29 fevereiro 2008

A dedicaçao a uma profissão a tempo inteiro

O ensino unificado foi aceite por muitas boas almas como uma forma de combate às desigualdades sociais que havia mas que se não eliminaram após o 25 de Abril. As escolas incentivaram o conformismo, a aceitação da mediania porque isso era uma forma de não passar por elitista, ninguém queria ser responsável pela diferença.
As classes poderosas mexeram-se, procuraram o ensino particular, procuraram as explicações, na realidade quase aulas paralelas, para que os seus filhos não fossem vítimas da bandalheira reinante. As classes desprovidas de meios conformaram-se, apelaram à força de vontade dos filhos, quando esta não chegou para vencer as dificuldades, viram entrar a desilusão e quiçá a droga nas suas vidas.
Perante um professorado que, na grande maioria, olha a prática do ensino como um part-time, exerce profissões liberais como engenheiros de construção civil, contabilistas, comerciantes, se dedica despudoradamente às explicações, os alunos estão desprovidos de meios de defesa e os pais incapazes de fazerem inverter situações desfavoráveis aos seus filhos.
Só uma acção persistente do governo é capaz de ir corrigindo estas situações, o que não é fácil perante a força paralisante dos sindicatos, sedentos de sócios para continuarem as suas acções, de protagonismo para justificarem as quotas dos filiados.
O governo tem que diminuir o tempo dos seus filiados que cada sindicato está no direito de utilizar para as suas actividades. O governo tem de ter uma política educativa aceite pela sociedade e adequada ao estado da economia que faça pôr em prática por todos os profissionais da educação. A igualdade de oportunidades não pode esquecer as diferenças naturais e a necessidade de diferenciação que a vida económica exige.
O governo tem que privilegiar aqueles que executam somente a profissão de professores, dispensando progressivamente aqueles que tem outras formas de rendimento. Uma profissão a tempo inteiro é uma exigência, que resolveria muitas das questões do ensino.

28 fevereiro 2008

Meneses e Nogueira olham um para o outro com a desconfiança de quem não sabe se se segue um beijo ou uma mordidela de víbora?

Em Portugal o ensino era um dos sectores que no 25 de Abril se encontrava em situação claramente mais desfavorável do que na Europa desenvolvida. Se houve um aumento quantitativo dos alunos e dos anos da sua escolaridade, a verdade é que no ponto de vista qualitativo nunca houve a definição de um ponto de referência nem qualquer significativo aumento qualitativo.
Após uma clara degradação inicial tudo que viesse foi entendido como ganho, sem nunca se ter avançado deveras. À medida que foram definidos novos patamares de escolaridade obrigatória, foram-se baixando os níveis de exigência. Os que clamaram por uma melhoria do ensino só se preocuparam na realidade com as suas condições remuneratórias.
O aparelho de ensino, a todos os níveis, desde os órgãos de planificação do Ministério aos órgãos de gestão das escolas, foram tomadas por uma pretensa vanguarda defensora das suas prerrogativas e que tudo fez para sabotar sub-repticiamente, ou quando necessário mesmo às claras, as ténues mudanças que os sucessivos Ministros tentaram implementar.
Os sindicatos não podem impor qualquer política educativa porque são uma só das partes e tão só funcional deste problema. A economia não pode contribuir tão só para o sistema de ensino e prescindir de ter algo a ver com ele. Aqueles que vivem do sistema não o podem gerir a seu belo prazer. Em todos os outros serviços da função pública isso é tido em conta e o ensino não pode ser diferente.
Para que o ensino tenha uma melhoria a nível global estas reformas ainda estarão longe de chegar. Mas sem um corpo lectivo disciplinado, organizado, obediente em relação ao princípio da responsabilidade política, que não fira os seus valores morais, sem uma máquina administrativa e lectiva bem preparada não há governo, nem vontade que resista.
O que sindicatos e PSD querem fazer em conjunto é uma sabotagem permanente. Àquele ar com que olham uns para os outros seguir-se-á um beijo ou uma mordidela de víbora?

Quanto mais este País estará sujeito a este espectáculo?

Filipe Meneses anda empenhado em criar problemas ao governo e qualquer questão lhe serve. Simultaneamente é a governabilidade deste País que ele está a pôr em causa.
Para muitos não haverá nada a perder e não há como experimentar, como dar a este aventureiro a possibilidade de pôr em prática uma visão política que ninguém descortina mas que terá o direito de advogar.
Se a Ministra da Educação cometeu erros, inclusive de querer resolver um exagerado número de questões ao mesmo tempo, o que permite alargar a base contestatária, não há dúvida que é da oposição que surge o propósito de confundir uma série de questões.
A Filipão agora só interessa ser do contra, convencido que está que ser radical é a única maneira de chegar a primeiro-ministro e depois vai ter o tempo todo do mundo para tentar resolver os nós que está agora apostado em criar. Filipão está apostado em fazer perder tempo ao País.
Filipão é um empata, que age sem convicção, que ziguezagueia ao sabor dos ilegítimos interesses que a acção do governo vai atingindo. Filipão, como político já há muito não devia ter lugar neste País, não fora a imprensa gostar do folclore que uma personagem destas proporciona.
Que se cuidem porque estas afinidades com os sindicatos comunistas não são casuísticas, antes revelam que intrinsecamente se trata de pessoas com muitas mais concordâncias no que respeita à maneira como desejam condicionar a vida da sociedade, actuando a níveis fulcrais como o ensino e a liberdade de imprensa.

27 fevereiro 2008

16 - Que política para Ponte de Lima?

O nosso passado pode ser um constrangimento para muita coisa, pode-nos influenciar o futuro consciente ou inconscientemente, mas está provado que não tem nada a ver com as nossas possibilidades de sucesso nesta ou naquela área de actividade, isto é, o nosso sucesso só está dependente da falta ou existência de tempo ou de condições.
Nos tempos da Idade Média, mais ou menos em todo o mundo, os filhos dos agricultores teriam necessariamente de continuar a ser agricultores e a tempo inteiro. Nos tempos de Salazar, mais ou menos em todo o País, mas particularmente em Ponte de Lima, os filhos de agricultores teriam necessariamente de continuar a ser agricultores ou trabalhar em actividades complementares, entre as quais se pode incluir a construção civil.
Nos tempos de Campelo em Ponte de Lima os filhos de agricultores já só podem ser agricultores em casos excepcionais e os restantes terão que ir necessariamente para as tais actividades complementares. A não ser que optem por uma actividade de certa forma similar da agricultura que é a jardinagem. Porque, e aqui está a razão pela qual falo em Campelo, a jardinagem foi colocada no seu tempo como uma profissão de sucesso.
Tudo o que seja criar beleza é meritório mas também o são todas as actividades mais práticas que tenham conjuntamente fins lucrativos. A beleza para ser admirada não necessita de ser dissociada da vida normal e enclausurada em jardins exóticos.

26 fevereiro 2008

15 - Que política para Ponte de Lima?

Na economia mercantil a que nós viemos todos parar, sem que muitos ainda saibam como, a tudo é atribuído um valor de mercado. Isto faz com que tenhamos uma comparação imediata entre o valor de uma mercadoria estabelecido aqui e o valor da mesma mercadoria numa outra região qualquer do mundo. Como ainda por cima a globalização ocorreu para muitos à mesma ocasião, foram surpreendidos pela existência de um preço padrão que é utilizado por todos como de referência.
Os efeitos da globalização chegaram cá com uma velocidade estonteante para aquilo com que nós estávamos habituados numa região em que os ciclos económicos seriam de quinhentos anos. O último ocorrera com a chegada das novas culturas descobertas na América, como o milho, o feijão, a abóbora e outras. Agora chegou apenas a notícia de que os cereais tiveram um aumento extraordinário na bolsa de Chicago e tudo pode mudar.
Será viável a agricultura com o fim de obter energia? Tornar-se-á compensatório voltar a velhas culturas? É de crer que não. Efectivamente os outros factores de produção pertencem à mesma linha e já estão a encarecer antes de se colher o cereal e a terra mantém nesta região do País as mesmas características que lhe conhecemos há décadas, agravadas com a pressão urbanística que se faz sentir nos sítios mais extravagantes.
Olhar para trás não parece ser seguro. Perdemos a observação daquilo que se passa à nossa frente, perdemos as oportunidades que se nos podem deparar nos novos domínios de actividade e desvalorizamos cada vez mais o nosso trabalho, a nossa capacidade de incorporar mais valias, o preço que nós temos o direito de exigir por nós mesmos.

25 fevereiro 2008

14 - Que política para Ponte de Lima?

Só existem duas formas de lutar pelo progresso. Uma passa por adquirir conhecimento, acumular dinheiro, cooperar, organizar, empreender. Outra passa por exigir que o Estado faça tudo, ensine, crie empregos, pague bem, dê assistência, dê mesmo cultura ou divertimento. Em Portugal quer-se sem comunismo isto que não foi possível obter com comunismo.
Nesta terra de retaguarda, historicamente resguardada de conflitos extremos, colocada à margem do progresso, que só muda por pressão insustentável da economia, que soçobrou perante a economia de mercado, tendo que procurar novos modos de vida, até existe dinheiro mas não sabe lidar com ele. Após a ostentação do ouro ou o seu esconderijo na arca, surgiram as promissórias e os certificados de aforro.
Nunca em Ponte de Lima se procurou mercado para os seus produtos para além da próxima curva da estrada. A Adega perdeu-se no meio das suas indefinições e desvios. A fábrica do queijo perdeu-se à míngua de matéria-prima. A salsicharia faz um percurso seguro mas muito concorrido. Os acessórios de automóvel são uma excepção, mas por natureza inconstante.
A pedra é hoje a nossa imagem de marca. Tudo indica que o poderá ser durante muito tempo. Mas o grande empregador é a construção civil e as obras públicas. O mercado galego é hoje o principal destino dos nossos trabalhadores. Amanhã não se saberá. Andamos pelo Algarve, Sines, Lisboa, Porto, Braga, Andorra, Paris, por toda a Europa, nada nos mete medo.
Empregamos os lucros numa casa própria e pomos o dinheiro no banco. Nada estudamos, nada organizamos, somos uns insolentes que pensamos saber tudo e que temos direito a esperar tudo feito.

24 fevereiro 2008

13 - Que política para Ponte de Lima?

Em Ponte de Lima, só pelo facto de alguém ser de Ponte de Lima, está desde logo desvalorizado. Nós desdenhamos de nós próprios, desprezamo-nos mesmo e essa já é a imagem que passa lá para fora. Até há uns anos eram só os Vianenses que a tinham, mas isso passava por ser uma simples rivalidade regional sem qualquer valor.
Há uns dois anos lançaram uma telenovela de nome Sete Vidas em que uma das personagens principais era uma descabelada caída em Lisboa e vinda de Ponte de Lima. Tinha todas as características de quem não vai além da mais iníqua vulgaridade. Também Ponte de Lima é apreciado como sítio bonito mas onde a própria natureza, pela sua exuberância, não favorece os autóctones.
Podemos dizer que imagens são imagens e cada qual que tenha a imagem que quer ter. Mas isto se visto em termos económicos demonstra que o preço que estão dispostos a pagar por nós está deveras depreciado. Viana do Castelo pagava-nos para sermos empregados de lavoura e empregadas domésticas. Lisboa paga-nos para sermos jardineiros, a reserva ecológica do País. Dá-nos relativo sossego mas fraco pagamento.
Não podemos exigir no todo nacional mais do que os prejuízos e os benefícios do desenvolvimento económico sejam distribuídos equitativamente. Se quem tem os benefícios não está disposto a pagar eventuais prejuízos de outros e pelo contrário ainda reclama mais avanços para compensar os próprios aspectos negativos que sofre, como sairemos nós desta marginalidade a que nos condenaram?
Era bom mas não poderemos querer só jardins e ter rendimentos de trabalhadores de indústrias complicadas ou de actividades que exigem a junção de muitas pessoas. Quem quiser progresso terá que se dispor a sofrer cada vez mais os seus impactos negativos.

23 fevereiro 2008

13 - Que política para Ponte de Lima?

Ponte de Lima sempre tratou de modo diferenciado os seus naturais e os forasteiros, que são sempre agraciados com uma benevolência que por cá se não usa. Os de cá já são conhecidos há muito, toda a gente sabe que eles não prestam, podemos tratá-los mal à vontade, o que não convém seja feito com quem nos visita esporadicamente ou se instala vindo de fora.
Em Ponte de Lima não é dada primeira, quando mais segunda hipótese, a ninguém. Ou é porque é filho deste ou daquele ou porque se não dá com o padre ou não sai da sacristia ou porque não estudou o que devia, o que ele sabe nem sequer interessa a ninguém. Em Ponte de Lima caminha-se da subserviência para a bajulação num instante. Em Ponte de Lima olha-se para o poder que emana, não para a alma que irradia.
Em Ponte de Lima para se ter uma espécie de auréola que cubra uma pessoa e de certo modo a proteja dos mal-intencionados é necessário ter algum grupo de pessoas arregimentadas para o efeito. Podem ser amigos, conhecidos, interessados num tratamento recíproco que lhe reconheçam as qualidades, que tornem virtuoso o seu trabalho, a sua vida, a sua dádiva.
Em Ponte de Lima só vingam os vingativos porque só querem que progridem os invejosos, que vençam os vaidosos e só estes o são. Em Ponte de Lima só se olha para quem detém o poder ou para aqueles que podem a ele ascender desde que com eles tenhamos uma relação de certo privilégio.
Em Ponte de Lima o poder ofusca, o brilho que dele possa emanar ofusca, os poderosos são bajulados, os humildes humilhados. Em Ponte de Lima quem não tem poder é fraco, é maltratado e tratado como subserviente.

22 fevereiro 2008

13 - Que política para Ponte de Lima?

Ponte de Lima com os seus 45.000 +- habitantes, mesmo que com uma grande dispersão populacional, também com uma unidade geográfica acentuada pela confluência e marcada pelas serranias à sua volta, não tem porém uma massa crítica que lhe permita assumir um papel relevante em qualquer domínio de actividade económica, nem sequer tem uma opinião pública consistente.
Daniel Campelo herdou um concelho, uma população resignada, talvez mesmo temerosa de um futuro que nem mesmo a maioria dos seus emigrantes perscrutaram lá fora. As actividades dos emigrantes raramente se dirigiram à avançada indústria, aos especializados serviços. Poucos terão regressado para trabalhar e os que o fizeram dedicaram-se de preferência ao comércio.
A população limiana tem que optar por correr os riscos de se integrar de pleno na economia de mercado e tentar elevar o valor da mais valia que a sua intervenção possa constituir ou resignar-se de vez a ter que emigrar permanentemente, trabalhar sem preparação por baixos salários, continuar a praticar actividades complementares, como a agricultura.
Daniel Campelo aposta nesta última opção até porque é a única hipótese de manter uma paisagem de certo modo equilibrada, único aspecto que lhe interessa para as imagens televisivas e dos homens grandes que por cá vão passando. Porque é evidente que ele continua a tratar-nos por homens pequenos, o que diga-se, não sei se será legítimo.

21 fevereiro 2008

12 - Que política para Ponte de Lima?

As Câmaras Municipais receberam muitas competências delegadas pelo poder central e que torna difícil fazer a comparação entre o exercício actual do poder autárquico e os exercícios anteriores, particularmente de há uns 15 anos para trás.
Também por isto, mas principalmente porque é o futuro o que mais nos interessa, todo o estudo e discussão se deve centrar sobre aquilo que deve ser feito independentemente da apreciação sobre o que já não tem cura.
Há dois aspectos em que é imprescindível ter uma boa perspectiva de futuro. A atracção de bom investimento com criação de emprego e o ordenamento do território com uma distribuição territorial dos equipamentos e aglomeração de recursos de modo o mais racional possível.
Todo o desperdício se reflecte na qualidade dos serviços prestados e no retorno ou eventual rendimento do investimento feito. O efeito de atracção só se consegue com a suficiente massa crítica que é tanto maior quanto maior a qualidade que se exige. O desperdício e a falta de gosto comprometem seriamente o futuro.
No mundo actual exige-se melhor ensino, melhor acessibilidade a todos os bens, melhores rendimentos e torna-se cada vez mais difícil inovar, corresponder à complexidade dos problemas para os resolver ou sequer para os encaminhar, compreender a economia como domínio em que o Estado tem tanto menos meios de intervenção quanto mais se lhe apela para que o faça.
A pouca exigência de hoje, disfarçada com muita baboseira e quando justa mal direccionada, pagar-se-á cara no futuro. Temos que exigir cada vez mais ao poder local, não o desculpabilizando em tudo.

20 fevereiro 2008

11 - Que política para Ponte de Lima?

A política em Ponte de Lima é mínima. Os actores políticos são mínimos. Houve um tal atrofiamento das faculdades de expressão de um pensamento livre, crítico e sem subserviência que levou à transformação dos actores políticos em marionetas.
Em Ponte de Lima não há política. As pessoas limitam-se a ficar satisfeitas por ter uns amigos nos órgãos de poder, quiçá lá um ou outro também gosta de se dar bem com a oposição. Mas esta limita-se a alguns tertulianos da Havanesa e a uma incipiente conspiração do Rio Lima.
O poder político autárquico efectivo está nas mãos de três pessoas que procuram e conseguem controlar todas as relações com os outros órgãos subalternos e com as forças económicas que se queiram implantar em Ponte de Lima. São Daniel Campelo, Vítor Mendes e Gaspar Martins.
Conseguem absorver, sem lhes dar na prática qualquer resposta efectiva, as reivindicações dos presidentes de junta, que desprezam se forem no presente ou tiverem sido no passado da oposição. A divisão administrativa actual com a exagerada dispersão de freguesias é favorável à sua manipulação vergonhosa.
Conseguem controlar o grande poder exercido pelos construtores civis, que mesmo quando não vêm os seus interesses satisfeitos, se não dispõem a procurar apoio na oposição, o que é normal noutros lados. Na verdade parece que os partidos também não sabem viver sem esses apoios.
O facto de nem neste sector, fonte de quase todas as corrupções e compadrios, haver grandes empresários residentes permite que a divisão do território seja congeminada possivelmente lá fora. Os grandes interlocutores são poucos e normalmente impõem-se por si mesmos.
O núcleo político no qual se discute a volumetria de construção e outros assuntos relevantes é diminuto e sólido, profissional e sério, não brinca em serviço.

19 fevereiro 2008

10 - Que política para Ponte de Lima?

O sector bancário é indispensável em qualquer economia de mercado em que a acumulação de dinheiro é exigida pelo nível de investimentos que se impõem. O sector bancário é indispensável em qualquer economia de mercado em que a intermediação entre depositantes e investidores tem que ser segura.
Mas o sector bancário, quando desregrado, é um sector rapinante, que quer absorver todas as economias particulares, extrair lucros de todos os empréstimos que se realizem, controlar toda a massa monetária. Da maneira como está representado em Ponte de Lima o sector bancário dá-nos um espectáculo deprimente de vermos um ricaço em cima de um desgraçado tirando-lhe da carteira os últimos tostões.
O sector bancário não investe em Ponte de Lima e não dá condições especiais a quem cá quer investir. A depressão que tomou conta da economia limiana só tem como justificação a sangria dos seus recursos que é feita pelos bancos, pelas distribuidoras de bens, pelos fornecedores de materiais e serviços.
Em Ponte de Lima só resta o rendimento mínimo, seja sob a forma de juros mínimos, empregos mínimos, margens de lucro mínimas, exportação de mão-de-obra de habilitação mínima. Só falta falar da política mínima.

18 fevereiro 2008

9 - Que política para Ponte de Lima?

Quanto mais desenvolvida economicamente é uma sociedade maior é o valor atribuído a um serviço. A matéria-prima, os utensílios utilizados, mesmo sendo muito semelhantes podem dar origem a um produto que é fornecido a um preço muito diferente. Isto não se passa na indústria, passa-se um pouco no comércio e mais no serviço de hotelaria. Quando maior a componente de trabalho humano e de disponibilidade de serviço houver mais caro este é.
Se verificarmos que o preço de um café pode quadruplicar em estabelecimentos do mesmo nível de exigência em diferentes países e mesmo duplicar dentro de um país como o nosso em estabelecimentos similares, concluiremos que é o nível geral da economia no território circundante que influencia estes termos de troca.
Quando se investe em serviços é nos meios mais desenvolvidos que isso se faz. Os craques da bola investem hoje muito em restaurantes mas não os vêm construir a Ponte de Lima. No entanto em Ponte de Lima é necessário que se coma e por isso têm que ser os autóctones a investir nesse sector, mesmo aceitando rendimentos mais reduzidos de que outros, aqueles que o podem fazer nas grandes cidades com a expectativa de ganhar mais.
Se já ouve um tempo em que havia procura de Ponte de Lima para investir em novos serviços a verdade é que hoje se verifica um retrocesso evidente. Algumas empresas fecharam as suas delegações cá. Outros retraíram-se. Perante outras hipóteses em cidades mais dinâmicas e em que o serviço tem outro valor esses investidores deixaram de pensar em para cá vir.
Vamos continuar a ter maus serviços porque, a não ser o sector bancário, ninguém mais vem para cá investir. E vamos continuar a ser economicamente deprimidos.

17 fevereiro 2008

8 - Que política para Ponte de Lima?

O sucesso das pessoas na sua vida depende de muitos factores e há muitos analfabetos que conseguiram reunir um grande património. Na construção civil, nos transportes, no comércio, na restauração, numa incipiente indústria se conseguem criar grupos económicos a partir de uma base em que a instrução não foi o factor determinante.
Hoje porém acredita-se menos nestes milagres e é cada vez mais difícil ultrapassar certas barreiras que se colocam no acesso a certas profissões e actividades. Se é certo que dinheiro chama dinheiro, não há dúvida que, se não houver know-how, se terão que encontrar os colaboradores certos para vingar na maioria das actividades que possam trazer lucros.
Hoje o valor de uma pessoa no mundo da economia mede-se pelo valor que através da sua actividade ou conhecimento é capaz de acrescentar ao objecto do seu trabalho. Se uma pessoa aprendeu, seja onde for, na escola ou na vida, a como tornar mais valiosa a mercadoria que lhe é entregue, merece e normalmente é melhor remunerada.
A tão fraca mais valia acrescentada em Ponte de Lima às mercadorias que por cá transitam ou se fazem deve-se muito à fraca habilitação da sua população. Não que uma malga de marmelada feita por uma doutora valha mais do que uma outra feita por uma campesina, mas sim se aquela conseguir dar-lhe uma pureza superior, o que em teoria estará ao seu alcance.

16 fevereiro 2008

7 - Que política para Ponte de Lima?

Só com a Escola Preparatória de Ponte de Lima, as salas de Telescola e a Escola Técnica, depois Secundária, de Ponte de Lima começou a haver possibilidades de acesso ao ensino público para a grande maioria da população limiana.
Numa altura em que a Escola Técnica de Ponte de Lima poderia começar a dar os seus primeiros frutos, a destruição do ensino técnico levou à uniformização do ensino. A quase todos os possíveis técnicos que frequentaram esta Escola se abriram as portas do ensino como mestres de trabalhos manuais ou oficinais e perdeu-se o seu objectivo inicial.
Mais tarde seria aberta uma Escola Profissional Agrícola que, perante o panorama de declínio da produção agrícola também haveria que repensar a sua função. Primeira derivou para as actividades, como a hotelaria e a gastronomia, de algum modo ligadas à actividade primordial, mas no presente a intenção é a integração de novas e distintas actividades no seu curriculum.
A um outro nível a Escola Superior Agrária tem os mesmos problemas e terá que se adaptar às novas exigências. A Universidade Fernando Pessoa, porque tem uma base alargada no Porto, tem feito uma adaptação mais fácil e rápida às exigências do mercado local, extinguindo e criando novos cursos.
Se analisarmos a empregabilidade das pessoas que saem dos vários ramos de ensino verificamos que é muito fraca se considerarmos os empregos mais favoráveis que potencialmente lhes poderiam ser facultados. Seria de exigir muito mais às pessoas mas seria de exigir muitíssimo mais aos potenciais empregadores.

15 fevereiro 2008

6 - Que política para Ponte de Lima?

Hoje Ponte de Lima é um concelho atravessado por boas vias de comunicação percorridas por centenas de meios de transporte, o que falseia um pouco a sua real actividade. Já se passa nos outros meios de transporte aquilo que vai ser mais evidente com o TGV: Vamos ficar a ver passar os comboios. Até os aviões para e de Pedras Rubras nos gostam de sobrevoar.
Teoricamente a nossa situação é privilegiada e na prática sê-lo-ia, não fora tudo ter o seu momento para ser aproveitado e isso não foi feito. Um porto de mar a vinte quilómetros, duas fronteiras a trinta e quarenta quilómetros, uma cidade mais poderosa a outros trinta quilómetros. No centro Ponte de Lima cujo papel deveria ter sido aproveitar esta situação e não se deixar absorver pela força atractiva desses pólos de desenvolvimento.
Haverá os seus culpados para que as coisas corressem como, no nosso tradicional pessimismo, sempre esperamos que viesse a ser. A inexistência de forças económicas poderosas, que não na área da especulação fundiária, impediu iniciativas que poderiam ter dado a Ponte de Lima uma centralidade decisiva nas áreas de serviços, de abastecimentos, de pequena produção.
As forças políticas, particularmente as que têm exercido o poder em Ponte de Lima, têm sido no geral favoráveis àquelas forças económicas que vivem da especulação fundiária, e isso também têm constituído um factor negativo na instalação doutras actividades, têm sido um entrave ao desenvolvimento.

14 fevereiro 2008

5 - Que política para Ponte de Lima?

Hoje Ponte de Lima é um concelho incaracterístico. A construção de casas nos lugares mais remotas e a maior altitude disfarça a desertificação que nessas áreas se está operando a bom ritmo. As freguesias serranas já quase não tem equipamentos de iniciativa privada e os de iniciativa pública seguem pelas mesmas razões o mesmo rumo. Mesmo assim só neste aspecto Ponte de Lima não estará tão mal como os outros concelhos do interior alto-minhoto.
Por outro lado na sede do concelho e nas freguesias limítrofes a construção vai de vento em popa e só os problemas no sector, que se detectam um pouco por todo o mundo, vão levando as pessoas a refrear a sua vontade de apostar nessa área como zona de habitação e de investimento, mesmo que não produtivo e só especulativo.
É verdade que não seriam expectáveis estes fenómenos, se bem que houve uma política municipal que lhes foi favorável. Dificultou-se a construção nas aldeias e deram-se facilidades na Vila mas contraditoriamente é a facilidade de transporte que aqui como noutras regiões tem levado à centralização. A única política municipal que poderia ter contrariado esta tendência seria o incentivo à criação de pequenos centros urbanos dispersos.
Desiluda-se quem pensa que tudo vai ficar na mesma ou que o Estado pode fazer tudo a gosto de cada um. Mas ao Estado, agora mais através do poder local, deveria caber controlar os excessos, usando racionalmente os seus meios, localizando convenientemente os equipamentos públicos, ordenando o território, desincentivando o povoamento disperso e favorecendo o povoamento ordenado nos tais centros urbanos de que se destacam desde já Freixo e Gandra, mas em que se poderia incluir mais dois ou três.

13 fevereiro 2008

4 - Que política para Ponte de Lima?

As pessoas mais activas de Ponte de Lima quiseram que os seus filhos estudassem mas era terrivelmente difícil, dispendioso, só tarde e más horas houve ensino secundário oficial. Só com a reforma Veiga Simão e a instalação da Escola Técnica de Ponte de Lima sectores mais vastos da população tiveram acesso à escolaridade que até aí era privilégio das capitais de distrito.
Os que puderam abandonaram a tempo a actividades tradicional da família e foram para outros sectores em especial o funcionalismo, cujas necessidades os residentes nunca conseguiram sequer satisfazer. Ponte de Lima recebeu um fluxo de pessoas de proveniências variadas para se ocuparem do seu ensino, dos órgãos da administração central cá estabelecidos, de certos serviços mais especializados.
O comércio estagnou, uma estratégia defensiva apoderou-se de quase todos os ramos de actividade. Numa certa fase o turismo de habitação ou quejandos pareciam constituir uma panaceia, já que a agricultura ia subsistindo à base de subsídios é certo, mas era o fundo de garantia para as outras actividades. A subsidiocracia instalou-se.
Os homens dedicados à agricultura tiveram sempre dois grandes escapes na emigração e na construção civil, que nos anos sessenta serviram mesmo para os que foram experimentando dificuldades nas suas tradicionais actividades.
Perante um presente incaracterístico e um futuro pouco prometedor, muitos viraram-se para o passado, deslumbraram-se com aquilo que sempre lhes tinha passado à margem, uma vivência com certa harmonia mas também com muita subserviência. Um saudosismo sem novas ideias tomou conta da intelectualidade e a política aproveitou-se disso.

12 fevereiro 2008

3 - Que política para Ponte de Lima?

A base da economia concelhia foi durante séculos a agricultura. Embora fosse uma agricultura de subsistência, que nunca assumiu um aspecto mercantil significativo, devido à pequena dimensão da propriedade, conseguia satisfazer as necessidades primárias de uma população pouco ambiciosa.
Sempre houve aquele tipo de actividades complementares como a moagem, lagares de azeite, alambiques, serrações, carpintarias, tanoarias, ferrarias, sapatarias, costurarias, alfaiatarias, construção civil e principalmente na sede do concelho havia comércio de tudo um pouco.
Embora estas actividades ocupassem muita gente nem sempre constituíam por si só a ocupação única das pessoas, que por vezes se dividiam sazonalmente ou mesmo no dia a dia por mais do que uma. Mesmo os empregados do Estado procuravam complementar os seus rendimentos.
A emigração sempre foi o escape maior para os momentos de crise. Na década de sessenta atingiu tal dimensão que passou a desempenhar um papel dinamizador mas sem que chegasse a impulsionar outras actividades, como seria desejável. Durante muito tempo os emigrantes ainda sonhavam voltar a ser lavradores, a dedicarem-se a um pequeno ofício ou comércio.
A evolução, a integração em espaços económicos mais vastos levaram à deterioração desta certa harmonia, à destruição dos pequenos misteres, sem que aqui se criassem alternativas significativas. O poder político limitou-se a consagrar o passado como se mesmo esse conseguisse ser mantido.

11 fevereiro 2008

Qual o papel de que Alegre anda à procura?

Manuel Alegre sabia que não podia criar uma tendência dentro do Partido Socialista. Manuel Alegre sabia que dentro do Partido Socialista, que ele acusa de governamentalização, não tem lugar relevante porque de forma acertada a actual direcção tudo tem feito para que o Partido não seja uma correia de transmissão do Governo, mas também nele não interfira inopinadamente.
Manuel Alegre sabia que a estratégia presidencial era difícil e correu contra outro dinossauro num papel caricato, mesmo que menos caricato o dele do que o de Mário Soares. Manuel Alegre sabe que os votos que lhe deram não resultam de qualquer ligação especial ao povo, qualquer compromisso consistente com o povo, mas de uma conjuntura atípica na política nacional.
Manuel Alegre sabe que o povo lhe não deve nada que não esteja já pago e mais que pago. Manuel Alegre sabe que não deve nada ao povo, o povo não o tornou fiel depositário de nenhuma ideia valorosa, não espera dele qualquer análise inteligente da realidade, embora constantemente ele se arrogue de um valor e de uma representatividade que não tem.
Manuel Alegre sabe que sempre seria um escape nas eleições presidenciais, mas que gostaria de ter desempenhado sozinho esse papel de cavaleiro solitário contra o terrível Cavaco Silva. Manuel Alegre sabe que Mário Soares o tornou num segundo escape. Também este está pago e bem pago e o povo já pôs de parte de vez, e ainda bem, os “D. Sebastião”.
Manuel Alegre sabe que se quer vingar porque estudou bem a figura que queria e não lha deixaram fazer. Mas Manuel Alegre anda permanentemente à procura da figura que melhor lhe assenta. Manuel Alegre vai pensar melhor a figura que vai encarnar, sem perder o seu ar aristocrático de homem das letras que tem relutância em misturas com a ralé.
Manuel Alegre só se veria bem encarnando qualquer figura majestática mas não quer arriscar tudo, não vá ela cair na lama, no escárnio e mesmo no ódio de todos os socialistas, não sei quem mais lhe possa dar algum valor.

10 fevereiro 2008

2 - Que política para Ponte de Lima?

Não vale a pena estarmos a discutir esta questão de sermos ou não a autarquia mais atrasada do País. Não valeria se a considerássemos uma questão de fé. Mas também não vale porque objectivamente o é. E não cairá os pergaminhos a ninguém por aceitar que assim é.
O nosso atraso é efectivo se tivermos em conta que a nossa situação geográfica é extremamente favorável, que temos mão-de-obra bastante, temos um coberto vegetal capaz de assimilar, disfarçar os efeitos negativos de algumas indústrias menos convenientes da área química.
O nosso atraso é efectivo se tivermos em conta os índices de aproveitamento escolar, a média da escolaridade dos nossos habitantes, a pouca preparação técnica do nosso tecido laboral, a insipiência, para não dizer idiotice, ingenuidade e a vulgaridade, mas a que não falta a vaidade, a arrogância e a sobranceria do nosso tecido empresarial.
O nosso atraso é efectivo porque grande parte de nós continua a ter de se deslocar para fora do concelho para angariar rendimentos para poder fazer uma vida com certa normalidade.
O nosso atraso é efectivo porque nos não podemos comparar com nenhum concelho que esteja pior que nós. As nossas condições, a nossa dimensão, a nossa localização, as nossas comunicações são incomensuravelmente melhores que todos aqueles com que nos queiram comparar.
O nosso atraso é efectivo e só o devemos a quem tem andado todos estes anos a vangloriar-se de um passado que inexoravelmente está condenado.
segue)

09 fevereiro 2008

1 - Que política para Ponte de Lima?

Estaremos condenados a ser a autarquia mais atrasada do País? Estaremos ou não? Tal depende da vontade das pessoas que serão chamadas a participar na vida pública limiana.
Sempre gostamos de viver de uma maneira um pouco diferente daquela que transmitimos aos outros. Se fosse feita uma análise séria às fontes de rendimento da população limiana verificamos que a principal é nos dias de hoje a indústria, mas não a do sarrabulho, como diz Campelo.
A área de serviço público, incluindo os serviços camarários e os da administração central, sofreu nos últimos anos um grande desenvolvimento, que terá necessariamente um resfriamento, e talvez um retrocesso, se a este governo se suceder um mais liberal e privatizante.
A área de serviços privados não teve o desenvolvimento que se imponha a um concelho com a situação geográfica privilegiada como o nosso, mercê das políticas erradas patrocinadas pela Câmara Municipal e do atavismo tradicional dos agentes económicos locais.
A indústria tradicional, afora a das pedreiras, estagnou e desapareceu mesmo, mercê do fim do ciclo económico dos produtos que constituíam a sua base. Reforçamos é o nosso papel de fonte de mão-de-obra da indústria da construção civil e obras públicas.
A hotelaria tem-se reduzido ao turismo de habitação e similares cujos resultados práticos, mercê também do gato que se quer vender por lebre, estão longe de corresponder às expectativas. Para cúmulo, além de se não desenvolver, este tipo de hotelaria tem condicionado a instalação de outros equipamentos mais acessíveis à clientela média deste País.
segue)

08 fevereiro 2008

Encontrar-se-ão árvores na floresta do poder local?

Autarquias locais, principalmente câmaras municipais, onde se presume que o poder está mais perto do cidadão, que se conhecem melhor os seus problemas, blá, blá, blá...
Na realidade onde pouco de significativo que interesse de imediato às pessoas é decidido e muitas vezes mal. Onde há mais corrupção, mais dificuldades se criam, mais favores e vinganças se fazem.
O poder local é a maior feira de vaidades e onde haveria menos razão para elas existirem. Todos os serviços são cobrados, tudo é pago, mesmo aquilo que pareceria uma dádiva da natureza. Paga-se a água, os jardins, a limpeza, o saneamento, as honrarias que se atribuem, os auto-elogios que se fazem, as promoções que se patrocinam.
O poder local, se estivesse mesmo perto de nós, não precisaria de trombetas e bombos, de palcos e palanques, de realçar a sua acção e principalmente de denegrir a inacção ou acção contrária dos outros, para fazer valer as suas razões.
O que de significativo se faz na acção autárquica raramente tem a oposição de alguém. O que são floreados, obras pomposas, gastos sumptuários pode e deve ser contestado por todos os opositores.
O poder central que está longe, que necessita de se afirmar, marcar presença nos mais longínquos espaços do território tem que se fazer ouvir. O poder local torna-se ridículo por adoptar as mesmas lógicas, que na realidade se não lhes aplicam.
No poder local a floresta é a promiscuidade, a árvore é aquilo que nós perseguimos há muito tempo.

07 fevereiro 2008

As brutas pedras da blogosfera

O comentário breve, mordaz, insidioso é, diz-se, o mais apreciado na blogosfera. Quem o publica entende-se como o mais inteligente, actualizado, avançado mesmo de todos os que andam por estas paragens e pelo mundo ao redor.
A tirada pitoresca dá uma ideia de um espírito aberto, capaz de brincar com coisas que não merecem ser vistas com a seriedade que muitos de nós, os chatos, lhes queremos dar.
Muitos ganham na blogosfera, no seu círculo de indefectíveis, o estatuto de infalíveis, de indivíduos capazes de, no momento certo, fazerem a apreciação justa, sentenciosa, inquestionável.
Na verdade agem como autênticas pedras cuja firmeza impressiona, mas só convencem os convencidos, só influenciam os influenciados, só perturbam os perturbados.
Na verdade são brutas pedras.

06 fevereiro 2008

O ódio cega, a companhia reconforta

Há quem use a blogosfera como se de um órgão de informação institucional se tratasse. Há quem a use para postar o seu comentário e fica à espera que muitos outros blogosféricos venham confirmar que têm o mesmo gosto em relação a qualquer assunto corrente. Há quem se abstraia e procure de certo contribuir para que os outros possam partilhar um qualquer desvario, bom ou mal, é do gosto de cada um.
O mais atractivo para mim é o comentário, a forma crítica de abordar os problemas, mas é aí que se encontra o mais negativo. Como seria agradável se tudo fossem comentários que trouxessem a sua janela de novidade, aquele olhar abarcador que nos elucida ou minucioso que, por mais pequeno que seja nos mostra o pormenor que nos falhou, de que nos não apercebemos, a que não demos a devida importância.
Mas há quem opine porque tem que opinar e mais nada. Não tem trabalho porque os modelos, as posturas e até as opiniões já estão encontrados há muito. Os factos sempre vão aparecendo ou então continua-se a bater no ceguinho, que é sempre quem está mais à mão. Às vezes basta uma palavra, uma expressão para exprimir um ódio que se guarda, uma vingança que se anseia, um ressentimento que se avoluma.
Este modelo permite às pessoas ter a sensação de que transformam o circunstancial e efémero em definitivo e quase eterno. É comum dizer-se que o ódio cega. Na verdade o olhar que se transmite, contaminado que está pelo agente transmissor, é sempre igual qualquer que seja o objecto que se está a ver. Estas pessoas já não têm esperança em que haja algo de diferente.

05 fevereiro 2008

Um olhar para lá do C.A.N.’2008

A simbologia é a criação distintiva do homem em relação a outros seres. Mesmo quando tentamos contactar com o corpo ou o rosto partimos do princípio de que ele simboliza algo ou um conjunto de “algos” que podem ser ideias, impressões, sentimentos, etc., etc.
No actual estado da civilização a ideia de dor é de tal maneira repudiada que, muito para além de não a queremos ver em prática, ainda renegamos tudo aquilo que a possa transmitir. Um símbolo de dor é já a dor, como que nos habitua a algo que queremos ver bem longe de nós.
O Campeonato Africano de Futebol que se está a desenrolar no Ghana, como todas as manifestações deste género, tem a intenção de nos transmitir alegria. Compreende-se que assim seja, mas não nos podemos esquecer que a dor anda muitíssimo perto.
E no entanto nada de significativo é feito para acabar com a dor que dilacera África. Parece que temos a noção que os africanos são insensíveis à dor e como tal não dignos de comiseração. Portugal tratou-os assim nas colónias, mas eles trataram-se pior quando de lá saímos.
Os símbolos de dor vindos de África, fossem crianças, mulheres ou velhos sofrendo, tiveram o seu tempo e aparentemente tiveram efeito na altura. No entanto já não saem do domínio das trivialidades.
Que será necessário fazer, que símbolo havemos de inventar, para que África seja vista na plena dimensão do seu drama civilizacional em que a doença, a guerra, a fome deixem de ser olhadas como seus males normais?

04 fevereiro 2008

Meneses, um homem com carisma?

O Carisma é aquilo que nós conhecemos pelos efeitos mas estamos longe de conhecer pela substância. Se não fora assim nós talvez pudéssemos ir buscar um pouco de carisma mas nos ajudar a triunfar.
O carisma não é só apanágio de religiosos e políticos e alguma dose se destinará a outras pessoas que assim podem ocupar diferentes lugares de referência. Muitas pessoas identificam os males do actual estado da civilização somente pela ausência de carisma naqueles que são essas referências.
Em particular na política às pessoas agradava-lhes que os líderes fossem pessoas com carisma. Além de formalmente se mostrarem democráticas, as pessoas como que se desculpabilizariam mais facilmente do que se tivessem que estar a explicar outros critérios que utilizassem nas suas escolhas.
A nossa política anda sempre à volta desta incógnita de quem é o dirigente mais carismático. Os activistas são aqueles que procuram ganhar adesões para o seu lado. Mas a nossa política faz-se maioritariamente pela negativa e assim os melhores são aqueles que mais conseguem roubar apoios aos seus adversários.
Na nossa política do contra há que destruir tudo que possa contribuir para a credibilidade do inimigo. Não interessa sequer ter-se um carisma evidente, espera-se que a sorte o traga e faz-se com que os outros o percam. Qualquer Meneses se pode lançar a esta tarefa indigna de não ser mais do que um aprendiz de feiticeiro na criação do carisma que lhe falta e na tentativa de destruição do que a Sócrates sobeja.

03 fevereiro 2008


Regresso à imagem?

Não.

Esta Obra de Mueck de 1998 retrata na perfeição o meu estado de espirito em muitas ocasiões desta vida já com os seus dias e as suas vicissitudes próprias.

Uma perspectiva mais central está no final deste blog substituindo a velha garça, não expulsa mas tão somente remetida para o seu próprio blog.

Isto é arte, não tirem conclusões apressadas.

Cuidado com a estratégia adversária

JN: Todos parecem ter encontrado as causas para a actual fragilidade do país em António Guterres. O pecado dele foi ter feito Portugal crer que poderia ser uma imensa classe média?
António Barreto: Não posso negar o que diz. No Governo dele tudo era possível, tudo era fácil e o que havia chegava para todos. Todos iriam ter tudo. Para o conseguir, ele nunca corta a direito, nem toma decisões. Habituámo-nos a viver à balda e à borla.
JN: Ficou tudo condicionado aí?
António Barreto: Uma parte importante; não tudo. Há outras coisas que vêm já dos governos de Cavaco Silva. A constante mais permanente nos últimos 30 anos foi a demagogia.
(transcrição duma entrevista de António Barreto ao JN de hoje)

Uma das razões para tanta compreensão de Cavaco Silva para com este governo pode estar aqui, nesta certeza que hoje temos de que António Guterres foi um mãos-largas, mas há erros cometidos que o foram já pelo governo de Cavaco e que Guterres não corrigiu.
Cavaco Silva está deixando que o presente governo de José Sócrates emende os mais gravosos esbanjamentos na época das vacas gordas, que retire, mesmo que a posteriori, do curriculum de Cavaco as falhas que terá tido ou que os cavaquistas cometeram em seu nome.
Nunca se sabe é qual será a atitude de Cavaco quando estes problemas estiverem resolvidos. Procederá como Eanes, Soares e Sampaio que foram mais rigorosos no segundo mandato em função dos seus objectivos pessoais?
Se é certo que Cavaco ainda se não livrou no seu partido da má moeda, há-de ter como fim neste primeiro mandato matar dois coelhos duma só cajadada. O Partido Socialista tem que estudar bem os timing de modo a não ser surpreendido por jogadas que estejam em preparação. Porque Cavaco não há-de querer ficar para a história como “compagnon de route” do P.S.
E os velhos marretas têm que ter juízo.

02 fevereiro 2008

Uma Presidência tricéfala?

Nem sempre os Presidentes da República assumiram posições muito claras principalmente nos seus segundos mandatos. Tiveram aí uma maior intervenção e mais tendenciosa, mais em consonância com as suas próprias ideias, assumindo nítidas divergências com os executivos. No primeiro mandato foram mais passivos, mais envergonhados de apoiar ou desapoiar ou então mandando mensagens sub-reptícias, encapotadas.
Inesperadamente Cavaco Silva tem assumido neste seu primeiro mandato uma intervenção de que se não estaria à espera face às suas opiniões quando era Primeiro-Ministro. O certo é que a sua actividade tem sido no geral bem vista, dirão alguns porque o Governo está a pôr em prática uma política mais próxima da sua ideologia de direita.
Esta forma de participar activa e opinativamente tem surpreendido os candidatos derrotados Manuel Alegre e Mário Soares, notórios abencerragens que no seu papel de vigilantes se não querem deixar ultrapassar. Lançam acusações vagas, pretendem abafar o papel nefasto que o actual Presidente estará a exercer e que o Governo inflicta na sua política de rigor.
Não se cuidam de fazer coro com os maiores imbecis da direita canhestra. Se continuarem a preparar assim o descrédito e a desmoralização da governação de Sócrates, se elevarem os seus interesses egoístas acima do interesse nacional, como infelizmente ainda há quem os siga, vão contribuir para entregar o oiro ao bandido que aqui tem um nome bem conhecido: Meneses, um suicidário sem Norte nem Sul.

01 fevereiro 2008

A ganância como estilo de vida

Uma das coisas que há uns anos mais chocava as pessoas era a ganância. Infelizmente parece ser mal que se terá espalhado tanto que deixou de ser mal visto. Pelo contrário há já forças que acham a ganância tão importante para a economia como o é a produtividade.
Um movimento no sentido de tornar menor a apetência das pessoas por se apropriarem em excesso, isto é, gananciosamente, daquilo que lhes está à mão, porque ninguém pode ser dono absoluto de nada, seria bem-vindo, mas creio que, mesmo com os altos patrocínios que se lhe referem, esta causa não alcançará facilmente os seus objectivos.
Já muitas personalidades se referiram aos altos proventos dos gestores de topo em todo o mundo, questão que em Portugal assume um aspecto mais escandaloso dada a disparidades de rendimento. Cavaco Silva já a vai abordando com certa persistência.
Mas foi José Sócrates que identificou claramente o vírus provocador, só que não chega, ficamos com a questão no domínio da ética. É necessário que na economia se diga que a ganância não faz qualquer falta, que as pessoas podem trabalhar com afinco e determinação quando têm outros valores como seus guias.
Estamos no domínio do rendimento das pessoas mas também valeria para as empresas que, com o fim de obter lucros desmedidos, exploram as condições de dependência do cliente em relação a si para o explorarem quanto podem. Aqui ganham os gestores mas também os sócios ou accionistas.
Como as empresas se desculpam muitas vezes com a necessidade de serem competitivas, de se defenderem da aquisição por estrangeiros, ainda mais vorazes do que elas, já seria bom que neste aspecto pessoal mais indecoroso, desleal, pecaminoso em qualquer perspectiva ética, se avance no sentido de sermos mais comedidos e solidários.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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Ponte de Lima, Alto Minho, Portugal
múltiplas intervenções no espaço cívico

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck
O mais perfeito retrato da solidão humana