28 fevereiro 2007

A estratégia das mulheres do soalheiro

Constato que há agora um palavrão usado a torta e a direito, como arma de arremesso para tentar diminuir os adversários políticos. Diz-se à boca grande o que dantes se não dizia à boca pequena, que isto de chamar de cobarde a alguém clama por um duelo de espada para limpar a honra do ofendido.
Se a cobardia apela a uma ataque pela retaguarda, sem aviso prévio, a verdade é que esses novos paladinos da honradez têm de ser atacados em primeiro lugar pela sua traseira, pelos rabos-de-palha, pelos anos em que andam pendurados no orçamento de Estado, sem nada de visível fazerem.
Nisto de saber quem é mais ou menos frontal, mais ou menos destemido, sabemos como a subserviência é cá assumida como prática normal e contra isso nos temos de bater. Se o poder corrompe, há que incentivar a democracia.
Um meio é promover o controle mais apertado da actividade dos políticos não só por outros órgãos de poder mas também pelos seus correligionários políticos que a devem acompanhar com certa permanência.
Se certos políticos forem deixados em roda livre o seu carácter não sai fortalecido e pode-se cair no erro de deixar criar aqueles “monstrosinhos” que tanto mal fazem à nossa democracia. Claro que o problema deriva de se aceitarem para cargos políticos certas pessoas de carácter mais volúvel.
Mas estes novos arautos de raras virtudes não sabem e não têm o objectivo de fazer a tão necessária pedagogia política. Dizem-se delas portadores mas não passam afinal de mulheres do soalheiro que, antes que lhes chamassem aquilo que elas eram, faziam uma barragem de insultos às outras, que por falta de verve, efectivamente se tinham que “acobardar”.
Se hoje as mulheres já não têm só a preocupação de lavar a roupa suja, que agora se têm que haver com os mesmos problemas dos homens, esta referência tem só a ver com o caso mais típico de como uma só pessoa pode fazer um alarido facilmente confundível com a descarga de um exército, para tapar as suas falhas e calar as outras.
A facilidade com que se atribuem estes rótulos também é igual à facilidade com que se tentam lavar as carreiras políticas de alguns dos nossos dinossauros. E estes novos puristas deveriam limpar a sua casa de gente inepta e mais dada a jogos de poder e à defesa de interesses particulares e não se deixarem cair nos mesmos erros dos seus patrocinadores.
A frontalidade que defendemos é a da falta de dependências, o que se opõe mais a hipocrisia do que a cobardia, sendo esta algo de mais complexo e mais próprio de gente imatura e sobranceira, que da honra não tem uma noção precisa.

27 fevereiro 2007

A mudança ainda não terá começado?

(Continuação)
No Alto Minho a conflitualidade social existe, como é evidente, mas tem tido uma almofada “natural”. As diferenciações sociais além de serem poucas, são também minimizadas no sentido de não agravar os conflitos e de contribuir para a paz social.
Toda a gente se lembra de graves “escaramuças” devidas à disputa de águas, de agueiros e tempos de rega. Das movimentações nos tribunais, dos ânimos exaltados, das cisões criadas no tecido social. E passados uns anos, as roturas já passam por outro lado, com antigos inimigos reconciliados e amigos de muitos anos desavindos.
Os ódios esquecem-se, os rancores atenuam-se, os ressentimentos não são fáceis de esquecer. Feliz é aquele que menos ressentimento preserva, que com mais naturalidade assume o desfecho de litígios inevitáveis, próprios de uma proximidade e de uma semelhança de interesses.
As mudanças nos meios de subsistência, nos modos de vida, nos afazeres de cada um criaram períodos de maior desfasamento, mais propícios para que venha ao de cima a conflituosidade sempre latente. Mas o bom senso sempre levou a não criar distanciações excessivas e a manter pontes com os mais fracos, ou com menos sucesso.
Este panorama idílico, pleno de harmonia e equilíbrio, refere-se, como é claro, às tendências de longo prazo que, para subsistirem, necessitam de válvulas de escape, quando há excesso de energia, ou de balões de oxigénio, quando há necessidade de que algo exógeno aconteça.
Podemos incluir nestas categorias a reconquista e o povoamento do sul, as pestes, as fomes, os descobrimentos, a vinda da batata e do milho de maçaroca, a emigração em especial para o Brasil, o aumento das necessidades alimentares das cidades, algum esboço de associativismo agrícola.
Se durante estes séculos não se vislumbra uma grande mudança, ela não terá já acontecido nos últimos quarenta anos? Ou nós não nos teremos apercebido dela, devido ao papel das válvulas de escape e dos balões de oxigénio que terão ocorrido e por nos deixarmos enredar pelo monólogo político dominante?
(Continua)

26 fevereiro 2007

O que faz de Sócrates um político diferente

(continuação)
Sócrates sobe nas sondagens e subirá enquanto a sua forma de agir, de estar, sem se deixar “estar”, permanecer como está até aqui.
Sócrates ambicionou alguma vez ser primeiro-ministro? Não sabemos. Sócrates ambicionará vir a ser algo mais, deixar-nos, ir mais longe, subir mais alto lá fora? Não sabemos. Mas sabemos que:
Sócrates enquanto está, está, de alma e coração como outrora se dizia, que agora se dirá, com todos os seus “dotes” (também é velho), digamos, características de inteligência e sensibilidade. Sócrates encontra facilmente a concentração devida para dar bom andamento ao que é importante, sem paixões temporárias, sem dispersão de energias, mas definindo e programando tarefas.
Sócrates sabe que o País é pequeno, mas os males são grandes. Muitos gostariam de mexer em tudo, mas uns são incapazes de o fazer, outros mexeriam mesmo, mas trazer-nos-iam de novo a amargura. A dificuldade de mexer ritmada e oportunamente nas coisas é igual à de um País grande.
Sócrates está atento às mudanças, de certo virá a mudar de ideias sobre alguns assuntos, sabe que vale mais a atenção à realidade, que valorosos preconceitos. Estamos convencidos que só aceita hoje certas soluções estereotipadas porque isso depende mais do modelo de desenvolvimento imposto pela Comunidade (Ota, TGV, Qualificação, Validação e Certificação de Competências), do que de uma séria convicção.
Sócrates está, enquanto sentir que o seu peso enquanto governante é suportável, enquanto a sua imagem puder transmitir confiança. Sócrates não vai sentir-se rejeitado, não vai sentir “nojo” em ser português, em viver no meio de políticos que são os portugueses que temos.
Sócrates sabe que se continuar a enfrentar os problemas com decisão, se continuar a não dar tiros inopinadamente, se continuar a não responder a provocações, não há mesquinhez, baixeza, malquerença ou cinismo que o consiga arrastar para a lama, que ela comprovadamente existe e tem de ser aceite realisticamente, está em alguns portugueses que somos.Sócrates não tem, não as manifesta, pela confiança que transmite não as tem, reservas mentais, não está a criar um hipotético “mundo ideal” para si e no qual os outros não cabem. Sócrates “ainda” fala com a simplicidade dos “honestos” e sem a afectação dos poderosos.

25 fevereiro 2007

O papel da emotividade na clarividência popular

O João Carlos (Ver endereço no final) andou a reflectir, que não só no fim-de-semana, e fez muito bem. Mas como me parece não ter reflectido o suficiente deixo mais alguns esclarecimentos, algumas sugestões e alguns pontos de discórdia.
Aos partidos e ao País convém que não haja aproximação e convivência de ideias a não ser em relação a princípios fundamentais. Estes devem garantir a indispensável estabilidade do edifício estatal, o que parece assegurado, que a C.E. dá uma ajuda. Mas não devem promover o “centrão”, fonte de maiores prejuízos que benefícios.
Evito falar de povo, noção de contornos bastante imprecisos e volúveis, que para mim corresponde a várias realidades, desde o povo falante, o povo sensato, o povo subserviente e por aí adiante, mas que se nos impõe por ser incontornável.
Quanto à sua clarividência sabemos que ela pode ser determinada pelo calculismo, pela premunição, pela sabedoria e não sendo nada que nos possa limitar na nossa liberdade é algo que se tem que ter sempre em consideração.
Um povo pode ter momentos de mais ou menos clarividência mas é por isso que há campanhas eleitorais, períodos de reflexão e essas minudências regulamentares que ajudam a dar substância à democracia. Quem perde diz sempre que o tempo não chegou e até que o povo é ignorante.
Mas a clarividência pode não ser suficiente para dar uma orientação de voto. Nas pessoas que se abstiveram também se pode manifestar essa clarividência, maugrado estarem emocionalmente confusas e mais disponíveis para delegar nos políticos a sua orientação de voto.
Quanto à hipocrisia a história ensina-nos que a civilização é sua inimiga, em toda e qualquer uma das suas várias cambiantes. Uma delas é estar emocionalmente preparado para ter uma opinião e não estar preparado para voluntariamente a manifestar e defender, por não se sentir integrado no mesmo projecto civilizacional.
Esta justificação para o desvio de trinta por cento de votos de Ponte de Lima em relação aos concelhos mais parecidos e de cinquenta por cento em relação ao Distrito leva-nos ao centrismo limiano, que, por estar “calado”, não deixa de ter zelosos defensores, que promovem a ruralidade e a subserviência.Por outro lado o “centrão” tem pouca influência na sociedade civil, deixou-se manietar neste últimos quinze anos. Em termos de influência da Igreja Católica esta passa manifestamente ao lado da questão. Ver reflexão de fim de semana http://pontedelima.blogspot.com/2007_02_01_archive.html

O que faz subir Sócrates?

Sócrates sobe nas sondagens e os analistas procuram justificações. Como convém justificações difíceis, argumentos complexos, à altura do feito.
Parece-nos ser esse o caminho errado. Sócrates sabe que sobe com a franja flutuante do eleitorado, ao alcance do qual são as razões mais simples que estão mais perto.
Cingindo-nos a quem desempenhou o seu actual cargo após o 25 de Abril constatamos que tivemos nos primeiros tempos personagens heróicos, mas que nos últimos vinte anos a política assumiu outros contornos e o carácter exigido aos nossos primeiro ministros alterou-se.
Não correspondendo às exigências da nova situação, invariavelmente sentiram-se atolados no pântano da política nacional, sem estratégia para o ultrapassar, ambicionando antes um papel na política internacional, aparentemente mais limpa e higiénica que a nacional.
Tão reles e mesquinha é a nossa que Cavaco saiu cansado e só o não vimos a querer um papel lá fora porque, manifestamente, a ele lhe falta o cosmopolitismo quase idiossincrático para todo o português.
Quem, sendo de um País que tanto lutou e ganhou com as especiarias da Índia, não pode ter a parolice de expressar publicamente a sua rejeição aos condimentos da cozinha indiana, que quem repudia a mesa está a ofender quem o convida. A mesma ingratidão afinal de Daniel Campelo que tanto beneficiou do queijo e agora veio dizer que não gosta de flamengo.
O mais caricato é que, não tendo capacidade para exercer um papel relevante na política externa, o vamos ter estes anos próximos a fazer contas em Belém. Não se livrou de nós nem nós dele, livrar-se-ia ele dos dele!
Já Guterres, se saiu pela porta pequena, se desprezou os portugueses, demitiu-se da direcção do seu partido mas não da Internacional Socialista, afinal o poleiro que lhe permitiu o salto em tempo oportuno.
Barroso logo que lhe acenaram com a Comunidade disparou sem aquecer o lugar, que logo era tarde e lá pode continuar a manter o seu ar altivo, que mesmo para porta-voz a postura não lhe fica mal.
Ao Santana Lopes os amigos encarregaram-se de o livrar deste martírio que é governar e ele já não é deste tempo pouco dado a romantismos e passerelles.
Porque será que Sócrates resiste e se impõe num terreno lamacento?
(continua)

24 fevereiro 2007

Haverá não acontecimentos?

Quem não gosta de leis generosas? Leis e regulamentos pouco exigentes, que não especificam deveres tão só direitos? De preferência direitos à inacção, ao lugar, à posição, ao estar num sítio onde o direito conflui sem conflituar com o dever de estar?
Assim estive eu, em plena Assembleia Municipal de Ponte de Lima, que eu não recuso direitos e não renego deveres. Autorizar a Câmara Municipal a renunciar a uma tal taxa de conservação de colectores de esgotos comprazer-nos-ia se não houvesse contrapartidas, mas há.
Discutíveis de certo, mais racionais de certeza, universais um tanto. O tratamento de água, daquela que bebemos, daquela que conspurcamos e é necessário devolver ao ambiente, tem encargos. De certo conversa para uma outra ocasião, que na Assembleia então já só passará como recomendação.
Por agora ficam os não acontecimentos:
A crítica do Presidente da Assembleia ao jornal Alto Minho por este ter criticado livremente umas “queixinhas” e a referência que na sessão anterior um seu membro ligado à canoagem resolveu livremente fazer em relação à sua orientação editorial sobre o fenómeno desportivo.
A satisfação, o gozo com que o Presidente de Junta de Freguesia da Vila de Ponte de Lima se auto-elogiou, não deixando de elogiar também o Presidente da Câmara, não pelo que fizeram em conjunto mas pelo tempo, que já é muito, durante o qual ocupam em simultâneo os respectivos lugares. Ah! Ah! Ah!

O frágil equilíbrio de séculos

(Continuação)
O Alto Minho terá sofrido com a reconquista uma diminuição da pressão demográfica, que daqui terão partido povoadores para o sul. Com o País consolidado, factores negativos, como pestes e fomes, e positivos, como os descobrimentos, terão desempenhado um papel de atempado reequilíbrio.
Depois a batata e o milho de maçaroca terão contribuído para que durante séculos tenha havido uma grande estabilidade. A emigração desempenhou sempre o papel de válvula de escape mas raramente levou famílias inteiras. Devido à lei do morgadio eram os filhos segundos que quando necessário partiam à aventura. Nunca ninguém deixou atrás de si o deserto. A ligação à terra mantinha-se sempre por via familiar e pela “raiz mais forte”.
Entre os destinos o Brasil desempenhou sempre um grande atractivo. Os que cá ficaram foram-se defendendo, aproveitando todos os espaços disponíveis, desde a secagem dos poucos terrenos pantanosos à construção de socalcos nas encostas mais íngremes.
A agricultura nunca saiu porém do nível da subsistência. Não só porque não havia grandes aglomerados urbanos perto, como os excedentes eram sempre poucos e dificilmente agregados para ir para longe, como a própria troca só era ocasional e muito limitada. Todos procuraram sempre ter um pouco de tudo.
As tentativas já com Salazar e a sua Junta de Colonização Interna de pôr a nossa agricultura a produzir para fora da região foram um fiasco, veja-se as colónias de Chã de Lamas e Boalhosa em Paredes de Coura.
Havia artesãos nos pequenos aglomerados urbanos e dos misteres mais diversos, mas mesmo esses faziam com as suas mulheres e em simultâneo alguma lavoura nos arredores. O consumo não raro só se referia ao vinho.
Quase só os senhores das quintas podiam e tinham necessidade de vender e, perante o exíguo mercado local, procuravam vender para mais longe. O vinho terá tido alguma expressão mesmo antes da construção das adegas cooperativas.
À falta de dimensão eram os mercadores locais que faziam a intermediação e juntavam o vinho para alcançar as quantidades desejadas, vendendo a granel. Da mesma forma se tratava o milho sobejante mas este comércio era limitado a zonas restritas e para mercados pré definidos.
O gado que era essencialmente de trabalho, o gado pisco, com o aumento da procura de carne por parte dos grandes centros urbanos foi sendo trocado por gado galego e dado origem a uma grande classe de intermediários. O gado tornou-se sinal de riqueza e condicionou durante muitos anos a economia rural.
(Continua)

23 fevereiro 2007

Uma mudança que não chegou ao fim

O Alto Minho está mudado em relação àquilo que conhecemos há uns cinquenta anos. Existia uma harmonia, artificiosa é certo, quem queria o progresso tinha que sair daqui. Quem cá ficava sujeitava-se a esta pasmaceira.
Nas nossas ignorâncias achávamos isto endémico, havia quem dissesse que esta paisagem exuberante de verde favorecia a melancolia prevalecente, que alimentava o espírito e tanto bastava.
Não sendo nostalgia o que sentimos, há aqui uma sensação de perda de algo que não foi substituído por outra coisa melhor, ou pelo menos substancialmente melhor. Terá sido esta perda inevitável e continuará? Infelizmente pensamos que sim, que a nossa decadência é inelutável.
Será de começar pela geografia física e humana para a justificar. O Alto Minho é um terreno acidentado, tem uma estrutura fundiária imprópria, um clima péssimo. As suas gentes são individualistas, extasiam-se com tudo o que vêm pelos seus olhos. Aqui parece que tudo sobra e na realidade tudo falta.
Durante séculos pensamos que tudo estaria bem se tivéssemos mais um metro de terra para trabalhar que o vizinho. A terra era boa, a água abundante, a natureza pródiga. Esta forma de felicidade está em definitivo terminada, que não há muito tempo assim era.
Mesmo quando tínhamos bastante mais que os outros, nunca foi suficiente, embora nos julgássemos ricos, que só o éramos à custa da pobreza extrema dos outros. Mas, maugrado muitas fomes havidas antes, o dramático a nível da manutenção desta vida rural terá começado nos últimos quarenta anos.
(Continua)

Não faria mal um pouco de pimenta na … … … língua

No blog pouco socrático de Nuno Matos (Ver no final) diz-se que eu sei bem que Valença é melhor que Monção para instalar um S.U.B. (Serviço de Urgência Básica). Sendo esta uma maneira trivial de querer levar os outros ao engano digo-lhe já que não, não sei nada, não tenho a pretensão de saber coisa nenhuma.
Sei o que é ser solidário, o que é ser demagogo, essas trivialidades. Não quero uma medida para mim e outra para os outros. Mas a relatividade diz-me entre outras coisas que Valença é um terço de Ponte de Lima e que a minha foice tem o comprimento suficiente para lá chegar, que aquilo não é uma coutada.
Em termos de dinâmicas, a seguir uma dinâmica como a proposta, toda a periferia estaria desgraçada, tudo seria centralizado, tudo convergiria para um centro qualquer, em última instância para Lisboa, nunca se pensaria ter de vir de Lisboa ao Porto, daqui a Viana do Castelo e menos ainda daqui a Melgaço.
Depois é falsa a ideia de que Valença teria vantagens por ter a A3 à porta, local onde poderão ocorrer acidentes graves. É claro que hoje o primeiro apoio tem que ser prestado no local por uma VMER ou por outro veículo do INEM. Daí os acidentados seguirão logo que possível para o local apropriado para prestação de assistência que nunca será um SUB de Valença ou Monção.
Como pressuponho que o antagonista não é favorável a um SUB para cada autarca, senão estava no P.C.P., saberá que há um grupo de concelhos a cobrir num vale do Minho com uma grande extensão entre Castro Laboreiro e a Foz. Não fora Caminha e V. N. de Cerveira, numa lógica centralista, recorrerem preferencialmente a Viana e justificar-se-ia um SUB em V. N. de Cerveira.
Ora sobram Valença, Monção e Melgaço em relação aos quais Monção tem uma posição central, quase tanta população como Melgaço e Valença juntos e lá poderão ocorrer até pessoas da parte norte dos concelhos de Arcos de Valdevez e Paredes de Coura.Fora isto há um problema de atitude, estávamos habituados a resolver os problemas com peixeiradas e isso tem de acabar. Não há razão para dar o nó duma rede a quem mais alarido faz e mais puxa por ele. Já no caso das maternidades se viu que nem sempre a primeira impressão de quem não faz o estudo de redes é a mais correcta. Ver http://pontelima.blogspot.com/2007_02_01_archive.html

22 fevereiro 2007

Bombeiros Sim, Políticos Bombeiros Não

É uma ideia generalizada que todo o dinheiro que puder ser gasto na saúde é bem gasto. Seja do nosso dinheiro, seja dinheiro do Estado, não se pode querer ficar com os anéis e deixar ir os dedos.
Mas ninguém gasta o dinheiro desabridamente, embora quando é o Estado a pagar muitas pessoas são gastadoras compulsivas. Sendo por um Estado organizado respeitando os ideais socialistas, entendo que ele deve fazer chegar às populações todos os benefícios possíveis, montando a estrutura necessária para que não haja desperdícios nem gastos abusivos.
Uma estrutura destas pode ser determinada usando um modelo matemático apropriado. E com certeza que o resultado só será um, diferente de quando se encomendam pareceres de direito a catedráticos de tendências diferentes.
Os nossos políticos no geral não têm noção daquilo que defendem. Acham-se dotados de alguns poderes que utilizam para seu próprio proveito e para dar seguimento a pedidos e solicitações dos cidadãos a quem querem agradar.
Na política propriamente, os nossos políticos acham que se fizerem um papel de bombeiros já fazem um bom papel. Se do contra e ali o governo diz mal vão lá e dizem bem ou se o governo diz bem vão lá e dizem mal. Claro que se são do pró fazem o mesmo que o governo. A não ser que sejam autarcas e por terem uma dupla legitimidade podem andar entre uma atitude e outra.Se o cidadão bombeiro tem alguma desculpa, o político bombeiro é no geral de uma indignidade confrangedora. Vive a exacerbar os ânimos para que ele próprio se mantenha na crista da onda. Convicções e discrição não são com ele. Um político sem convicções é um triste, um autarca sem convicções é um demagogo.

21 fevereiro 2007

Quem está satisfeito com as “urgências” que temos?

Quem acompanhou o recente acidente na Linha do Tua com o rápido salvamento dos sobreviventes e a difícil mas conseguida recolha dos cadáveres, apercebe-se que já nem tudo funciona mal em Portugal.
Não houve corridinho de Ministros para as televisões. O Governador Civil de Bragança, que se furtou ao espectáculo, esteve em todos os aspectos à altura da sua função. Os operacionais cumpriram nas mais perigosas circunstâncias.
O que ficou claro é que no mais recôndito do País é hoje possível lá chegar de modo expedito, com meios adequados e que é necessário continuar a apostar na mobilidade desses meios.
Mas eles terão que estar sediados em algum lugar e não podem estar em todo o lado, à espera que o acidente aconteça. Também aqui a qualidade é o mais importante e esta não se consegue dispersando os meios.
O autarca de Valença abriu uma guerra dentro do seu partido, avançou contra os seus vizinhos, sem qualquer solidariedade manifesta, egoisticamente só, na defesa de um sistema enganador que já não fornece às populações qualquer segurança nas verdadeiras situações de emergência.
Porque se este autarca não consegue pôr em causa o novo sistema preconizado pelo Governo e por princípio só contesta uma localização, deixa-se enredar num movimento de contornos demagógicos. Valha-nos que o P.C.P. se apercebeu de uma guerra de campanário e fiel à sua política maximalista quer uma urgência em cada lugarejo deste País.
O autarca de Valença é um dançarino que adere à política do Governo se a urgência for à sua porta e não adere se não for e não tem a coragem de aderir à política do P.C.P. Políticos destes, que antes querem pescar nas águas turbas da indigência que se satisfaz com o nada existente, aparecem infelizmente por todo o lado.

20 fevereiro 2007

Ainda haverá argumentos para Salazar?

Corre para aí um argumento desculpabilizante de Salazar, que ele não é responsável único, nem primeiro, pelo nosso atraso. Claro que este argumento, se tem alguma razão de ser, não tem carácter absoluto, se não vejamos outros exemplos de países que chegaram a ter maiores dificuldades do que nós e nos ultrapassaram num abrir e fechar de olhos, como a Espanha.
Se com D. Manuel I e D. João III nos afundamos entre outras coisas com os martírios da Inquisição e dissemos adeus a uma evolução auspiciosa, se o ouro do Brasil foi um vislumbre enganador, se gastamos energias entre progressos radicais e retrocessos achincalhantes, se a República foi um desnorteio absoluto que auto apelava à ditadura, podemos dizer que Salazar só deu continuidade a uma fatalidade nacional de vivermos sós e desprezados, bastardos copistas mas incapazes de nos movermos como actores na confusão civilizacional europeia, esperando sempre que de fora viesse a nossa salvação.
Neste contexto Salazar elevou à máxima potência a fanfarronice nacional, como se nós nos pudéssemos sustentar de glórias passadas e como se, copiado o fascismo (¿facto historicamente tolerável?), nós não precisássemos de olhar para a evolução dos outros e de criar um enquadramento para o nosso próprio caminho.
Em última instância nós podemos dizer que, se Salazar nos fez tanto mal, teve para isso o beneplácito americano, que no seu voo para super potência, achou irrelevante não existir aqui democracia e permitiu por interesse geo-estratégico a nossa entrada na N.A.T.O..Aliás podemos assacar culpas a todos, que não aos Espanhóis, que em parte depois da sua guerra civil ficaram bem pior do que nós. Mas como as culpas não são para mandar para além fronteiras, reconheçamos que Salazar fez tudo o que não devia ser feito.

A escroqueria e a boçalidade irão continuar?

Será justa ou não a demissão do João? Dado que a eleição regional ainda havia sido feita com outros pressupostos orçamentais resultantes da bagunça nacional é perfeitamente legítimo ir a votos.
É necessário colocar ao povo um novo contrato que a bagunça acabou e os meios são outros. Tudo bem e o Senhor João vai ter que correr em igualdade com os outros mais sérios e menos demagogos.
Já se tem defendido esta posição a nível nacional, que quando há determinadas “promessas” e o governo que toma posse, vendo os cofres vazios teria o direito e o dever, já que tem que fazer nova política, de ir também a votos.
São porém situações diferentes que aqui se não justifica aquilo que a nível regional é aceitável porque as alterações das condições de lá são impostas do “exterior” e a nível nacional são as resultantes de governações passadas.
Sabemos que a intenção do João é criar uma vaga de fundo de apoio mas ao povo é dado pensar que o João já deu o que tinha a dar, que a sua tentativa de chantagem emocional é baixa e é necessário construir o futuro com outros fundamentos e pensar também em ser solidário que o peditório não pode ser sempre para os mesmos.
O Alto Minho tem em tudo a dimensões idênticas à Ilha e só nos safamos por podermos ir a Vigo e ao Porto mais facilmente, que quanto a apoios governamentais estamos falados.
Aqui não temos ninguém para palhaço e até passamos por ser demasiado sérios, na linguagem do João somos medíocres, incultos, traumatizados sociais e subservientes.
Este escroque, autentico obsesso na nossa democracia, salazarista virado demagogo da pior extracção, tem o desplante de insultar toda a gente, de se banquetear à grande e à francesa e rir-se de nós na sua louca alarvice.

19 fevereiro 2007

Para que serve o Carnaval?

O Estado é essa estrutura maquiavélica, é o inimigo público número um que nos tira a plena liberdade de fazermos tudo o que nos aprouver e parece dar essa liberdade a todos os outros que dela não deveriam beneficiar no nosso altíssimo juízo.
Quantas atitudes malfazejas o Estado toma para connosco e que é feito do esperado bem-fazer? Talvez dar-nos o Carnaval que o, à altura, nosso Primeiro, aconselhado pelo rábula Marques Mendes, nos quis sonegar.
Não se lembraram que o povo, que tão pouco ri durante o ano, vá-se lá saber porquê, se não tivesse uns dias programados para dar largas à sua folia, estava tramado sem esse desopilar dos fígados.
Está bom de ver que o povo também aproveita estas ocasiões para malhar em quem exerce o poder, o que está certo, mas o problema é que assim nem por um momento saímos da realidade tristonha, faria falta alguma alteração na nossa maneira de a encarar.
Decerto que melhor fora que o nosso riso fosse menos evidente e mais contundente. Quando o Estado nos bate forte e certinho a maneira mais eficaz da crítica é o riso, muito diferente do habitual choradinho.
Decerto que aqui não se trata de dar razão a ninguém pois, mesmo quando na governação estão os piores, com as ideias mais esdrúxulas e com o olhar mais patético, é salutar o riso.
O choradinho é doentio, faz-nos pensar nas razões deste e daquele, na falsidade de muito dele, promovido como espectáculo televisivo. Com o riso, pelo contrário, não precisamos de nos preocupar com essas razões porque deliberadamente não estamos a formular sentenças, nem a pôr em causa a nossa moralidade.
Porque nós só nos rimos de caras, de pessoas de carne e osso, para atingirmos esse objectivo será sempre necessário exagerar algumas características, alguns aspectos mais controversos, sem que daí resulte o questionamento da honestidade e honradez de cada um.
O problema maior está em que nós só nos rimos de quem se põe a jeito, que daqueles que actuam nas catacumbas das nossas vivências não nos rimos nós.
Há pessoas que transportam na sua cara poderes ocultos e que não gostam de serem ridicularizadas, sequer de verem devassada a sua permanente máscara. E, se querem falar disso, não são mais honestos que os outros.

Verdades, mentiras e pias mentiras

A verdade não é absoluta, salvo se conseguirmos identificar e quantificar todos os factores que influenciam a obtenção de um só resultado, isto é, neste caso atingimos uma verdade consistente, que para nós humanos tanto basta.
Na política mesmo esta verdade a que chamamos consistente é muito difícil de obter pelo que nos costumamos bastar para sermos modestos, e digamos também para sermos honestos, com tudo o que for a mais de meia verdade.
Digamos que o que nos satisfaz é que os nossos adversários tenham menos de meia verdade e que a nossa verdade seja suficientemente sólida para que não haja perspectiva pela qual ela possa cair abaixo da deles.
Se intelectualmente isto deve ser o inverso, na política é importante para nós que não seja fácil ao adversário renegar algumas das suas não verdades, ou seja, mentiras e acrescentar algumas verdades consistentes aos seus objectivos explícitos, de modo a não atingir algo acima da meia verdade.
Verdades assumidas, mentiras rejeitadas, haveria com certeza alguém capaz de levar a cabo a tarefa de nos governar obedecendo aos bons princípios. Mas além das verdades e das não verdades, algo mais há que perturba a clareza e honestidade que deveriam enformar a política.
As pias mentiras, afirmações cuja veracidade não é fácil de constatar e que pretensamente não fazem mal a ninguém, têm como característica principal serem produzidas com tal desfaçatez e engenho que a maioria das pessoas as toma como verdades ou então não as renega logo como mentiras, por não as considerar perigosas.
Os políticos que usam as pias mentiras, mentiras declaradas mas assumidas com desplante e disfarce estão cientes da dificuldade de os seus adversários terem um discurso afirmativo quando ficam amarrados a desmentir afirmações alarves e inverosímeis.
Um político sério deve preocupar-se mais com a sua verdade, com a sua preparação para produzir mais verdades, em, tendo hipóteses, pôr em prática aquilo que é válido face às suas certezas.Os políticos já só usam pias mentiras quando estão na fase descendente. Quando Daniel Campelo diz que o sarrabulho dá 1.500 empregos a limianos está a produzir uma das tais pias mentiras.

18 fevereiro 2007

Os confrades da sarrabulhada estão distraídos?

Como há quinhentos anos a batata e o milho de maçaroca revolucionaram a agricultura, em meados do século passado o frango de aviário e o porco de pocilga vieram resolver o problema da fome e permitiram a disponibilização de mão-de-obra e o abastecimento das legiões das cidades industriais e de serviços.
O churrasco de frango e as fêveras no churrasco apareceram por tudo que é sítio, nas romarias e convívios mais diversos. O porco, que fazia parte da economia doméstica por vilas e aldeias do nosso País, tornou-se produto mercantil de baixo custo.
O sarrabulho que era prato “fidalgo”, que só há poucos anos era comercializado para bocas mais gulosas, tornou-se prato ao dispor de todas as carteiras. A matéria-prima outrora fornecida pelos nossos agricultores passou a vir até de Espanha, via Famalicão, a preços imbatíveis.
A origem já não é determinante e os problemas que agora se levantam são ao nível de controlo da qualidade e sanidade dos produtos. Quanto ao sarrabulho acresce que ele utiliza produtos primários mas também alguns transformados pelo que a sua confecção, manuseamento e consumo tem que ser regulamentados de modo a garantir o seu carácter genuíno e salutar.
(Trata-se das chouriças de verde, farinhotos, belouras e mesmo verde, cuja confecção descrevi).
A Confraria do Sarrabulho de Ponte de Lima, muito elitista, preocupou-se com as suas jaquetas, berloques e medalhas e aquilo que era urgente e necessário, a certificação do sarrabulho e de todos os seus componentes, deixou para segundas núpcias.Também a criação do bísaro poderá constituir preocupação mas será sempre um processo lento e moroso que não conflitua com o popular sarrabulho. E neste, seja qual for a origem dos seus ingredientes, é que está a galinha dos ovos de oiro.

Sarrabulho, o manjar dos Deuses - 1º. Dia – os preparos

(Publicado na Revista do Jornal AltoMinho de 05-05-2006) Ver sarrabulhada completa em http://trigalfa-publicado.blogspot.com/search/label/AltoMinho-Revista Passados os maus cheiros, pica-se muito miudinhas várias cebolas, uns alhos, uns ramos de salsa e rodenho quanto baste. Tudo bem picado, juntam-se a estes elementos sal, pimenta, e algum sangue e mistura-se bem.
Ata-se uma ponta de uma tripa fina e a mistura atrás obtida é nela metida, apertando-se levemente a massa de modo a não forçar, que se não quer que a tripa rebente nessa ocasião, nem mais tarde ao cozer. Guardam-se então estas chouriças de verde porque estão quase prontas.
Deita-se uma quantidade substancial de farinha de milho com algum sal, pimenta e cominhos na maceira de amassar o pão e mistura-se bem. Enfarinham-se algumas tripas nessa mistura. Viram-se depois com a ajuda de uma varinha de loureiro. Já estão preparados os farinhotos.
Chouriças de verde, farinhotos e o bucho deita-se tudo junto para cozer numa panela com água já a ferver.
À farinha milha da maceira junta-se alguma farinha centeia, um pouco de cebola e salsa cortadas miudinhas, pimenta e cominhos e mistura-se bem. Junta-se-lhes água da panela que cozeu as chouriças, escaldando a farinha e amassando como quem faz pão.
À massa assim obtida junta-se sangue, amassando sempre. Obtida uma massa homogénea, enrola-se com as duas mãos em pequenos cilindros que se passam em farinha de milho seca e vão para cozerem na mesma panela em que se cozeram as chouriças. Estão prontas as belouras ou boletos.
O sangue coalhado, dito verde, que está num alguidar é cortado à faca e é introduzido com algum sal na água a ferver de uma outra panela. Para que este verde fique bem poroso, introduz-se um ferro, previamente em brasa, nessa água e mexe-se chamando pelo dito porco: russo, russo, russo …
(Esta será mesmo crendice, mas não faz mal a ninguém acreditar nela).
Estando pronto e devidamente cozido é tudo posto a arrefecer na maceira em cima de ramos de loureiro, e à espera das cozinheiras do dia seguinte.

17 fevereiro 2007

Que políticos “andam por aí”

Que é isto de ser político? Acho que a melhor definição nos foi dada por Santana Lopes que se auto identificou como “aquele que anda por aí”. É verdade que para “andar por aí” já é necessário ter algum estatuto, que se tenha alcançado alguma posição com certa relevância no aparelho de Estado, que à maioria dos presidentes de junta ninguém vai chamar de políticos.
Mas como nisto de presunção cada qual toma a que quer, também existem muitas pessoas que se acham com capacidade para exercer funções de mando e se sentem e agem como se ocupassem essas posições relevantes, tal se julgam como alternativas a quem lá está e “andam por aí”.
Depois há um outro conjunto de políticos cuja importância varia de País para País e que cá em Portugal proliferam como cogumelos depois das chuvas de Novembro. São os EX, aqueles que foram relegados para fora da posição, mas que passam a sofrer do complexo do cadeirão, no qual se julgam permanentemente sentados e “andam por aí”.
Os Ex mantêm a postura, o trato, a circunstância de quem exerce o poder e já não é capaz de se ver na sua singularidade. Se não houvesse excepções como o Fernando Nogueira (candidato à sucessão armadilhada de Cavaco Silva) acharíamos e aceitaríamos tal situação com tal naturalidade que os dispensaríamos de conquistar a pulso qualquer nova posição, chegaria que “andem por aí”.
É isto que infelizmente acontece, o que faz que o nosso panorama político esteja permanentemente ocupado por múmias tipo “Marques Mendes” cujo valor intelectual nos dispensamos de qualificar mas que um dia chegaram a ministros porque “andam por aí”.
Nesta qualificação de políticos está-se a ver que podem entrar todos aqueles que “andam por aí”. De preferência com um cartão do partido.

Informação isenta Sim, aconselhamento Não

A hipocrisia é velha, assentou arreais há muito e agora debruça-se sobre o aconselhamento a propósito da I.V.G.. A teimosia consiste em querer manter na lei qualquer postulado que dê consistência à reiterada afirmação de que nós, e as mulheres em particular, não somos livres, somos incapazes de decidir pela nossa cabeça um assunto que só aos próprios diz respeito.
Com o pretexto do aconselhamento, o que se pretende é por todos os meios ter acesso à mulher que quer abortar de modo a diminui-la mais do que já derivará do problema que ela transporta e que só ela tem que resolver.
Enquanto uns, mais comedidos, reclamam um aconselhamento feito por médicos e assistentes sociais outros querem-no estendido a agentes religiosos e guias espirituais. Outros ainda reivindicam uma palavra para o pai quando isso à partida está posta de lado pela própria natureza da questão referendada, como por vezes a necessidade de abortar deriva mesmo de obviar a um possível conflito de paternidade.
Na realidade nada disto faz sentido. Além de qualquer mulher poder rejeitar abordar um tema tão exclusivamente seu com pessoas que lhe são impostas como interlocutores, seja a que título for, há o problema de não ser legítimo colocar a questão num contexto diferente daquele em que a própria pessoa se poderá questionar, isto é, não é legitimo transportar a questão para qualquer outro domínio em que se possa exercer ou possa implicar uma chantagem emocional, sentimental, religiosa ou cultural.
Quer isto dizer que a ser fornecida informação a uma pretendente à I.V.G. esta terá que ser isenta, não eivada de qualquer pressuposto que seja comparável àqueles procedimentos abusivos.
Quer isto dizer que a pretendente à I.V.G. só poderá vir a ser influenciada por informação ou apoio por ela própria solicitada em termos de confidencialidade dentro ou fora do processo que dará ou não origem a uma I.V.G.. Mas dentro do processo o apoio tem de ser exercido por literatura conforme e por profissionais obrigados aos deveres de respeito pela lei.
Quer isto dizer que o aconselhamento deve ser banido das intenções legislativas dado implicar uma insuportável superioridade moral e que, sendo os conselhos destinados somente a quem os pede, eles não devem ser considerados como aceitáveis, sequer como possibilidade, dentro do processo oficial conducente a uma possível I.V.G..
Fora do processo a pretendente é livre de qualquer iniciativa própria, sem coacção ou privação de liberdade que possa conduzir à desistência de abortar.

16 fevereiro 2007

O aconselhamento no pós-debate sobre a I.V.G.

No debate integrado na campanha o aconselhamento não foi assunto que tenha merecido qualquer destaque. No entanto a polémica pós-referendo à I.V.G. tem-se centrado à volta deste problema, sua possibilidade ou obrigatoriedade.
Sempre entendemos que deveria haver a possibilidade de recurso a apoio psicológico, o que é perfeitamente normal. Diferente é alguma mulher ser obrigada a enfrentar outrem ou numa possível consulta vir a ser questionada num contexto descentrado em relação às questões que a possam preocupar.
No fundo os adeptos do NÃO, já não conseguindo controlar a visibilidade das opções morais ou seja a sua pretensão de manter a hipocrisia de que existiriam orientações provindas de poderes fundamentais que seriam seguidos pela larga maioria da população, pelo menos perante os holofotes das televisões, que não na clandestinidade dos lares e dos abortórios, que isso não lhes interessava, pretendem desta maneira readquirir a capacidade de condicionar as mulheres através de uma intermediação não solicitada.
A pretendente a fazer uma I.V.G. tem tão só que ter em atenção os intervenientes sociais que fazem parte do seu mundo, conforme a valoração que lhes der e independentemente de qualquer solicitação que possa fazer em pleno uso da sua liberdade.
Todos nós podemos, e talvez devamos, fazer a propaganda da natalidade, da virtude que possa estar associada à maternidade, mas em abstracto e não com os objectivos de condicionar comportamentos concretos.
Deixem de ver o Estado como veículo dos vossos valores mais retrógrados e farisaicos. Os filhos (esqueçamo-nos do seu valor económico e moral) têm que ser desejados.

14 fevereiro 2007

Algumas razões da população de Germil

A constituição do Parque da Peneda-Gerez foi feita noutro regime e noutra época. Partiu do pressuposto que, integrando aldeias e freguesias inteiras na sua área e sentindo-se as suas populações plenamente integradas nesse ambiente, o Parque não ia alterar sobremaneira os seus modos de vida.
Mas este pressuposto veio a mostrar-se um erro colossal ao colocar um colete-de-forças regulamentar e policial sobre estas populações, tão mais que elas já anteriormente manifestavam a sua insatisfação, emigrando para o estrangeiro e para outras regiões do País.
Ao se tentar impedir as pessoas de procurar novos meios de vida, perante um mundo em permanente evolução, ao se privar as pessoas do recurso a determinados proventos, quando se vê os outros a recorrer facilmente a eles, está-se a tentar manter imensa gente numa descabida quarentena ambiental.
O Governo, a gestão do Parque, naquilo que é da sua competência, tem de mudar radicalmente de procedimentos. È evidente que por mais portagens que criem, e que ninguém quer pagar, não vão resolver o problema daqueles que lá vivem, porque, além do mais, estes têm a suficiente dignidade para se não deixarem rebaixar ao nível de uma reserva de índios americanos.
Têm de ser dados passos no sentido da conciliação dos interesses de todas as partes envolvidas porque, se não há problema em ficarmos sem os 109 votos dos habitantes de Germil, há problemas de cidadania, de aproveitamento de recursos, de igualdade de oportunidades.
O fundamentalismo não é bom conselheiro em qualquer domínio, mesmo que “só” no ambiental.

13 fevereiro 2007

"Os furos são positivos em termos pedagógicos e educativos"

Tendo sido estudante em várias épocas, em quarenta anos andei praticamente 40 % desse tempo a estudar, intermitentemente é certo. Passei por dois regimes políticos, vários sistemas de ensino entre o privado e o público, entre o primário e o universitário, conheci muitos professores, uns mais dedicados, outros nem por isso, outros faziam de conta.
È natural que dos furos não tenha uma ideia homogénea e tenha mesmo dificuldade em ter ideias que possa associar a cada um dos condicionalismos em que estudei. Nem pensei que viria alguma vez a debruçar-me sobre os furos escolares.
Mas vá de me tentar aproximar desses tempos e aferir se nos furos haverá mesmo algo de positivo em termos pedagógicos e educativos. Vamos ver o que descobri ou antes descobri que não ganhei nada com isso.
Talvez uns momentos de convívio mais pessoal, mais desligado dos condicionalismos do ensino e isso é manifestamente importante, mas também ganhei apertos no final do ano, matéria a recuperar para o ano seguinte, perdas irrecuperáveis, vontade de faltar às aulas seguintes, alergias a certos professores patéticos e desavergonhados.
Sim, àqueles professores para quem o furo é uma escapatória para as suas dificuldades, para a sua falta de valia, para a sua irresponsabilidade. Como a deste sindicalista que, tendo o Ministério conseguido com as aulas de substituição diminuir substancialmente o absentismo, tem o despudor de avançar contra, apelando ao apoio da reacção mais primária da juventude, a quem faltarão tempos livres.
Refira-se a propósito que uma das falhas no nosso ensino é claramente essa, a falta do ensino da gestão do tempo e em especial da gestão dos tempos livres.
Mas quem há-de ensinar isso aos jovens se é do lado dos professores que se manifesta a maior lacuna, sobra-lhes tempo para tudo, só sabem gerir as faltas que “podem” dar, relegam os alunos e as suas obrigações para com eles para um plano subalterno.

12 fevereiro 2007

Últimas conclusões dos resultados do referendo à I.V.G.

Para dar por findas as conclusões acerca deste referendo interessa ter em conta que em Portugal o Estado se não apresenta como agente fomentador do I.V.G., mas tão só como entidade que, solicitada a intervir num processo que até aqui decorria na mais pura clandestinidade, se prontifica a proporcionar condições condignas para corresponder à vontade da potencial mãe, sem descurar a possibilidade de a tentar inverter.
Destaquemos aqueles que tentaram fazer passar o Estado por promotor da I.V.G., e que, após a derrota do Não, se apressaram a reclamar um preço, a pedir para que o Estado pague às mães a quantia que gastaria se tivesse que pagar uma I.V.G.. Tal preço (500 €), e ainda por cima fraco, dado à maternidade é uma prova de cinismo e brutalidade.
Como despropósito que é, não é manifestamente por aí que se diminuirá o recurso à I.V.G.. Como acto cínico é errado “passar” à mãe um preço pela criança que possa vir a nascer. Mas sem este propósito e em abstracto podemos medir as implicações económicas.
As mulheres que têm filhos já representam um pesado encargo para a Segurança Social e para as empresas que quantificados representarão um valor incomparavelmente superior a esse montante reclamado mas tal não é razão para que o Estado vá deixar de aumentar dentro do possível o apoio que presta às mães. E as empresas terão que acompanhar este propósito.
Para a família o encargo ainda será maior que, por efeito das alterações ocorridas na economia, esse encargo perdura muito mais tempo. Mas o aumento da natalidade é mesmo um objectivo nacional e o Estado deve incentivar tudo o que possa contribuir para isso, sem estar a medir em cada momento os custos que isso possa implicar.
Numa sociedade livre, uma gravidez livre e assumida é condição primeira e mais importante para uma infância que cresça dentro das melhores condições. Cabe à família e a sociedade proporcionar-lhas e a todos pugnar para que isso aconteça.De todos se exige que de vez nesta questão se ponha de lado o cinismo.

Os resultados do referendo à I.V.G. em Ponte de Lima

Depois das Ilhas, de Viseu e de Vila Real foram no Distrito de Viana do Castelo os mais fracos resultados do SIM. E dentro deste o mais negativo tinha que ser em Ponte de Lima.
De qualquer modo houve uma melhoria do SIM de quase 100 % em termos absolutos perante uma manutenção da votação no Não. Mas num País que já vai vendo onde está a civilização, que não na hipocrisia, era de exigir mais.
Em Arca o Sim teve uma votação semelhante ao resultado nacional o que é de louvar. Na freguesia da Vila de Ponte de Lima também o Sim fez um bom resultado só perdendo por 5 votos. A freguesia que se seguiu foi Feitosa com um resultado acima dos 40 %.
Temos assim um voto urbano mais actualizado e moderno. Destaque-se ainda as freguesias em que o resultado foi superior a 30 %: Arcos, Arcozelo, Freixo, Labrujó, Ribeira, Santa Comba, que no geral também são mais urbanas.
Num grupo de 12 freguesias o voto Sim ficou entre os 20 % e os 30 %, portanto à volta da média concelhia: Bárrio, Cepões, Correlhã, Estorãos, Gandra, Moreira, Rendufe, Sá, Sandiães, Seara, Vitorino das Donas e Mato.
Num numeroso grupo de 22 freguesias, representando 40 % dos votantes, o Sim ficou entre os 10 % e os 20 % o que distorceu sobremaneira o resultado total.
Na cauda temos algumas pequenas e médias freguesias em que a média é claramente distorcida, mas que ainda assim representam 10 % dos votantes e em que a votação no Sim foi inferior a 10 %: Beiral do Lima, Boalhosa, Cabaços, Fojo Lobal, Gondufe, Poiares, Queijada e Serdedelo.
As conclusões são fáceis de tirar.

11 fevereiro 2007

Os resultados favoráveis de um referendo à volta do aborto

O povo, como povo votante, na sua superior clarividência votou Sim no referendo sobre a despenalização do I.V.G. Mas o mesmo povo, na sua maioria e também na sua superior clarividência, absteve-se, com a ideia assumida de que isto é assunto para os políticos. Foram eles que penalizaram o aborto, eles que o despenalizem.
Por si o SIM pretende dar credibilidade à legislação que se refere à organização da sociedade. As leis existentes mas que não são respeitadas e o Estado não levanta uma pena para as fazer cumprir, devem ser banidas e assim deve acontecer com as leis penalizadoras do aborto.
A pergunta até deveria ter sido não se se concordava com a despenalização mas sim se se concordava com o banimento, por ineficácia, dessas leis penalizadoras.
O SIM possibilita e obriga o Estado a fazer leis justas e equitativas que permitam responsabilizar quem as infringir e premiar quem as cumprir. É assim que deve ser. Tudo claro, sem a hipocrisia de ter na lei aquilo que se tem intenção de não cumprir, nem fazer cumprir.
Este referendo, que, contra a que será normal, não falava em legislar mas sim em retirar legislação, servirá de exemplo daquilo que não devia ter sido feito por essa falta de clareza, mas que, ao ser feito, possibilitou um maior esclarecimento daquilo que efectivamente estava em causa.
Esperemos que agora o Governo assuma as suas responsabilidades.
(Na imagem à esquerda a poluição no Rio Labruja em dia de referendo, ao centro um pescador de lampreia, à direita os namorados observam e descansam, presume-se, depois de já terem votado neste dia chuvoso)

10 fevereiro 2007

As garças e os infestantes

O primeiro motivo para esta foto é claro a presença das garças. Mas nós devemos ter olhos para tudo, para aquilo que gostamos, para o que gostamos menos, para o que nos é indiferente e para aquilo que não gostamos nada.
Então deixemos as garças descansadas, que elas estão tão só a tentar dar à sua subsistência um contributo calórico que apanhem desprevenido. O rio tem uma cor bonita mas não se iludam, se não é ilusão criada pela máquina, é ilusão criada pelo magnífico sol que esteve hoje de manhã.
Depois, mais ao fundo, temos a margem direita do rio cheia de erva seca, erva que resistiu às últimas (pequenas) cheias (que agora temos). A partir de agora virá erva nova, verdinha, mas que os pescadores dizem prejudicial, por ali se criarem pequenos lagos óptimos para as aves comerem os pequenos peixes, incluindo lampreias, que por lá se espalham.
Mas temos mais e isto é que é abominável. O nosso Rio, com as suas margens, encontra-se na Rede Natura 2000. Se não sabem o que é um infestante, uma árvore exótica que devia ser erradicada deste habitat é aquela que já começa a florir ao fundo.
Mandem-nas para o Sampaio do Turismo que ele aprecia para fazer a Festa da Mimosa.

O que nos espera depois da jardinagem e antes da pastorícia

Um político decidido ?


Quem me dera a vida de pastor
Saltar c’o rebanho rabinas
Ser destas serranias senhor
À noite compor sabatinas


Ter o rebanho enquadrado
Não me leva pouca canseira
A minha ambição passa ao lado
Desta infeliz pasmaceira


Tanto queria ser Governo!
Ao menos Vice-Rei do Norte
Já muitas almas apascento


Ilusão num desejo eterno?
Uma aspiração que é mais forte
Que o temor de perder assento.

09 fevereiro 2007

O que está em causa no referendo sobre a I. (V.) G.

(Publicado no jornal Cardeal Saraiva de 09-02-2007)
O referendo sobre a Interrupção (Voluntária) da Gravidez vai ter implicações para além do tema em si. Definitivamente, ou:
Se vai institucionalizar esta forma de um exercício profícuo da democracia, caso o resultado for vinculativo, isto é, votando a maioria dos eleitores, sinal de que estão conscientes da sua cidadania.
Ou não votando essa maioria e por ser a terceira vez em que ela se não atinge, o referendo ficará para sempre desacreditado, nos termos em que a Lei o define, as pessoas não vão mais acreditar nele, isto é, nos outros, enquanto pessoas dispostas a dar credibilidade a este processo democrático.
Porém o resultado terá as suas implicações próprias sobre um tema que urge clarificar e que, pela sua importância, só por si condicionará o comportamento das pessoas que são chamadas a votar.
Se muita gente, inclinada a votar num sentido ou noutro, se sente inibida para votar sobre um tema que sabe ter mais implicações morais do que acredite vá alterar alguma coisa em termos de prática, é necessário chamar a atenção que as implicações a nível social que só por si são suficientes para que nos sintamos impulsionados a intervir e a votar.

Afinal Campelo não gosta do nosso queijo

Ficamos perplexos ao ouvir Daniel Campelo, numa macia, quase meiga entrevista a uma canal de televisão do Porto, que ninguém vê e por este andar ninguém verá: Talvez porque poucos o estariam a ver, Campelo sentenciou que o queijo flamengo, incluindo o Limiano, não presta nem nunca prestou.
O termo é exagerado, mas nós já estamos habituados, não gosta e nunca gostou, está no seu pleníssimo direito. Agora dizer que um produto que durante quarenta anos representou condignamente o concelho de Ponte de Lima não tem préstimo é demais.
Em tempos até inventou que o queijo era feito do leite das vacas que pachorrentamente pastavam outrora por todo o sítio deste vale magnífico onde houvesse verdura, que isso é uma inocente mentira. Ao menos que confirmasse que é por isso que só agora o queijo não presta.
Não se pode é ser assim, descartar quando não interessa aquilo que se apreciou ou disse apreciar. Acima de tudo, quem pode comer bom queijo francês, não pode ter a sobranceria de dizer que um queijo apreciado pelo povo é uma matéria sebosa e que até é um dos sustentos da nossa agricultura.
Que bom amigo da agricultura!
A jornalista que o entrevistou pode ficar descansada que assim não vai longe, assim não vai ganhar audiências. Tanto mel, tanta doçura perante um político ardiloso faz com que se integre no tipo de jornalismo serôdio que, em vez da frontalidade, se limita a estender tapetes vermelhos e logo para autarcas que disso tanto gostam, mesmo que ninguém os veja nem ouça.

08 fevereiro 2007

Reverso de uma mesma medalha?

Salazar auto-glorificou-se como protector do Ocidente, como barreira à expansão do comunismo, elevado a fonte de todo o mal, como se Portugal fosse o único oásis de paz num mundo dominado pela barbárie.
Os velhos republicanos cada vez se mostraram mais isolados e incapazes de conquistar novas adesões. Muitos outros pensaram que seria melhor esperar pelo desenrolar dos conflitos no exterior para ver a influência que eles teriam cá dentro.
Muitos se foram desmoralizando e nem a euforia duma vitória sobre o nazismo durou o suficiente para estruturar qualquer oposição. Com a radicalização americana, Salazar pode resistir a uma queda que parecia inevitável, sobrevivendo quase orgulhosamente só.
Só os conflitos nas colónias acabaram com o mito da paz, que afinal vinha apodrecendo pelo próprio cerne do regime e levaria ao levantamento militar de 25 de Abril. Mas nem aí uma mistificação, que tinha durado perto de quarenta anos, acabou e Salazar pode vir a ser o Melhor Português.
Mas se Salazar criou um mundo à sua imagem, a oposição militante teve necessidade de sobreviver nesse mundo, de se adaptar a ele, às suas artimanhas e armadilhas. E de criar um outro mito que lhe desse luta.
Cunhal dedicou de igual modo uma vida a uma causa. E sempre, em qualquer situação, estava a fazer o contraponto possível ao ditador que, como tal, estava em posição privilegiada.
Lamentavelmente Cunhal aproveitou-se da clandestinidade para justificar a sua prepotência. Aproveitou-se dos deméritos de Salazar para criar uma figura fictícia que se contrapusesse em todos os aspectos ao ditador, facto de todo impossível, mas a que o povo se “deveria” render, por ele ser o representante mais audaz do seu sacrifício.
Esta renhida disputa pela eleição televisiva do Melhor Português é a manifestação de uma luta que enquanto de vivos foi heróica, enquanto de herdeiros foi patética, mas enquanto de mortos é caricatural.
Se tem sido difícil a Portugal desfazer-se destas margens tão apertadas para, como um rio, crescer livremente, ainda há na imaginação lusitana militante uma mitologia decrépita e ultrapassada.

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 15

Hoje não é por falta de habilitações que se não encontra emprego. Será sim por falta de habilitações apropriadas às exigências do mercado.Custou-nos a constatar que o Estado deixou de ser o empregador privilegiado em função de cujas necessidades eram criados os cursos e definidos os “curriculum”.
Não há dúvida que as Universidades Privadas deram outras possibilidades de adequar melhor a oferta à procura, mas ficaram-se pelos cursos mais baratos, de papel e lápis, que nem livros eram precisos.
Umas fotocópias, uns cursos reproduzidos por todos, uma diversidade excessiva, mas que por vezes só era aparente, para cursos que afinal tinham vastos troncos comuns.
As Universidades Públicas, no desvario a que aderiram para estar na moda, foram a reboque e há que criar cursos que muitas vezes pela designação só correspondiam a necessidades muito limitadas e temporárias.
Depressa a oferta passou a exceder a procura em áreas que sempre tinham apresentado carências. Mas em relação aos cursos que envolvem mais meios, saberes mais complexos, maior multidisciplinaridade, fechou-se as portas e limitou-se as entradas.
São os cursos que proporcionam mais privilégios, mais rendimentos, mais prestígio social, pelo que faz supor que tudo foi feito com conhecimento das consequências. Ao defender os instalados criou-se um grave problema social.
Tem servido de desculpa a defesa da qualidade dos cursos, mas essa qualidade também deveria ter sido defendida em relação a todos os outros cursos. A displicência com que é encarado o outro ensino só leva à criação de falsas expectativas e muita desilusão nos alunos e os empregadores.
Esta situação é generalizável a outros graus de ensino, em particular ao ciclo anterior, o secundário, no qual se presumiria já se prepararem profissionais para o trabalho, com alguma especialização. Também aí as apostas têm sido poucas e pouco apropriadas.Ao menos o reconhecimento, validação e certificação de competências não vai criar (nem falsas nem verdadeiras) expectativas a (quase) ninguém. Quem acredita nisto? Alguns. Mas a factura, o logro e a desilusão vão ser pagos por todos. A culpa vai morrer solteira.

07 fevereiro 2007

Poesia contra o aborto

Um coito contra o aborto


Já que o coito - diz Morgado
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;

e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.

Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! –

uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.


Natália Correia - 3 de Abril de 1982


Dez semanas contra o aborto


Um valente coito dado
Pelas duas partes a preceito
Podia dar um arruado
Houvesse uns óvulos a jeito


O útero tem mais juízo
De cada vez a regra é só um
Para a mulher nem é preciso
Que se renda a homem algum


Quando quer só o manda fazer
Pensa consigo longos dias
Dez semanas chegam de emenda?

Pelo desejo de um filho ter
Que um parto lhe traz alegrias
Acaba a aceitar a encomenda


Anónimo -7 de Fevereiro de 2006
*
Ninguém quer que haja abortos. O problema não reside aí, até porque hoje há uma baixa taxa de natalidade e portanto ninguém quer limitar os nascimentos.
O problema é que não se aumenta a natalidade pela via da eventual salvação de alguns embriões que por terem sido gerados inadvertidamente passarão a ser abortados.
Claro que se a lei não for alterada só não serão abortados aqueles cujas portadoras não tenham meios para arriscar e pagar a clandestinidade.
Mas se a lei for alterada, por efeito do período de dez semanas ( mas também em menos de metade em muitos casos) durante o qual se pode ponderar suficientemente a questão, é possível recorrer a aconselhamento e não tomar decisões apressadas.
O Sim permitirá tomar decisões livres e salvar embriões que na escuridão da clandestinidade continuariam a ser destruidos.

Uma moratória contra o Sim

Andam aí na baila uns argumentos novos postos a circular por quem quer que o voto Não vença no próximo referendo sobre a I.(V.)G.. Baseiam-se eles na afirmação de que, votando Não os do Não garantem que vão propor uma moratória que relegará qualquer possível expiação do crime de aborto, previsto no actual Código Penal, para a eternidade.
José Sócrates reagiu bem, que nenhuma vírgula será alterada na lei actual na presente legislatura por força de um hipotético Não no referendo. É aliás o que a lei lhe impõe, se for rejeitada uma alteração despenalizadora da I.(V.)G..
Logo os maquiavélicos comandantes da legião do Não saíram à estrada a fazer-lhe as acusações mais mirabolantes. Esta gente entende-se bem com as leis mas não pode fazer dos outros idiotas.
Não lhes interessa a clareza, a plena assumpção de direitos e deveres de cidadania, antes a utilização de toda a espécie de artifícios para que tudo fique na mesma, que o aborto se continue a praticar a coberto dos olhares e das estatísticas oficiais, protegido pela economia paralela e pelos perdões de sacristia!
Querem ser eles a perdoar individualmente aquilo que a sociedade já perdoou há muito colectivamente.

A adulação dos tiranos

Quem nos protegeu quarenta anos, quem? O Senhor Professor Doutor Presidente que do alto da sua sabedoria tudo via. Mais do que isso ele agasalhou-nos, livrou-nos da Segunda Guerra Mundial, do comunismo triunfante após a hecatombe nazi.
Reduzir a oposição a uns republicanos saudosistas e a uns comunistas destemidos mas limitados, foi a sua coroa de glória. Qual modernidade, qual circulação livre de ideias. Não só estas não devem ultrapassar barreiras bem definidas, como nem fazem falta ideias novas.
Havia que colocar as ideias republicanas numa redoma asséptica, obrigar a uma radicalização de posições para de qualquer modo justificar a sua violência, a sua rigidez ideológica, a sua perseguição até à medula familiar.
Elevou-se à máxima potência a reverência senhorial, a subserviência quase confinante com a apatia física e mental. Regressou-se às corporações da Idade Média, à prevalência da herança, tudo patrocinada pelo ilustrado filho de um pai caseiro. Pai lavrador, filho lavrador; pai moleiro, filho moleiro.
Delimitaram-se os campos para não dar lugar à inveja, à concupiscência, que os olhos comem. Nem intercâmbio de ideias, nem mistura de grupos sociais. Cristalizou-se a sociedade, as relações entre os seus membros.
Foi-se exercendo a prepotência, a arrogância, a violência, o suficiente que bastasse para obter bajulação, subserviência, servilismo. Trabalhou-se nos apoiantes fiéis a hipocrisia, a beatice, a mistificação até quase à perfeição, para conseguir a adesão pacífica dos incautos e dos mais sugestionáveis.
Com um trabalho tão bem feito durante quarenta anos, queriam ter um espírito livre, a consciência sem culpa de muita contribuição passiva e activa para que o nosso passado fosse este.Sem a alteração dos factores da auto-estima dos portugueses que ainda passam muito pela fantasia de um passado heróico e subestimam os feitos mais recentes de todo um período democrático, de que devemos ter algum orgulho, não esperemos outra coisa: Salazar é o maior!

Quem se destaca na pacatez da nossa existência?

Claro que a nós nunca ninguém nos venceu. Se uma monarquia heróica-cómica nos entregou a uma incipiente Espanha em 1580 não foi no campo de batalha. Depois a luta pelo domínio dos mares tendeu para os corsários ingleses e uma União Ibérica, que potencialmente teria pés para andar, deixou de ter razão de ser.
A aliança com os vencedores, eternos aliados na sua estratégia de dividir a Península, deu-nos alguma margem de manobra para irmos sacando do Brasil aquilo que pudemos. Mas, fartos de nos dar apoio, agora contra os napoleónicos, de aturar as novas inocentes loucuras em Africa, ordenaram-nos mais comedimento, que temos mais olhos que barriga.
O Ultimato Inglês que nos impôs o mapa cor-de-rosa e nos “retirou” um quinhão do que nunca foi nosso, constituiu uma tal bofetada no orgulho nacional, nas nossas pretensões históricas alicerçadas na épica Camoniana que monárquicos e republicanos, patriotas e internacionalistas se uniram criando uma onda de indignação, bem representada pela Portuguesa.
Com este passado ainda glorificado o que querem? Lutadores heróicos na Flandres, só fomos vencidos fora do campo de batalha pela traição inglesa que nos usurpou domínios coloniais, para afinal um século depois os entregar de mão beijada aos selvagens, que o nosso Salazar, supremo representante da civilização, não se deixou ir em conversas descolonizadoras.
Só Salazar tentou rumar contra a maré histórica e se isso parece patético para os outros, para nós foi um acto que deu continuidade ao nosso passado glorioso. Nós, tão pequenos, para um império tão grande, tão disperso, tão abandonado, fizemos muito mais do que podíamos, que ninguém nos pediu nada, mas nós estamos cá para alguma coisa.
Basófias, vaidades balofas, chamem-lhe o que quiserem, que ninguém como este beirão, cretino, pérfido e chantagista, tanto contribuiu para a nossa auto-estima, deixassem-nos estar neste sonho quimérico de sermos pobres, honrados e bons imperialistas, eternos derrotados, mas na secretaria.Salazar é o maior patriota, se por patriota se entender o que pela propaganda, pela coacção psicológica e pela chantagem emocional ele fez do povo português. Salazar é o obreiro e a obra e merece uma medalha, se merece!

06 fevereiro 2007

Não é para ter medo, é para ter espanto!

O Director de Produção Hidráulica da E.D.P. falou da necessidade de aumentar a produção de energia proveniente das barragens, pelo melhor aproveitamento dalgumas barragens existentes, pela construção de outras e pelo reaproveitamento da água através de bombagem quando a energia eólica tiver picos de produção desaproveitada.
Ainda não está em tempo de reavaliar o Côa, o Sabor sofre os seus percalços, as eólicas, essas vão de vento em popa. Tudo o que poder ser feito contra o efeito de estufa é bem feito, produzindo energias não fósseis, e as barragens tem mais influências, contribuindo por exemplo para a regularização dos caudais dos rios.
Segundo este Director da E.D.P. “Se não existisse a Central de Lindoso as povoações de Ponte da Barca e Ponte de Lima já teriam desaparecido”. Que exagerado! Mas era bom que analisemos os dados que constam da resolução do Conselho de Ministros nº. 27/2004 de 08-03-2004:
A barragem do Lindoso a uma cota 338 ocupa 1072 ha (dez km2) e armazena 390 hm3 (390.000.000 m3)
A barragem de Touvedo a uma cota 50 ocupa 172 ha (1,7 km2) e armazena 15,5 hm3 (15.500.000 m3)
Já se sabe que a barragem de Lindoso tem sido colocada em sobreprodução, talvez à espera de mais chuvas, e a barragem de Touvedo tem sido obrigada a debitar mais água do que aquela que consegue turbinar. Um desperdício, um jogar pelo seguro ou uma inevitabilidade.
Mesmo assim esse débito tem sido colocado dentro de limites aceitáveis para Ponte de Lima. Foram precisas duas más experiências para que as coisas tenham entrado nos eixos. Afinal aprendemos que quase toda a água das cheias vem de Espanha. Esperemos que todas as experiências já tenham sido feitas.Mas já viram que, se estiver em pleno enchimento, a barragem de Lindoso tem quase oitenta pipas de água para cada português. È uma riqueza que podíamos ter no Douro, por via dos seus afluentes, e desperdiçamos, inundando a Régua e a Ribeira do Porto, desnecessariamente.

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 14

Isto de sermos um País de mão-de-obra barata estraga-nos a nossa auto-estima. Nós, que nos temos pelos melhores do mundo, tanto Salazar contribuiu para essa presunção que provavelmente vai receber uma merecida medalha de Melhor Português de Sempre, somos tão mal reconhecidos, mesmo por alguns de nós.
Por isso esta indignação com as palavras daquele salafrário, assim o classificou o Daniel Campelo, que na China nos andou a vender como quem vende banha de cobra. Claro que não tinha nada que dizer, que essas coisas são para guardar só para nós, bem escondidas que nós não somos burros.
Nós queremos que venha trabalho bem remunerado, para que nos estamos a preparar com certificados e tudo que as nossas competências chegam e sobejam para embrulhar esses chineses terceiro-mundistas, uns ignorantes à nossa beira, que só são grandes em tamanho.
Eles querem vir fazer carros para a Europa. Que ridículo! Eles precisam é de carrinhos de mão de jardinagem que nós vamos ensiná-los. Ainda hão-de vir para cá, mas para aprender. Mas hão-de pagar bem caro, que cá nós somos bem remunerados para dar cursos, que nisso somos os melhores.
Se aquele Ministro fosse lá mostrar a nossa qualidade, já reconhecida, validada e certificada por cérebros altamente reluzentes, por doutores com teses tão transcendentes como “O papel da minhoca na agricultura saloia”, estaria bem. Para dizer mal já há cá muito quem diga.
Esses chineses têm muito a aprender connosco, trabalhem menos e vão tirando uns cursos como os nossos, que não dão trabalho nenhum à cachimónia, que nós temos que estar livres para apreciar os prazeres da vida e aparecermos nos concursos da televisão.
O mal do Ministro é que tem um certo ar de chinês. Trabalha muito e depois saem-lhe destas asneiras.

05 fevereiro 2007

Todas as escolhas tem algum ressaibo

O Melhor Português Que é afinal? Sim Que é, porque só após respondermos a esta pergunta estamos habilitados a identificar Quem mais terá contribuído com uma determinada característica para o bem nacional.
Ou, primeiro ainda, será necessário saber se esse alguém é aquele que mais a encarna ou aquele que mais a propagandeou. E este aspecto é tanto mais importante quanto a nossa vida se passou essencialmente no século da propaganda, da coacção psicológica, da chantagem emocional e nós temos de nos libertar dos seus efeitos perduráveis.
Calma ainda porque, antes de escolher a pessoa apropriada, será de precisar que, recaindo a escolha no melhor português, ele terá que ser aquele que mais bem deu a Portugal ou aquele que melhor assumiu os valores humanistas num quadro de progresso civilizacional.
Quanto ao nacionalismo não é reavivá-lo pôr a questão por esse prisma. É tão só mais prático, dado que pelo prisma universal ainda nada vislumbramos e por um prisma anterior à nacionalidade permanece uma incógnita.
Mesmo assim, como voto em D. Teresa para melhor Limiana de sempre, porque foi a fundadora de Ponte de Lima, votaria nela se fora caso de votar em quem não conseguiu fazer eventualmente o maior bem que nos podia ter acontecido, com a incerteza sobre qual, das que se puseram em litígio representadas por mãe e filho, a tese mais consistente.
Em relação ao bem universal, como é difícil falar em uniformização de comportamentos e de legislação, é impossível falar do fim das nacionalidades. Portanto é de não especular muito mais sobre isso e ficarmos com a noção de que estamos mais habilitados a escolher o melhor português e que este há-de ser aquele que mais bem nos proporcionou.
Recaindo a escolha naquele que mais bem teria feito a Portugal, não temos dúvidas em escolher Henrique, o Navegador. Há quem o considere o criador de todos os males, mas, embora tenhamos pago caro esse atrevimento, foi aquele que nos deu a ilusão de sermos “senhores do mundo”.
Como todos temos algum ressaibo e gostamos de o exercitar, escolhamos também o Pior Português. Aí não tenho dúvidas que o Rei D. Manuel I bem merece pois tornou aquela ilusão fugaz e que, com a Inquisição destruiu as raízes, atrofiou o caule e tornou negras as flores que têm constituído o nosso destino.

Salários baixos e solidariedade sindical

O Ministro da economia disse na China aos empresários chineses que podiam cá investir que os salários não constituem problema numa União Europeia em que eles estão abaixo da sua média.
A reacção primária foi de que já não chega estes que por cá andam que ainda estão a chamar mais chineses para nos explorar, aceitando de bom grado que esta situação de fracos salários se mantenha, que os nossos sindicatos são um atraso.
Mas uma reacção primária é o que é, tem de ser interpretada, que não lida simplesmente à letra. A atitude do Ministro está correcta, porque verdadeira, em relação à maioria dos nossos trabalhadores, e a atitude dos sindicatos, sempre prontos a entrar e a fomentar o choradinho nacional, é despropositada e infeliz.
Mais do que responsáveis pelos baixos salários, que directamente não são, os sindicatos são também os responsáveis pela discrepância existente no leque salarial português.
As Centrais Sindicais não funcionam como espaços solidários, incentivam pelo contrário os comportamentos mais egoístas. As Centrais Sindicais apoiam aqueles que conseguiram ultrapassar a média europeia e marginalizam os outros, sem espaço mediático para ter voz, aqueles que são atacados por todos à custa da falta de produtividade, de que são os menos culpados.
As Centrais Sindicais são sacos de lagartos, irresponsáveis, que se limitam a aproveitar os ventos, que andam sem rei nem roque. Cada um puxa para seu lado e aquele que mais consegue abocanhar é o melhor. Os outros que tratem da vida, que à falta de poder reivindicativo, vão à sopa dos pobres.
Quem diria a 25 de Abril que os grandes protagonistas do sindicalismo português seriam hoje juízes, médicos, professores, enfermeiros, oficiais de justiça, inspectores de finanças (estes que temos).
Os Órgãos do Estado, ocupados por tanta gente destas Ordens colaboram com as Irmandades de que são provenientes e delapidam a seu favor os bens postos ao seu cuidado.Os empregados do comércio, dos têxteis, do calçado, da cablagem, da construção civil, até mesmo os bancários, e até engenheiros e outros trabalhadores manuais ou técnicos ligados à manufactura foram relegados para a subalternidade sindical, uma espécie de parasitas indignos de receberam qualquer coisa que se pareça com aqueles gabirus, que em altos poleiros lidam nas suas cabeças com valores muito mais elevados.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana