11 novembro 2009

Um muro que marcou uma geração

Começava a despertar para o mundo quando o Muro de Berlim foi construído. Foi um balde de água fria num entusiasmo juvenil de quem não imaginava um mundo assim. Se a guerra-fria já tinha começado uma década antes de eu ter nascido, a verdade é que foi neste início da década de sessenta que os conflitos se exacerbaram, tomaram proporções difíceis.
Vivemos directamente os efeitos das guerras coloniais, episódio caricato de um povo comandado por um louco, Salazar, a tentar remar contra ventos e marés. Este povo indolente deixou-se conduzir sem destino por terras sem fim viagem que a nossa pequenez fazia ridícula. Ao mesmo tempo um outro povo valente, o alemão, habituado a outras guerras de outras dimensões, era definitivamente humilhado e ofendido por um dos vencedores, impiedoso e justiceiro. Só o Ocidente deu a mão a este povo já tão castigado.
Já tínhamos três décadas de ditadura, mas o falhanço de Humberto Delgado, a guerra colonial e a construção do Muro de Berlim foram os motivos usados pela propaganda salazarista para justificar o seu regime. Salazar revigorou-se, ganhou novo alento, melhorou os métodos repressivos, aumentou o controle sobre estudantes e a população em geral. Podem ser pretextos, mas aqueles factos vieram a propósito quando Salazar estava a ficar isolado nacional e internacionalmente.
O regime de Salazar viria a cair mais depressa que o Muro de Berlim. Cá foi um império de papelão sustentado por soldadinhos de barro que ruiu uma madrugada, quando a vergonha assomou à cara de uns capitães parasitas. Lá fora foi um poderoso império que se foi desmoronando e de que a queda do muro de Berlim constituiu a culminar apoteótico.Estes dois factos contribuíram para tornar o mundo mais livre, os homens mais capazes de determinar o seu futuro. Maugrado o aproveitamento deficitário da euforia que tais factos proporcionaram, foram passos necessários, ocasiões decisivas, vitórias contra o medo e a opressão.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Ponte de Lima, Alto Minho, Portugal
múltiplas intervenções no espaço cívico

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck
O mais perfeito retrato da solidão humana