19 fevereiro 2007

Verdades, mentiras e pias mentiras

A verdade não é absoluta, salvo se conseguirmos identificar e quantificar todos os factores que influenciam a obtenção de um só resultado, isto é, neste caso atingimos uma verdade consistente, que para nós humanos tanto basta.
Na política mesmo esta verdade a que chamamos consistente é muito difícil de obter pelo que nos costumamos bastar para sermos modestos, e digamos também para sermos honestos, com tudo o que for a mais de meia verdade.
Digamos que o que nos satisfaz é que os nossos adversários tenham menos de meia verdade e que a nossa verdade seja suficientemente sólida para que não haja perspectiva pela qual ela possa cair abaixo da deles.
Se intelectualmente isto deve ser o inverso, na política é importante para nós que não seja fácil ao adversário renegar algumas das suas não verdades, ou seja, mentiras e acrescentar algumas verdades consistentes aos seus objectivos explícitos, de modo a não atingir algo acima da meia verdade.
Verdades assumidas, mentiras rejeitadas, haveria com certeza alguém capaz de levar a cabo a tarefa de nos governar obedecendo aos bons princípios. Mas além das verdades e das não verdades, algo mais há que perturba a clareza e honestidade que deveriam enformar a política.
As pias mentiras, afirmações cuja veracidade não é fácil de constatar e que pretensamente não fazem mal a ninguém, têm como característica principal serem produzidas com tal desfaçatez e engenho que a maioria das pessoas as toma como verdades ou então não as renega logo como mentiras, por não as considerar perigosas.
Os políticos que usam as pias mentiras, mentiras declaradas mas assumidas com desplante e disfarce estão cientes da dificuldade de os seus adversários terem um discurso afirmativo quando ficam amarrados a desmentir afirmações alarves e inverosímeis.
Um político sério deve preocupar-se mais com a sua verdade, com a sua preparação para produzir mais verdades, em, tendo hipóteses, pôr em prática aquilo que é válido face às suas certezas.Os políticos já só usam pias mentiras quando estão na fase descendente. Quando Daniel Campelo diz que o sarrabulho dá 1.500 empregos a limianos está a produzir uma das tais pias mentiras.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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