19 fevereiro 2007

Para que serve o Carnaval?

O Estado é essa estrutura maquiavélica, é o inimigo público número um que nos tira a plena liberdade de fazermos tudo o que nos aprouver e parece dar essa liberdade a todos os outros que dela não deveriam beneficiar no nosso altíssimo juízo.
Quantas atitudes malfazejas o Estado toma para connosco e que é feito do esperado bem-fazer? Talvez dar-nos o Carnaval que o, à altura, nosso Primeiro, aconselhado pelo rábula Marques Mendes, nos quis sonegar.
Não se lembraram que o povo, que tão pouco ri durante o ano, vá-se lá saber porquê, se não tivesse uns dias programados para dar largas à sua folia, estava tramado sem esse desopilar dos fígados.
Está bom de ver que o povo também aproveita estas ocasiões para malhar em quem exerce o poder, o que está certo, mas o problema é que assim nem por um momento saímos da realidade tristonha, faria falta alguma alteração na nossa maneira de a encarar.
Decerto que melhor fora que o nosso riso fosse menos evidente e mais contundente. Quando o Estado nos bate forte e certinho a maneira mais eficaz da crítica é o riso, muito diferente do habitual choradinho.
Decerto que aqui não se trata de dar razão a ninguém pois, mesmo quando na governação estão os piores, com as ideias mais esdrúxulas e com o olhar mais patético, é salutar o riso.
O choradinho é doentio, faz-nos pensar nas razões deste e daquele, na falsidade de muito dele, promovido como espectáculo televisivo. Com o riso, pelo contrário, não precisamos de nos preocupar com essas razões porque deliberadamente não estamos a formular sentenças, nem a pôr em causa a nossa moralidade.
Porque nós só nos rimos de caras, de pessoas de carne e osso, para atingirmos esse objectivo será sempre necessário exagerar algumas características, alguns aspectos mais controversos, sem que daí resulte o questionamento da honestidade e honradez de cada um.
O problema maior está em que nós só nos rimos de quem se põe a jeito, que daqueles que actuam nas catacumbas das nossas vivências não nos rimos nós.
Há pessoas que transportam na sua cara poderes ocultos e que não gostam de serem ridicularizadas, sequer de verem devassada a sua permanente máscara. E, se querem falar disso, não são mais honestos que os outros.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana