18 fevereiro 2007

Os confrades da sarrabulhada estão distraídos?

Como há quinhentos anos a batata e o milho de maçaroca revolucionaram a agricultura, em meados do século passado o frango de aviário e o porco de pocilga vieram resolver o problema da fome e permitiram a disponibilização de mão-de-obra e o abastecimento das legiões das cidades industriais e de serviços.
O churrasco de frango e as fêveras no churrasco apareceram por tudo que é sítio, nas romarias e convívios mais diversos. O porco, que fazia parte da economia doméstica por vilas e aldeias do nosso País, tornou-se produto mercantil de baixo custo.
O sarrabulho que era prato “fidalgo”, que só há poucos anos era comercializado para bocas mais gulosas, tornou-se prato ao dispor de todas as carteiras. A matéria-prima outrora fornecida pelos nossos agricultores passou a vir até de Espanha, via Famalicão, a preços imbatíveis.
A origem já não é determinante e os problemas que agora se levantam são ao nível de controlo da qualidade e sanidade dos produtos. Quanto ao sarrabulho acresce que ele utiliza produtos primários mas também alguns transformados pelo que a sua confecção, manuseamento e consumo tem que ser regulamentados de modo a garantir o seu carácter genuíno e salutar.
(Trata-se das chouriças de verde, farinhotos, belouras e mesmo verde, cuja confecção descrevi).
A Confraria do Sarrabulho de Ponte de Lima, muito elitista, preocupou-se com as suas jaquetas, berloques e medalhas e aquilo que era urgente e necessário, a certificação do sarrabulho e de todos os seus componentes, deixou para segundas núpcias.Também a criação do bísaro poderá constituir preocupação mas será sempre um processo lento e moroso que não conflitua com o popular sarrabulho. E neste, seja qual for a origem dos seus ingredientes, é que está a galinha dos ovos de oiro.

2 comentários:

O talassa disse...

aqui estamos de acordo, a Confraria do Sarrabulho de Ponte de Lima serviu apenas para a fotografia. Quanto ao prato ser de fidalgos, não seria tanto assim mas pronto.

trigalfa disse...

Antigamente, por altura da matança, todos, mesmo os menos abastados, mandavam o "sarrabulho" aos visinhos para estes o cozinharem. Claro que esse não era o sarrabulho como hoje o conhecemos, que o sarrabulho à "Clara Penha" já existia mas só nas casas mais abastadas, em que se convidava os amigos para vir comer à mesa do "fidalgo", termo que tinha uma abrangência que ia para além dos titulares.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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