24 fevereiro 2007

O frágil equilíbrio de séculos

(Continuação)
O Alto Minho terá sofrido com a reconquista uma diminuição da pressão demográfica, que daqui terão partido povoadores para o sul. Com o País consolidado, factores negativos, como pestes e fomes, e positivos, como os descobrimentos, terão desempenhado um papel de atempado reequilíbrio.
Depois a batata e o milho de maçaroca terão contribuído para que durante séculos tenha havido uma grande estabilidade. A emigração desempenhou sempre o papel de válvula de escape mas raramente levou famílias inteiras. Devido à lei do morgadio eram os filhos segundos que quando necessário partiam à aventura. Nunca ninguém deixou atrás de si o deserto. A ligação à terra mantinha-se sempre por via familiar e pela “raiz mais forte”.
Entre os destinos o Brasil desempenhou sempre um grande atractivo. Os que cá ficaram foram-se defendendo, aproveitando todos os espaços disponíveis, desde a secagem dos poucos terrenos pantanosos à construção de socalcos nas encostas mais íngremes.
A agricultura nunca saiu porém do nível da subsistência. Não só porque não havia grandes aglomerados urbanos perto, como os excedentes eram sempre poucos e dificilmente agregados para ir para longe, como a própria troca só era ocasional e muito limitada. Todos procuraram sempre ter um pouco de tudo.
As tentativas já com Salazar e a sua Junta de Colonização Interna de pôr a nossa agricultura a produzir para fora da região foram um fiasco, veja-se as colónias de Chã de Lamas e Boalhosa em Paredes de Coura.
Havia artesãos nos pequenos aglomerados urbanos e dos misteres mais diversos, mas mesmo esses faziam com as suas mulheres e em simultâneo alguma lavoura nos arredores. O consumo não raro só se referia ao vinho.
Quase só os senhores das quintas podiam e tinham necessidade de vender e, perante o exíguo mercado local, procuravam vender para mais longe. O vinho terá tido alguma expressão mesmo antes da construção das adegas cooperativas.
À falta de dimensão eram os mercadores locais que faziam a intermediação e juntavam o vinho para alcançar as quantidades desejadas, vendendo a granel. Da mesma forma se tratava o milho sobejante mas este comércio era limitado a zonas restritas e para mercados pré definidos.
O gado que era essencialmente de trabalho, o gado pisco, com o aumento da procura de carne por parte dos grandes centros urbanos foi sendo trocado por gado galego e dado origem a uma grande classe de intermediários. O gado tornou-se sinal de riqueza e condicionou durante muitos anos a economia rural.
(Continua)

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Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana