14 novembro 2009

A escuta, um vício nacional

O primeiro escutado dos que ocupam, para o bem e para o mal, o nosso quotidiano televisivo, informativo, nacional, terá sido o homem que faz a ligação entre o sistema judicial e o sistema justicialista, o Sr. Procurador-Geral desta República com pouca coluna vertebral. A Dona Ferreira Leite achou que não devia ficar de fora deste episódio de asfixia democrática tão ao seu gosto e queixou-se a seguir. O nosso Presidente parece que ainda tem uma certa inveja da vida politica partidária e criou aí um quiproquó dos diabos com as escutas ao seu palácio.
Todos ouviram zumbidos estranhos nos telemóveis, ruídos esquisitos nas suas comunicações, mas de tudo isto nada se confirmou. Mas eis que surge uma intenção, meio ameaça, de colocar nos escaparates umas conversas privadas do Sr. Primeiro-Ministro. Deste há escutas, há gravações quantas baste e há transcrições dadas a conta-gotas para os meios de comunicação social se entreterem à falta doutro assunto.
Porém o interesse coscuvilheiro exultaria se tudo fosse colocado cá fora. Saber-se-iam pormenores que fariam as delícias dos jornais de alcova, os psicólogos, politólogos e outros especialistas teriam vasto campo de estudo para analisar as discrepâncias entre o discurso privado e o discurso oficial do Sr. Primeiro-Ministro. Possivelmente decretariam que qualquer seu sucessor passe a ter uma só forma de ouvir, de falar, de escrever, de se relacionar.
Qualquer candidato a Primeiro-Ministro ficará assim privado de amigos, confidentes, conselheiros, não terá direito a vida privada. Em todos os actos e situações deverá comportar-se de uma mesma forma austera, circunspecta, sisuda. Num País com tanto bandalho, brincalhão, irresponsável, exigente quanto ao respeito pelos seus direitos, mas sempre prontos a violar os direitos alheios, a privacidade, o equilíbrio e a estabilidade emocionais dos outros, o PR será de futuro a referência com cara de pau.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana