuma levanta, por obvias razões, enquadra-se a construção da OTA. O seu efeito estruturante parte do princípio de que Portugal se tornará numa plataforma giratória inter-continental e enquadra-se no modelo proposto ou imposto pela Comunidade Europeia para o nosso País.
Concomitantemente Portugal reforçará a sua vertente turística num quadro em que os serviços representarão a fatia mais importante do rendimento nacional. Tenha porém para mim que estas duas razões são poucas e poderá ser prejudicial assentar preferencialmente nesta área as nossas opções de investimento.
Mas a contestação visível, mediática, partidária, quase insurreccional, não vem de parte dos que põem em causa este modelo mas dos que, adoptando-o, querem um aeroporto ainda maior. Tendo em conta a minha posição, a posição do governo e esta posição subversiva, terei necessariamente que ser contra esta última.
Já que não será possível recuar, já que o País está cheio de elefantes brancos que nos envergonham vamos avançar e já para a OTA. Esta a opção média, mais central para o País, mas perto do Norte, mais distante de Beja e de Faro, junto das principais vias viárias e ferroviárias do País. O facto de ficar mais perto do Porto e por esse facto poder ser prejudicial para o seu aeroporto será um facto negativo, mas sempre menor em toda esta problemática.
Então deixemo-nos de contribuir para este clima de entorpecimento, de paralisia, de indecisão. Não hesitemos, não cedamos, avancemos com determinação.

14 abril 2007

A Universidade como geradora de imbecis e … execráveis

A Universidade há muito que deixou de ser o barómetro para aferir da qualidade do que quer que seja. E a Portuguesa é em termos culturais do tipo mais rasca e em termos científicos vegeta, enrosca-se, sobrevive.
No entanto lá há um ou outro ramo com o seu prestígio. Porque o mantém, o revigorou mesmo ou porque ganhou realce e brilho em domínios novos. O certo é que à sombra de alguns desses ramos fluorescentes anda a imensa multidão dos imbecis, que para cúmulo são os mais convencidos, pretensiosos e vaidosos, sem terem sustentáculo visível para tanta bazófia.
Até uns tempos atrás o “doutor” que saía da Universidade só valia na medida em que era a garantia da preservação dos valores e da organização social instalada. Aqueles que não contribuíssem para isso eram marginalizados, impedidos de defender as suas ideias. Este efeito foi exacerbado pelas instâncias superiores do salazarismo, mas, para a nossa mais completa desgraça, era socialmente aceite.
A proliferação de “doutores”, que deixaram de poder ser todos pagos ou beneficiados pelo Estado, veio pôr a nú aquilo que já era do conhecimento de muitos: A maioria deles não vale nada.
O advento da Liberdade e a complexidade crescente do sistema social veio criar a necessidade de quem o desenvolva e não de quem o preserve. Tornou-se evidente que a Universidade, conservadora e defensiva, não foi capaz de se adaptar às suas novas responsabilidades.
Para agravar a situação qualitativa, criaram-se as Universidade privadas, essencialmente viradas para os cursos de papel e lápis, para as classes emergentes mas com menor qualidade ainda que o ensino do Estado.
Mas mesmo o ensino oficial passou momentos de uma absoluta agonia, incapaz de fazer a transição progressiva entre a ditadura e a liberdade. Antes do 25 de Abril, a Universidade vivia do formalismo, da rigidez programática, da impossibilidade de pôr em questão o saber oficial, a autoridade. Este ensino, conscientemente ou não, criava na sua maioria abanadores de cabeça.
Depois do 25 de Abril foi a desbunda completa. Com o apoio das forças políticas não interessadas em instaurar um regime democrático, foi um fartar vilanagem de passagens administrativas e de outros artifícios para obter cursos. Instaurou-se o sistema de que todos os que entram, saem doutores, mesmo aqueles que já lá vegetavam há anos.
A última metade da década de 70 pôs a instituição universitária numa desordem total, aliás como muitas outras do País. No entanto, numa época que é mais importante parecer do que ser, todos se arrogaram o direito de manter um tratamento de subserviência em relação a estes novos defensores do sistema, simplesmente reconfigurado na aparência.
Aceito que para Sócrates seja só uma questão de cortesia. Socialmente talvez ainda pudesse exigir mais, como o faz o Execrável. Mas impõe-se que se acabe com esta palhaçada, que corresponde a uma perspectiva estática e não progressiva. Não se pode aceitar o socialmente aceite, se provindo de uma sociedade que se quer transformar.
O mundo político está cheio de gente com cursos à base de passagens administrativas e de outros artifícios. Com culpa ou sem ela ostenta diplomas de cursos para os quais pouco terá contribuído. Não estará o Execrável disposto a mandar averiguar todas estas situações.

13 abril 2007

Venham todos … que haverá lixo para o gosto de cada um

Televisão, fotógrafos, jornalistas, bloguistas, curiosos, gente de todo o lado, sugestionável ou não, prontos a viver uma experiência única e decerto inolvidável. Tragam todos telemóveis com/ou câmaras fotográficas. Não sabemos é se vai ser permitido levar alguma recordação.
No dia 5 de Junho é comemorado o Dia do Ambiente e aqui em Ponte de Lima sê-lo-á condignamente. Prevê-se trinta toneladas de lixo, mas nós, com uma ajudinha vamos arranjar mais. Estejam descansados que lixo não faltará e, vá lá, tudo faremos para que não falte imundice de toda a espécie.
Da Cabração, da Armada, da Vacariça ou do Monte de S. Cristóvão e doutros lugares distantes, onde se guarda oito dias ou mais, esperamos que venha já bem fermentado, em estado adiantado de decomposição. É pena ser numa terça-feira solteira, se não juntávamos o lixo da feira do dia anterior.
Não faltarão camisas de Vénus, latas de Coca-Cola, seringas, fraldas descartáveis, pensos higiénicos, comida para cães e gatos, cartas de namorados fraldiqueiros, fotografias de gajas nuas, mas Daniel Campelo ainda nos quer fazer uma surpresa, pois disse aos jornais que surgirão coisas de espantar. Que mais veremos nós?
O pior é as narinas. Não sabemos se D.C. vai disponibilizar máscaras de gás, que o lixo bem fermentado de contentores que estão com ele vários dias e raramente são lavados, é do melhor. Venham para ver e cheirar à vontade.
Também nós vamos ver. Afinal porcos não são só os de Gondomar, também somos nós. D.C. quer-nos meter o lixo pelos olhos dentro.
Antes lhe recomendava que fizesse pedagogia doutra maneira. Há que pôr fim a tanta indignidade. Nós não merecemos estar sujeitos a tanta javardice.

12 abril 2007

O intriguista mor, Marques Mendes, disse da sua justiça

Quem esperava a queda, a escorregadela, a beliscadura de José Sócrates ficou desiludido. Mas o sacripanta Marques Mendes, continuando a invocar pretensos favorecimentos, lá apareceu naquele domínio enlameado em que ele se sente bem.
Marques Mendes não consegue surpreender ninguém. Pretende com o ataque pessoal enlamear quem assume, com a dignidade que as funções merecem, o cargo mais responsável da governação. Quer aproveitar os problemas de uma Universidade afecta ao P.S.D. para pretender levar, com a leviandade que lhe é característica, Sócrates na embrulhada.
Marques Mendes apresentou-se ontem, ao fim da noite, perante as câmaras de televisão, a vomitar o fel que havia acumulado durante todos os dias antecedentes. Para quem viu e ouviu as palavras despreocupadas e sinceras de José Sócrates, o espectáculo que se seguiu foi deprimente.
A SIC engoliu o veneno. No início de um patético inquérito telefónico, aliás altamente lucrativo e que não deveria ter aceitação popular, ainda a jornalista corria para Sócrates para obter um comentário aos 39% de convencidos contra 61% de não convencidos que o inquérito num primeiro momento revelava. Com a completa inversão dos valores que se seguiu, a SIC calou-se, remediou como pode, mas não pensemos que desarme.
Neste blog não se falará mais de crápulas. Quanto a Marques Mendes lembremos que, se pelas ideias não convence ninguém, tem um passado de bastante visibilidade, neste Pais em que vale tudo e o seu apadrinhamento por alguns históricos do PSD foi notório.
Homem de mão de Cavaco para o trabalho sujo, de que o próprio se demarcou, executivo do cavaquismo, enquanto sistema de engajamento e favorecimento, velha toupeira do parlamentarismo mais balofo e desacreditado é o sargento que toma conta da companhia após a debandada dos generais, daqueles que mesmo assim também não há a certeza de serem melhores do que ele.
Um político não pode ser um intriguista. Um político não pode pretender agir só pela insinuação, que a sua imagem é a que melhor se cola a uma pretensa imagem do tipo “melhor português de sempre”.
Também não falta quem só queira assumir papéis pela certa. A direita é imediatista e ninguém quer estorricar em fogo brando. Faltam-lhe homens com ideias para Portugal, que as ponham à consideração do Povo e caso percam se retirem. Como Fernando Nogueira se retirou.

11 abril 2007

A imagem, os artifícios e os estados de alma

Nada melhor que uma imagem para acompanhar qualquer explicação. Mas uma imagem ou sucessão delas só diz o que nós queremos que ela diga. Salazar difundiu algumas imagens de brancos degolados em Angola para justificar a guerra colonial. Os soldados trouxeram de lá fotografias de pretos sujeitos a toda a espécie de violência arbitrária, para se rirem do mal feito. A imagem aparece como um apelo ou como o comprovativo de uma visão particular de justiça.
A imagem quando adequada àquilo que se quer provar tem um efeito multiplicador na criação do estado de alma pretendido para uma melhor aceitação da tese em causa. Este efeito pode ser usado em sentido positivo, em relação aos interesses da sociedade, como seja a difusão de imagens brutais para exemplificar o abuso da velocidade e levar as pessoas a pensar duas vezes, quando têm ganas de meter o prego a fundo.
Mas, mesmo belas, as imagens como as de uma corrida de carros podem ser usadas com o fito de atingir algum fim menos legitimo do ponto de vista social. Nesta linha se apresenta o Sr. Presidente da Republica ao querer que à pretendente a uma I.V.G. se mostre uma ecografia do feto antes de qualquer decisão. Não me parece que este facto fosse alterar o seu estado de alma, mas parece nitidamente abusiva esta postura justiceira.
Cavaco Silva quer que, à falta de argumentos racionais, se avance no sentido de violar a consciência individual, se entre pelo lado emotivo, se use a chantagem emocional, invocando uma pretensa superioridade moral, intelectual ou que seja no simples domínio duma maior experiência, que está longe de estar provada. Quer que se inquira do motivo pelo qual alguém pretende interromper a gravidez é quase querer saber como ela teve origem.
O abuso vai ao ponto de se querer que o chamado progenitor masculino também deve poder estar presente na consulta obrigatória e no acompanhamento psicológico. Esta é uma velha pretensão de quem julga que nestas coisas o homem sempre será mais sugestionável. Mas o que é que o homem tem a ver com isto? Há outras ocasiões para o homem assumir as suas responsabilidades. Neste momento a responsabilidade já é só da mulher e o homem só terá alguma a partir daí se a mulher o consentir.
À força da teimosia das forças de direita, Cavaco Silva quer ver aconselhamento onde a Lei diz informação. O seu desplante vai ao ponto de querer garantir a imparcialidade e isenção dos médicos e outros profissionais que façam o “acompanhamento” e contra todas as evidências dizer que “a invocação da objecção à prática do I.V.G. não constitui motivo para a desqualificações desses médicos”. Só por milagre haveria neles isenção.
Cavaco Silva não teve coragem de vetar, esforçou-se por inventar artifícios, mas pelas objecções presentes só encontra aliados no C.D.S. E neste só Ribeiro e Castro defende causas ainda mais perdidas. Inteligentemente Paulo Portas diz que esta batalha já era, que, se o C.D.S. não arranja causas melhores, está de todo tramado.

Vamos substituir o cartaz da discórdia por um concurso na blogosfera

A blogosfera lembrou-se de um concurso de cartazes para substituir o dito cujo do "Vá-se embora". Pôs estas quadras à disposição do João Carlos, autor da ideia, que incluirá no concurso aqueles que entender. Eu por cá voto na terceira. Solicita-se a colaboração de todos nas propostas e depois na escolha. Fotografia não é preciso para quem tem tão larga e bela paisagem a admirar. Esta é só um aspecto em que se não repara.

Em Ponte de Lima
Mostre ser asseado
Leve o lixo consigo
Seja bem educado!

Em Ponte de Lima
A urbanidade fica bem
Não polua o ambiente
Evite o ruído também!

Em Ponte de Lima
Respeite a limpeza
Admire a paisagem
Não lese tanta beleza!

Em Ponte de Lima
Sinta-se no seu lar
Limpe mais do que suja
Não deixe nada estragar!

Em Ponte de Lima
Não faça ruído nem lixo
Guarde tudo muito bem
Amanhã tudo será fixe!

Em Ponte de Lima
Será sempre recebido
Assim como nos tratar
Assim terá o merecido!


A Partir de 15 de Abril vote em http://pontedelima.blogspot.com/

08 abril 2007

Um Judas mais inspirado, mais económico, mas também uma mulher

Também aqui o Judas é uma mulher. A desculpa não é da crise, na Vila de Arcoselo a culpada é a fartura. À velha maneira de ridicularizar estas situações, menos claras que são para nós, várias mulheres vêem neste testamento os seus lençóis virados do avesso, que lhes terão dado bom uso e … bom proveito.
Também há heranças e maus caracteres. No fundo estes versos estão dentro da velha tradição de que, se não trata de escolher as pessoas pela função que desempenham, mas por aquilo que mostram na sua maneira de proceder. Só que uns têm mais visibilidade do que outros.
Alguns serão até vítimas inocentes, poderá haver fumo sem fogo. Outros mereceriam cá um bom lugar mas escaparam desta. O importante é o sentido crítico, de zupar em quem se põem a jeito, que nisto, ao contrário do Judas da Vila de Ponte de Lima, não se podem fazer diferenças entre os “políticos” e as domésticas e deixar maior herança àqueles que a estas.
E com muito mais graça se faz um testamento e um Judas não subsidiados, de incógnito autor. Este legado é bem melhor do que o das “Unhas do Diabo”, que creio já deram o que tinham a dar.
Mas também a Além da Ponte não quer ficar para trás e sem Judas lá vai havendo um testamento para os amigos. E como é de amigo lá vai a relação dos bens que me cabem em herança:


Nas altas tecnologias
Trigo um peso pesado
Para o sector diplomático
O Isaac está aprovado

A divulgação já se sabe
Está c’o a Maria do Pepe
O Trigo fica encarregue
Da página na Internet

Bom cumpridor, que o nosso Presidente Malheiro, segundo a Lia, o único no mundo/que seu amor mereceu, me não venha a despromover, cá estou eu no desempenho desta nobre obrigação.

Uma tradição que se adapta aos novos tempos

A tradição da visita do compasso pascal ainda se mantém viva, embora, por força das circunstâncias, tenha assumido um cariz diferente do de outro tempo. Então eram padres, ou quando muito seminaristas em fase terminal dos seus cursos, os homens da cruz que iam desejar pão, paz saúde e amor às casas dos fregueses.
Nas freguesias maiores, naquelas em que o padre não queria de modo algum perder esta ocasião para visitar os paroquianos, a visita era feita, e continua a ser em alguns casos, não só no domingo mas também na segunda-feira. Por vezes até na Pascoela, domingo seguinte à Páscoa.
Há quem atribua esta velha tradição, de que modestamente desconheço os primórdios, a objectivos muito prosaicos, há outros que vão pelo lado mais farisaico, custa a perceber algum sentido religioso.
O começo da Primavera, diziam uns, era propício a fazer uma grande lavagem da casa, um refrescamento após um Inverno bolorento. Outros diriam que assim o padre ficava a saber das condições em que as pessoas viviam, dos seus teres e haveres. Podia assim avaliar melhor o modo como cada um haveria que contribuir para a manutenção do clero e nesse dia receber enfim a côngrua dos mais relapsos.
Outros invocariam o simples controlo religioso, aprouvera a alguém não abrir a porta ao padre. Hoje há muita gente insuspeita que não encontra outra justificação senão o folclore, como pretexto de algum turismo religioso.
Para piorar a situação muita gente não abre a porta, por este ou aquele motivo, que no fundo já ninguém cura de saber as razões de cada um. Além de que os leigos tomaram, na maioria dos casos, posse da cruz, são eles que vão levar as palavras de algum conforto aos lares alto-minhotos e muita gente se não sente por isso reconfortada.
Também atrás da cruz já não correm tantos amigos como outrora. Se uns iam por convicção e amizade sincera, outros iam para aproveitar a ocasião. Apresentavam-se à porta do amigo para beijar a cruz, e se houvesse um convite para beber um copo, melhor para dar uma dentada no presunto ou no chouriço caseiro, ninguém se fazia rogado.
Mas a diferença mais saliente está hoje na falta de crianças. Era só se libertarem da sua função doméstica e esvoaçavam logo atrás da cruz, para sujar a roupa nova, se a houvera, e apanhar os confeitos e os biscoitos … e vá lá alguns beijinhos, uns biscoitos pequenos com uma flor colorida em cima que os mais endinheirados deitavam para fora da porta, não fossem esses seres indesejáveis invadir o domínio dos mais velhos.

A vida não pára. Já há Universidades prontas a colher os despojos

Tem sido um corridinho. “Os alunos da Universidade Independente não vão ser prejudicados”, tal serve de lema à campanha em marcha para colher os despojos da defunta.
A instituição universitária na sua globalidade, empertiga-se, não vá a restante ser afectada. Os monstros do saber nacional aliam-se e cruzam as suas armas para defenderem estatutos, benfeitorias, privilégios, benesses.
O mestre-de-cerimónias já fez a sua aparição nos telejornais, os outros vão atrás. Já ouve tanto trambolhão, tanto processo judicial, tanto subsídio comunitário desviado, tanto certificado indevido, tanta ilegalidade cometida e os métodos mantém-se, as pessoas são as mesmas, o sistema persiste.
Todos gostamos de esquecer, era bom que olvidássemos tudo o que de triste vai ocorrendo. Há tanta gente sem culpa nenhuma, que fazemos por esquecer os desmazelos. Só que, algum dia, nós teremos que ter juízo.
Se ao menos entre corrupios e solavancos o ensino fosse melhorando, mas tal custa a verificar-se. Ao contrário, os erros agravam-se, as falhas acumulam-se, a impunidade frutifica.
A consciência degrada-se, a dignidade corrói-se, a honestidade deprecia-se, a honradez entra em amnésia. Os humildes têm vergonha, esta gente já não tem réstia dela. Mas pelo seu efeito de exemplo é toda a sociedade que está sujeita ao seu efeito corrosivo.
Ninguém aparece para assumir a culpa, todos surgem para segurar o facho e não deixar que o vento o apague. O ensino vai continuar a ser um negócio da Arábias, que a qualidade não interessa, o necessário é ser Dr..

07 abril 2007

A Universidade é a imagem da Sociedade

Tenho para mim que quem dá brilho a uma Universidade são os alunos que por lá passam e vêm a ter sucesso em funções, mais do que pelo que lá aprenderam, pelos instrumentos que lá tenham adquirido para o seu trabalho, seja técnico, seja intelectual.
São os instrumentos mentais as armas que nos permitem ir mais além sem sermos reprodutivos daquilo que em substância lá se possa ter aprendido. O que nós vamos aprender numa Universidade é muitas vezes a por em causa o que lá se aprende.
O prestígio da Universidade virá a seguir, em função da quantidade e do valor desses alunos, da percentagem daqueles que têm o reconhecimento da sociedade e para ela contribuem, com as qualidades humanas que lá deveriam ser aperfeiçoadas e que no geral lá se degradam.
Se de entre as Universidades públicas tem havido nos últimos anos alterações no ranking, também nas privadas tem havido umas que não saem da cepa torta, outras que se vão salientando neste ou naquele ramo de saber. Mas o panorama geral é deprimente.
Há mesmo Universidades que não têm cumprido minimamente a sua função, não fornecendo os profissionais necessários a um normal funcionamento da sociedade. Destaque-se o que se passou em Medicina.
O Mal reside nos dirigentes e nos interesses que lhe estão subjacentes, que a dita “classe superior” é feita da mesma massa do comum dos mortais e em vez de ser um bom exemplo para estes é, na sua quase totalidade, o melhor exemplo de gente mais corrupta, ávida por dinheiro e bens materiais, sôfrega por ocupar todos os lugares, estar em todos os lados, meter as mãos em todos os “sacos”, botar faladura em todos os fóruns.
Não são só turbo professores, muitos já têm a virtude da ubiquidade. Esta escumalha que sobrevive a todas as rusgas, foge a todos os processos judiciais, se infiltra em todos os domínios onde corra o vil metal, esta escumalha de professores doutores, de mestres e doutores tem de ser, aos olhos do povo, reduzida muito abaixo do nível de qualidade intelectual, moral e cívica a que Daniel Campelo reduz os habitantes de Gondomar.
Não se acaba com eles facilmente, reproduzem-se como os cogumelos no Outono, por geração espontânea. Deitem abaixo um ou dois que no dia seguinte logo aparece outro a dizer na televisão que é diferente.

O testamento do Judas Iscariote é de Crise

Os testamentos de Judas são uma tradição das mais vincadas no imaginário popular destas Terras do Alto Minho. Em Ponte de Lima quem, dos mais velhos, se não lembra do Guerrinha, sempre pronto a incluir nos seus testamentários alguém que fugisse um pouco àquilo que era tido por norma e que podia ser motivo de risota, quando se fossem ler as suas quadras.
Sofreu de processos judiciais, de esperas e coças da parte daqueles que não concordavam com a sua parte no testamento. Os maiores crápulas, os mais femeeiros e as suas vítimas, os mais falsos e mais devedores não precisavam naquele tempo das finanças ou doutros pasquins para verem, escarrapachados no testamento os seus feitos e as suas desonestidades.
Há terras, como a Correlhã, que em todos os cruzamentos de caminhos se monta o seu judas e se escreve o seu testamento para zupar nos vizinhos. Em Arcoselo é já célebre o Judas e o seu testamento no cruzamento da Igreja e também a Além da Ponte, se Judas não tem, não lhe falta testamento.
O testamento na Vila de Ponte de Lima foi recuperado pela delegação de turismo e vem sendo agora feito pelo grupo de teatro Unhas do Diabo. Mas diga-se em abono da verdade, que este Diabo tem fracas unhas, é demasiado subserviente em relação ao poder, não fosse por ele pago.
O testamento deixou de ser nosso, irreverente, criativo, local, tanta coisa havia de que se falar, e, por ser institucional perdeu aquela característica de crítica de costumes, de comportamentos, de vidas.
Deixem à criatividade popular aquilo que só com esta faz sentido. Acabem com este Judas cobardolas, que para cúmulo da “desgraça”, até dele fizeram mulher. Será que têm alguma coisa contra elas?
Não haverá em Ponte de Lima um homem que aguente melhor?

05 abril 2007

As Brincadeiras da Associação Empresarial de Ponte de Lima

O que é preciso é andarmos todos alegres e bem dispostos, mesmo que entregues a gente com ideias destas. Pergunto a um comerciante e diz-me: eu lá comprei algumas senhas mas não concordo coma a ideia. Pergunto a outro e diz-me: eu recebi uma carta mas rasguei-a logo. Todos me dizem: eu nunca fui votar, nunca votaria neles, mas afinal são todos iguais.
Pois lembrem-se que o dinheiro corre nas Associações Patronais como água no Rio. Os Sindicatos também se banqueteiam como podem. Todos passeiam por essa Europa fora à custa dos dinheiros públicos. Os cursistas do benchmarking preparam-se para ir à … … … China.
Ninguém assume responsabilidades. Ninguém presta contas. Esta forma de organização social, a nossa apatia perante a sua manipulação e o seu aproveitamento descarado, leva-nos a pensar que poderemos ir todos ao fundo com eles. Todos fazemos sacrifícios para que a parasitagem engorde.
Não nos entretenham com carrinhos a pedais, que isso é fazer de nós mentecaptos. Tenham vergonha, queimem as senhas e mandem embora aquele espectáculo indecoroso e terceiro-mundista.
Se querem o lixo fora de Ponte de Lima, lembrem-se que bem pior que o estrume biológico, as latas, os plásticos e os papeis é aquilo que está dentro de certas cabeças que mais mal está fazendo a Ponte de Lima.
Parque das Brincadeiras? Alguém está brincando de mais connosco.

04 abril 2007

A Associação Empresarial de Ponte de Lima e o Benchmarking

O benchmarking, segundo o IAPMEI “Processo contínuo e sistemático que permite a comparação das performances das organizações e respectivas funções ou processos face ao que é considerado "o melhor nível", visando não apenas a equiparação dos níveis de performance, mas também a sua ultrapassagem”, levou a fina-flor do empresariado limiano à Hungria e à Polónia.
Foram oito dias, decerto suficientes para tomar contacto com as boas práticas de animação dos centros históricos e de criação de condições atractivas para incentivar as pessoas a vir às compras a Ponte de Lima.
Sujas não, não queremos, diz a Câmara. As pessoas têm de vir devidamente asseadas e não fazer asneiras em Ponte de Lima senão são convidadas, nada amistosamente aliás, a irem-se embora.
Mas vai a Associação Empresarial e convida uma empresa de Gondomar a instalar uns monstros na Avenida dos Plátanos, daqueles de que os de Gondomar gostam para andarem a fazer barulho pela Vila, a incomodar os transeuntes, a esticar as pernas e beber umas cervejas, a dizer barbaridades, asneiradas e fazer gestos obscenos.
A bilheteira é uma tenda vermelha, atravessada à entrada da Avenida, presa com cordas seguras em ferros espetados no cimento. Espectáculo bárbaro, deprimente, próprio de indigentes e não de quem quer elevar a Vila a Património da Humanidade.
A Associação Comercial, descaradamente, enviou aos comerciantes um ofício a pedir a compra das senhas a distribuir pelos clientes para darem umas voltas a pedal: A Câmara, se permitiu esta acção tão absurda, só confirma o que vêm fazendo, dá uma no cravo, mal dada aliás, e três na ferradura.
Enquanto houver dinheiro para cursos não pensem que a Associação vai ter cabeça que não seja para o “benchmarking”, a passeata, a cursalhada, não se vai preocupar com estas minudências.
Tenha ao menos a Câmara juízo, se vai a tempo, e mande anular esta acção, que melhor seria que estes iluminados ficassem lá pela Polónia ou Hungria. Como são indesejáveis estes dirigentes.

03 abril 2007

Ponte de Lima “Senhorial” “Poética” “Sonhadora”

Não concordo com todos os adjectivos que se atribuem a Ponte de Lima, mas, como parece evidente, não posso, nem devo concordar com tudo e devo aceitar outros argumentos. Foi com a adjectivação acima referida que Américo Carneiro apresentou uma exposição de pintura na Torre da Cadeia Velha que plenamente a justifica.
Sãos Óleos, Aguarelas, Desenhos que se distribuem pelos seus quatro andares, dando cor e plasticidade àquele espaço de pedra nua. Como também não posso ter a pretensão de perceber de tudo, realço a função artística, mas principalmente a função de reconstrução histórica que não pode viver só da prosa, mas necessita cada vez mais da imagem para ser compreensível.
Américo Carneiro sabe dessa carência de reconstrução dos espaços em que se desenrolou a vivência das anteriores gerações, que nós precisamos de conhecer melhor para melhor nos conhecermos.
Conjugando aquela necessidade com a Arte temos aqui nesta exposição um conjunto de trabalhos de alto valor que nos mostram aspectos já desaparecidos da nossa urbe e de uma beleza surpreendente.
Vejamos os Barqueiros do Lima, a Porta do Postigo e Torre de S. Paulo, o Poente Matinal, As Meninas do Arnado, o Largo do Chafariz, o Largo do Chafariz e Rua do Pinheiro, a Ponte e Porta dos Grilos e o Hospital de Nossa Senhora da Misericórdia e chegaria para justificar esta exposição.Mas até ao dia 15 de Abril suba aos andares de cima e vai descobrir outros pormenores da nossa Vila, das Casas das redondezas e demais pinturas de cariz alegórico, heráldico ou religioso. Não perde o seu tempo.

“Que interesse, que objectivos, que valores estão a inspirar esta teimosia” … de Marques Mendes

Ao fazer esta pergunta dirigida ao Governo está a querer que as pessoas subentendam aquilo que ele quer, com a sua teimosia, que falsamente admitam, que por trás da decisão de construir um aeroporto na Ota está alguma ilegalidade.
O seu ar seráfico, revelador do mais puro cinismo, espelhado naquela cara flácida que sustenta uns olhos de víbora, não é suficiente para dar qualquer seriedade à sua pergunta.
No debate na Assembleia da Republica revelou o seu verdadeiro temor: Que haja obras públicas nos tempo mais próximos e que a crise se não prolongue mais para perto das eleições.
Aquele desbocado parlamentar para que o Governo não venha eventualmente a baixar os impostos em vésperas de eleições, queria que os descesse já, também para prolongar a crise, para criar dificuldades orçamentais e atrapalhar a governação.
Como vê que as coisas parecem ir no bom caminho, tudo serve para lançar escolhos para a engrenagem. Porta-se como um rapaz pequeno, truculento e pertinaz, só que não tem mãos para pegar o touro pelos cornos, só lhes faz umas cócegas no rabo.
Este político não tem elevação no porte, nas atitudes, no olhar. É um roedor, habituado ao tráfico de influências, aparelhista, cujo papel não é superior ao daquele sargento que na tropa consegue, pela tarimba, comandar interinamente uma companhia mas nunca chegará a capitão.
Vã glória de quem vai ser humilhado nas próximas eleições ou será antes afastado pelos seus próprios correligionários. Quem lhe descobrir alguma substância que o compre. Será lá possível descobrir um “burro” mais teimoso?
PS: A Ota, como qualquer outro aeroporto, fará de nós cada vez mais um local de passagem e de turismo, com a dependência e a vulnerabilidade que isto comporta. Corresponde a uma lógica que podíamos não seguir mas que se vai tornando inelutável.
Aceitando-a, mesmo contra vontade, só está mal numa coisa: O T.G.V. via Badajoz em vez do T invertido, a ligação a Madrid via Beira Baixa. Mas aí fomos nós que nos demitimos perante a força da Espanha.

Um cartaz que pôs a blogosfera em polvorosa

A blogosfera entrou em consonância. Os cartazes, cor de laranja, vejam lá, levaram http://pontelima.blogspot.com/ e http://pontedelima.blogspot.com/ a pronunciarem-se veementemente contra. Compararam-nos às ameaças que a fotografia revela.
Apetece-me pois voltar ao tema. Até porque me sinto de certo modo moralmente responsável por ser um dos manifestam publicamente o seu desagrado por uma invasão em massa que não traz qualquer proveito a Ponte de Lima, mas reconheço o direito que assiste a todos de usufruir das nossas condições naturais privilegiadas.
E como tal sinto-me na obrigação de apresentar soluções. Cabe-nos a nós definir as regras, as condições de acesso, não só ao Festival de Jardins, mas a todo o espaço de domínio público. Não se trata de pagar portagem, como em Santiago de Compostela acontece com os autocarros, mas definir corredores de passagem e parques de estacionamento e sanitários devidamente sinalizados.
Em relação aos carros, longe de mim pensar numa Vila de novo amuralhada, inacessível, mas, como eles furam por tudo que é sítio, algo tem que ser feito para, pelo menos nos fins-de-semana, controlar o seu movimento.
De resto os dejectos orgânicos dos nossos visitantes não os podem levar para casa, que ainda estão a alguns quilómetros. As suas necessidades têm que ficar por cá devidamente acondicionadas, mas é evidente que isso só é possível com estruturas privadas mais próximas dos locais de veraneio e que tenham por fim a exploração comercial.
Nós sabemos que muita gente desta, os raizeiros da Maia, os de Gondomar, de Matosinhos ou Valongo, mas também os temos por cá, vêm para as margens do rio como quem vai para a selva, para dar seguimento aos seus piores instintos destrutivos. Manter estruturas convencionais para recolha de lixo não é viável, mas será possível adaptá-las ao tipo de utente.
A mensagem em si é desnecessariamente agressiva e tecnicamente mal elaborada. Sem o despropositado “Vá-se embora” era possível uma mensagem mais eficaz se obedecesse ao gradiente que comporta:

Em Ponte de Lima
Diga não ao ruído e ao lixo!

Seja civilizado
Ou é indesejável!

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck
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