01 novembro 2009

Ser pobre é mesmo lixado

Um amigo meu, daqueles que nunca sabemos quando deixam de o ser, falou-me indignado da maneira como os serviços de finanças o perseguem, como perseguem os pobres e não os deixam levantar a cabeça.
Um outro amigo meu do mesmo género do anterior manifestou-se também contra a polícia de trânsito que só persegue os pobres como ele, os obriga a cumprir todas as leis, não lhes dá um desaperto para amealharem uns tostões que tanta falta lhes faziam.
Um velho amigo meu também me diz que nem os cães gostam dos pobres, os perseguem. Apareça um pobre numa praça que está logo um cão a ladrar-lhe às calças do desgraçado, já nem pobre se pode ser. Mas o meu amigo dá uma justificação para este facto, diz que é o cheiro que atrai os cães, é esta explicação tem uma lógica evidente.
Afinal pode não haver perseguição e tornar-se um facto natural a actuação das polícias e de toda a espécie de fiscais mantendo um aperto mais cerrado àqueles que são pobres e assim cada vez mais dificuldades têm em deixar de o ser.
O cheiro que atrai os cães é o mesmo que atrai todos os que tratam das boas práticas e dos bons costumes. Ele vai nas notas e nos cheques com que estes pagam a abertura de umas portas no vasto edifício do capital, de preferência do Estado. Afinal subornar os poderosos é o destino de quem não quer morrer pobre.
Ser pobre é mesmo lixado porque tem que pagar jantares em restaurantes perdidos a indivíduos desconhecidos e os ricos já todos se conhecem, encontram-se em todos os salões frequentados pela alta sociedade, tem formas mais subtis de fazerem os seus negócios. Ser pobre não interessa a ninguém.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana