20 fevereiro 2007

Ainda haverá argumentos para Salazar?

Corre para aí um argumento desculpabilizante de Salazar, que ele não é responsável único, nem primeiro, pelo nosso atraso. Claro que este argumento, se tem alguma razão de ser, não tem carácter absoluto, se não vejamos outros exemplos de países que chegaram a ter maiores dificuldades do que nós e nos ultrapassaram num abrir e fechar de olhos, como a Espanha.
Se com D. Manuel I e D. João III nos afundamos entre outras coisas com os martírios da Inquisição e dissemos adeus a uma evolução auspiciosa, se o ouro do Brasil foi um vislumbre enganador, se gastamos energias entre progressos radicais e retrocessos achincalhantes, se a República foi um desnorteio absoluto que auto apelava à ditadura, podemos dizer que Salazar só deu continuidade a uma fatalidade nacional de vivermos sós e desprezados, bastardos copistas mas incapazes de nos movermos como actores na confusão civilizacional europeia, esperando sempre que de fora viesse a nossa salvação.
Neste contexto Salazar elevou à máxima potência a fanfarronice nacional, como se nós nos pudéssemos sustentar de glórias passadas e como se, copiado o fascismo (¿facto historicamente tolerável?), nós não precisássemos de olhar para a evolução dos outros e de criar um enquadramento para o nosso próprio caminho.
Em última instância nós podemos dizer que, se Salazar nos fez tanto mal, teve para isso o beneplácito americano, que no seu voo para super potência, achou irrelevante não existir aqui democracia e permitiu por interesse geo-estratégico a nossa entrada na N.A.T.O..Aliás podemos assacar culpas a todos, que não aos Espanhóis, que em parte depois da sua guerra civil ficaram bem pior do que nós. Mas como as culpas não são para mandar para além fronteiras, reconheçamos que Salazar fez tudo o que não devia ser feito.

1 comentário:

Nuno Pereira disse...

Para que não pense que estou contra si, devo referir que neste caso estou completamente de acordo com o que disse.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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