08 abril 2007

Uma tradição que se adapta aos novos tempos

A tradição da visita do compasso pascal ainda se mantém viva, embora, por força das circunstâncias, tenha assumido um cariz diferente do de outro tempo. Então eram padres, ou quando muito seminaristas em fase terminal dos seus cursos, os homens da cruz que iam desejar pão, paz saúde e amor às casas dos fregueses.
Nas freguesias maiores, naquelas em que o padre não queria de modo algum perder esta ocasião para visitar os paroquianos, a visita era feita, e continua a ser em alguns casos, não só no domingo mas também na segunda-feira. Por vezes até na Pascoela, domingo seguinte à Páscoa.
Há quem atribua esta velha tradição, de que modestamente desconheço os primórdios, a objectivos muito prosaicos, há outros que vão pelo lado mais farisaico, custa a perceber algum sentido religioso.
O começo da Primavera, diziam uns, era propício a fazer uma grande lavagem da casa, um refrescamento após um Inverno bolorento. Outros diriam que assim o padre ficava a saber das condições em que as pessoas viviam, dos seus teres e haveres. Podia assim avaliar melhor o modo como cada um haveria que contribuir para a manutenção do clero e nesse dia receber enfim a côngrua dos mais relapsos.
Outros invocariam o simples controlo religioso, aprouvera a alguém não abrir a porta ao padre. Hoje há muita gente insuspeita que não encontra outra justificação senão o folclore, como pretexto de algum turismo religioso.
Para piorar a situação muita gente não abre a porta, por este ou aquele motivo, que no fundo já ninguém cura de saber as razões de cada um. Além de que os leigos tomaram, na maioria dos casos, posse da cruz, são eles que vão levar as palavras de algum conforto aos lares alto-minhotos e muita gente se não sente por isso reconfortada.
Também atrás da cruz já não correm tantos amigos como outrora. Se uns iam por convicção e amizade sincera, outros iam para aproveitar a ocasião. Apresentavam-se à porta do amigo para beijar a cruz, e se houvesse um convite para beber um copo, melhor para dar uma dentada no presunto ou no chouriço caseiro, ninguém se fazia rogado.
Mas a diferença mais saliente está hoje na falta de crianças. Era só se libertarem da sua função doméstica e esvoaçavam logo atrás da cruz, para sujar a roupa nova, se a houvera, e apanhar os confeitos e os biscoitos … e vá lá alguns beijinhos, uns biscoitos pequenos com uma flor colorida em cima que os mais endinheirados deitavam para fora da porta, não fossem esses seres indesejáveis invadir o domínio dos mais velhos.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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