31 janeiro 2007

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 11

Das quatro empresas a funcionar no concelho de Ponte de Lima na atribuição de certificados de competências adquiridos durante a sua vida profissional, duas dedicam-se a dar formação em jardinagem.
Neste desterro a que estamos parece que condenados, o trabalho, que não o emprego, que resta é tratar dumas hortas e duns jardins, que de quintas já é difícil cuidar.
Dificilmente haverá experiência de trabalho noutras áreas que careça de reconhecimento e pelo andar da carruagem também tão cedo não será necessário formação.
De uma terra de lavradores, passamos a uma terra de jardineiros. Mas só a Câmara Municipal de Ponte de Lima tem capacidade para empregar alguns, que a maior parte do trabalho que oferece vai sendo feito por formandos e brigadas florestais.
Quem tem uma relva em casa vai-se entretendo a jardinar ao sábado. Quem tem uma quinta, para não ver o dinheiro a escorrer por entre os dedos das mãos, vai deixando crescer o mato e as silvas.
Entretanto vamo-nos entretendo com o que temos. Vamos guardando as fotografias, já fomos manequins, e umas cartas profissionais desde tosquiador de ovelhas a condutor de carro de vacas.
Se necessário arranjam-se uns aventais de cozinha, roupa à lavrador, umas meias de linho, com fotografia a preceito. Não faltarão “documentos” que provem que nunca estivemos parados, que agora só se me dedicar aos concursos de televisão.
Ah! Passemos nós esta fase e vamo-nos candidatar a uma licenciatura apresentando um jardim a concurso do Festival Internacional, que eles vão ver que estas cabeças não criam só piolhos. Também têm muita minhoca.

Quem vai pagar para tratar do Campo

Imensa gente diz ambicionar viver num sítio calmo, tranquilo. E não faltam sítios destes neste País. Mas as pessoas também querem alguns benefícios da civilização e estes não podem ser colocados à porta de cada um.
Viver num sítio calmo e tranquilo é bom, é fácil quando se tem uma situação económica estável e poucas mais ambições a satisfazer. Isto é quando se queira prescindir do que é mais caro, para não desequilibrar o orçamento.
E depois as pessoas também têm que contribuir para os activos deste orçamento, principalmente quanto se tem muitos anos de vida presumível pela frente. Há anos criou-se a ilusão do trabalho pela Internet, mas ficou-se por aí.
Muito folgazão e político correu atrás da ideia mas a e-confecção, o e-governo, o e-emprego ficou-se pelas fábricas e pelos gabinetes, não chegou à mesinha de cabeceira.
Ciclicamente uns líricos voltam ao campo, agora já não com vacas e milheirais mas com jardins e borboletas. A dinâmica económica é que não vai nessa e os primeiros a perceber isso são os jovens que têm que migrar para outras bandas, à procura do pão.
Infelizmente vão só com a pouca preparação que conseguiram arranjar por cá. Mas aquilo que parecia impossível há anos, vê-se agora com clareza, muitos não vão voltar. Se estabilizam a vida por fora que os leva a cá vir?
Os que conseguem trabalho por perto para ir e vir diária ou semanalmente já são milhares e sujeitam-se à exploração, a trabalhar em condições deficientes, a dar cabo da saúde, a não ter segurança social, que depois ela paga na mesma, esperam eles.
Já estávamos habituados a construir muita coisa à conta das remessas dos emigrantes mas agora há que repensar porque muitos já não voltam e porque há mais solicitações, amealha-se menos.Não nos restam muitas saídas. Uma está fora de hipótese: Fazer disto uma reserva de índios foi projecto que caiu por terra. Uns não podem trabalhar pelo dinheiro da jorna, outros não podem pagar sequer essa miséria.

30 janeiro 2007

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 10

Todos sabemos que é fraca a qualificação dos portugueses para que o País possa ter uma actividade económica similar à de outros países europeus de idêntica dimensão. Mas não é o voluntarismo a forma mais adequada para encarar este problema de forma a conseguir uma resolução consistente.
A nossa situação deficitária não é coisa de que nos não tivéssemos apercebido há muito, só que a industrialização do País por via das actividades de trabalho intensivo, como os têxteis, o calçado, as cablagens levou ao adormecimento e ao agravar contínuo da situação.
Com a deslocalização e reconversão de algumas actividades depara-se-nos enfim um novo patamar de desenvolvimento para assumir do qual são feitas exigências a que dificilmente poderemos corresponder.
Isto devia ser encarado como um incentivo para a aquisição de novos conhecimentos mas é abordado com o voluntarismo e o facilitismo habituais tudo parecendo resumir-se a uma simples questão de validação de qualificações que já estariam adquiridas. O voluntarismo no geral só atrapalha.
Entre nós, uma ancestral cultura do desenrasque fugaz e pouco sólida e uma resignação doentia substitui o esforço na sentido do sacrifício, o estudo e o empenho na preparação contínua, no aperfeiçoamento constante.
Uma nova cultura tem de ser adquirida pelas novas gerações, tão cedo quanto possível, que o normal é a partir de certa idade só pensarmos em aproveitar os frutos cultivados, sem nos preocuparmos em deitar novas sementes à terra, ou plantar novas árvores.Só uma forte e persistente campanha de incentivos à melhoria das nossas capacidades de enfrentar os novos desafios que se nos apresentam pode contribuir um pouco para a mudança necessária, mas o esforço maior tem que ser dirigido à juventude, com uma nova maneira de encarar a formação.

O mal necessário dos políticos

Os políticos têm o valor que têm, como peças imprescindíveis no funcionamento da máquina estatal, no sistema herdado e resultado do trabalho de gerações, ou porque se opõe ao sistema vigente e o querem substituído por outro.
Os políticos sobrelevam muito o valor da sua contributo para o progresso quando se sabe que há uma intervenção muito diversa e a nível de várias áreas do saber, para que pouca é a sua contribuição. No entanto são eles que mais aparecem a defender ideias e muitas de duvidoso valor.
Os nossos políticos facilmente se tornam arrogantes e toleram essa arrogância mesmo nos seus adversários. Parece que funciona no seu seio o princípio de que a primeira incumbência que lhes cabe é atribuir valor aos outros, seja pela via do mérito ou do demérito e ele estão isentos.
O Estado é a instituição que encobre ou em que se desejam encobrir os políticos. Como assenta numa forte estrutura, consolidada pela experiência e pelo tempo, qualquer tentativa para inovar, para corrigir os seus erros mais gritantes, esbarra nos políticos de vários quadrantes, defensores do templo.
Só quando o edifício corre o risco de ruir, só quando é necessário encontrar novas soluções para problemas que persistem é que os políticos se humildam um pouco e abrem à inovação e aceitam alguma secundarização e desvalorização própria.
Só uma grande revolução nos conhecimentos, na tecnologia, no saber pode levar a que os políticos sejam obrigados a caminhar no sentido de dar corpo a uma estrutura mais leve e linear do Estado, com menos, melhor participados e eficazes centros de poder.
Os políticos funcionam no geral como forças de resistência e mesmo de bloqueio. Temem demasiado pela sua segurança e não assumem a política com o desprendimento em relação a outros interesses. Há necessidade de uma maior consciência e uma responsabilidade individualmente mais assumida.

28 janeiro 2007

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 9

Independentemente do auto-conceito e da auto-estima que dá à sociedade um aspecto granular e não incentiva a cooperação e a solidariedade na prossecução de um bem comum, há instrumentos conceituais, psicológicos e sociológicos que deveriam merecer maior relevância até porque a sociedade não vive sem o cimento que o reconhecimento e outras formas de estímulo de natureza social proporcionam.
Se é bom que nós nos sintamos bem connosco próprios, esta situação tem que dar origem a um reconhecimento do contributo que cada um dá para esse efeito. E ninguém gosta de ficar na sombra quando vê outros menos valorosos nas luzes da ribalta. Algum reconhecimento social faz sempre falta.
Não é de todo deslocado premiar quem trabalhou com afinco, se dedicou a dar mais do que lhe era pedido, acompanhou a evolução, preparou-se para não ficar de fora do progresso, se interessou por outros domínios que não só os de natureza profissional, está apto e tem vontade de continuar.
Mas ser necessário procurar nos caixotes que estão no sótão as medalhas do Jogo da Malha, os cartões de sócio do Clube de Caçadores de Borboletas, e de Jogadores do Espeto, as gazuas de abrir portas, as gaiolas de agarrar canários, as armadilhas de apanhar pássaros, isso é que não é de todo aceitável.Por isso é dispensável o reconhecimento, validação e certificação que obrigam a mexer nas teias de aranha. A sociedade, por mais injusta que dela queiram fazer, há-de ver mais longe do que isso e, se é de trabalho que ela precisa, é pelo estudo que se deve começar.

Os benefícios do micro crédito solidário

(Publicado jornal AltoMinho de 28-12-2006)
Esta história também podia ter como titulo “O azar de uns é a sorte de outros”. Efectivamente foi após o nosso amigo António Melo ter sido espoliado do seu instrumento de trabalho, a caixa de engraxador, que houve logo quem se lembrasse de que esse negócio, de certo modo desaproveitado pelo António, podia ser interessante para fazer uns trocados.
Que com certeza se o António vier a recuperar a sua caixa terá igualmente lugar. O episódio do desencaminhamento da caixa serviu sim para que certas pessoas, que nada tinham a ver com ele, soltassem a célebre palavra “Eureka”.
Juntou-se um grupo, cada qual contribuiu com o que pôde e eis que surgiu uma caixa nova, brilhante, esmerada, apetrechada com o que de mais moderno há nesta arte milenar de engraxar os sapatos dos outros que, lembrem-se, é bem diferente daquela outra em que alguns são artistas: o lamber das botas a alguém.
Ver Atigo completo em http://trigalfa-publicado.blogspot.com/search/label/AltoMinho

26 janeiro 2007

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 8

Mais do que alimentar auto-estimas balofas era importante reconhecer a nossa ignorância, que por aqui não vinha mal ao mundo, pelo contrário.
Antes do 25 de Abril o povo miúdo, desculpem-me a expressão, se lhes fere a sensibilidade, que, para mim, é a que mais se coaduna para o distinguir do outro restante, que não quer ser povo só porque é do graúdo, o povo miúdo, digo eu, era mentalizado, porque pequenos eram os seus horizontes, a considerar-se o melhor do mundo, valente quanto bastasse para vencer exércitos dez vezes superiores, esperto que chegasse para enganar qualquer um, por mais experiente que fosse, no engenho e na arte.
Este povo miúdo já alargou bem os horizontes, já vai e vem para as Caraíbas, já ajuda a alimentar espectáculos mediáticos nem que seja pela televisão, mas falta-lhe um brilhozinho nos olhos, a alegria de reencontrar um destino superior que lhe estaria destinado, um crachá que possa mostrar a todo o mundo, que ninguém o venha cá rebaixar, mandem mas é dinheiro.
Deite-se a ignorância para trás das costas, envernizem-se os “pin”, as medalhas, as taças, a fivela do cinto, os ilhós dos sapatos e vá de proclamar, esconda-se o suficiente a deficiente qualificação, a fraca valorização e esmere-se a certificação com uns dourados e floreados no diploma e, digo de novo, vá de proclamar bem alto: Somos os Maiores!

É mais agradável falar de Natalidade

(Publivado no jornal Cardeal Saraiva de 26-01-2007)
A discussão sobre a despenalização do aborto é daquelas que após a decisão do referendo estará ainda por concluir. Não sendo agradável, infere ainda de muito cinismo e superstição. E todos estão mortos que chegue o dia da consulta, que depois tudo se esquecerá.
Ninguém se quer chatear e vai dizer tudo o que pensa. Muitos votarão sem estar convencidos. Talvez à última hora surjam argumentos novos, do género tentar apanhar os outros desprevenidos, de surpresa. Não se podem gastar já todos os trunfos e alguns só mediante o desespero virão à baila.
Para já os argumentos carreados para a discussão, sejam pró ou contra, são estanques porque já têm as evidências necessárias, e não mais que isso, espera-se que as deixem intactos e que as pessoas só tenham que continuar a vê-los assim, a pesá-los e dar-lhes a importância relativa.
Há uma tendência para reproduzir a mesma argumentação de há anos, alguma já com séculos, sem curar de ter em conta os progressos na ciência médica e nas ciências humanas, a influência que eles já exercem na vida corrente, isto é, sem uma nova abordagem civilizacional.
Quem quer que um lado ganhe cala os novos argumentos do outro. Insiste nos do seu lado, nem que sejam absurdos e incoerentes com qualquer política global de natalidade. Que isso é para depois ou para nunca mais.
Impõe-se já uma discussão aberta, que tenha por base todos os aspectos do problema e todos os papeis que as pessoas são chamadas a desempenhar durante a sua vida, não só a solução de um problema imediato.
Assim é necessário ter em conta as outras formas de reprodução existentes ou que se adivinham, o papel da genética no presente e no futuro, as diferentes formas de assumir a maternidade, de reconhecer direitos, deveres e da sua eventual transferência mesmo antes do nascimento.
É necessário que o Estado mostre que não sendo importante o embrião a abortar, dá o devido relevo e defesa aos filhos que nascem. É indigno não evitar que a violência se exerça sobre filhos indefesos, que é manifestamente mais perversa e nefasta do que eventuais abortos que não resultem da mesma.
Não repugnará a ninguém a esterilização forçada, decidida judicialmente, de quem, pai, mãe ou os dois que cometam iniquidades como as que se têm visto.
Já para quem pratique aborto, só por esse facto, de modo algum se justifica qualquer medida punitiva. O aborto só era penalizado devido à política de natalidade e pelo aspecto moral já que permitia encobrir realidades que sempre existiram e dar alguma credibilidade ao casamento ou a outras instituições existentes.
O aborto é um acto isolado que nem precisa de ser conhecido, aceite e acordado pelas duas pessoas que é pressuposto estarem na sua origem. É irrelevante o conhecimento de quem é a segunda pessoa, impossível se a primeira não quiser, mas seria esse conhecimento que permitiria tratar psicologicamente a questão, enquadrá-la em alguma forma de incentivo à natalidade, puder resolver o problema doutra forma.
No passado a maioria dos abortos só se fariam para não destruir casamentos ou, que fossem, uniões de facto, para não causar perturbação social, escândalo público. Ainda hoje estes são motivos de se querer o aborto livre e, já se percebeu, secreto. Quando o homem tem a situação mais estável o aborto é um acto injusto, penaliza eventualmente a pessoa menos culpada.
Embora os direitos e deveres de maternidade já hoje se não possam definir partindo do casamento ou até da família como sua base fundamental, no imaginário social ainda é dada grande relevo à sua defesa e a família, mesmo informal, continua a ter grande importância.
Com o casamento pretendia-se garantir uma grande estabilidade à família, o que hoje é na prática quase irrelevante. Porém à família é dada quase a mesma importância de outrora, mau grado os legisladores se vejam em dificuldade para acompanhar as suas diferentes formas de organização.
Pode-se também discutir se, caso se não trate de um problema de saúde, não havendo qualquer prejuízo anormal para a mulher, o aborto não será somente um problema social, resultante de novos valores prevalecentes.
Pode-se questionar quando a gravidez tiver resultado de adultério ou de relações livres não punidas na nossa sociedade, se o Estado deve “financiar” deste modo esse tipo de relações, dando cobertura àqueles novos valores.
Pode-se igualmente questionar quando, além do embrião em causa, haja um embrião de uma família a constituir-se, mas que de momento não está em condições de assumir a maternidade, se o Estado não deve “investir” numa futura maternidade responsável, destruindo o primeiro embrião.
Em muitos casos o aborto será a garantia de relações estáveis no casal envolvido. Mas não haverá dúvida que na maioria só dá garantias a uma relação paralela, por mais legítima que ela seja em relação à que deu origem à necessidade de abortar.
O Estado não tem que resolver todos os problemas sociais, fora assim e nada teria interesse, e a instituição do aborto livre não pode levar a que se vejam com bons olhos todos os abortos, independentemente da sua natureza terapêutica ou não, familiar ou não.
Do que não há dúvidas é que se o aborto for a solução para problemas de saúde, mesmo que de natureza psicológica, a sua legalização implicará que, à semelhança doutros actos médicos, a sua prática seja tendencialmente gratuita.
Já noutros casos, nos tais não vistos com bons olhos, é razoável colocar dúvidas. E também essas dúvidas são para colocar agora, senão quando se discutirão, que de cínicos e hipócritas está o mundo cheio. No dia seguinte a uma eventual vitória do Sim, à boa maneira, todos, incluindo os que votarem Não, reclamarão tudo de graça.
Nestas questões há sempre quem tenha definido linhas farisaicas de pensamento e relegue deveres e responsabilidades para trás das costas, fingindo que os direitos de uns nunca põem em causa direitos de outros.
Era importante que o Estado garantisse que neste caso não põem e isso até seria favorável ao Sim. Mas também que esclarecesse:
Que não é o uso que do sexo se faz que está em causa.
Que direitos e deveres podem estar em causa em relação à maternidade.
Que sistema vai integrar o tratamento da interrupção de gravidez.
Que vai por cobro àquela violência que se exerce sobre os filhos já nascidos, que choram, que apelam à sociedade que lhes dê a lealdade que não recebem dos pais, ou doutros assumidos responsáveis, actuando de forma implacavelmente justa para com quem deles abusa.

25 janeiro 2007

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 7

Há anos, mas as coisas não terão mudado muito e podia talvez ser agora, um amigo meu, professor de Matemática, ou disciplina afim, de dois ciclos de ensino, me contou um favor que tinha feito.
Uma senhora, em representação da família, dirigiu-se-lhe, que o menino tinha que passar de ano. A família nunca acompanhou seriamente os estudos do filho e este andava já a patinar no 9º. ano e a ficar para trás em relação aos amigos. O que era um grande drama lá na vizinhança.
Era só um empurrão, que a razão acho eu que era ele não poder ter três negativas. Que o rebento se iria dedicar a outra vida, que para aquela estava visto que não tinha jeito e quem lhe podia dar um grande jeito era o professor.
Ou porque as saídas são poucas e a idade, as habilitações e a preparação para a vida não são nenhumas, no ano seguinte vá de se colocar de novo na mesma escola no 10º. ano.
O meu amigo surpreendido perguntou-lhe porque tinha mudado de ideias. Que tinha sido a família, que assim teria melhor preparação para o acesso a uma dessas Universidades, nem que fosse das rasqueiras.
Mas que o principal era que a família já não suportava ter um filho que não conseguia ombrear com os seus colegas, porque entendiam que, se na vizinhança eram todos “doutores”, ele não podia ficar abaixo de bacharel. Se este Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências que vem aí em novos moldes ou que vai ficar como está, fico sem saber, é para resolver estes problemas, que nos venha melhorar a auto-estima, que as escolas se sentirão cada vez mais desmotivadas.

A nossa Ponte Romano/Medieval não é uma maravilha?

(Publicado no AltoMinho de 19-01-2007)
Dos 793 monumentos nacionais sete peritos seleccionaram os 77 mais bonitos e de maior significado segundo a organização deste evento - http://www.7maravilhas.pt/.
Numa segunda fase um Conselho de Notáveis determinou quais são as 21 pré-maravilhas que estão a ser sujeitas ao voto popular para eleger as 7 maravilhas de Portugal.
A nossa Ponte Romano/Medieval resistiu à primeira peritagem, ao primeiro embate, à primeira selecção. Já quando o Conselho de Notáveis foi escolher as tais 21 pré-maravilhas deitou a nossa Ponte por água abaixo.
Protesto. Primeiro porque há um excesso de monumentos do mesmo tipo, de que seria fácil escolher menos quantidade para a selecção final.

24 janeiro 2007

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 6

Quando o Governo se entusiasma, do povo uns batem palmas, outros falam em surdina que não querem ser desmancha-prazeres e outros ainda calam a sua inquietação, que havemos de fazer? Calarmo-nos também?
Nós, a alma lusitana, não gostamos que se coloquem questões prévias. Aquilo que nos dá prazer é estarmos expectantes, esperando que tudo descambe para um abismo e depois desancarmos à maneira, naqueles que entretanto se safaram à fartazana e se riem à socapa ou naqueles de que a estupidez delirante se apoderou, que ela nunca se reconhece em nós.
Quem tem razão antes do tempo é desprezado. Quem procura alertar para que as coisas se não façam levianamente é olhado de soslaio.
Muitos não gostarão que se coloquem questões prévias porque a resposta já se adivinha pelas experiências anteriores. Entusiasmados com a continuação do regabofe nacional não querem ouvir Velhos do Restelo.
Claro que se está a falar dos novos programas de formação, reconhecimento, validação e certificação de competências, de que se quer fazer a solução para a melhoria das estatísticas da qualificação dos trabalhadores e, como consequência, para um salto necessário na competitividade da nossa economia
Também se pode dizer que nós, ao limitarmos ao mínimo a mortalidade infantil, trabalhamos para as estatísticas, que há uns anos nos deixavam na cauda da Europa e que agora se trata de trabalhar também para as estatísticas mas da educação.
Trabalhar para as estatísticas não é de todo incorrecto, o que interessa é a aferição final dos resultados obtidos. Quem fará esta aferição?

Poetas havemos todos de o ser

(Publicado no jornal AltoMinho de 23-01-2007)
Insidiosamente a doença e a morte vão provocando o seu desgaste na juventude de hoje. Se esta se mostra mais vulnerável que noutros tempos é porque hoje há comportamentos de risco que estão ao alcance de todos e não por uma especial irreverência ou liberdade que seja seu anseio.
Noutros tempos os jovens fugiam, quase que só esporadicamente, dos “trilhos”, desvairavam-se ou muito justamente tinham atitudes da revolta num mundo em que não eram tidos em consideração. Mas eram mais comedidos ao cometer riscos.
Movimentos vindos da América, muitos com a melhor das intenções, organizaram-se, deram um mínimo de substrato ideológico à sua acção ou à falta dela, proliferaram. Se à nossa escala nunca tiveram grande expressão, não faltam jovens que sentem afinidades com esses movimentos, que assumem comportamentos daí provenientes.
Os jovens têm tendência para se relacionarem em grupos fechados, devido às condições em que se movimentam. Se com o tempo cada um vai integrando outros grupos e a influência desses primeiros, e quase exclusivos ao tempo, se vai diluindo, jovens há que se auto-excluem de uma vivência normal, de pertencerem a grupos diversificados e com experiências diferentes.
Ver Artigo completo em http://trigalfa-publicado.blogspot.com/search/label/AltoMinho

22 janeiro 2007

Os Moinhos de Rio Covo

O Rio Covo é um afluente na margem esquerda do Rio Lima, nasce na Armada, Beiral do Lima e atravessa esta freguesia, a Gandra numa sua extremidade (Guinzo) e Santa Cruz do Lima.
Desagua quase em frente da foz do Rio Cabrão, um pouco abaixo do local onde irá ser construída uma ponte sobre o Rio Lima, entre Padreiro (Arcos de Valdevez) e Lavradas (Ponte da Barca). Perto da sua foz situa-se um dos principais locais de passagem em barco entre as duas margens do Rio.
Este rio tem vários moinhos ao longo do seu percurso, em especial os que servem os lugares de Vila Chã e Ginzo, mas também perto da sua foz.
Ponte de Lima tem vários cursos de água a correr em dois vales, o do Rio Lima e o do Rio Neiva. Presumo que nesses afluentes hajam mais de duzentos moinhos, uns mais pequenos, familiares, alguns maiores, semi-industriais; uns semi-destruídos, poucos conservados.
Rio Labruja, Rio de Estorãos, na margem direita do Lima, Rio Covo, Rio de Serdedelo, Rio Trovela, Rio Tinto, na sua margem esquerda serão os principais.
Também o próprio Rio Neiva ou o seu afluente de Poiares têm os seus moinhos, sendo que o Neiva é quase só fronteira com Vila Verde e Barcelos.
Também os moinhos se poderiam integrar num levantamento a ser feito em termos de arqueologia industrial, pela importância que já tiveram na economia rural e alguns no abastecimento da Zona Urbana de Ponte de Lima.
Num curioso sítio (http://pwp.netcabo.pt/europe/riocovo.htm) podem ser vistos alguns elementos sobre os moinhos do Rio Covo.

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 5

Uma contradição insanável inquina esta questão do reconhecimento, validação e certificação de competências. Chegaremos facilmente à conclusão que com este processo se dá continuidade à cultura mais entranhada na nossa alma lusitana, tão contraditória ela também é.
Ataca-se a bagunça mas em simultâneo rejeita-se qualquer exigência, que já é considerada como um excesso de rigor. A alma lusa é prodigiosa na justificação deste faz de conta que é mas não é.
Se o problema não tivesse outra repercussão que não a estatística, era estrago de muito dinheiro e até há quem diga que ele não é nosso, o que também é uma grande asneira, mas aceitar-se-ia como revelador do nosso “Chico-espertismo” para enganar os outros.
O problema são as crianças, sim, são as crianças, além daquelas que há em nós. Assim nunca mais lá vamos. A desordem é tal que empresas a prometer o 12º. ano já colocaram cartazes e distribuíram desdobráveis nas escolas públicas. A concorrência é tal que desmotiva pais, professores e alunos.
Não podemos estar a pensar que a sociedade é formada por sectores estanques e que se possam estar a motivar uns com anarquia e outros com disciplina, quando nem sequer a idade serve para diferenciar as pessoas.
Há aqueles de meia-idade ou mais maduros que bem mereciam uma certificação: Estudaram enquanto puderam, trabalharam muitos anos, tiraram cursos nas empresas, aprenderam com o seu esforço e até aprenderam a ensinar os outros.
Mas também há aqueles, incluindo alguns que estudaram para não trabalhar mas aprenderam a manipular as suas relações, que deveriam voltar de novo à escola primária.
Assim, com estes a mandarem, que futuro nos espera?

A Feira dos Ciganos

(Publicado Revista jornal AltoMinho de 04-09-2006)
http://trigalfa-publicado.blogspot.com/search/label/AltoMinho-Revista
Povo nómada, poucos de nós se lembrarão e não muitos deles talvez, do seu passado ainda recente. Com a sua carroça, puxada a uma azémola ou a um burrito fracote, os cães a trás, os filhos em cima e eles ao lado, se o terreno dos caminhos não eram propícios para irem também em cima.
Mas os tempos mudam e eles, os ciganos, foram aderindo ao sedentarismo, assentando arraiais, ora em barracas, ora em bairros sociais, alguns também já em casa própria.
O seu ofício é o mesmo de sempre, é o ganha-pão dos que nós por cá conhecemos: o comércio. Antes vendiam pelas portas bonitas colchas e roupas vistosas. Hoje alguns já têm lojas mas a maioria ainda anda de feira em feira. A Feira de Ponte é uma das suas preferidas.
Têm um espaço e vendem um pouco de tudo, de preferência, claro, roupa. Logo pela manhã a maioria das mulheres que vêm à feira não deixa de visitar, em primeiro lugar, a Feira dos Ciganos, à procura das últimas novidades.
Aqui por pouco dinheiro se compra muita roupa. Roupa interior, roupa para as crianças, mas também muitas “senhoras” cá se vestem. A Feira dos Ciganos é o supermercado mais fornecido e divertido para comprar aquilo que se usa todos os dias e em casa tem de estar mais à mão.
Aqui tudo é a preço fixo, não se regateia. Há roupa para todas as carteiras e para todas as freguesas. É só escolher. È pró menino e prá menina. Para a senhora bem e menos bem.
A qualidade está à prova e ninguém é enganado. Todos podem pegar nas peças de roupa, virar e revirar para comprovar a valia dos tecidos. E todos vão satisfeitos porque para a feira cá voltarão.

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 4

O nosso Primeiro-Ministro, José Sócrates, disse que um dos erros cometidos no passado foi ter-se permitido que “boa parte do esforço em formação não qualificasse nem certificasse as pessoas”.
Os formandos podiam ter ficado com um certificado de habilitações e já não dariam azo a um gasto em dobrado, maugrado o dinheiro não ser nosso, segundo dizem. Mas a facilidade com que se tiraram os cursos não permite que se fale em esforço, antes desleixo.
Se essa formação foi um logro, com a certificação o logro teria sido bem maior, como é evidente. Se o nosso Primeiro dá cobertura a este passado faz-nos pensar que a proliferação de reconhecimentos, validações e certificações que por aí já se expandem só prometem aldrabice.
Ninguém acredita nisto, a começar pelos próprios formandos, de cuja boa fé se não duvida, mas que, como é habitual, se vão deixar arrastar pela corrente. Se alguém pensa que vai aprender alguma coisa depressa ficará a saber que não vai sair de lá mais habilitado, e era necessário substancialmente mais.
O mercado de trabalho não acredita, quem é sério não acredita e se há políticos que acreditam nisto é porque não são sérios. Mas o mais grave é que transmitem uma falta de rigor e exigência, promovem o desleixo e o facilitismo, criam nos jovens a apatia, a morbidez de pensar que tudo lhes virá um dia a vir à mão sem custo, sem sacrifício.
Ao menos não consumam os jovens. Deixem-nos brincar porque são eles que estão numa idade mais própria para isso.

21 janeiro 2007

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 3

Quando se comete um erro é natural que, reconhecendo-o, não o voltemos a repetir, o desculpemos a quem o praticou e não manifestemos menor apreço por ele. Mas se o erro persiste tudo tem de ser diferente.
José Sócrates realçou os erros cometidos no passado e destacou o ter-se permitido que “boa parte do esforço em formação não qualificasse nem certificasse as pessoas”.
Ficamos sem saber se José Sócrates pensará que foi pena as pessoas que frequentaram esses cursos não terem ficado com um certificado e que, mais importante que o curso é o certificado, teriam tirado muito mais proveito com este. À grande maioria os cursos não lhes terão servido para nada.
Ou se pelo contrário José Sócrates pensará que foi pena que esses cursos não tivessem sido bem escolhidos, bem aproveitados e não tivessem a qualidade suficiente para uma eventual certificação a valer. O pensamento dominante é este. Só uma boa avaliação do passado permitirá alguma certeza quanto ao futuro.
Ficamos pois sem saber se agora vai ser a sério. Se vai haver efectiva formação, exigente validação e correcta certificação. Se as pessoas interessadas vão chegar ao final com a qualificação exigível e o certificado credível.
Porque quem vai ser o juiz não é o Instituto Nacional de Estatística é o Mercado. E se o julgamento for negativo não são só os formandos os prejudicados. É todo o País.

Uma feira de retalhos

(Publicado no jornal AltoMinho de 04-04-2006)
As grandes feiras polivalentes são características das terras pequenas, dos pequenos aglomerados urbanos que têm à sua volta um povoamento disperso e uma população com liberdade bastante para gerir o seu tempo, quase ao ritmo da natureza. Os feirantes adaptaram-se ao esse ritmo das pessoas.
Um pequeno aglomerado urbano, por si, não consegue satisfazer as necessidades dos habitantes dele dependentes. Os próprios comerciantes locais, para terem sucesso, precisaram de se adaptar ao ritmo das feiras.
Em tempo, o Zé Alemanha, o Lopes Martins, o Teixeira, os ourives, tamanqueiros, funileiros, etc., no dia de feira expandiam o seu negócio para o local da feira. Era já a feira a submergir o comércio local.
Ver Artigo completo em http://trigalfa-publicado.blogspot.com/search/label/AltoMinho

20 janeiro 2007

A ternura que não pode ser saudade

As Terras do Parque da Peneda-Gerêz foram colocadas numa espécie de quarentena desde há uns trinta e seis anos. Foi uma decisão que teve os seus méritos e deméritos, deixemos este exame para mais tarde.
Em relação ao contributo de tal facto para o declínio da população na área do Parque parece-nos aceitável que desde já o achemos decisivo. Um dos factores é que as pessoas passaram a ver-se muito mais limitadas nas suas possibilidades de expansão em relação a actividades e moradias.
Mesmo em termos de acessibilidades só o aproveitamento da energia dos excelentes cursos de água que o atravessam levou a criar algumas estradas decentes. Para agravar a questão o Parque situa-se numa longa zona de fronteira, que só com a entrada dos dois Países na Comunidade Europeia ganhou algum dinamismo.
Entretanto já muita gente tinha emigrado e para destinos não tão comuns como nós por cá estamos habituados: O principal destino foi os Estados Unidos da América.
Os que cá ficaram vão mantendo algumas tradições. Enternecemo-nos com coisas como este espigueiro, mas não nos podemos tornar saudosistas por isso. (foto de Mosteirô, Britelo, Ponte da Barca)

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 2

Aquelas calamidades que um dia nos surgem inesperadamente são uma manifestação da inoperância, da impreparação e do desleixo mas servem muitas vezes para nos rirmos. Nós, podemos não saber resolver qualquer problema, facilmente achamos qualquer situação deste tipo ridícula, e até damos a ideia de que sabemos a solução.
Qualquer manifestação que nos surja anos passados, com a mesma exacta configuração, levar-nos-á por princípio a rir de igual modo, que nós já estamos preparados para isso e também para, se for caso disso, nos lamentarmos. Mas a hora é de persistir, não de reflectir.
Portugal, não nos digam a União Europeia, por favor, gastou milhões em cursos e mais cursos que para nada, absolutamente para nada serviram.
Portugal prepara-se para gastar mais milhões em mais cursos que, presumo, só servirão para difundir mais plasticina mental do que para dar a ginástica precisa a espíritos subservientes.
A situação repetir-se-á na forma e no conteúdo, com acrescido afluxo, tem a agravante de que vai haver canudos para todos. Mas nós já não temos ar para a comédia, já não nos fazem rir com isto, porque é a tragédia que nos espera.
Há um passado que deveria ser nosso conselheiro, não o podemos esquecer. A corrida desenfreada de quem acha que tem hipótese de meter a mão em tão delicioso bolo, parece sugerir que nada vai ser diferente. Haverá lugar para a esperança?

19 janeiro 2007

O Reino do “Faz de Conta” - Episódio 1

Agora que tudo parece fácil, que vamos poder subir nos degraus do conhecimento, que o mundo se abre à nossa frente, eis que estamos velhos para almejarmos sermos gestores de qualquer coisa, nem que seja do nosso próprio negócio.
Adormecemos e o mundo já é outro, com outras exigências e necessidades. Já não é suficiente montar os nossos próprios estabelecimentos para vendermos hortaliças e nabos, que não faltam por aí da concorrência. Também não dá para tapar furos às bicicletas, que furos até sobejam. Por aí tudo sobra e não compensa pensar muito mais.
Valha-nos que, se individualmente falhamos, como povo somos prodígios de imaginação, ninguém nega. Chega-nos copiar, quando surge alguém com uma ideia, aparecer e imitar. Roubar ideias é o que nós sabemos fazer. Mas como temos as vistas curtas roubamos aos vizinhos quando as devíamos ir buscar mais além.
Entre copistas e funcionários públicos a distância é pouca. Mas aos funcionários públicos agora ninguém os quer.
Para que nos queremos qualificar? Estamos certos e seguros das nossas “enormes” competências. Se isso nos basta para que é que as vamos validar? Se ao menos dessem uma medalha!

O futuro perante o voluntarismo ingénuo

O passado é nosso, dele não nos podemos descartar por mais floreados que à volta dele possamos construir de modo a dar-lhe um aspecto mais agradável à vista ou então a escondê-lo de olhos mais indiscretos.
O presente é aquilo que se vê, que múltiplos olhos vêm, os nossos, os daqueles que pouco vêm, o daqueles que vêm de mais, os olhos poliédricos, os olhos reflectores, os antolhados.
O futuro é a expectativa que temos, dada por aquilo que nós somos capazes de imaginar, baseada em todos os saberes que tivemos a fortuna de adquirir, a vontade de perseguir, o destemor de agarrar.
O futuro não é aquilo que nós colocamos na expectativa de ser ou não ser, não é um lamento antecipado ou a confirmação de uma certeza. O futuro é a própria expectativa que nós transportamos, o imprevisto que nos pode surpreender, a incógnita do que não dominamos.
Como o passado, o futuro está agarrado a nós, faz parte da nossa idiossincrasia, tem o grau de incerteza com que nós sempre encaramos o presente, tem o grau de insegurança de quem nunca foi senhor absoluto do seu destino.
Este é o futuro de cada um, de que se faz o futuro da sociedade e do mundo. Um futuro que resulta da confluência de muitos factores, muitas forças e pouco humores. Por isso não vale a pena estarmos mal-humorados, destilarmos em nós toda a espécie de veneno, que nos vai corroer a alma e avivar as feridas de que os outros já possivelmente sofrem.

O mal humor pode dar-nos alguma satisfação se pensarmos que estamos melhor quanto pior os outros se sentirem. Mas quão melhor seria procurarmos a sua razão de ser, tentarmos contribuir para que os erros se não repitam, porque, se nós conseguirmos compreender (¿) os erros, não temos o direito de os “des/culpabilizar” às pessoas, nem de termos por isso mau humor.
Mais do que arranjar culpados e inocentes o nosso dever é construir o futuro, de certo com alguns erros mas com a consciência serena de que, para sairmos dos atoleiros em que a Humanidade se meteu, é preciso mais do que voluntarismo e boa vontade.

18 janeiro 2007

A degradação da paisagem

Claro que a nossa Ponte Romano/Medieval merecia ter estado nas vinte e uma belezas de que resultará a escolha das Sete Maravilhas de Portugal. Isso independentemente de a sua envolvente não merecer o melhor cuidado.
Um dos problemas é a parte romana da Ponte. Além de estar encravada entre muros do que foram quintas, numa altura em que tudo se tinha que aproveitar para a sobrevivência, mas que hoje se não justifica.
Como muros de jardins ou de matagais, a sua função não tem justificação naquele lugar tão próximo da Ponte.
Além de alargar as suas vistas, seria, eventualmente, de tentar aproximar o leito naquele espaço da Ponte do leito real, quando o Rio lá passava.
Mas o mais grave são aquelas duas casas, uma já destruída há uns anos por um incêndio nas Feiras Novas, outra em processo de degradação, o que, por estar desocupada, será com certeza rápido.
Os proprietários só estão a perder, pelo que lhes é favorável a sua compra pela Câmara, sem deixar de considerar que esta deve ser selectiva e não deve comprar tudo a eito.

A máquina silenciosa

A corrupção é o “negócio” de muita gente, o que faz com que os menos sabedores nestas coisas da economia façam uma grande confusão entre estas duas realidades distintas.
Tal facto é aproveitado por corruptores e corrompidos para se fazerem passar por simples negociantes que só se distinguem dos outros porque, de vez em quando, são descobertos os seus métodos menos honestos de fazer “negócio”.
Os negociantes verdadeiros é que não gostam destas companhias, já que, além da imoralidade intrínseca, há aqui um problema de concorrência desleal, de fuga aos impostos e às responsabilidades sociais concomitantes, de chantagem e falta de carácter.
A economia nunca prospera à base da corrupção. Mesmo que pensemos que conseguimos algumas coisas na vida à base de uns favores, mesmo que alguns de nós já tivéssemos pago para tornear a legalidade, esta pequena corrupção é geralmente resultante de as dificuldades que são criadas serem excessivas e já elas próprias terem por fito proporcionar ocasião a essa corrupção. Muitos de nós já fomos seus agentes passivos.
Se isto não acrescenta nada à economia, a não ser acumular dinheiro dum lado em detrimento de outro, o que leva o iluminado que verborreia ao “Correr da Pena” no AltoMinho de 16-01-2007 a escrever que “essa máquina silenciosa (a corrupção) é um dos meios mais eficazes para dar vida à economia”.
A corrupção corrói económica e moralmente qualquer sociedade que quer manter um contrato social válido e são por demais conhecidos os exemplos em que conseguiu minar todos os alicerces de uma civilização.
Agora, por mais escrevinhadores destes que apareçam, podemos ter a certeza que os corruptos têm os seus dias contados. A Humanidade já tem a experiência e a sabedoria suficiente para, com o aperfeiçoamento da regulamentação das nossas relações sociais e particularmente de negócio, obstar à possibilidade de corrupção.

17 janeiro 2007

Depois do betão é a vez da educação

Esta é uma afirmação que pretende traduzir as intenções do Governo mas que em Ponte de Lima não pode ser levada à letra. Ainda há que investir bastante no betão que está precisamente ligado à Educação.
Vai ser necessário construir de raiz novos Centros Escolares e reformular e ampliar velhas escolas de modo a criar idênticas condições. Os alunos têm esse direito, com vista à igualdade de oportunidades no acesso a outros patamares do conhecimento.
Portugal quer atingir um nível mais elevado de escolarização para vencer as limitações e obstáculos que se colocam à economia nacional. Só com uma preparação mais cuidada é possível corresponder às exigências dos novos modos de produção.
Todos agradecem o esforço feito há décadas para levar o ensino a toda a parte porque as condições assim o exigiam, Não podemos é manter a atitude saudosista de querermos uma escola junto à Igreja de cada Terra ou Lugar.
É bonito o retrato mas, pelos padrões actuais, pouca a eficácia. Não é possível manter nestas condições os níveis exigidos quanto à socialização e à aquisição de capacidades e conhecimentos.
A nossa ambição é que rapidamente se passe a fase do betão para que, enfim, se enfrente nas melhores condições os desafios que se seguem e que só com inteligência se podem vencer.

A problemática escolar - A delimitação do problema

(Publicado no Jornal Cardeal Saraiva de 10-02-2006)
"...O Dec-Lei n.º 7/2003 de 15-01 aponta o sentido da autonomia responsável baseada no princípio da subsidiariedade que, basicamente, quer dizer que tendo quem está mais perto possibilidade do exercício de competências que até aqui tem estado na posse da máquina central do Estado, estas serão transferidas para a entidade mais descentralizada, neste caso o município.
Aqui é que não nos podemos permitir que as coisas se façam ao “calhas”. Se tanto esforço não é para conseguir uma melhor solução, deixemos ficar as coisas como estão desde os tempos de Salazar que ele até era professor e algo mais.
Novos tempos, novas soluções, nunca se pode prever se serão para perdurar muito, mas a evolução é galopante, vejamos até ao horizonte que podemos alcançar. A isto a lei obriga.

16 janeiro 2007

Qualificação onde nos levas?

Qualificação, a palavra-chave, que passou a um objectivo nacional. De repente descobrimos que nada sabemos, quando pensávamos que sabíamos até demais.
A esperteza parece ter sido para um mundo que era outro, fechado. Até que escondíamos de nós próprios algo que fosse além do nosso conhecimento superficial. A esperteza não se revela a ninguém.
Agora quer-se que tudo isso venha ao de cima, que nos sentimos capazes de fazer aquilo que nunca fizemos, que possamos ter num diploma as nossas habilitações escondidas.
Tantos anos sem nada podermos mostrar, de nos taparem os caminhos, de se apropriarem dos nossos lugares, como quem se apropria de um baldio, sem nos ligarem patavina, que agora vamos mostrar ao que vimos, se vamos!
E agora que tudo parece fácil o mundo é outro, com outras exigências e necessidades. E nós que nos preparamos para sermos funcionários públicos, quando muito comerciantes! Que desilusão!
O comércio esse toda a gente sempre o soube fazer. A nossa experiência tem séculos. Mas já perdemos muitos navios.
Os funcionários públicos agora ninguém os quer.

Na noite a luz ilumina melhor os espíritos?

O Sol não nos brindou hoje uma só hora que fosse com o seu calor. As nuvens tão negras têm sido que não deixam passar os seus raios. Tanta água vai passando, tão pouca vai caindo, leve e compassadamente.
Ao fim da tarde as nuvens ainda são mais negras e parece que baixam para nos trazerem ainda mais desta humidade que faz deste clima uma agrura no Inverno.
Nos intervalos das nuvens outras cores agora se vislumbram. O Sol ilumina-as por cima e cria tons avermelhados de uma luz difusa.
O dia está quase passado para quem já trabalhou a sua parte e não faz da noite o seu lugar de convívio. A vida organiza-se agora à volta de outros cenários, que a rua fica cada vez mais deserta.
A noite, para a maioria, é tempo de descomprimir. Mas para outros o ritmo é outro, mais forte e persistente. Ninguém pode adormecer a meio da corrida. Tudo parece mais artificial, amadurecido mais à força.
Mas também ninguém pode deixar o seu casulo de ideias feitas, a sua segurança. A tendência é para cristalizar quando o fruto ainda não atingiu o seu estado de maturação.
Ou será que na noite a luz ilumina melhor os espíritos. Enfim será que nós só pensamos assim porque tudo se decide onde nós não temos hipóteses de chegar?

15 janeiro 2007

A poderosa arma do riso

O riso é uma arma poderosa e é claro que pode ser provocado para fazer tender a opinião das pessoas num sentido favorável à daqueles que o fazem despoletar.
É tão poderoso o riso que até o podemos provocar em nossa defesa, ridicularizando os nossos defeitos.

Só que habitualmente entende-se que, quem utiliza o riso, o faz porque não sabe usar outros argumentos interpretativos da realidade.
No entanto o riso, usado com parcimónia, condensa muita sabedoria numa forma comunicativa curta e eficaz.

Mas é uma arma pérfida quando cai na mão daqueles que fazem da sua alarvice uma virtude que cultivam e pensam agradável.

As sete maravilhas de Portugal

Concursos não faltam. Depois de ficarmos a saber (¿) quem é o pior português, o melhor português, vamos também ter as Sete Maravilhas de Portugal.
Nesta “espécie de concurso” houve igualmente pré-selecções, selecções intermédias e vai haver uma selecção final, mas de Sete.
Ponte de Lima teve a sua Ponte Romano/Medieval entre as Setenta e Sete Maravilhas. Agora, numa selecção mais apurada das vinte e uma melhores, esta Ponte que é nossa foi riscada da lista.
Bem vista todo a espécie de castelos, conventos e casas senhoriais, que constituem o grosso da lista, a nossa Ponte, de origem dupla e características únicas, merecia lá ficar.
Mas nós merecemos?

14 janeiro 2007

A nossa arqueologia intelectual

Na vida em sociedade temos de “ligar” a vários factores para podermos sobreviver, relacionarmo-nos minimamente, conseguir apoios ou pelo menos não despoletar desavenças, embirrações, ódios.
A vida é difícil porque as pessoas são difíceis, estando muitas sempre preparadas para arranjar problemas onde os não deveria haver. Claro que isto é fogo rasteiro, a que os mais bem sucedidos se vão furtando.
Facilmente chegamos à conclusão que são os mais mal sucedidos que mais digladiam os que não vêm acima do nível dos seus olhos. Em relação a estes, os bens sucedidos, entre os quais os políticos, o povo desculpa-se com a frase “eles comem da mesma gamela e entendem-se sempre” e evita interferir.
À letra poderia querer significar que se o povo se não entende é porque tem a ideia de que a sua gamela é diferente para cada um. Por isso se não “une” na procura de superar os seus desentendimentos, antes se gladiam e não geram em si políticos mais maduros e menos volúveis do que os que temos.
Para mim porém o problema não é de gamela mas outro. Há quem chame a isto individualismo mas não é. Há quem chame a isto inveja, talvez. Há quem chame a isto ignorância, talvez.
Trata-se de uma desonestidade intelectual intrínseca fruto do nosso passado e que impede que na vida social e política as questões sejam assumidas com a devida frontalidade.

Um mau indício político

Fiquei surpreendido com esta forma de fazer política. Já sabemos que as máquinas partidárias estão visceralmente ligadas às estruturas do poder local. Que desde o liberalismo assim é, que o caciquismo não é de agora.
Nós sabemos que o povo, embora vocifere, compreende que assim seja. É difícil motivar as pessoas doutra maneira. É quase impossível as pessoas apoiarem desinteressada e activamente qualquer política nacional sem uma qualquer contrapartida à beira da porta.
Vai daí Sócrates, em vez de políticos, convocou autarcas, não para falar de politica autárquica mas para obter dos Presidentes de Câmaras Socialistas, ou pretendentes a tal, a colaboração na promoção do voto, presume-se do Sim no referendo sobre a I.V.G..
Não sei se os tais autarcas vão perder parte do seu precioso tempo com estas ninharias, tão absorvidos que eles andam no seu “quintal”. Desconheço a sua capacidade para irem além da trivialidade, que eles nunca a demonstraram, quando não sentem em causa o seu patamar de poder.
Se a intenção era fazer passar a questão do plano politico para o apolítico, não resultou, nem disso havia necessidade. E o P.S. dá uma má imagem da sua capacidade de mobilização política, social, moral, como referência democrática que tem de ser em permanência.

13 janeiro 2007

A nossa arqueologia industrial

Os mais velhos ainda se lembram das histórias do volfrâmio, tão explorado nas nossas redondezas. Das pessoas que fumavam charutos embrulhados em notas do Banco de Portugal. Dinheiro fácil num tempo de miséria quase generalizada, em que os ricos (sem contar com estes traficantes de minério) estavam bem abaixo dos pobres de hoje.
Nas fraldas da Serra de Arga, desde Sª. Justa em S. Pedro de Arcos até às minas do Cavalinho na Cabração, passando pelo Cerquido em Estorãos. Mas também nos concelhos de V. Nova de Cerveira, em Covas e Caminha, nas Argas, Dem e Montaria. E noutras serras como na Facha.
Dessa actividade só restam casas entretanto ardidas ou vandalizadas, minas de certo modo perigosas e mal protegidas. Serração de madeiras, pedreiras, minas (volfrâmio, estanho, ouro), lagares de azeite, são as nossas indústrias mais tradicionais de cuja arqueologia se não houve falar.
As casas do Cavalinho e do Cerquido tem óptimas localizações e mereciam que fossem recuperadas como testemunha duma actividade milenar.

O que está para além da ignorância do futuro

Quando tentamos perceber o futuro temos de partir de alguns pressupostos:
o Escolhemos os factores que no passado mais influência teriam tido no actual estado das coisas.
o Definimos, em função do aumento ou decréscimo da sua grandeza, em que sentido e com que magnitude essa influência se exerceu e, a manter-se a níveis semelhantes, continuará a exercer-se.
o Para melhorar o prognóstico analisamos o efeito sinérgico que pode derivar de diferentes combinações desses factores.
o Para optimizarmos a análise tentamos referenciar os factores que a experiência de quem os pode manipular e o progresso técnico e tecnológico poderão fazer adoptar um comportamento não similar ao passado.
o Para não correr percalços desnecessários tentamos “adivinhar” os novos factores que a prazo virão a substituir alguns antigos.
Obtidos indicadores seguros, referenciados a um ponto zero, desloquemo-nos para lá, para esse domínio puro da relatividade, em que nada é suficientemente estável. Digamos que é o melhor lugar para estarmos, sentindo o balanço das ondas.
Melhor que isto só na ignorância absoluta, em qualquer lugar recôndito, onde nem o eco chegue dos factos, especulações e estados de alma.
Infelizmente a quase todos nos calha por sorte estarmos nos estádios intermédios, entre a bonança e a tempestade.

11 janeiro 2007

Que significado pode ter uma pedra amorfa

Isto é tão só uma pedra amorfa.
Sondando-a desfazer-se-á em fino pó que, sem estrago de maior, se pode espalhar pelo universo.
No entanto a erosão da água e do vento e a patine do tempo deram-lhe um aspecto majestoso que nos pode fazer evocar sentimentos de elevada admiração.
Sabemos que não explode mas irradia luz e vemos nele forças cósmicas que se digladiam e emitem sinais ininteligíveis para o universo.
O homem sente-se diminuto e acima de tudo falível perante tanta imponência.
Há no universo vários locais destes, uns mais sacralizados que outros, mas igualmente apelativos para o homem que busca uma força unificadora.

A questão da intensidade

“Contactado pela TSF, o presidente da concelhia socialista de Lisboa, Miguel Coelho, disse que esta «renúncia já tinha sido combinada há uns meses atrás», tendo em conta que Carrilho lhe mostrou a «intenção de sair, dada a vontade que tem de exercer com grande intensidade o seu mandato de deputado» ”.
Os políticos têm que se convencer que não são super-homens, mesmo que só se trate de um simples lugar de vereador da oposição de Lisboa, um município que, ao contrário da maioria dos outros, mesmo assim lhe daria algumas condições de trabalho: gabinete, assessoria, etc..
E que, por mais dotados que sejam, não são aves talhados para todos os "poleiros".
A um outro propósito escrevi no AltoMinho de 06-10-2006: “O Presidente da Câmara de Ponte de Lima, Daniel Campelo, brindou um dia o mediático Prof. Carrilho com uma escultura de granito fino de um Santo António, que o prendado, mais habituado a manipular ideias, deixou cair, vergado ao peso da substância.”
O professor não parece talhado para cargos de tão grande peso.
Depois os políticos têm de se convencer que não podem fazer promessas em vão. É que O Presidente da Câmara de Ponte de Lima insiste em que lhe prometeu uma comparticipação nas despesas de restauro do Teatro Diogo Bernardes e até hoje nada.
Lembre-se que o Santo António que levou não era de pau carochento mas habilmente talhado em pedra de S. Ovídio pelos Irmãos Sequeiros.

10 janeiro 2007

Será isto prezar a beleza do Rio Lima?

Publiquei no AltoMinho de 29-08-2006 o texto que se segue:
"Num já longínquo dia alguém disse que a nossa ponte e de N. Srª. da Guia estava periclitante, com as pernas fracas, mal sustentada, descalça. Não fosse o açude e ela já se tinha ido.
Não sei se era alarmismo ou se o perigo era bem real mas, estudos feitos, a empreitada foi lançada e os trabalhos tiveram o seu começo.
Realizados aterros, passadiços, desviadas as águas, os dois pilares centrais foram, na sua base, cercados por uma estrutura de chapa e o intervalo assim criado foi preenchido por armações de ferro.
Um dos pilares foi quase reforçado de cimento na sua base, mas eis senão quando os trabalhos pararam, um dos pilares ficou sem cimento, o outro não foi acabado, as armações de ferro e de cofragem não foram retiradas, os pedregulhos ficaram no meio do rio, as tubagens também. Este é o indecoroso espectáculo que se mantém há anos. Não há estética.
Já este ano uma equipa de mergulhadores e outros técnicos lá andou a fazer os seus estudos, quase sorrateiramente, sem ninguém os ouvir e se pronunciar.
Não estamos certos de haver segurança mas, perante tanto alarido à volta das pontes, acho que não haverá candidatos a assassinos neste caso.
Lamenta-se é a mudez da Câmara e dos Serviços Centrais."

Na Assembleia Municipal de Ponte de Lima de 15-12-2006 o mesmo assunto foi abordado conforme o AltoMinho de 19-12-2006:
"Hélio Lucas do C.D.S. reforçou a necessidade do desassoreamento, realçando os méritos do Clube Náutico e o seu largo papel, não devidamente reconhecido, no desporto limiano e manifestou-se ainda contra a não retirada dos ferros e de outros materiais de uma frustrada intervenção nos pilares da Ponte da Guia."
Resposta segundo o mesmo jornal:
"Daniel Campelo, tendo-se declarado impotente para resolver o problema do assoreamento do rio, manifestou a sua solidariedade ao Clube Náutico, incentivando-o a avançar por conta própria em face das dificuldades burocráticas que se deparam a um empreendimento desta natureza."

Poupança e beleza na estrada

Os sinais de trânsito têm de cumprir determinadas regras quanto ao formato, ao tamanho, ao feitio, às cores, ao posicionamento. Só respeitando esse padrão nós somos obrigados a cumpri-los.
Mas tratando-se de sinais indicativos da localização de lugares e freguesias, eles podem ser colocados por entidades que não sejam obrigados a respeitar as normas da D.G.V. porque também não são obrigatórios.
As juntas de freguesias, seguindo decerto algum bom conselho doutros órgãos, têm colocado em todos os cruzamentos sinais diferentes, evidentemente conforme a firma que os fabrica, mas que com certeza não sairão baratos.
Naquele pequeno espaço entre as freguesias de Cendufe, Rio Cabrão e Miranda do concelho de Arcos de Valdevez, pelo que não sei a quem atribuir a autoria, existe esta placa, que além de ser mais barata tratando-se de material reciclado, tem muitas outras vantagens:
Entre elas é muito mais apelativa, mais artística, mais bela, mais contrastante, mais inovadora.

09 janeiro 2007

Arte serôdia para quem não precisa de saber ler

(Publicado no AltoMinho de 12-12-2006)
Longe de mim a pretensão de reescrever a história. De retocar quadros, retirar figurantes e colocar lá outros. Houve quem o fizesse e as técnicas à altura nem eram tão boas como hoje. E embora nós estejamos precavidos há sempre quem o continue a tentar, se não para ficar na história, para obter efeitos imediatos.
Quando olho para o nosso percurso histórico não vejo imagens fixas, horizontes iguais, figuras estáticas, gestos parados. Tenho uma visão histórica dinâmica embora admita reduzi-la a uma visão estática, datada, temporária essencialmente para poder comunicar.
Estou sempre disposto a admitir repensá-la, revê-la, reorganizá-la. A integrar na minha visão as visões instantâneas, fotográficas que outros e eu próprio nos vamos fornecendo. No pressuposto porém de que a História é muito mais que a história da Arte, por mais valor que esta tenha.
Admiro um quadro, uma imagem poética, uma fotografia, por si. Mas as obras artísticas também podem ser documentos históricos e como tal utilizados. Só que, se eu não souber o contexto que as informa, eu fico desinformado. Mas admito que o objectivo até seja esse. Quando a mim só lhes dou real valor se souber ir ao seu significado, que, às vezes, até extravasa a intenção do próprio criador.
Ver Artigo completo em http://trigalfa-publicado.blogspot.com/search/label/AltoMinho

Soneto Um - Amor Tardio


Um só sentimento me falta
Senti-lo, palpitante, meu
Vislumbro-o, gritei bem alta
A minha indignação, fugiu

Dele tenho mui vaga ideia
Bem tentei agarrá-lo, vadio
Resplandecia na cara alheia
Diluiu-se na minha, frio

Ansiei ver à superfície
Recordações, vivências idas
Desígnios de vida perdidos

Nego agora tal estultície
Turbulências, paixões tidas
Veleidades de tempos idos

08 janeiro 2007

Uma estátua controversa e inútil

(Publicado no jornal AltoMinho de 17-10-2006)
Há dez anos foi inaugurada, não posso dizer se com muita ou pouca pompa e com muita ou pouca circunstância, porque não assisti, a estátua do Sr. José de Sá Coutinho no Largo de S. João.
Houve alguma polémica acerca da imoralidade da colocação na praça pública de uma estátua oferecida pela família, sem que se manifestasse qualquer movimento de apoio. E a polémica chegou ao mérito do visado, uma personagem a vários níveis controversa.
Se esta família queria prestar uma homenagem particular, colocava a referida escultura dentro da sua propriedade, que não é tão pequena como isso, e tanto bastava.
Ver Artigo completo em http://trigalfa-publicado.blogspot.com/search/label/AltoMinho

07 janeiro 2007

Com tanto choradinho ainda haverá sentimentos genuinos?

Os sentimentos que existem na nossa vida podem ter origem nas nossas vivências, nos nossos saberes, nos nossos gostos e satisfações. São os sentimentos genuínos menos influenciados pelo trânsito social.
Mas há de igual modo os sentimentos que se recebem por contágio, transmitidos por pessoa com a qual nos identificamos, que não fazem parte da nosso vivência mas que influenciam a nossa maneira de ser.
Eventualmente haverão aqueles que não têm existência própria, que são resultado de uma elaboração intelectual a que se junta uma parcela de emotividade e que, depois de transmitidos, se tornam evidências com autonomia própria.
Temos assim que, devido às múltiplas influências próprias de uma vida em sociedade, os nossos sentimentos perdem qualquer pretendida genuinidade e chegamos a ter necessidade, para nos exprimirmos e entendermos, de recorrer a sentimentos que nunca experimentamos.
Por tudo isto, para não sermos enganados, cada vez mais temos a necessidade de recorrer a argumentos mais racionais e lógicos para resolvermos os problemas que a simples análise dos sentimentos não resolve, deixando para a vida social normal o desfilar de sentimentos que dão colorido à nossa existência, mas cujos exageros resultam em espectáculos degradantes.

O Parque da Peneda-Gerez e o problema dos residentes

( Publicado no jornal AltoMinho de 15-09-2006)
"A Comissão Eventual da Assembleia da Republica para os Fogos Florestais visitou o Parque Nacional da Peneda-Gerez em 12 de Setembro, inteirando-se da extensão e consequências do maior fogo que lavrou em território nacional este ano.
A Mata do Ramiscal em Lordelo constituiu o primeiro ponto visitado, acreditando os técnicos na sua recuperação quase total, à semelhança do Carvalhal do Barreiro em Castro Laboreiro que, conforme se pode comprovar à tarde, se encontra em franca recomposição após ter ardido em 2005.
As paragens no miradouro de Carralcova e no Mezio para além de proporcionarem abordagens pelos técnicos de cada uma das situações, foram também aproveitadas para entrevistas às rádios e televisões e jornais que acompanharam a visita. Ver Artigo completo em http://trigalfa-publicado.blogspot.com/search/label/AltoMinho

06 janeiro 2007

O Ódio existe?

Nunca o vi mas, academicamente, admito que o ódio exista. Admito que haja situações extremas, sem saídas, em que sejamos dominados por um sentimento que exige a exclusividade: onde há ódio já nada mais frutifica.
Admito porém que haja ódio por contágio, que sem o sentir uma pessoa se veja levada a compartilhar sentimentos que estima existirem noutras pessoas.
Os manipuladores do ódio agem desta maneira, procurando incutir nos outros sentimentos que eles elaboram para dar satisfação aos seus desejos: São os ódios racistas, religiosos, classistas, comportamentais, familiares.
Felizmente que estamos numa sociedade em que se procura desincentivar ou limitar a transmissão destes sentimentos. Mas já nos temos que preocupar com a sua comunicação subliminar, que esta gente todos os meios procura encontrar e utilizar para o disseminar.
Felizmente que não há grandes denúncias de caça às bruxas, de querer que seja considerada de ódio aquela manifestação que é tão só a de um sentimento resultante de um ponto de vista simplesmente diferente. Porque tão grave como promover o ódio é denunciar como ódio o falso ódio.
Infelizmente que as manifestações de ódio aí estão em Madrid, Bagdad ou na Palestina. E não faltam aqueles que de um lado ou doutro incitam a que se veja cada vez mais ódio do lado oposto àquele com que se mais simpatiza.
Seja cerebral, primário ou epidérmico é um ódio sem esperança, aterrorizador, sem alma, que pretende tornar diabólica a vida de quem, mesmo sem qualquer culpa, está no meio destes conflitos.

05 janeiro 2007

Aborto/Clonagem/ Infertilidade,

(Publicado no Cardeal Saraiva de 05-01-2006)
A clonagem vai de vento em popa. Na América já haverá 150 animais clonados e uma Autoridade qualquer já disse que a sua carne é tão boa como a melhor dos apascentados no Planalto do Barroso.
Um dia destes outra “Autoridade” virá dizer que homem clonado não perde qualquer característica do uterino e até terá as suas vantagens. A mulher correrá apressada que, para dar seguimento aos seus impulsos libidinosos incontrolados, já não terá que assegurar a procriação. Ainda por cima a mulher alijará de si a responsabilidade de pôr cá neste mundo seres a que possivelmente só restará o sofrimento.
Os puristas das raças também agradecerão e com as suas manipulações genéticas vão procurar tirar dos africanos, asiáticos, euro-asiáticos e ameríndios as suas melhores características para construir um super humanóide capaz de se dedicar à guerra, desporto, jogo ou libido com a mesma alegria de um símio.
A civilização ocidental encontra-se num dilema tão brutal que, face à possibilidade de perder o domínio há séculos mantido, imagina e leva à prática toda a espécie de soluções. A ideia do aborto livre também se pode inserir na purificação das raças, seja qual for o princípio pelo qual esta é proclamada.

04 janeiro 2007

O Português – O expectante do desgosto

Podemos não ser sinceros, deixarmo-nos levar por correntes que se criam, mas os nossos gostos, como resultado das nossas múltiplas vivências, não se mudam facilmente a nosso bel-prazer.
Daí a importância do desgosto, como privação daquilo de que gostamos, sem previamente nos adaptarmos. O que deixa de existir ou é adulterado e deixa repentinamente de ser “objecto de gosto” é a fonte do desgosto.
Uma das formas de não sofrermos desgostos é lutarmos para que as coisas não deixem de existir tal qual gostamos delas, mas isso é impraticável. Outra é virmos adaptando o nosso gosto à medida da deterioração dos “nossos” objectos. Só que esse não é, não pode ser, o nosso caminho, enquanto tivermos forças para tal.
Tudo nos leva a apurar o nosso gosto e a termos cada vez mais desgostos. E a termos de suplantar este estado de “expectativa do desgosto”.
Uma das formas para ultrapassar esta situação é seleccionarmos aquilo de que mais gostamos, que nos poderia causar maior desgosto, e desligá-lo desta situação imponderável, passando-o à categoria de “objecto de amor”.
Por exemplo, eu não gosto, eu amo Ponte de Lima.
Como readquirir agora o gosto sem querer ser expectante do desgosto?
Mas como, se, como qualquer português, sou leviano e imprevidente?
Afinal o que melhor caracteriza o português não é ser triste, é ser um “expectante do desgosto” e o prazer que tem em que os outros sejam assim.

Dona Teresa - A melhor limiana de sempre

Dona Teresa é a figura histórica que maior benéfica influência teve no nosso destino. Antes dela não sabíamos o que éramos. Depois dela só nos tiraram direitos.
Escrevi no AltoMinho de 17-10-2006, acerca de uma polémica sobre estátuas:
Esta Senhora deu-nos direitos, outros estatuados tiraram-nos. Esta Senhora exerceu as suas funções com a legitimidade que ao tempo lhe era atribuída. Outros, sem legitimidade para tal, têm sido os senhores de Ponte de Lima.
Não se podem fazer arrazoados e não se ficar a saber se querem apear a estátua de D. Teresa por falta de mérito ou por má colocação. E ainda se não ficando a saber se lhe faltam méritos na acção política, pela qual indubitavelmente nos concedeu privilégios ou por nascimento, de que ela não é manifestamente culpada.
Como está por demais provado o nosso sangue tem as mais diversas origens. E, se nem a “nobreza” nem a “realeza” estão de todo imunes a estas miscigenações, isso não lhe tira méritos nem lhos dá.
Por isso o meu protesto contra a sanha persecutório contra esta Digna Rainha. Se não a querem ver, virem os olhos para outro lado. Não será por ela, até que se prove o contrário, que Ponte de Lima está carente de Humanidade
.”
Proclamo-a a melhor limiana de sempre.

Pior Português, Melhor Português?

Pior-Português?
http://piorportugues.blogs.sapo.pt/
Melhor-Português? http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/grandesportugueses/
Em quem eu tenho raivas de votar? Sim, porque que outra motivação posso ter.
Uns votam em Mário Soares para que não apareça o Oliveira Salazar. Outros votam no Oliveira para mandar o Soares às urtigas. No fundo esta trivialidade, do mais rasca que há, serve ao menos para indagarmos a alma portuguesa, tão multifacetada ela é que, com um olho só, está a mirar para várias partes.
E não se convençam os “intelectuais da nossa praça nacional” de que só a eles dizem respeito este tipo de inquirições. Se tivessem feito bem o seu trabalho teriam disseminado o seu saber e sentiriam menos responsabilidades na existência de tão erradas perspectivas.
Uma dessas perspectivas passa por só se verem os homens políticos. E dentro destes considerar-se que os melhores são aqueles que, de alguma forma, bateram o pé ao estrangeiro. Sem cuidar de saber que tivemos uma monarquia que fugiu de cuecas para o Brasil. E uma republica, corporativa ou não, que continuou a ser uma marioneta nas mãos doutros países.
Do que nos podemos sinceramente gabar neste campo tão redutor?
De ter um Afonso Henriques que lutou contra a mãe e com este gesto alterou o destino da humanidade?

Elefante branco ou cinzento?

O nosso concelho está bem servido de salas e espaços para actividades desportivas, culturais e recreativas, onde apenas é necessário introduzir alguns ajustamentos pontuais, sem a necessidade de uma estrutura de grande dimensão e preço e com uma perspectiva de ocupação reduzida.”, sentenciou quem parou-para-pensar (http://pontedelima.blogspot.com/).
Opino de forma diferente, porque nego tais argumentos.
Na Assembleia Municipal de Ponte de Lima de 15/12/2006 disse
Esperamos também que o Multiusos arranque enfim, mas que se não construa nem um elefante branco, nem mais um inestético caixote condicionado a ter de ficar por baixo das varandas da Casa de Aurora, como parece ser o caso.
Que se tenha noção das proporções, que se não construa grande só porque Viana do Castelo o vai fazer, nem pequeno só porque, se o C.D.S. cá vier fazer um congresso, uma pequena sala chega para tão pouca gente.
É esta a grande obra do regime para esta legislatura, convenientemente programada no tempo
…).”
Nem último facto me leva a ser contra. Uma posição definitiva depende do projecto, da localização, do preço.
Quanto à localização nem tenho qualquer dúvida: Deve estar suficientemente perto do Centro Histórico por razões óbvias e longe para ter estacionamento. Escolho que fique na zona de S. João em frente ou não da Casa de Aurora, de certo que à altura necessária.

03 janeiro 2007

Jardins suspensos no Largo de Camões

Não chove, mas se chover ninguém se vai preocupar.
Há sempre uma alternativa, ou várias até, para resolver a questão.
Chove, és homem, estás no Largo de Camões e queres ir à casa de banho. Em frente da porta há um mar de água a cair do céu.

1. Fazes as necessidades no sítio em que estás, que a água da chuva dilui tudo.
2. Calças galochas, um bom impermeável e um guarda-chuva resistente.
3. Entras na casa de banho das mulheres, em altura de aperto ninguém repara nisso.
4. Entras no café e chateias mais um pouco o patrão já farto de atender os de Gondomar.
5. Prevines-te antecipadamente e fazes as necessidades em casa.
6. Apertas o órgão respectivo e guardas o serviço para mais logo.

Porém uma só solução resolvia-lhe esta complicada questão.

A. Limpar aquela maldita caleira, que parece um jardim suspenso.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Ponte de Lima, Alto Minho, Portugal
múltiplas intervenções no espaço cívico

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck
O mais perfeito retrato da solidão humana