31 dezembro 2009

Recuperemos a política e não os políticos

Para muitos a importância da política deriva tão só da proximidade de alguém com alguma influência que pode utilizar para arranjar empregos, favorecer negócios, facilitar contactos. Depois há aqueles que, independentemente desta proximidade e deste aproveitamento directo, pensam que a política é importante para obter os mesmos objectivos, mas de forma impessoal, generalizada em termos de condições de vida.
No entanto a politica é bem mais do que isto, porque só ela assegura uma organização social e permite lutar pela que esteja mais próxima dos nossos ideais. Em democracia é imprescindível que haja políticos, alguém de confiança que exerça o poder, interpretando a vontade da maioria e tendo em conta as objecções das minorias, interpretadas por outros políticos.
Há muitas razões para se desacreditar dos políticos, mas nunca podemos ceder ao descrédito que periodicamente se anuncia para a política. Políticos bons na oposição revelam-se catastróficos no governo e vice-versa. Políticos generosos revelam-se de uma ambição desmedida. Umas vezes somos a favor da destrinça entre qualidades pessoais e políticas, outras vezes confundimos tudo, misturados vícios privados e públicas virtudes.
Uns dos espectáculos mais tristes na política é o que nos proporcionam aqueles que conseguem transferências de um lado para o outro, seja após derrotas, seja como prémio após um ciclo vitorioso. A maioria dos casos deve-se a uma grande interferência do Estado na economia. Porém o mais degradante de tudo é o espectáculo daqueles que se querem manter na política pura e dura após derrotas sucessivas.
Todos devemos apostar na recuperação da política e nada temos a favor da recuperação dos políticos, antes pelos contrários. Políticos derrotados, cujas ideais, está comprovado, já não têm aceitação pública, deviam ter a verticalidade de se afastarem. Todos ganharíamos com isso, seria uma medida higiénica de grande alcance. UM NOVO ANO FELIZ cheio de política e em que os políticos sejam só o necessário adorno.

30 dezembro 2009

Quem com um mínimo de dignidade pode estar com homens destes?

Tendo exercido com todo o empenho possível o anterior mandato de membro da Assembleia Municipal de Ponte de Lima, aceitando o facto de ter sido eleito nas listas do P.S. e conciliando os interesses das estruturas locais do partido com as minhas próprias ideias, terminei a minha colaboração quando entendi que ela não era mais possível.
A estrutura local própria do partido entendeu convidar alguns militantes afastados e gente dita próxima do partido para concorrerem ao actual mandato, ao que eu me opus por discordância com as pessoas e com as opções politicas inerentes. Disseram-me que o objectivo era congregar o maior número possível de militantes e alargar a base de apoio. Restou-me sair do barco.
No meu entender um partido não pode ser uma federação de retalhos, a não ser que se tenha uma liderança forte. Quando esta não existe ninguém pode ser atacado de desviacionismo, muito menos eu. Entendi que não havia solução e já que havia problema eu não faria parte dele.
A “solução” encontrada foi porém tão má que eu não me limitei a afastar, mas tive que me opor. Sendo eu defensor de ideias socialistas não as entrego de mão beijada a um grupo tão fraco e pouco representativo. Luto por participar no espaço de intervenção com boas companhias, convencido que estou que a intervenção solitária é inócua.
Não posso intervir ao lado de pessoas com falta de carácter, traiçoeiras, enroupadas de vaidade. A confirmação já chegou célere. Aquele que eu disse que nunca respiraria o ar que eu respiro veio dar-me razão.
Participando da decisão e mandatado pelo partido para formar com a C.D.U. uma lista concorrente à Comunidade Intermunicipal Minho Lima, foi oferecer-se para integrar a lista do C.D.S. que lhe recusou a entrada e assim o P.S. ficou sem representante algum.
Participando na escolha de uma militante socialista, membro da Assembleia Municipal para ocupar o lugar na Comissão de Protecção de Menores em Risco, que já vinha sendo seu desde o anterior mandato, na devida altura e para espanto de todos os seus colegas, foi referido o nome………………… da sua esposa, que não é membro da Assembleia.
Bom carácter este.
A vaidade não permite o discernimento.

29 dezembro 2009

Mário Crespo quer fugir à dicotomia e derrubar os dois

Mário Crespo está mergulhado de alma e coração no combate político. Em vez de entrevistador estaria melhor do lado dos comentaristas da Sic-Notícias. É senhor de uma estratégia e de um calendário preciso para deitar abaixo os políticos que, segundo ele, estarão a desempenhar mal o seu papel. Primeiro quer derrotar Sócrates, depois seguir-se-ia Cavaco Silva, claro se, a ser bem sucedido, entretanto não mudar de estratégia.
Segundo ele haveria pessoal político sem as ligações comprometedoras que estes dois políticos possuirão. É uma maneira de analisar o mérito de uma pessoa, ninguém duvidará que a escolha dos amigos é um indicador ou um indício de certas características pessoais. Ninguém porém conseguirá provar que é essa face má que vislumbramos em todos os nossos amigos. Nem está provado que alguém sem amigos seja uma pessoa indicada para político.
Afastar Sócrates e depois Cavaco era a estratégia de Manuel Alegre. Tentou derrotar um e outro isoladamente e não o conseguiu. Voltou a Sócrates, mas cedo se convenceu que derrotará mais facilmente Cavaco com o seu apoio. Porém outros, como Mário Crespo, mantêm a mesma estratégia, agora que Cavaco já é para eles um empecilho, difícil de explicar.
Cavaco Silva tomou atitudes patéticas, daquelas que não parecem razoáveis a ninguém. Se o imbróglio á volta do estatuto dos Açores passou despercebido ou não foi devidamente interpretado, já a questão das escutas ultrapassou tudo de razoável que era de esperar de um Chefe de Estado. Cavaco Silva nunca teve uma boa relação com o povo, disfarçou enquanto primeiro-ministro e tinha dinheiro a distribuir.
Dir-se-ia que de Cavaco Silva na Presidência da Republica se esperava uma postura altiva, superior, com intervenções ponderadas, moderadas, conciliadoras. Não foi capaz desse papel. O distanciamento não implica a colocação de governo e oposição em pratos da balança à mesma altura, mas Cavaco Silva deixou-se arrastar pelo canto de sereia de uma oposição festiva e irresponsável. O populismo fica-lhe mal.
Agora que Cavaco é a oposição a Sócrates a direita apercebe-se que não seria esse o melhor caminho, porque tem de encontrar outro líder. Daí que lhe agradasse poder indicar um novo Presidente depois de afastar Sócrates. Colar Manuel Alegre à extrema-esquerda tornaria as coisa mais fáceis.

28 dezembro 2009

Como será possível controlar tanta ganância?

O Governo falou na possibilidade de aplicar uma taxa suplementar de IRS aos suplementos pagos aos gestores da Banca e doutras empresas e logo saltou um Banqueiro, que até parece dos pior remunerados, a dizer que isso nada resolvia, que eles arranjariam maneira de contornar a Lei. O desafio desta gente é inaudito e até Obama se vê confrontado com ele.
Outrora tanto valia os rendimentos ficarem na empresa como serem distribuídos pelos dirigentes, na maioria familiares, que o património era sempre seu. Hoje as grandes organizações empresariais empregam na sua maioria gestores profissionais que, enquanto o são, procuram extorquir o máximo de proveitos desse facto.
As grandes empresas não se preocupam em pagar bons dividendos, antes querem distribuir lucros entre os seus gestores e investimentos de modo a crescer e se não deixarem engolir pelos concorrentes. Os gestores conseguem ter sobre o seu domínio os grandes investidores, utilizando para tal processos em que a chantagem não está decerto ausente.
Esta gente é dominada por uma ganância extrema, um tal sentimento de avidez e concupiscência que vence facilmente a resistência daqueles que são accionistas e afinal defendem os mesmos valores deles. Estes gestores são estrelas que se julgam com direito a remunerações de topo na economia, que se acham com méritos extraordinários, entre os quais não faltará o mérito de conseguir extorquir dinheiro ao erário público.
Estes gestores exigem do Estado que lhes conceda toda a liberdade para se gerirem a si próprios, como se, pelo contrário, não fossem credores do Estado que lhes assegura tudo, incluindo a existência. Sem organização, regras, nada resistiria à inveja e à cupidez social.

27 dezembro 2009

Os feriados incomodam muita gente

Domingo – Abr. 4 – R, F; Abr. 25 – C ; Ago. 15 – R.
Segunda – Nov. 1 – R.
Terça – Fev. 16 – C/R, F ; Out. 5 – C ; Set. 14 – M, F.
Quarta – Dez. 1 – C ; Dez. 8 – R.
Quinta – Jun. 3 – R, F ; Jun. 10 – C.
Sexta – Jan. 1 – R ; Abr. 2 - C/R,F; Dez. 24 – C/R.
Sábado – Mai. 1 – C ; Dez. 25 R.
Anualmente há sempre alguém que levanta o problema dos feriados, uns porque são em excesso, outros porque se devia acabar com as pontes e assim seriam todos transferidos para segunda ou sexta, eventualmente só ficariam nos dias respectivos os que acontecem ao fim de semana e às quartas feiras.
Há feriados, seja a sua origem de natureza civil, seja religiosa, que já não suscitam qualquer adesão no sentido da sua celebração. Entre os de natureza estritamente civil temos o 25 de Abril, 1 de Maio, 10 de Junho; 5 de Outubro e 1 de Dezembro. Os dois últimos, por celebrarem datas mais antigas, perdem significado de ano para ano. O 10 de Junho tem resistido com a atribuição de condecorações a nível nacional. De natureza civil, mas ligados a acontecimentos religiosos temos o Carnaval a 16 de Fevereiro a Sexta-Feira de Páscoa a 2 de Abril e o 24 de Dezembro.
Nos tempos de Cavaco Silva a primeiro-ministro ele colocou a questão de mexer nos feriados religiosos. Eliminar ou transferir, segundo o princípio acima descrito, alguns dos feriados religiosos, ditos dias santos, mas tal proposta não teve acolhimento favorável. 15 de Agosto e 8 de Dezembro são os de menor significado. São fixos os feriados da sexta-feira e do domingo de Páscoa, a quinta-feira santa que faz pois sempre ponte e este ano é a 3 de Junho.
Também o novo feriado municipal é fixo na terça-feira após as Feiras Novas e este ano é a 14 de Setembro. Igualmente é fixo o Carnaval a 16 de Fevereiro. A valer o segundo princípio este ano seria transferido para segunda-feira o 5 de Outubro e para sexta o 3 de Junho e o 10 de Junho. O Carnaval a 16 de Fevereiro, a Quinta-Feira 3 de Junho e o Feriado Municipal a 14 de Setembro não são por natureza transferíveis e os três fazem ponte.
As alterações possíveis têm pouca repercussão, mas são aceitáveis e benéficas para todos, como é aceitável a eliminação dos feriados citados a propósito.

26 dezembro 2009

O direito à adopção não é problema dos homossexuais, é da sociedade

Parece razoável que os homossexuais possam usufruir dos direitos instituídos pelo casamento, até do direito à adopção, sem se apropriarem da designação. Acasalados doutra forma que não pelo casamento, porém por outras aliança, diferente pela natureza, igual pelos direitos que podem ser exercidos em comum. E o direito a poder adoptar estará entre eles.
O facto de uma pessoa ter um direito não quererá dizer que ela o possa exercer incondicionalmente. E neste caso a condição imprescindível é a sociedade fornecer ao pretendente a criança a adoptar. O problema da adopção é um problema social, não é um problema dos homossexuais. Os pais, os responsáveis, o sistema de justiça, alguém há-de ser chamado a pronunciar-se sobre cada adopção em si.
Como todos os pretendentes, também os homossexuais têm, num processo de adopção, de dar garantias de estabilidade, de recursos económicos, afectivos e outros que garantam que o adoptado tem um ambiente apropriado para se desenvolver livremente, na medida em que a sociedade considere recomendável que se proceda.
Levantar-se-á o problema da influência que pode ser exercida sobre a orientação sexual do adoptado, mas esse problema pôr-se-á em todas as adopções. O caso da existência de preconceitos, da presunção de que são necessários cuidados especiais neste caso é ainda um problema social que não dará a garantia da tomada de decisões imparciais. Mas teoricamente só o sistema judicial teria que ser imparcial, portanto este tem de encontrar formas de garantir que o adoptado não é condicionado na sua futura opção sexual, vivendo num ambiente de homossexualidade ou de heterossexualidade.

25 dezembro 2009

Não concedo, mas também não me oponho decididamente

O referendo é uma decisão e nós gostamos de tomar decisões virtuais, mas fugimos às reais como podemos. Além disso num referendo é-nos quase sempre imposta uma pergunta que não nos permite uma decisão correcta em termos de Sim ou Não. Podemos ser a favor da regionalização, mas não nos moldes propostas, a favor da IVG, mas não no período proposto, a favor da atribuição de direitos iguais aos homossexuais, mas não usando uma designação com passado e conotações próprias.
Se se vier a fazer um referendo podia pôr várias hipóteses teóricas para as perguntas a formular, consciente de que um referendo só pode conter uma:
1 A homossexualidade deve constituir motivo de privação de direitos atribuídos aos outros cidadãos?
R: Não.
2 A homossexualidade reclamada por duas pessoas deve constituir motivo de atribuição do direito de contrair casamento nos termos actualmente vigentes para casais de sexo diferente? R: Não.
3 A homossexualidade reclamada por duas pessoas pode constituir motivo da atribuição dos direitos compatíveis e nos mesmos termos dos casais em que as pessoas são de sexo diferente? R: Sim.
4 A homossexualidade pode constituir motivo da atribuição de direitos de que qualquer duo de pessoas que decidam ter uma vida em comum, sem sexo em comum, não possam usufruir?
R: Não.
A homossexualidade não pode ser motivo de perca de direitos, mas também não deve constituir motivo de qualquer prémio especial concedido pela comunidade. Hoje não fará tanto sentido, mas em tempos decidiu-se atribuir um prémio aos casais heterossexuais que concedia direitos, mas também obrigações específicas para cada parte, particularmente para os casais com descendência: O casamento. Só uma interpretação muito benévola aceitará a sua generalização.
Muitas mais questões haveriam a pôr. Uma delas seria a questão da plurigamia entre homossexuais, dado as sua implicações serem muito menos pronunciadas do que quando ocorre entre heterossexuais. Porque não reivindicam eles um direito nesse sentido?
Mas ressalve-se: Caso haja referendo, e como o problema da penalização da homossexualidade já não se coloca há muito e nunca haverá qualquer clareza na pergunta a fazer, pela primeira vez depois do 25 de Abril não votarei. Não concedo, mas também não me oponho decididamente.

24 dezembro 2009

O descrédito das escolhas via Internet e voto telefónico

Com o fim de pretensamente dar democraticidade ou tão só publicidade e obter dividendos nos processos de votação com os mais diversos fins, está na moda o voto via Internet e via chamada telefónica. Estes processos padecem de vários vícios e não dão uma imagem correcta da opinião pública, nem correspondem à melhor avaliação técnica.
Recentemente foi atribuído a Cristiano Ronaldo um prémio pelo melhor golo de 2009, numa escolha via Internet de entre dez golos previamente seleccionados por especialistas. A surpresa de Cristiano e da plateia que assistiu ao anúncio do prémio são reveladores de uma escolha injusta, só justificada pelo mediatismo do jogador.
Também o jovem cantor Vasco Araújo de Ponte de Lima, depois de uma entrada titubeante num concurso de canto, tendo mesmo sido repescado pelo Júri que lhe atribuiu alguma qualidade, teve a partir daí um percurso imparável, que surpreendeu o próprio. O concurso ainda está em curso e vota-se via Internet e pelo telefone, o que fica bem mais caro.
No entanto o voto via Internet só implica o dispêndio de tempo e paciência. Em Ponte de Lima lançou-se uma campanha promotora do voto que tem conseguido os seus objectivos dando ao Vasco dois primeiros lugares e um segundo na última votação a que se procedeu. Este bairrismo, tido por uns como salutar, é tido por outros como fonte de uma enorme injustiça que, ainda por cima atinge crianças em plena fase de crescimento.
O mais grave porém é que se recorre a estratagemas de toda a espécie. Um deles é protagonizado por uma professora de Inglês que deu aos seus alunos como trabalho de casa que se dedicassem a votar no Vasco. Tal é absurdo por induzir os alunos a entrar num processo claramente enviesado e porque dá uma imagem da pouca vergonha e irresponsabilidade que campeia nas nossas escolas, com professores dedicados a tarefas tão pouco lectivas.

23 dezembro 2009

A política de verdade de Pacheco Pereira

Quem anda a recorrer muito a indirectas é o Senhor Pacheco Pereira. Autor da estratégia seguida pela Ferreira Leite perdeu em toda a linha e anda confuso. Há muitos intelectuais que não são sérios, mas este tinha-o por tal. Só que o perder custa muito a assumir e este Pacheco está a cair na ratoeira onde se suicidam quase todos os intelectuais: Ele não perdeu o povo é que é burro.
O consolo que lhe dá a derrota parcial de Sócrates não lhe vai durar muito. Melhor seria que o abandonasse desde já e procurasse a razão da sua própria derrota. A tentativa de se manter à superfície, o seu recurso a todos os instrumentos intelectuais que sabe manusear, mas de que deve ponderar o uso, tem-no levado a dizer os maiores disparates com aquele ar de convencido com que pensa arrasar qualquer um.
Sai-lhe à estocada o António Costa que, no programa quadratura do Círculo, lhe mostrou a necessidade de lisura que é necessária aplicar nos debates políticos que, a todos os níveis, diariamente se realizam em vários meios de comunicação e em altos palanques de que alguns políticos se aproveitam para achincalhar os adversários.
Acusar de falta de seriedade toda a gente que não concorda com ele, mesmo em questões tão factuais como a intervenção de António Costa no desvio do espectáculo da corrida de aviões do Douro para o Tejo, parece ser o extremo a que este político meteórico chegou, porque não acredito que ele pudesse ter pensado chegar aí quando imaginou e instrumentalizou a Ferreira Leite para a sua dita política de verdade.
Pacheco Pereira faria bem em deixar a política activa porque não é esse o seu domínio. O seu pensamento não se coaduna com os parâmetros necessários para ter sucesso e emocionalmente ele não tolera não o ter. Só de fora consegue o distanciamento com o qual o seu pensamento se liberta e é profícuo. A política activa perturba-o.

22 dezembro 2009

Indirectas impróprias e de baixo nível

A mistura de temas numa discussão pública é das questões que os políticos sérios se preocupam em evitar, Não quer dizer que haja neste aspecto políticos higienicamente puros. Por vezes cortam-se as vias de comunicação, não há hipótese de um confronto directo. No entanto entre políticos que ocupam lugares de poder no aparelho de Estado e que têm entre si relações de obrigatórias, não são admissíveis estes recursos dialécticos.
Os analistas políticos estão a perceber agora que a estratégia de distanciamento de Cavaco vem já desde a questão dos estatutos dos Açores e foi bem pensado, bem urdida, porém pateticamente executada, com episódios, como as escutas de Belém, perfeitamente ridículos e confrangedores. No entanto Cavaco não tem emenda.
A questão do tempo que se perde para resolver a questão homossexual não resiste a qualquer observação mais sensata. Falta saber se é a crise, se não será o sexo que aquece estas cabeças e não lhes permite pensar em simultâneo em questões doutra índole, como as económicas. A fuga a enfrentar a questão de nada serve, a solução seria recentrar a questão na família, discutir esta e deixar o sexo para quem o queira praticar.
Só que Cavaco sai duma poça para logo se estatelar noutra. O seu apelo aos valores familiares já é redutor visto só pelo aspecto da necessária procriação: Faltam Meninos. Mas esta de colocar os meninos em compita com os aeroportos, auto-estradas e outras proezas da construção civil não lembraria ao diabo. Isto é, só lembra a quem quer mandar indirectas.
Além do baixo nível são impróprias do cargo. Se se quer provar a inconsistência de uma aposta nas infra-estruturas face a um hipotético desenvolvimento sustentado que se conseguiria despejando dinheiro nos nossos pequenos empreendedores para eles o consumiram em despesas de funcionamento em vez de despesas de desenvolvimento, há que prová-lo doutra maneira.
Esta questão do apoio às micro, pequenas e médias empresas têm muito que se lhe diga. Muitas já estarão condenadas no contexto actual ao parasitismo. Já pagamos muitas facturas dos que se querem safar à custa da confusão que se quer criar nesta área.

21 dezembro 2009

Há vida para além do sexo

Que os homossexuais andam a pensar somente em sexo parece óbvio, mas que políticos e outros responsáveis pela organização social não sejam capazes de pensar de cabeça fria na questão do casamento parece estranho. Os homossexuais querem ser ao mesmo tempo diferentes e iguais e se a diferença é óbvia, a igualdade tem que ser uma construção.
O facto é que muita gente vai protelando como pode a discussão desta questão pelo evidente incómodo que ela lhe causa. Se hoje não é o momento indicado, agora com o pretexto de ser mais urgente pensar nos problemas económicos, quando o será? Decerto que quem se sente incomodado hoje, sentir-se-á incomodado sempre e arranjará então um pretexto para não pensar no assunto ou, chegado o momento da verdade, dirá o que sempre pensou.
Vale a pena afastar este problema da vida pública. Afinal o lobbie gay é poderoso e, se o problema não for resolvido agora, vai andar com ele permanentemente na comunicação social. Na altura também foi um problema o divórcio e a interrupção voluntária da gravidez e afinal a sociedade integrou bem a legislação e a prática desses factos e já se não ouve falar disso.
O casamento pretendeu dar uma solução para as famílias e hoje já só é solução para uma parte cada vez mais reduzida delas. A quem sempre pensou o casamento como instrumento de coesão familiar poderá não chocar a sua utilização pelos homossexuais, mas é evidente que chocará aqueles que viam a família mais pelo aspecto de garantia da procriação e melhor protecção dos filhos.
As semelhanças parecem não ser suficientes para garantir que as diferenças se não tornem decisivas. Pelo que parece razoável que os homossexuais possam usufruir dos direitos instituídos pelo casamento, até do direito à adopção, sem se apropriarem da designação. O que não vale é dizer que tudo é sexo, tudo vale o mesmo, até porque até no sexo há diferenças evidentes. Os heterossexuais não necessitam de praticar o sexo dos homossexuais. E há vida para além do sexo. Deixar andar a discussão só à volta do sexo é redutor.

20 dezembro 2009

A importância do sexo não deve prejudicar a família

Chamaram-se a atenção para o facto de as minhas ideias contribuírem para dar às ligações homossexuais uma dignidade superior à que os próprios reivindicam. Efectivamente que duas ou mais pessoas que vivam em conjunto, independentemente de praticarem relações sexuais, seja de que natureza for, possam reivindicar um estatuto em tudo igual a qualquer família, é questão aceite por muita gente.
Dentro de uma família não há obrigatoriamente actos sexuais com ou sem fim especifico. Também não há laços de consanguinidade entre todos os seus membros, mas há laços afectivos ou pelo menos de simples gratidão que se defendem sempre que afrouxam para que haja estabilidade familiar. Por isso há uns tempos um Bispo chamava a atenção para o facto de duas senhoras que nunca pensaram ter relações sexuais entre si, com leis deste género, saíam penalizadas em relação a duas que as tinham, mas que com isso não contribuíam em nada em termos sociais.
A velha saída utilizada para desmontar casamentos de dizer que não havia consumação dum casamento porque não havia filhos ou outros vestígios de que se tivessem praticado actos sexuais entre o casal heterossexual deixa de fazer sentido com casais homossexuais. Ninguém vai espreitar à porta de uma casa para saber se duas senhoras que vivem em perfeita harmonia se concubinam ou não. Tal é irrelevante em termos sociais. E se, na hipótese de o terem feito uns tempos, o deixam de fazer, mais irrelevante ainda é.
O Estado devia legislar mais sobre a família, defendendo aqueles que seguem um caminho comum irmanado de sentimentos em tudo iguais aos de qualquer família tradicional. Os casamentos, as uniões de facto, outros quaisquer enlaces que se possam constituir, mereçam ou não registo público, sejam explícitos ou tácitos os compromissos assumidos pelas pessoas, são casos específicos integráveis em princípio no conceito de família.
Mesmo dentro das famílias tradicionais, os homossexuais já não são marginalizados como outrora. Independentemente de razões científicas, sociais ou de outra natureza que justifiquem o fenómeno, ele é genericamente aceite, na maioria dos casos a contragosto, mas de modo benévolo. Uma família é uma unidade social, benéfica para a procriação, mas esse não é um objectivo único, pelo que os homossexuais não podem ser expulsos da família.

19 dezembro 2009

No meio desta confusão não deixem perder a família

Na família cabem muitas pessoas. Será também possível ter um pé dentro e outro fora, conforme os interesses o ditem em cada momento e para cada propósito específico. Mas até por isso, para que não utilizem a família para receber benefícios e rejeitem a família para cumprir obrigações, seria bom que houvesse um registo da família, vantajoso em relação a outros institutos de objectivos diferentes.
O casamento foi utilizado para efeito de, em termos legais, substituir a família, mas está hoje em claro desuso com os objectivos que o Estado lhe atribuía. Por isso o Estado viu-se na necessidade de legislar anarquicamente, criando outros institutos, como as uniões de facto, para tapar as lacunas que o descrédito do casamento criou. A família anda perdida.
Mas eis senão quando aparece quem queira reaproveitar o casamento, dar-lhe novo folgo, retirar-lhe o bafio em que ele praticamente já tinha caído. Os homossexuais vão agora encher as repartições públicas de registo civil para dar trabalho a alguns funcionários e prover o Estado de algumas receitas suplementares. Só as Igrejas não estão interessadas em explorar este filão.
A família real, tal qual existe no concreto, é que fica prejudicada no meio desta confusão. A família heterogénea, sem um formato rígido pré definido, em que os seus membros se obrigam a ser solidários, executam funções complementares e partilham-nas em regime de subsidiariedade. Dentro dessa família é admissível haver um ou mais casamentos, uniões ou outros enlaces, sem que tal altere a natureza familiar do relacionamento entre todos os seus membros. O sexo não é necessário nem suficiente na família.
Um enlace entre homossexuais é uma coisa tão mesquinha, tão sem importância, mas havendo quem lhe queira dar uma dignidade própria e formal, assim seja. Cada qual é livre de a aceitar nas suas relações. Uma união homossexual até pode estar integrada numa família, constituir ela só uma família, ser uma relação disfuncional ou sem outras implicações que não seja somente a prática sexual.
Podem dar ao enlace homossexual um certificado ao nível do casamento, mas as raízes históricas deste não aconselham a confusão. No restante o importante são os laços que unem as pessoas e eles podem ser de natureza familiar ou não. Todos teremos de aceitar que uma família pode ter só dois membros desta natureza. Não são os casamentos, integrem ou não estas uniões, que esgotam a família. Mais do que preocupar-se com homossexuais ou heterossexuais o Estado devia legislar sobre a família.

18 dezembro 2009

O casamento não é o instituto adequado aos homossexuais

Quando há instituições cujo rasto se perde no tempo é assim mesmo, é muito difícil encontrar-lhe as origens. Muitas instituições até terão mudado de objectivos durante a sua vida útil. Algumas terão sido desviadas para objectivos diversos daqueles que lhes estiveram na origem. Será o que vai acontecer à família?
A família é uma realidade que nem é exclusiva da espécie humana. Outras espécies partilham esta realidade e muitas delas de uma forma muita mais rigorosa e leal do que a que os homens utilizam. Na própria espécie humana há realidades diferentes, há famílias monogâmicas, poligâmicas, patriarcais e matriarcais.
A família é constituída para que duas ou mais pessoas se defendam melhor perante as dificuldades que a vida em sociedade implica. A família é particularmente importante para a criação e crescimento dos filhos num ambiente restrito e favorável, mas não só. Lamentavelmente ninguém consegue travar o desmembramento da família na fase mais critica em que os filhos mais precisariam de apoio, de muito apoio.
Nas sociedades organizadas criou-se uma forma de registar, comprometer e assegurar dentro do possível que as duas principais pessoas envolvidas na criação da família assumam a sua viabilidade até que a mesma sociedade lhes permita desvincularem-se desse compromisso. Refira-se que normalmente o simples facto de as duas ditas pessoas, de sexo diferente, não terem relações sexuais sempre foi motivo para anular o compromisso assumido. Por outro lado a família não necessita de registo e não são os seus pressupostos que fazem parte da lei.
O registo daquela união assume normalmente a forma de casamento e o mesmo compromisso pode ser feito perante os sacerdotes de uma qualquer religião com a mesma denominação, mas com responsabilidades diferentes e específicas em cada uma. No entanto o pressuposto das relações sexuais é genérico e esta razão torna caricato que a sua obrigação seja extensiva a pessoas do mesmo sexo.
Nada tenho contra a união de pessoas do mesmo sexo, envolva ou não sexo, tenham ou não intenção de constituírem uma família. Chamar-lhe casamento é atribuir-lhe uma qualidade própria e faz do Estado um patrocinador da homossexualidade. Por Lei as pessoas obrigam-se à homossexualidade, quando tal obrigação não devia fazer parte da sua união. Sou por isso a favor de uma outra instituição qualquer, com nome específico, para as pessoas que se querem obrigar, face ao Estado, a ter relações homossexuais.

17 dezembro 2009

Esperam pela Câmara para tudo, até para a contestação, e esta logo se aproveita

Em tempos de recursos escassos, de maior dificuldade na mobilidade, de maior aproveitamento dos recursos endógenos, havia que lançar apelos à conjugação de esforços, à união de forças para levar por diante o desenvolvimento. Era necessário juntar toda a gente para avançar com projectos inovadores e criadores de emprego. Hoje isso já não chega.
Os detentores de dinheiro deslocavam-se para centros onde pudessem aplicar da melhor forma os seus capitais e o seu conhecimento. Atrás de si deixavam uma quinta, à qual vinham em tempo de colheitas e da qual ainda extraíam tudo o que pudessem para levar consigo para os grandes centros urbanos. A descapitalização dos meios rurais é um fenómeno constante.
O Estado contribui também para o aumento da diferença do desenvolvimento. Os locais onde se desenrola um maior progresso também são aqueles que exigem mais investimentos públicos. Para o Estado tem pouco significado investir em locais abandonados e pouco atractivos. O Estado tem pouca vocação para inverter processos em declínio.
Ponte de Lima, em vez de unir esforços, de lutar a favor da evolução progressiva, quis fazer da sua fraqueza uma força, oportunistamente fez do atraso uma bandeira. A ruralidade, nos seus aspectos físicos e imateriais, como centro da filosofia de Daniel Campelo, dá a justificação para tudo aquilo que se não fez em Ponte de Lima e podia ser feito, sem grande prejuízos colaterais. Tudo se sacrificou à manutenção duma imagem bucólica.
O falhanço das outras forças políticas em Ponte de Lima, se tem algo a ver com as pessoas, paralelamente tem a ver com a falta de uma filosofia alternativa, de uma perspectiva de desenvolvimento mais ousada. Em Ponte de Lima as pessoas não têm dimensão, os capitais dinâmicos não existem, incentiva-se uma economia parasitária, entrega-se a iniciativa à Câmara.
Sem a Câmara não há oposição ao TGV, às portagens na A28, não há sector turístico, não há emprego, não há cultura, tudo seca à sua volta. Nuns sectores é verdade este protagonismo, noutros é uma falácia, mas todos ganharíamos em fortalecer a sociedade civil e em tornar a Câmara mais irrelevante, independentemente de quem lá esteja.

16 dezembro 2009

A importância da transmissão do conhecimento

Uma questão que se coloca muitas vezes é de saber o que é mais importante, se ter conhecimento, se ter capacidade de o transmitir. Num professor é evidente que, além de saber, tem que saber transmitir esse saber. Já agora um professor tem que o fazer tendo em conta o nível de conhecimento dos que são seus alunos. Quer dizer que para o aluno também é importante a capacidade de transmitir o saber. No entanto para a pessoa comum não será mais importante o saber puro e simples?
Antes de mais desfaça-se o equívoco que consiste em o aluno ser tratado como um potencial professor, isto é, a maneira de se lhe explicar e de ele explicar uma questão ter que ser adequada para um nível de conhecimento inferior ao seu. Pelo contrário, o aluno tem que colocar a questão ao nível do seu próprio conhecimento. Se este é pelo menos o adequado ao seu estatuto deve ser entendido por quem tem mais conhecimento.
Eventualmente quem estiver a ser preparado para exercer a função de professor necessitará de colocar a questão do modo atrás rejeitado. Mas isso constitui uma mal do nosso ensino em geral, aí reside o seu carácter reprodutor, o facto de o professor estar a ver no aluno um candidato a ser professor como ele e não uma pessoa a preparar para o exercício de muitas e variadas outras profissões.
O essencial é o saber. Sem este não há nada a fazer. Mas o aluno não pode adquirir um saber clandestino, intransmissível a outros. Este ponto de vista é do agrado dos que querem o exclusivo da cátedra e dos cábulas, dos que se marimbam para o que estão a fazer. Afinal aqueles podem construir um mundo aparte e estes acabam por se desenrascar onde todos têm dificuldades em transmitir. Se não houver outra forma de aferição do conhecimento senão por um teste e se este for copiado por quem saiba, o ignorante passará sem que haja sequer surpresa.

15 dezembro 2009

Interessa somente saber onde está a informação?

A geração que viveu o processo de massificação do acesso à Internet corre imensos perigos, mas o mais grave não é da sua lavra, é sim da iniciativa dos poderes que puseram em execução uma politica de facilitismo generalizado. A política educativa não pode reduzir-se a saber onde está a informação, pese embora a importância deste saber. A ideia de que ter acesso à Internet chega para se ser uma pessoa sabedora é ridícula.
Ultrapassado o problema do acesso, partindo do princípio que ele é fácil, temos em primeiro lugar a leitura da informação. Leitura, não como o simples acto de ler e ficar por aí, na convicção de que tal chega, mas como acto que inclui em si o esforço para chegar a uma interpretação correcta da informação.
Uma das primeiras questões a colocar para atingir uma boa leitura é saber o contexto em que essa informação foi criada. Muitas vezes essa questão é clara, mas facilmente nos deixamos iludir, convencidos que estamos de que já sabemos tudo antes de começar a ler. No geral isso não é verdade e é necessário colocar a interrogação durante todo o processo de interpretação.
No segundo grupo de questões está a questão dos conteúdos da informação. Normalmente procura-se informação para responder a um caso de alguma complexidade, não se procura aquela sabedoria básica em determinado domínio. Mas a falta desta inviabiliza de imediato qualquer capacidade de interpretação da informação necessária para o caso em apreço.
Pode-se colocar a questão de que se fará uma compilação de toda a informação indispensável. Porém além de não parecer viável atendendo à economia de tempo, também será inviável percorrer esse caminho sem ter uma noção da maioria dos tópicos que é preciso abordar.
Depois estamos longe de ter na Internet todo o saber devidamente formatado. Finalmente há o problema inultrapassável de que mesmo uma boa compilação não garante uma boa interpretação. A melhor solução é sempre construir o edifício do saber a partir da base.

14 dezembro 2009

Uma Cultura de exigência, precisa-se

As Novas Oportunidades desempenham duas funções com alguma eficiência:
1. Ocupam muitas pessoas que a crise relegou para o desemprego e muitas outras que, empregadas, pensam que assim estarão melhor equipadas para responder a um qualquer sobressalto que possa vir a ocorrer no seu posto actual de trabalho.
2. Aumentam a auto estima.
A ocorrência desta crise em plena fase de implementação das Novas Oportunidades constitui uma oportunidade suplementar. No entanto poucas pessoas pensarão que essa será uma maneira de melhorar a sua situação. Seja ao menos uma maneira de conseguir um emprego semelhante ao que têm ou tiveram, sustentarão os mais sensatos.
Efectivamente estudar custa muito. Além disso conseguir um aproveitamento efectivo do estudo depende de muitos factores além da vontade individual. Recuperar o tempo que foi perdido, seja por nossa causa, seja pelas circunstâncias em que crescemos, não é tarefa fácil. Criar ilusões insustentáveis pode ser contraproducente.
Não chega aumentar a comunicabilidade das pessoas, são necessários conteúdos e na idade das pessoas em causa, faltam conteúdos específicos, direccionadas para as habilitar a uma função em que se aposte para que venha a ser viável no futuro. Neste momento há poucas certezas e muita especulação em relação ao que se ensina como podendo vir a ser necessário dentro de tempo aceitável.
Este País tem imperiosa necessidade de uma cultura de exigência. Muitos dirão que não é de começar por aqui, pelas Novas Oportunidades. Mas tem de se começar por algum lado. Tem de ser abandonado de vez o facilitismo. Entre as pessoas das Novas Oportunidades já existem muitos pais e este não podem passar esta cultura aos filhos.

13 dezembro 2009

Uma Cimeira de Paz toldada pelas manifestações violentas

A dinâmica das manifestações sempre me levantou interrogações a que nunca encontrei resposta. A contradição existente numa manifestação violenta inserida numa luta pela paz deixou-me sempre perplexo.
Sabemos, antes de Obama o dizer, que, muitas vezes, não se consegue a paz sem guerra. A cedência para evitar uma guerra no imediato traz, muitas vezes, muitos mais prejuízos do que uma atitude frontal que, por antecipação, evite uma inevitável guerra posterior mais feroz e sanguinária.
Porém uma manifestação a favor da paz não necessita de entrar por via violenta. Se quem é a favor da paz não seja necessariamente um pacifista é uma verdade insofismável. Se quem é a favor da paz quer dizer que, no caso extremo de não haver cedência de quem quer fazer a guerra, também será capaz de a fazer parece razoável. Mas manifestar essa disposição, aliás teórica, atacando os bens públicos e privados é excessivo.
Copenhaga está cheia desta gente que abraça uma causa justa, mas utiliza métodos que depreciam a causa. Se esta depreciação não é nada que preocupe essa gente é uma das perplexidades que sempre se me puseram. Guerra à guerra a qualquer preço parece ser a sua lógica.
Movimentos de muita natureza advogaram essa lógica totalitária com objectivos diversos. Há décadas os movimentos comunistas do Ocidente entraram nessa lógica e nada ganharam com isso. Muitas vezes apercebiam-se do carácter contraproducente dessas manifestações ou de algumas das ocorrências mais violentas durante a sua realização, e atribuíam-nas a infiltrações de agentes inimigos.
A paz exige manifestações de paz. Se o ambiente da Terra já está numa situação prejudicial à humanidade, mas é ainda reversível, tudo devemos fazer por isso. Não faltam movimentos nesse sentido em vários quadrantes políticos. Só a necessidade de protagonismo destes aventureiros de Copenhaga dá uma justificação para o que se tem passado. Gente desta era dispensável neste cenário de progresso nesta área decisiva do Ambiente.

12 dezembro 2009

O que nos espera?

Será que nos arriscamos a ver na Assembleia o triste espectáculo da compra de votos a troco de uns milhões, seja para o orçamento da Madeira, seja para um bolo a distribuir por Daniel Campelo pelo Alto Minho? Este foi muito criticado e como tal beneficiou da publicidade feita ao caso. Mas será assim tão diferente dar um prémio a um deputado ou dá-lo a um órgão institucional como o governo da Madeira?
A primeira diferença reside em que no caso de Daniel Campelo se tratava de investimentos a fazer pelo Estado em obras concretas a realizar. Agora falta dinheiro para pagar os desvarios de João Jardim. É verdade que neste caso só se trata de uma autorização de contrair um empréstimo de 79 milhões, mas para o próximo orçamento de Estado não faltará uma benesse mais gorda para a Madeira?
Os opositores de José Sócrates falavam de arrogância quando se tratava de clareza, de assumpção de responsabilidades na tomada de decisões. Pelos vistos vai caminhar-se para a nebulosidade, para a troca de favores feita por baixo da mesa, transcrito para documentos diferentes. De todo parece que o Ministro das Finanças não estava ao corrente daquilo que estava decidido noutras instâncias do poder.
O País ganhará ou perderá com isto? Para já perderam todos os outros partidos da oposição. Lutaram por um protagonismo que lhes está a fugir diante dos olhos. E vão decerto ter ocasião de analisar o que é mais prejudicial ao País, mantendo-se nula a sua participação.

11 dezembro 2009

A quem pode aproveitar ser bufo?

É discutível se a corrupção é uma falha, uma tendência ou uma necessidade, um recurso ocasional. A nossa sociedade em tempos pré concorrenciais, ditos corporativos, já sofria desse mal. Com a concorrência cada vez mais exacerbado este fenómeno adquiriu foros de normal.
Uma normalidade que incomoda as consciências, pese embora os seus aspectos mais leves, que vão da economia paralela à cunha e ao favor serem ainda socialmente aceites com bastante complacência. Quando se alia corrupção com enriquecimento ilícito há uma condenação mais veemente, mas esses factos não estão necessariamente ligados. A corrupção pode derivar da simples necessidade de subsistência.
Socialmente só é condenável aquela corrupção que ultrapassa um determinado nível, que torna ostensivo o aparecimento de algum enriquecimento. Essa aparência é pois o que mais interessa analisar, seja em relação ao corruptor, seja em relação ao corrompido, pois em princípio ambos estão em pé de igualdade em termos de possíveis beneficiários.
Em caso de qualquer um dos intervenientes participar numa denúncia não parece legítimo que só por isso possa ser ilibado da sua culpa, principalmente se é o que mais lucrou com esse acto de corrupção ou se é o autor da iniciativa. Parece estranho que um juiz o proponha, como se ouviu.
Entretanto o PSD fez aprovar na Assembleia da Republica uma proposta que permite que só o corruptor possa beneficiar da sua própria bufaria. Tal não parece legítimo, tanto se o corruptor foi o que mais lucrou, como se o corruptor foi quem tomou a iniciativa. Um corrompido que pouco beneficia e não toma qualquer iniciativa, nem mesmo sugere que está receptivo a ser corrompido, não pode pagar por todas as culpas.
Se a parte socialmente mais nefasta é sempre o corrompido, muitas vezes um simples funcionário público ou fiel de armazém, parece excessivo despenalizar a iniciativa ou os grandes lucros do corruptor. Se a obrigação do corrompido deveria ser a denúncia antecipada, quem o levaria a sério neste caso? Antes é ineficaz, depois não lhe vale a pena.

10 dezembro 2009

A Zézinha passou-se…

A vida política está cheia de condenações sem recurso, sob todas as formas possíveis e imaginárias, desde as perguntas capciosas, as insinuações torpes, as afirmações desbragadas de que se não conhece a origem, as frases assassinas que correm na imprensa como meteoros incandescentes a atravessar a atmosfera.
Está na moda as inquirições, autênticos interrogatórios policiais em que os inquiridores, meros deputados facciosos que não são exemplo de isenção para ninguém, se arrogam o estatuto de juízes inimputáveis. Atravessam-se na vida das pessoas querendo de tudo saber com o pretexto de qualquer minudência ter uma vaga relação com o assunto em causa e por essa via se ter acesso a uma qualquer pretensa falha de carácter que se diga poder afectar toda a honorabilidade pessoal.
Zézinha estava a deliciar-se nesta tarefa e não suportou que o seu colega Ricardo, deputado com toda a legitimidade que ela possa ter, lhe tenha atravessado o vozeirão na frente e a tivesse perturbado, tanto na audição, como na plena escorrência dos seus pensamentos.
Passou-se e passou-se bem, independentemente do seu discurso estar ou não a ser consistente, leal e educado. Aliás só veio dar força a José Sócrates que no plenário, perante muita mais assistência e com mais ecos, tem que suportar os desvarios do seu intermitente correligionário Paulo Portas.
Ou será que ela já não o podia ouvir, por isso saiu do CDS? A verdade é que menoprezou-o e saiu derrotado, quando se o tivesse insultado talvez lhe tivessem batido palmas.
Assim terá ela pensado agora?
Pois assim saiu-se mais uma vez mal.

09 dezembro 2009

Uma nova atitude pessoal perante o aquecimento global

Se há assunto que nos deve preocupar é o sucesso ou insucesso da cimeira de Copenhaga sobre o aquecimento a que a Terra está a ser sujeita, como resultado do efeito de estufa e da destruição da camada de ozono. A procura de uma solução para esta questão tem sido sucessivamente adiada.
O problema é daqueles complexos, globais, que afecta muitos aspectos da vida das pessoas. Como ninguém quer prescindir de uma certa qualidade de vida de que diz usufruir, pode pensar nesta questão à noite, mas afasta-a da sua mente o resto do dia.
Os políticos, mas também as pessoas particulares não dão a esta questão a gravidade que ela tem. As nações só colaboram na medida em que as soluções preconizadas não põem em causa a sua competitividade. Todas olham para o lado, uns porque não querem inviabilizar a ultrapassagem do seu atraso crónico em relação aos parceiros, outros porque não querem perder a sua posição de dominância relativa.
Estamos numa situação caricata em que parece que todos já fizemos o que podíamos fazer por uma saída favorável e limitamo-nos a esperar que a sorte ou outro qualquer factor imprevisível ajude a encontrá-la. Há uma evidente apatia da opinião pública, que vive uma inconfessada contradição entre o egoísmo humano e a ponderação que devia adoptar.
Parece que só conseguiremos arrefecer o ambiente se previamente arrefecermos as nossas cabeças, abandonemos o fervor consumista, racionalizemos os nossos apetites. Não podemos estar à espera que a ciência consiga alternativas para as substâncias nocivas, de modo a mantermos os hábitos nefastos que temos. Temos que ser pró-activos.

08 dezembro 2009

Um Rio que era um parceiro de toda a vida

Touvedo abriu uma goela, o Vez encheu-se de brios, o Cabrão deu um ar da sua graça e eis que tivemos o Lima a ocupar o seu leito natural em Ponte de Lima. Claro que o nível a que as águas do Lima chegaram, se fosse na minha juventude, alcançar-se-ia ao fim de meio-dia de chuva. Naquele tempo era frequente que esta feira, as feiras do mel, fosse efectuada pela avenida António Feijó acima. O mel vendia-se no topo superior da actual paragem dos táxis, ao virar da esquina de quem vai para os Bombeiros.
Naqueles tempos, anos cinquenta e sessenta em especial, não havia ano que o Rio não viesse uma boa dúzia de vezes ao passeio 25 de Abril, das quais em metade a água vinha à esquina da Torre da Expectação e uma vez ou duas ao Largo de Camões. Dentro da Vila o mais espectacular era a saída da Rua Beato Francisco Pacheco para o Largo de S. José. Só que, embora já estivessem prevenidos, os moradores não achavam graça nenhuma.
“Ainda te cantam versos, filha da mãe!” é uma célebre frase disparada por um comerciante limiano particularmente agastado com tanta invasão da água suja da cheia. E nem sempre os comerciantes acertavam na dimensão do perigo. Colocavam os seus produtos num patamar aonde pensavam que a água não chegava, mas esta às vezes pregava-lhes uma partida e obrigava-os a mudar tudo à última da hora. Mesmo assim era raro isso acontecer.
Havia uma relação íntima com o rio, uma amizade intensa, uma grande cumplicidade. Como ser objecto de adoração, no Lima víamos a força da natureza, mas também a força da vida, um ser que podíamos compreender, com que nos podíamos relacionar e partilhar os dias quentes de Verão e o vento temperado do sudoeste de Inverno. A barragem do Lindoso amansou o Rio mas afastou-o das nossas vidas. Os areeiros e a poluição fizeram o resto.

07 dezembro 2009

A agenda negra suplanta o siso

Houve um vislumbre de luz nas mentes sociais-democratas quando quiseram pôr um bocado de calma nos seus colegas de oposição com a sua suspensão da anulação do processo avaliativo dos professores. Foi sol de pouca dura no entanto.
A sua agenda negra é tão forte, que não abandonam a sua saga de perseguidores de pretensos erros adversários a incluir no rol de mentiras que atribuem ao Primeiro-Ministro e que reservam para um juízo final. O problema é que esta maneira de agir está para durar. Os seus líderes mais sonantes estão tão possuídos da cólera divina que os faz a todos juízes de carácter dos outros.
Sejam galos ou garnisés, estejam na reforma ou no activo, tenham ou não pergaminhos, tenham ou não visto ainda Sá Carneiro, sejam liberais da velha ou da nova extracção, todos se perfilam para serem os desafiadores de José Sócrates, para se baterem com ela, na convicção que têm qualidades que estão sempre a descobrir em si e que não vislumbram em José Sócrates.
Em vez de se prepararem bem, de se aconselharem com gente sensata, de reunirem grupos de estudo ou qualquer outra forma de estimularem o debate que a sua área política necessita de fazer para encontrar um rumo próprio, vestem-se de togas e outros andrajos antigos, pegam em espadas e escudos e vomitam velhos anátemas e maldições.
O juízo falta na Assembleia da Republica. Se Paulo Portas padece de infantilismo, porta-se como o menino terrível que pensa que tudo lhe é permitido, a direcção do PSD padece de necrose cerebral, necessitando de uma boa injecção de massa cinzenta que ponha os seus neurónios a funcionar.

06 dezembro 2009

Cavaco não pode promulgar um diploma em Agosto e o seu contrário em Dezembro

A emboscada feita a José Sócrates nas esquinas dos Passos Perdidos por gente que lá anda sem eira nem beira, mas que se colocou ao serviço de quatro pistoleiros sem escrúpulos, não pode ter a conivência de Cavaco Silva, porque senão então é que estamos mal. Esperemos que um pouco de luz, sem cor e sem partido, ilumine aquela alma.
Cavaco Silva tem responsabilidades na condução da política do país e em particular deve velar para que esteja assegurada uma direcção consequente, coerente, constante. Se quando há um só partido com maioria absoluta seria perfeitamente anedótico que ele andasse a mudar de política ao sabor de factores exteriores, também havendo falta dessa maioria não se vai deixar que o governo se sujeite a um ziguezague promovido pela oposição.
Sabemos que Cavaco Silva promoveu a questão do estatuto dos Açores e a questão das escutas em Belém para acabar com a colaboração institucional com o governo. Saiu-se mal nas duas e em especial na última questão. É tempo de adquirir alguma clarividência e passar a não olhar o governo como um inimigo. O interesse nacional pode não estar a ser bem defendido pelo governo, mas com estas práticas invasivas da oposição, esse interesse em quaisquer das duas perspectivas é perfeitamente atacado.
Cavaco Silva pode ter uma ideia diferente do interesse nacional. É correcto que se preocupe com o endividamento nacional porque isto extravasa em muito o âmbito da responsabilidade temporal deste governo e até do mandato presidencial. Não pode é deixar passar aquilo que agrava défices e afecta o interesse nacional, seja qualquer for a perspectiva por que se queira ver. Não pode promulgar um diploma em Agosto e o seu contrário em Dezembro.

05 dezembro 2009

Um partido que vive do vexame não tem futuro político

As imensas contas não saldadas entre os vários partidos políticos levam a que, quando eles se encontram, se passe o tempo a discutir formas de as saldar. Ainda por cima misturam-se as contas que as corporações também conservam bem guardadas para apresentarem aos partidos, servindo estes também de intermediários, aliás pouco credíveis.
O sector da justiça está aprisionado por certos sectores da oposição, os dois utilizam-se reciprocamente para molestar os seus comuns inimigos. Desde que Sócrates no seu discurso de tomada de posse em 2005 virou as baterias para o sector da justiça pelas exorbitantes benesses de que beneficia e pela pouca produtividade que evidencia, que lhe não perdoam a afronta.
São muitos os possíveis violadores do segredo de justiça, mas não haverá dúvidas de que eles pertencem ao sector da justiça ou da polícia de investigação. Gente ressabiada existe em todo o lado, há sempre um esperto para o qual o supremo gozo será lançar a confusão. Muitos desses espertos até o farão independentemente das pessoas que são atingidas.
No entanto há os fanáticos partidários, aqueles que estão permanentemente a informar o seu directório partidário daquilo que vai acontecendo debaixo do seu olhar dentro do seu domínio de acção. Isto será uma obrigação para os comunistas e para todos aqueles que são contra o sistema, que abominam o regime, mas já o não deve ser para aqueles que encontram neste regime virtudes a preservar.
O papel que Ferreira Leite tem desempenhado, como lançadora de suspeitas, arrematadora de vexames e aproveitadora do clima de desconfiança que ela própria ajuda a criar, é um papel lamentável digno do execrável Marque Mendes e de outros energúmenos que proliferam dentro do PSD.

04 dezembro 2009

Algum partido busca o suicídio?

Os nossos políticos estão em permanente debate. E aqueles que não entram nesses debates é como se não existissem. Por isso arranjam-se debates e simulacros de debate, não para debater seriamente, mas para expor a suposta eloquência dos seus participantes, devidamente seleccionados para garantir a pretensa qualidade do espectáculo.
No cimo dos debates temos os que ocorrem quinzenalmente na Assembleia da Republica. Mas na realidade não se trata de debates, mas sim de ataques desconexos, perguntas falaciosas, respostas evasivas. O objectivo é a face de cada um e não a discussões séria de questões concretas. A oposição faz um varrimento absoluto sobre as realizações do governo e este fica com pouco campo de manobra para se defender. Resta-lhe atacar.
No entanto as coisas vão mudar. A estratégia concertada, de modo informal é certo, na anterior legislatura pelos partidos de oposição ainda se mantém válida, até que se esgote o arsenal das ditas propostas eleitorais em que, no afã do bota-abaixo, tinham convergido. Acabadas estas propostas, vai ser necessário elaborar outras mais sérias, mais consistentes, porque será dramático para cada um dos partidos da oposição se elas não tiverem o aval dos outros colegas de oposição.
Já não vai ser mais possível utilizar fogo disperso, há que adoptar medidas precisas, com um objectivo claramente definido. Cada medida proposta tem benefícios e custos, não vai ser fácil encontrar medidas que tragam benefícios a todos e ninguém tenha que pagar. Quatro partidos a interpretar o interesse do país, que criaram no eleitorado expectativas diferentes, dificilmente chegarão a qualquer acordo, a não ser que alguns deles busquem o suicídio.

03 dezembro 2009

Espionagem política ou fuga controlada de informação?

Que ouve várias fugas de informação ninguém pode pôr em dúvida. O problema é que, além da tradicional selectividade, da típica informação gota a gota, desta vez nem tudo chegou à opinião pública. Pelos vistos alguma informação foi mesmo dada directamente, já não a jornalistas, mas sim a políticos e a políticos ávidos dessa informação, que a utilizaram também selectivamente, fazendo referências indirectas para que não houvesse levantamento de suspeitas de compadrio.
Neste sentido, pese embora não tenha havido uma clássica espionagem política, conduzida por um central de espionagem com esse trabalho específico, houve um aproveitamento político de uma situação de fuga controlada de informação. Quem aproveitou foi Ferreira Leite, quem denunciou foi Vieira de Castro.
Agora podemos perguntar: Se Ferreira Leite sabe porque não sabemos nós? Porque só essa falou em factos que terão existido, em hipotéticas conspirações de poderes instituídos com o objectivo de se perpetuarem. Vieira de Castro limitou-se a tirar conclusões do que é por de mais óbvio Ferreira Leite falou com o objectivo de incentivar o nosso voyeurismo e tirar com isso proveitos políticos. Vieira de Castro limitou-se a constatar que, integrando-se isto num processo político, este só pode ser classificado como uma espionagem política.

02 dezembro 2009

O último dos Grandes Tratados?

O Tratado de Lisboa arrisca-se a ser o último grande tratado europeu, tal a dificuldade em a ele chegar, tal a imprevisibilidade de um outro entendimento que englobe toda a Europa. Perdido o "élan" inicial, instaladas novas suspeitas, institucionalizada a desconfiança, não vai ser fácil sequer a vida corrente da União Europeia.
Não é esta a opinião dos políticos europeus que vêm agora a possibilidade de a Europa se virar para os seus problemas internos e projectar-se mais no âmbito da política mundial. Mas a verdade é que esta opinião só é sustentável por uma questão de fé. A nova arquitectura do poder, com novas concentrações, novas delegações e novas partilhas não garante por si só qualquer melhoria da qualidade e tempestividade das decisões a tomar. A coesão e a identidade europeias permanecem em crise.
Em termos organizativos a União Europeia está condenada a permanecer uma máquina burocrática sem aparelho operacional, um Estado-Maior sem Exército. Mesmo a função de banqueiro central só a exerce em relação a uma parte dos países integrantes, o que, desde logo, não permite que todos os países tenham as mesmas armas financeiras para executar o seu orçamento, para influenciar a sua economia, para controlar as contas públicas e as contas externas.
São os orgãos internos de cada Estado que executam as ordens europeias e, se podem contestar a sua legalidade, perdem soberania. Os países aderentes à moeda única ainda podem perder muita mais da sua soberania. As economias nacionais lutam com estratégias definidas a nível supranacional contra países exteriores não sujeitos às mesmas regulamentações, lutam contra multinacionais que conseguem ter uma visão mais ampla que a sua e exploram as próprias diferenças internas à União.
Nos países da moeda única as empresas nacionais menos competitivas estão aprisionadas pelo espartilho que uma moeda forte constitui. Não conseguem controlar os factores que determinam o êxito da concorrência. A União Europeia quis ir longe de mais sem bases estruturais que o permitam.

01 dezembro 2009

Um feriado tão importante e quase esquecido

Todos os factos tendem a ser esquecidos, a sua memória vai-se diluindo no tempo. Para um País são importantes os momentos fundadores ou, quando é o caso, os momentos refundadores. Mas é necessário reforçar o seu significado, não deixar passar a data sem uma celebração expressiva, chamar a atenção para os acontecimentos que lhe estiveram na origem.
O 1 de Dezembro repôs-nos na história, deixamos de ser conduzidos segundo os interesses da monarquia espanhola, passamos a ter de novo o direito a conduzirmos no melhor sentido este bocado da Europa, mas também a dar um destino próprio à rede de colónias, estabelecimentos de comércio e de defesa das rotas de navegação que possuíamos pelo mundo fora.
Uma análise imediata sobre o significado mais profundo desta data levar-nos-á a integrá-la dentro das datas de afirmação de Portugal, sempre apoiada pela força e determinação do Reino Unido. Havia sido assim na Guerra da Independência e assim haveria de ser nas invasões francesas e noutras ocasiões, algumas vezes também com a intenção de nos remeter para a posição subalterna que havíamos aceitado, como aconteceu com a imposição do Mapa Cor de Rosa.
O 1 de Dezembro só foi possível e foi motivado pela derrota da Armada Invencível. A nossa frota mergulhou junto com a espanhola, o que deu à entrega do domínio do mar ao Reino Unido. O Estado Espanhol acentuou o saque fiscal, o que indispôs os portugueses. Deixou de fazer sentido o facto de estarmos integrados num Reino em decadência.
A História seria outra se a Espanha não tivesse perdido a Armada Invencível e outras que se lhe seguiram, derrotados por tempestades em inglórias incursões contra os ingleses. A verdade é que a Espanha não esteve à altura quando todos os ventos lhe pareciam favoráveis e pagou por isso. A nossa restauração foi mais um passo no estabelecimento do domínio inglês sobre o mundo que subsistiu até pouco depois da Segunda Guerra Mundial.

30 novembro 2009

Um comportamento sovina dos comerciantes limianos

Uma campanha de atracção dos clientes ao comércio tradicional não tem necessariamente que dar frutos no próprio ano. Se prometerem rebuçados é natural que tenham por objectivos captar essa clientela de imediato. Se fizerem um desconto suplementar para ser feito nesse período o objectivo não pode ser outro. Quando se faz um sorteio de um carro o objectivo é o mesmo mas o beneficiário vai ser só um e exige-se mais para o rentabilizar.
Ninguém gosta de ser ludibriado. Se os rebuçados não aparecem, se os descontos não são feitos, se o carro está no Largo de Camões mas ninguém dá bilhetes para o seu sorteio, alguma coisa está mal. Os comerciantes ficam cada vez mais desacreditados. Se ainda por cima, passadas as festas, não sabem a quem saiu o carro, logo põem a honestidade comercial de rastos.
Quando se faz uma campanha desta deve ser publicitadas as suas condições. Sejam os rebuçados que se dão, sejam os descontos que se fazem, seja a forma de adquirir os bilhetes para um concurso os procedimentos devem ser rigorosos. Criar expectativas e gorá-las é o pior a ser feito. Não prometam aquilo que não vão dar.
Cada comerciante comprou à Associação o número de bilhetes que quis e fez deles o que bem quis. Em vez de colocarem um placar com a indicação da quantidade de bilhetes dados por um dado volume de compras, escondiam os bilhetes na gaveta à espera que o cliente não falasse disso. É um procedimento mesquinho, para não dizer reles, baixo. Um dia eu falei e disseram-me:
- Paguei-os não os voou dar.
- Então fiquem com a mercadoria e vão-na vender aos papalvos.
Não duvidem que os clientes não são burros e quando os comerciantes fazem uma campanha têm que a fazer honestamente. Os bilhetes não podem ficar para os próprios, para a família, para a Associação. Tem que haver uma entrega dos bilhetes e uma cerimónia pública da entrega do carro, porque essa será a verdadeira publicidade e trará clientes nos anos seguintes.

29 novembro 2009

Todos e ninguém tem razão: Os oportunistas, os inoperantes, os apáticos

A Câmara Municipal de Ponte de Lima encheu a vila de luz nas duas épocas de Natal anteriores às eleições. Este ano tudo vai ser diferente. Há tempos notificou a Associação Empresarial de Ponte de Lima de que só iria fazer a iluminação na Frente Ribeirinha e na Av. António Feijó. Tudo o restante ficaria a cargo da Associação com subsídio camarário.
A Associação Empresarial informou os comerciantes de que estes se deviam unir por ruas ou zonas e promoverem eles próprios a iluminação respectiva com a ajuda do subsídio camarário. A Associação descarta-se assim quando sabe a dificuldade de organização que os comerciantes manifestam e a forma lamentosa como eles se referem à necessidade de comparticiparem também nas despesas.
Os comerciantes lamentam-se de não serem ouvidos para coisa nenhuma, inclusive para a marcação das feiras. Mas a verdade é que ainda há um ano ela foi marcada e desmarcada sob pressão, não desta Associação, mas sim da Associação Empresarial do Porto na qual estão inscritos muitos dos feirantes. Porque é que os nossos comerciantes se não inscrevem naquela Associação e deixam esta que os não defende?
Há muitas razões para lamentar os procedimentos dos nossos comerciantes que não têm espírito competitivo, quando é necessário, nem espírito colaboracionista, quando é o caso. Mas também há razões para lamentar a inoperância da sua Associação e o oportunismo do Executivo Camarário. É uma tristeza a nossa Terra.

28 novembro 2009

Divergências e confluências pouco abonatórias

A política portuguesa vem-se desenvolvendo num clima de loucura. Cada partido é livre de fazer as propostas que quer, mas é pressuposto que, se um partido não está disposto a governar com outros, faça propostas perfeitamente distintivas deles. Tal não tem acontecido, particularmente no caso do PSD, que, estando obcecado por atingir o poder, nem se preocupa em que condição o poderá atingir.
Um dia que o PSD seja chamado a governar fá-lo-á com a extrema-esquerda ou o CDS chegar-lhe-á? É legítimo que, decerto não sendo a primeira a opção do PSD, recorra agora ao voto da extrema-esquerda? Tudo parece possível neste clima obscuro, mas é evidente que nem é necessário lá chegarmos para ver a impossibilidade de a actual maioria negativa se vir a tornar uma maioria de governo.
O CDS apresentou um voto sobre o 25 de Novembro, no qual nem era referido o 25 de Abril. Teve o voto do PSD e foi rejeitado com os votos do que se poderia chamar, mas não é, maioria de esquerda. Esta gosta deste folclore e para isso aproveita o voto do PS. Mas ao mesmo tempo permite-se votar ao lado daqueles cujo único propósito parece ser asfixiar o governo, minar os alicerces financeiros da sua política, que, não sendo da sua esquerda, não é de direita.
Pode ser muito bonito que haja votos destes a rejeitar uma memória selectiva da direita que quer esquecer que houve um 25 de Abril. Já não parece acertado que haja uma confluência de votos entre a extrema-esquerda e a direita para inviabilizar a governação coerente do País.

27 novembro 2009

Deixamo-nos ir ao sabor da … vida

Nós vogamos ao sabor da vida, com os olhos fora da água, pensamos nós. Por vezes o nevoeiro é tanto que dúvidas se levantam se levamos ou não os olhos dentro de água. A percepção da realidade por muitos de nós é estranhamente idêntica mas suficientemente enigmática para que a possamos usar para nos entendermos.
Nós podemos prezar muitas coisas na vida. É natural que com a idade essas coisas se vão alterando. No entanto a sociedade moderna, na sua ânsia de parametrizar tudo, de ter padrões pelos quais cada qual possa aferir o seu próprio cumprimento dentro dos valores de referência, passou há uns tempos atrás a ter no nível de vida o seu parâmetro mais valioso.
A nossa percepção individual do nível de vida mediano, e do valor relativo do nosso em relação a esse, depende também do nosso percurso de vida. Incompreensivelmente quase todos, estejam abaixo ou acima desse nível médio de vida, reclamam um aumento do nível de vida, quase como náufragos que estão em igualdade de circunstâncias e cuja cabeça submerge simultaneamente acima do nível da água que representa a vida.
Esta maneira de abordar esta aproximação do homem ao nível de vida mediano leva a que não consigamos saber com objectividade quais as diferenças existentes, quanto a expectativas e possibilidades. Mais uma vez nada fazemos por nos entendermos porque aparentemente comportamo-nos como se já todos estivéssemos de acordo e isso é falso.

26 novembro 2009

O que desce e o que sobe neste País

É natural, que não do nosso agrado, que só se fale do que desce neste país, às vezes do que pretensamente desce e na realidade não é tanto assim. Dissolvem-se determinadas regras que constrangiam os comportamentos sociais, que existiam muitas vezes sem proveito e até com prejuízo de todos os envolvidos. Aquilo que eram consequências de uma situação económica específica, com as suas relações económicas próprias é natural que mude. No entanto isso provoca em certos espíritos um vazio desagradável.
Há uma absoluta atracção pela descida. A propósito de tudo se diz que o País se afunda, o mundo se afunda, quando se ignora que nos vários locais há evoluções em sentidos díspares e que os processos mentais, sociais e políticos em que se encontram envolvidos não tem correspondência nos modelos a que estamos habituados.
Esta crise, e crise é sempre uma descida de alguma coisa, veio acentuar este estado de espírito descrente e pessimista. A verdade é que a crise arrastou atrás de si, na mente dos espíritos mais fracos ou mais capciosos, uma série de verdades, de conhecimentos ainda pouco sólidos, colados com fraca aderência a outras verdades já mais velhas e solidificadas.
Acusa-se de no meio desta crise terem sido deitados ao chão alguns pilares da nossa economia e de que nunca nada será como dantes. Na realidade isso aprazer-nos-ia sobremodo. Simplesmente não vejo a esquerda a aproveitar devidamente a situação, a ter ideias precisas sobre o que deve fazer, não só para que certas situações se não repitam, mas para que a lógica da actividade económica seja privada, mas, outra.

25 novembro 2009

Os que ganham com a existência dos espertos

É por demais evidente que quem se encontra socialmente na mó de baixo encontra quase todos os caminhos tapados, mas nem sempre. Os espertos tentam furar e por tentativa e erro lá vão subindo sem apoios que se vejam, além dos seus músculos, unhas e engenho.
Porém muitas mais pessoas subiriam se tivessem quem os informasse do que a Lei lhes permitiria fazer, tanto pelos seus interstícios como também pela “distracção” de quem a deveria aplicar. No entanto só aqueles que chegam a um bom patamar conseguem recorrer a apoios exteriores.
Quem quer subir tem sempre que aproveitar os caminhos esconsos da Lei, mas para isso e com sorte basta ir aprendendo na prática. Se tanto basta numa primeira fase depois para ultrapassar aquilo que a lei estipula como ilegal já é necessário um aconselhamento, apoio e cumplicidade de gente entendida e bem colocada.
Homens da advocacia, mas não só, funcionários públicos, gente que jura defender ou é pressuposto que defenda a legalidade, coloca-se à disposição daqueles que querem subir, que sabem que há um patamar a partir do qual isso é difícil de acontecer, mas cuja ambição sem limites faz tomar como objectivo nebuloso mas alcançável. Havendo quem esteja pronto a pagar, não falta quem esteja disposto a receber, desde que os riscos que corre sejam, na sua percepção, menores.
Só no caso da nossa administração se vê quanta gente arrogante, pretensiosa e distanciada existe para que o preço dos seus actos ilegais e por vezes até legais seja mais elevado. Também não será de querer o contrário uma administração transparente, que abre todas as portas falsas, que ensine a todos o que só poucos sabem, mas aquele meio de termo de que ou comem todos ou não há moralidade.

24 novembro 2009

A justiça não tem que passar toda pelo sistema judicial

Em última instância a política é responsável por tudo que tem a ver com a organização social e portanto com a justiça. Se esta está mal à política se deve. Esta razão chega para que o contrário não possa ser verdade. A política não está mal por causa da justiça e a política não deve interferir no campo da política em especial na luta política.
A maneira de construir um edifício judicial sólido, de exercer uma justiça eficaz, será definir logo à partida a competência desse aparelho judicial. Já hoje existem muitos campos da actividade com regulamentos próprios, leis especificas cujo cumprimento não é avaliado pelo poder judicial. Mas há muitas leis gerais, muita intromissão do Estado na vida social que, por arrastamento, leva à intromissão do aparelho judicial na vida social e política.
A especialização dos juízes é uma tentativa neste sentido, mas ineficaz. A constituir órgãos com competência de julgar teriam que ser independentes doutros já existentes noutras áreas. Com mais ou menos dignidade, não é a dignidade que traz sentenças acertadas. Se o conflito é da área do negócio, terá que ser um júri próprio a julgar, como o é já na área do desporto.
A ideia de que um corpo de juízes com togas e outros adereços, devidamente equipados para a função, produzirá uma justiça mais equilibrada, mesmo que tardia e até fora de tempo, é uma ideia peregrina. Nas actuais circunstâncias o aparelho judicial arrasta para baixo de si assuntos que podiam ser resolvidos por acordo das pessoas e entidades a que dirão respeito. O aparelho judicial, para se justificar, obriga a uma espera desnecessária e a um custo exorbitante e dispensável.
Por mais que desconfiemos de nós próprios, por mais delegações que façamos de competências que deviam ser nossas ou entregues a entidades doutra natureza, há um grande espaço no domínio genérico da justiça de que o aparelho judicial se apropriou ou no qual a sua intervenção cria muitas expectativas, mas é mais ineficaz. Se o aparelho se dedicasse a aplicar uma justiça específica em campos em que fosse mais premente a sua não ligação a nenhuma das partes, seria mais eficaz.

23 novembro 2009

A tentativa de judicialização da política

São muitas as pessoas que dizem encontrar a solução para todos os problema através da judicialização da política. Todas as acções políticas teriam que ser passíveis de uma apreciação judicial. Instituir-se-ia princípios de legalidade substancial em vez de princípios de direito que abranjam somente o processo administrativo.
O alargamento do campo de acção dos governos, o alargamento da gestão política de fenómenos sociais outrora tidos por imunes à política, a entrada em domínios de acção directa, como a economia, tornou a política uma fonte de conflito com os cidadãos devido às relações que se estabelecem. Muitos destes cidadãos acham que as soluções seriam mais favoráveis para si se a gestão destes conflitos fosse entregue à justiça.
As forças políticas que na presente conjuntura parece defenderem estas ideais na realidade não tolerariam uma intromissão permanente da justiça na sua acção. Essas forças também sempre participaram na elaboração da legislação que dá aos interesses do Estado prevalência nas relações com particulares, que dá aos agentes do Estado uma credibilidade superior à dos outros. O Estado mesmo agindo como empresário tem vantagem sobre a iniciativa privada.
O poder político tem dificuldade em prescindir de utilizar o poder judicial em seu proveito. Usa-o também quando não encontra outra forma de intervenção num determinado domínio. O poder judicial, quando se sente seguro, sente vontade de ridicularizar o poder político e não tendo leis para o julgar cai na tentação de o tentar julgar na praça pública. O sistema justicialista atinge o auge quando chega à definição e julgamento de carácter.

22 novembro 2009

Numa relação pode haver compensações mas não chantagens

As pessoas são mais permeáveis a determinados tipos de chantagem do que a outros. Sempre foi habitual em épocas em que o homem tinha uma função especialmente importante na obtenção de meios económicos para a subsistência da família haver homens que se congratulavam com o seu sucesso não o partilhando e afrontando mesmo as mulheres com esse facto. Estas resignavam-se a aceitar tal facto e tudo o resto ficava condicionado.
Em tempos mais recentes esses esforços são partilhados na medida das possibilidades de cada elemento da família. Só que a procura desta igualdade de responsabilidades faz esquecer a necessidade de procurar alguém capaz de partilhar valores pessoais e sociais mais consistentes. Juntar duas pessoas com a mesma ambição não será a melhor forma de construir uma harmonia que não dependa do contributo económico de cada um.
Numa relação que se pretende tão duradoura como a família as pessoas têm de ser capazes de encontrar compensações, mas a sua utilização como moeda de troca pode dar origem a problemas devido à diferente sensibilidade de cada um. No entanto as compensações quando envolvem meios económicos não são mesmo verdadeiras, são antes meios de chantagem de que os indivíduos se servem.
Quando algo se paga com dinheiro, sem envolvimento emocional e sentimental, sem partilha de esforço e de ganho afectivos está-se a criar uma dependência que pode resvalar para domínios perversos. De repente podemos estar a ver chantagens em todo o lado, haja ou não razão para as ver e esse é o fim ou pelo menos o seu princípio.

21 novembro 2009

A fuga à chantagem emocional, social e pessoal

Dizem que cada vez mais as mulheres jovens, a que outrora chamávamos com uma certa graça de raparigas, estão preparadas para relacionamento complexos e até simultâneos. Tal seria verdadeiro se conseguissem viver apenas emocionalmente e se privassem de elaborar sentimentos. E para muitas pessoas esta é a parte mais interessante de qualquer relacionamento porque permite preservar a experiência adquirida. Quase todos nós gostamos de ter um certo passado.
A cada um de nós o que sobra depois de vivermos uma experiência puramente sexual? Pode ser a vontade de repetir a experiência, mas se à partida não integramos esse facto numa vivência mais alargada e partilhada dificilmente criamos sentimentos que dêem outro significado a essa experiência e ficamo-nos pela simples licenciosidade. Também a dificuldade da conquista como aliciante tem os dias contados.
Aquilo que mais preocupa a maioria das pessoas é a possibilidade de chantagem que afecta a sua imagem social. Normalmente as raparigas não têm uma imagem de si suficientemente sólida para fazer da sua defesa o principal factor no seu relacionamento. O que sendo perfeitamente natural sempre levou as pessoas a procurar relacionamentos com uma certa previsibilidade dentro de um grupo social específico.
As raparigas precisam de um espaço em que vivam, mas também se criem. A sua liberdade é mais importante que alguém que as pretenda condicionar a troca de uma paz podre, só possível porque se criam mundos fechados à margem do fluxo normal da vida. Também não se pode ser escravo mas tem que se ter em conta o percurso académico, profissional, afectivo. Já ninguém se pode subordinar ao capricho masculino, mas cada um tem de encontrar um modo de viver com o capricho d’alguém.

20 novembro 2009

O aprisionamento da alma e a morte do corpo

Aqueles que vivem momentos que entendem de particular felicidade não raro se revoltam contra as outras pessoas e perguntam porque razão estas complicam tanto as coisas. Criaram o seu próprio mundo de felicidade e passam a adoptar uma atitude defensiva, integrando as outras pessoas nesse mundo de uma forma estática, formal.
Essas pessoas não alertam os “parceiros sociais” para esse facto, que a partir de uma dado momento não são mais livres de mudar de comportamento, de fugir a uma imagem que eles criaram no seu cérebro e que aprisiona os outros de uma maneira tenaz, persistente. Alguns até já sabem, mas convencem-se que tem a força suficiente para levar os primeiros a um relacionamento mais aberto e partilhado.
Muitas pessoas convencem-se que este aprisionamento não é possível em relacionamentos tão dinâmicos como é pressuposto serem hoje os relacionamentos amorosos. No entanto esta forma de ver o relacionamento amoroso é tão vulgar como o são as outras formas de ver outros relacionamentos sociais de natureza diferente. Há imensas pessoas a viver em mundos fechados e que estabelecem uma frágil barreira entre a amizade e o despeito, o amor e o ódio, a atracção e a aversão.
Aqueles que querem condicionar a vida alheia, o percurso académico, os modos de ser, que conseguiram prolongar algum momento de apaziguamento e criam junto dos outros algum espaço com leves críticas, mas sem revelar o seu carácter exclusivista mergulham muitas vezes na sofreguidão de quem se acha o centro do mundo.

19 novembro 2009

A leveza de espírito à custa alheia

O que faz as pessoas felizes é uma certa leveza de espírito, não tanto o peso do dinheiro nos seus bolsos ou a quantidade de bens que têm à sua disposição. Como se conseguirá que as pessoas abandonem o afã de juntar dinheiro, de consumir todo o possível e imaginável e alcancem essa leveza, se livrem de ressentimentos, raivas e azedumes?
Em primeiro lugar é necessário saber que as pessoas se não vão esquecer da competitividade que necessitam de ter para sobreviver com o mínimo de dignidade neste mundo em que a economia é utilizada para tudo inclusive para definir os níveis de bem-estar e de felicidade de todos. Todos somos misturados e passamos por ter um nível médio de desejos e ambições. E se uns estão acima e outros abaixo é porque a uns é permitido ter e a outros não. A muitos não lhes é permitida a felicidade porque não lhes sobra tempo só a alguns é permitido lutar pela dignidade doutra forma.
Porém a leveza de espírito pode conviver bem com a falta de dignidade. Igualmente convive bem com os sentimentos dos mais perversos e persistentes. No geral já não convive bem com os esforços desmesurados necessários que muitos têm que suportar para suprir as necessidades mais básicas de subsistência.
Muitas pessoas conseguem a sua paz de espírito à custa de outras e nem se apercebem disso. É isso que ocorre com aqueles assassinos de namoradas que vão cerceando a liberdade alheia e sentem-se felizes enquanto estão convencidos de o terem conseguido, mas não toleram uma fuga ao cerco que montaram, pelo menos mentalmente.

18 novembro 2009

Um corridinho patético atrás de uma vitória na secretaria

Manifestei-me várias vezes contra a luta que os professores desencadearam cegamente contra uma Ministra e uma política seguida por um Governo com maioria absoluta. Haveria razões para essa luta, mas outras eram meramente corporativas, de alguém que vive e quer continuar a viver num mundo à parte.
Os partidos da oposição, por uma questão de retirar trunfos ao governo, apoiaram também os professores em todas as suas contestações, mesmo que os próprios professores as não partilhassem todas. Uns só eram contra a idade de reforma, outros seriam contra a avaliação, outros seriam contra o prolongamento de horários, outros contra a redução de férias, outros seriam contra a criação dos professores titulares. Os partidos eram contra tudo.
Agora que o governo mudou, que houve uma distensão no litigio existente, que se realizam e estão marcadas novas reuniões entre o Governo e os sindicatos, eis que os partidos da oposição se abespinham entre si para assumir um protagonismo e marcar alguns pontos. Parece que agora ninguém quer ficar de fora, nesta fase em que se procura uma solução, nem que seja participando a deitar limalha para a engrenagem.
O CDS acuda o PSD de frete por este deixar de alguma forma às organizações sindicais a defesa dos seus pontos de vista, e não assumir uma posição frentista e negativista em relação ao que possa vir do lado do Governo. A negociação tem que ser feita entre o Governo e os sindicatos e não entre a Assembleia e os sindicatos. A Assembleia poder-se-á pronunciar à medida que se vai desenrolando a negociação e após o resultado desta. Mas não pode marcar os tempos e os parâmetros da negociação, como alguns partidos querem.

17 novembro 2009

Uma vantagem do TGV para o País para nós é

O TGV Braga-Valença está finalmente em discussão pública. Eventualmente Ponte de Lima só terá prejuízos e nenhum benefício. Porém visto a nível nacional os benefícios parecem evidentes, salvo o caso de poderem ser melhores, se a opção fosse pela velocidade mais moderada e pela bitola europeia. Mas seria isto viável se a ligação espanhola segue outros princípios?
A negociação destas ligações feita no tempo da dupla Durão Barroso/Ferreira Leite terá sido má conduzida e houve uma cedência completa às pretensões dos espanhóis. E, se no caso da ligação Lisboa-Madrid os benefícios ou prejuízos se repartirão entre Portugal e Espanha, é evidente que aqui, a haver prejuízos, o que será o mais natural, eles recairão quase na totalidade para Portugal porque a parte da linha que do lado espanhol é exclusiva desta ligação é diminuta.
Na perspectiva nacional ainda se levantarão muitas outras questões. Passam pela necessidade de uma nova ligação Porto-Lisboa, pela vantagem da adopção da bitola europeia nas ligações principais dentro do País, pela ligação ao aeroporto do Porto, pelo transporte de mercadorias, pelo incentivo à utilização do transporte ferroviário, etc.. Não é seguro que estas questões tenham sido pensadas antes de se embarcar nesta aventura.
Se tivermos uma certeza dos benefícios desta linha de TGV, tal como está pensada, para o País, acho que os prejuízos estritamente limianos se têm que dar por legitimamente suportados. Caso não tenhamos esta certeza será um sacrifício desnecessário e demasiado penalizador.
Em suma: o problema não está, nem pode estar, na passagem dum comboio; está em vermos uma vantagem para o nosso País, que para nós é.

16 novembro 2009

Como se suja um bom trabalho com uma conspiração sem nível

O segredo de justiça ter-se-ia rompido algures no Pombal, no trajecto entre Aveiro e Lisboa de umas cassetes com gravações das conversas escaldantes entre Armando Vara e José Sócrates. O assunto seria o desbragamento da nossa estrela televisiva Manuela Moura Guedes, na sua forma peculiar de aproveitar uns factos pisados, repisados e mal interpretados para semanalmente vergastar o Sr. Primeiro-Ministro.
Aparentemente o sistema judicial quis matar dois coelhos de uma só cajadada. A primeira foi para o caso Borlido e tudo se passou com uma discrição exemplar, de louvar se não fosse obrigação de todos os envolvidos na investigação. A segunda cajadada seria para o José Sócrates, apanhado nas ditas conversas. Não confiante na sua justeza, o sistema judicial remeteu tudo para o sistema justicialista, aparentemente mais expedito e eficaz.
O problema é que ainda se não conseguiu encontrar qualquer responsável pela violação do segredo de justiça. A verdade é que esses violadores pertencem ao sistema de justiça, que impunemente brinca com aquilo que era sua obrigação preservar diligentemente. E nada me diz sequer que não será por espírito de conspiração política, mas tão só por dinheiro que esta gente procede desta forma.
Os Ministros Vieira da Silva e Santos Silva sobrestimaram os seus adversários políticos. Manuela Ferreira Leite é tão só um caso patológico de alguém que, antes de ir calçar as suas pantufas, ainda quer dar algum golpe vitorioso, para que se não diga que só armazenou derrotas. O certo é que nem conspiradores de gabarito temos e portanto este recurso a estes voluntários irresponsáveis, cobardes e corruptos.

15 novembro 2009

Como analisar a nostalgia do passado

O 25 de Abril em Portugal e a queda do muro de Berlim aconteceram num intervalo de 15 anos, intensamente vividos. Foram anos decisivos no desfecho da guerra-fria. A questão que se levantava era se o comunismo ainda tinha folgo para se expandir no último Império Colonial a cair ou por outro lado também o Império Soviético teria atingido o seu estado de maturação.
Normalmente qualquer império só cai depois de explorar todas as possibilidades de sobrevivência ao que se segue o inevitável apodrecimento. As últimas energias do Império Soviético foram colocadas na sua tentativa de expansão no ex-Império Colonial Português, mas o estado decrépito da economia soviética levou à implosão sucessiva dos países que o componham.
Estes acontecimentos foram seguidos com a compreensão de muitas camadas dirigentes que se aperceberam mais cedo da inevitabilidade dos desfechos negativos e com o apoio popular, desejosos que todos estaríamos de desfazer as amarras que nos prendiam há décadas.
Há alguma nostalgia do passado. É também uma inevitabilidade. Há aqueles que sempre lhe estiveram receptivos, mas evidentemente que há também alguma nostalgia benévola, sub-reptícia, que pode atingir os espíritos mais prevenidos. Há aspectos da vida que mudaram para melhor, mas têm que se aceitar que haverá um ou outro que simplesmente não é mais possível.
As vivências são pessoais, dificilmente haverá quem as tenha exactamente iguais. Aquilo que para um é positivo pode ser negativo para outro, sem se poder dizer que um está a ser mais correcto do que outro. É com este espírito de condescendência que devemos olhar para certas manifestações nostálgicas que surgem ainda hoje em dia. Ninguém pode é exigir ser feliz à custa da maioria, muito menos quando isso pressupõe um regresso ao passado globalmente ignóbil.

14 novembro 2009

A escuta, um vício nacional

O primeiro escutado dos que ocupam, para o bem e para o mal, o nosso quotidiano televisivo, informativo, nacional, terá sido o homem que faz a ligação entre o sistema judicial e o sistema justicialista, o Sr. Procurador-Geral desta República com pouca coluna vertebral. A Dona Ferreira Leite achou que não devia ficar de fora deste episódio de asfixia democrática tão ao seu gosto e queixou-se a seguir. O nosso Presidente parece que ainda tem uma certa inveja da vida politica partidária e criou aí um quiproquó dos diabos com as escutas ao seu palácio.
Todos ouviram zumbidos estranhos nos telemóveis, ruídos esquisitos nas suas comunicações, mas de tudo isto nada se confirmou. Mas eis que surge uma intenção, meio ameaça, de colocar nos escaparates umas conversas privadas do Sr. Primeiro-Ministro. Deste há escutas, há gravações quantas baste e há transcrições dadas a conta-gotas para os meios de comunicação social se entreterem à falta doutro assunto.
Porém o interesse coscuvilheiro exultaria se tudo fosse colocado cá fora. Saber-se-iam pormenores que fariam as delícias dos jornais de alcova, os psicólogos, politólogos e outros especialistas teriam vasto campo de estudo para analisar as discrepâncias entre o discurso privado e o discurso oficial do Sr. Primeiro-Ministro. Possivelmente decretariam que qualquer seu sucessor passe a ter uma só forma de ouvir, de falar, de escrever, de se relacionar.
Qualquer candidato a Primeiro-Ministro ficará assim privado de amigos, confidentes, conselheiros, não terá direito a vida privada. Em todos os actos e situações deverá comportar-se de uma mesma forma austera, circunspecta, sisuda. Num País com tanto bandalho, brincalhão, irresponsável, exigente quanto ao respeito pelos seus direitos, mas sempre prontos a violar os direitos alheios, a privacidade, o equilíbrio e a estabilidade emocionais dos outros, o PR será de futuro a referência com cara de pau.

13 novembro 2009

O justicialismo impede uma justiça rápida e eficaz

O justicialismo é uma doutrina muito divulgada que satisfaz sobremaneira os nossos espíritos vingativos e castigadores. Ao primeiro rumor tem que se condenar e tem que se aplicar desde logo a pena. Será uma forma de reagirmos ao real desleixo legal e prático com uma exigência imediata e aparente. O problema é que a realidade não se compadece com os nossos desejos e o justicialismo é assim ineficaz.
Andaram-se anos a pensar como se haveriam de reforçar os direitos das pessoas. Legislou-se no sentido de diminuir as penas e de permitir toda a espécie de actos processuais que facilitem a defesa dos acusados. De súbito todos levam as mãos à cabeça e dizem que se exagerou, que agora só chega à barra dos tribunais quem quer, só é condenado quem permitir que o seja.
Por outro lado quando é necessária alguma acção mais visível, quando a existência do processo se torna pública, logo todas as pessoas, quase sem excepção, querem saber tudo sobre o processo em causa, no afã, podemos dizer legítimo, para estarem preparadas para emitir sentença sobre o caso. Aqui reside o erro da nossa parte. Podemos pugnar por melhor justiça, mas não podemos querer ser nós a aplicá-la, muito menos já.
Quando seria necessário que todos respeitassem os actos judiciais, que fosse dada a possibilidade de a justiça ser aplicada atendendo à verosimilhança dos actos, que fosse dispensado que a Lei fizesse a descrição pormenorizada do que é permitido e do que é proibido para que não fosse invocada qualquer omissão, eis que aparece todas a espécie de personagens a pretender retirar toda a credibilidade que resta às únicas pessoas capazes de aplicar essa justiça mais rápida e eficaz, com processos mais expeditos e tipologias mais vastas.

12 novembro 2009

A esquerda está sem atitude, a direita está expectante

A crise financeira de 2008 pôs a descoberto um mundo de que se falava, sobre o qual se especulava, mas que afinal se desconhecia e cuja falta de valores, de princípios surpreendeu toda a gente. Os financeiros exageraram na mobilidade que quiseram dar ao dinheiro, aplicaram-no em bens de valor duvidoso, mas o seu grande objectivo era retirar nessas movimentações algum proveito para si.
A esquerda europeia, no poder ou na oposição, não soube retirar dividendos deste comportamento irresponsável da direita liberal. No caso português tínhamos a nossa crise interna, que, se estava em fase de solução, não deixou tempo para que se comprovasse tal facto. E perante esta sucessão de crises, a esquerda portuguesa permanece com uma posição fossilizada, como se nada tivesse mudado.
Há uma incapacidade de pensar o futuro que não seja pela recuperação dos procedimentos que foram postos em causa nesta crise financeira. A esquerda no poder sente-se impotente, senão para unir os cacos, para mudar a política, a esquerda na oposição mantém o seu discurso de que afinal é necessário estilhaçar muito mais, tudo, para possibilitar que se pense o futuro doutra maneira, para tornar viável outra política.
Tanta irresponsabilidade da esquerda vai levar a entregar o pouco poder que ainda detém à direita, possivelmente quando não houver dinheiro para pagar os rendimentos sociais de inserção, os benefícios sociais que, mesmo assim, a esquerda tem aumentado sobremaneira. A direita ataca só o RSI, mas mantém todas as suas outras ideias de reduzir benefícios e de entregar a segurança social a privados. Incompreensivelmente a população continua a colocar a hipótese de apoiar essa direita.

11 novembro 2009

Um muro que marcou uma geração

Começava a despertar para o mundo quando o Muro de Berlim foi construído. Foi um balde de água fria num entusiasmo juvenil de quem não imaginava um mundo assim. Se a guerra-fria já tinha começado uma década antes de eu ter nascido, a verdade é que foi neste início da década de sessenta que os conflitos se exacerbaram, tomaram proporções difíceis.
Vivemos directamente os efeitos das guerras coloniais, episódio caricato de um povo comandado por um louco, Salazar, a tentar remar contra ventos e marés. Este povo indolente deixou-se conduzir sem destino por terras sem fim viagem que a nossa pequenez fazia ridícula. Ao mesmo tempo um outro povo valente, o alemão, habituado a outras guerras de outras dimensões, era definitivamente humilhado e ofendido por um dos vencedores, impiedoso e justiceiro. Só o Ocidente deu a mão a este povo já tão castigado.
Já tínhamos três décadas de ditadura, mas o falhanço de Humberto Delgado, a guerra colonial e a construção do Muro de Berlim foram os motivos usados pela propaganda salazarista para justificar o seu regime. Salazar revigorou-se, ganhou novo alento, melhorou os métodos repressivos, aumentou o controle sobre estudantes e a população em geral. Podem ser pretextos, mas aqueles factos vieram a propósito quando Salazar estava a ficar isolado nacional e internacionalmente.
O regime de Salazar viria a cair mais depressa que o Muro de Berlim. Cá foi um império de papelão sustentado por soldadinhos de barro que ruiu uma madrugada, quando a vergonha assomou à cara de uns capitães parasitas. Lá fora foi um poderoso império que se foi desmoronando e de que a queda do muro de Berlim constituiu a culminar apoteótico.Estes dois factos contribuíram para tornar o mundo mais livre, os homens mais capazes de determinar o seu futuro. Maugrado o aproveitamento deficitário da euforia que tais factos proporcionaram, foram passos necessários, ocasiões decisivas, vitórias contra o medo e a opressão.

10 novembro 2009

O que faz sentido: empresas públicas, liberalismo económico?

Será de defender as empresas públicas só porque a direita as ataca e esquerda que as tem por imprescindíveis no seu programa político as defende? A existirem deverão fornecer bens e serviços a baixo preço ou antes usar os preços de mercado e contribuir para o orçamento? A existirem os seus gestores devem ser remunerados ao nível do funcionalismo público ou dos gestores da iniciativa privada?
Há hoje uma noção de socialismo que não passa pela nacionalização da economia, devido aos efeitos perversos que uma gestão centralizada da economia traz ao seu funcionamento. Mesmo quando há necessidade de existir um controle dos preços não é necessário que as respectivas empresas sejam do Estado, antes é necessário uma subsidiação dos seus produtos de modo a se constituírem preços políticos.
A existência de empresas públicas tem que ser visto como um mal menor. Quando existirem têm que ser um exemplo de moderação a todos os níveis, em especial a nível da remuneração dos gestores. O seu controle tem que ser rigoroso até porque no geral estas empresas são monopolistas, não têm concorrência que lhes possa fazer frente. Por esta razão até os seus trabalhadores exigem um tratamento especial, diferente dos seus compatriotas.
As empresas públicas não transportam todos os males do mundo, mas têm-nos em quantidade suficiente para que se pense numa alternativa que passe por um maior controle da actividade privada, pela moralização de toda a actividade económica, toda ela só possível nestas condições pela existência do Estado, e obrigadas assim a contribuir para a sociedade. O liberalismo económico não se justifica porque as empresas são parte integrante duma sociedade que tem as condições para a sua operacionalidade.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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