28 fevereiro 2010

Jornalistas e opinadores, coisas distintas ou nem tanto

Os jornalistas têm todo o direito de serem assertivos, de manifestarem convicções, de se não ficaram por opiniões ditas imparciais. Ninguém parece gostar de arrastar atrás de si dúvidas, com a desculpa de que elas são angustiantes. Ninguém gosta de manifestar simples opiniões porque elas são mais difíceis que as sentenças. As convicções nem tanto, mas mesmo assim têm passado para responder por elas.
No jornalismo é muito difícil haver dúvidas e a maioria dos jornalistas não as têm. No entanto a manifestação da sua opinião também não se revela apenas pela sua dificuldade, pelo compromisso que os outros veriam nela e pode não interessar assumir, mas também porque os papeis de cada um estão suficientemente definidos para que só a alguns seja dado publicá-la.
Um órgão de comunicação social não é uma entidade desorganizada. Há dentro dele equipas e dirigentes que assumem responsabilidades específicas. Mas também há manipulações, orientações, favorecimentos e prémios. Para que nós pudéssemos confiar mais na comunicação social teria que haver a assumpção de uma clara orientação política por cada um dos seus orgãos, independentemente de haver quem a não quisesse assumir.
Porém aquilo que clarificaria mais a nossa relação de confiança na comunicação social seria a clara separação entre o que é notícia e o que é opinião sobre a própria notícia, porque já é a este nível que a confusão começa a ser lançada. A velha questão do contraditório, de ouvir as duas partes não resolve a maioria dos problemas porque muitas vezes não há duas partes, ou há mais partes ou há só uma parte contra uma indefinição dos contraditantes.
Depois há os opinadores profissionais, aqueles colaboradores que, sendo na maioria não jornalistas, são convidados, seja para dar pluralismo, seja para acentuar uma orientação política. Uns são políticos profissionais, outros activistas de uma qualquer causa, no geral todos têm um interesse em paralelo com a sua intervenção pública. Estes opinadores fazem falta, mas, mesmo sendo jornalistas, a sua intervenção não pode ser vista nessa qualidade.

27 fevereiro 2010

Quem não deve não teme

Pela boca morre o peixe e pela língua o político. A palavra, não no sentido da palavra dada, mas tão só não de palavra dita, tornada forma superior de expressão que já banalizou outras formas bem mais nobres e complexas, assumiu papel quase exclusivo na vida política. A palavra, bem trabalhada, permite fazer da verdade mentira e da mentira verdade com uma facilidade estonteante.
Quando se quer que só se discuta uma parte duma questão ampla como seria a relação do poder com os agentes da comunicação social, lança-se uma cortina de fumo, isto é, de palavras para que sobressaia somente o que se quer relevar, no caso, a questão do conhecimento formal ou informal, directo ou indirecto que José Sócrates teria da tentativa de compra de parte da empresa proprietária da TVI.
A questão relevante seria sem dúvida a existência de uma ordem expressa de José Sócrates ou, partindo do princípio de que isso seria impensável, de uma simples sugestão nesse sentido de compra da empresa para lhe dar uma outra orientação. Porque José Sócrates teria todo o direito de se achar incomodado, ofendido mesmo pela linguagem usada no programa de sexta da TVI. José Sócrates tinha o direito de reagir da maneira como reagiu porque está provada a falta de independência dos orgãos de comunicação, muito mais de imparcialidade.
José Sócrates não teria o direito de instrumentalizar a PT para executar a decapitação que pudesse pretender, embora sobre ela tenha todo o direito de se achar agradado. Porém é abusivo pretender-se, como é dito pelo Tribunal de Aveiro, que essa instrumentalização, a efectivar-se, iria acarretar uma despesa para o Estado, que teria que dar contrapartidas para esse efeito. Mas mesmo vendo o problema com esta possível implicação, logo cai por terra a questão porque a compra não foi feita e a contrapartida não foi paga.
Ficamo-nos pelo domínio das intenções, mas isso é muito pouco. A mancha que era aquele jornal da TVI é que se não apagará tão cedo. É uma vergonha produzida por gente sem escrúpulos que ao coberto de uma carteira profissional se atribui o direito de insultar quem entende só para propagandear a sua falta de medo, isto é, a sua loucura e servir interesses nada sérios.

26 fevereiro 2010

Os nossos políticos europeus são mangas-de-alpaca

Que havemos nós de fazer, se o País é pequeno para os nossos ideais? Pequeno em dimensão e ainda por cima periférico, Pequeno em valor económico, temos pouco peso no cômputo geral da economia europeia. Pequeno em soberania porque esta está irremediavelmente transferida para a Europa. Pequeno em peso político, embora este seja o tópico em que mais divergência de opinião haverá.
Temos muitos políticos na Europa mas eles não estão lá para pôr em prática as ideias mais favoráveis ao País, o que também não é o que se pretende. O problema é que não têm uma visão própria da Europa e do seu destino em sintonia com um ideal europeu que seja partilhado. Além de desconhecermos que ideias a maioria deles têm, sabemos que eles adoptam com uma facilidade incrível todas as ideias que venham do eixo franco-alemão.
Todos se escudam no respeito pelos regulamentos, como se eles fossem inócuos e não estivessem vinculados a uma visão política. Os nossos políticos em função na Europa são subservientes como sempre o foram. Não são actores principais, limitam-se a um pavoneio na corte, como se estivéssemos no tempo de Carlos V ou Luís XIV.
Alemães e Franceses não toleram qualquer cedência do seu poder e isso é mau para o nosso futuro colectivo. A construção europeia partiu do princípio de que era necessário prescindir de algum poder soberano e os alemães e franceses deram exemplos claros dessa determinação em especial nas três primeiras décadas da existência da Comunidade. Simplesmente para eles essa transferência de poder não é irreversível, só o é para os pequenos.
Formalmente os pequenos países também podem abalar quando quiserem, o problema é que as suas dependências são muito maiores do que as dos grandes países. Estes já não agem conforme o velho Ideal de Paz e Segurança, Progresso e Desenvolvimento harmonioso da Europa. A sua postura em relação aos pequenos países é apenas a de lhes capturar o mercado e obrigá-los a cumprir regras rígidas de gestão financeira, quando já não têm poderes na área da economia.

25 fevereiro 2010

Os políticos actuais estão a liquidar o Ideal Europeu

Não é esta a Comunidade Europeia que estava no espírito dos seus construtores intelectuais e dos actores políticos nos primeiros trinta anos da sua existência. Depois da queda do muro de Berlim tudo se modificou, deixou de existir um poder, o soviético, a que tínhamos necessidade de nos opor, uma ética, a soviética, que tínhamos que suplantar. De repente parece que já podíamos fazer o que as obrigações que nos tinham sido impostas nos recomendavam que não fizéssemos.
À medida que uma nova geração foi tomando conta do poder, os velhos ideais desmoronaram-se. Os políticos foram transmitindo à população em geral um sentimento de desleixo, de desnecessidade dos sacrifícios mais ténues. Perdidos os grandes objectivos, a política foi sendo ridicularizada. Contribuíram para a crise, mas agora aproveitam a crise para dizerem que não é necessário ou pelo menos não é tempo de prosseguir na integração europeia porque há assuntos imediatos a tratar. Os políticos voltam a ser merceeiros.
Do passado só nos resta a ideia de uma constituição europeia, de uma coesão efectiva, de uma solidariedade eficaz. O aparente empenho de alguns políticos em passarem o Tratado de Lisboa não consegue esconder a falta de empenho na sua eficácia. Os líderes escolhidos para dar seguimento a este tratado são a prova de que os que verdadeiramente mandam na Europa, aqueles que adquiriram o poder nos últimos anos nos países mais decisivos, não querem que se prossiga no caminho da integração.
Os grandes países, pelo menos os seus líderes actuais, não se preocupam com a Paz ou a Guerra, o mercado é o seu problema fundamental. Aquilo que era um meio de atingir um objectivo mais nobre nas décadas anteriores tornou-se um objectivo em si. Esses países têm mercado para si e mesmo, pensando somente neste âmbito, estão-se a marimbar para os problemas que os pequenos países têm enquanto economias subsidiárias das principais.
Os burocratas da Comunidade Europeia só querem afinal poderes comezinhos. Não querem um poder verdadeiro porque não querem ter verdadeiras responsabilidades perante os cidadãos. O nosso País pode estar em causa, mas o Ideal Europeu está profundamente moribundo. Os políticos que lhe podiam dar corpo demitiram-se desse propósito e nomearam uns cinzentos para os postos chave da Comunidade.

24 fevereiro 2010

Levem mais soberania, a que temos é demasiada para o poder em que se sustenta

A nossa adesão à Comunidade Europeia e a posterior participação na moeda única, o Euro, levou muitos políticos a chamar a atenção para a perca de soberania que esses actos iriam implicar. Na realidade toda a gente estava consciente desse facto, embora a maioria sem grande interesse em discuti-lo. Os que o fizeram no geral não foi por entenderam que isso implicaria uma perca económica ou mesmo sentimental, mas uma perca de poder porque esse é a substância mais apreciada pelos políticos.
Hoje todos vemos que há efectiva perca de poder e portanto de soberania, mas que isso só se verifica porque adoptamos procedimentos que nunca nos foram negados porém contribuíram para o nosso afastamento em relação aos procedimentos que seriam mais adequados para a nossa condição. Efectivamente se tivéssemos sido sensatos não se notaria que tínhamos perdido poder, como o não fomos vemo-nos de mãos atadas.
Se económica e sentimentalmente não temos uma exagerada ligação ao passado, se os custos de termos erigido um Estado soberano, de o termos alargado e sustentado durante séculos não justificam que permaneçamos agarrados a essa imagem fixa, então podemos entregar à Comunidade Europeia a responsabilidade de gerir e de dar ao Estado uma configuração diferente, mais adequada para responder às solicitações presentes.
Afirmamo-nos contra a Galiza, contra Leão e Castela, contra a Espanha, contra a França e contra várias coligações envolvendo países europeus. Hoje não temos inimigos, mas o desenvolvimento histórico levou-nos inevitavelmente a percursos diferentes e por vezes conflituantes. Hoje pertencemos a uma Comunidade com algumas características de Estado, mas que se não reduzem às dos modelos anteriores. Para uns efeitos somos como um só País, para outros somos unidades estanques que se têm que ter auto sustentação, o que será sempre problemático.
Muitos de nós prescindiríamos de bom grado de mais alguma soberania para que a nossa situação fosse melhor. Já que temos de cumprir metas para o que não temos instrumentos de uso fácil, só a solidariedade pode contribuir para ultrapassar muitas das nossas diferenças congénitas. Porém só poderia haver a solidariedade suficiente se houvesse uma diluição de muita da nossa soberania, uma federação de interesses. A direita europeia não quer.

23 fevereiro 2010

Os perigos da perca de soberania por via da balança de pagamentos

Um dia que se resolvesse o deficit do Estado nem todos os problemas estariam resolvidos. Era pressuposto o Estado ter crédito interno e externo e poder portanto investir no desenvolvimento. No entanto a balança de pagamentos podia continuar a ser deficitária da parte do sector privado. E essa dívida da população e do sistema bancário em geral, como seu intermediário na procura de financiamento para as suas aquisições que excedem a sua capacidade de investimento, também tem implicações.
Não só o sector privado não tem dinheiro para emprestar ao Estado, como tem de recorrer ao empréstimo externo para garantir as suas necessidades de financiamento para a actividade empresarial e para manter o nível de vida de que as pessoas se acham com direito. Para pagar esses empréstimos a população tem que reservar parte dos seus rendimentos futuros e isso privá-los-á de contribuir mais directamente para a economia.
O facto de termos uma moeda que é comum a um espaço económico alargado facilitou sobremaneira a contracção dessa dívida. Não havendo necessidade de troca de moeda para pagar os empréstimos e os encargos respectivos, não havendo necessidade de garantir esse pagamento em moeda estrangeira, utilizando a moeda própria não haverá a dificuldade e os encargos suplementares para obter outra moeda de pagamento.
No entanto é mau para o Estado ter uma população endividada, que, por esse efeito, evitará outros consumos e não terá capacidade própria para emprestar e investir. Também isto implica que a devolução ao estrangeiro dos empréstimos lá obtidos arrastará parte do rendimento que pertenceria ao produto nacional. Se pelo menos uma parte cá ficasse, mas na realidade a maioria desses empréstimos são para gastos improdutivos.
Há quem diga que é irrelevante se o País pertence a quem é de cá, se o País pertence aos credores. Mas neste caso chegaremos ao extremo de dizer também que seria irrelevante ser o nosso Estado a mandar ou outro de que o nosso fosse devedor. E não é despiciendo por esta questão porque o exercício de poderes estranhos já se vê na Comunicação Social, sector bem mais problemático que a Banca ou os Cimentos. Afinal o endividamento dos particulares é tão grave como o do Estado.

22 fevereiro 2010

A Comunidade nunca cederá perante uma má gestão das contas públicas

Os deficits do Estado e da economia nacional são dois problemas complexos, distintos, mas vulgarmente confundidos. Um será de resolução mais premente do que outro, se é que o problema da economia terá alguma vez solução. O Estado, esse não pode estar em dívida crescente eternamente, tem que viver com os meios que é capaz de angariar para garantir o seu funcionamento.
Os políticos falam conforme os seus interesses particulares, os economistas nem sempre são conhecedores ou honestos nas suas análises. Enfim parece que se impôs finalmente a ideia de que o dinheiro tem um custo e que nem o Estado é capaz de dar garantias suficientes para estabelecer uma relação uniforme e igual à dos outros países com ele.
É normal aceitar um certo endividamento do Estado para financiar a economia. Só pedindo dinheiro se pode antecipar certos benefícios, mas a vantagem assim obtida tem de garantir o pagamento dos empréstimos e dos juros em que se incorre. Empréstimos para suportar custos correntes serão mais difíceis de pagar no futuro. Porém há uma condição que agrava substancialmente o problema, se acaso lhe não dá um cariz nitidamente de natureza diferente. É a natureza do credor.
Há Estados que têm grandes dívidas mas elas são preferencialmente em relação aos seus próprios cidadãos. É um adiantamento que estes fazem em relação ao seu próprio País, mas que este tem muitas melhores condições para gerir. Se a dívida é em relação ao estrangeiro e ainda em moeda estrangeiro altera de modo às vezes absoluto certas condições. O que nos levou a subestimar este facto é que a nossa divida é na nossa moeda e não repararmos que efectivamente ela não é nossa, nada tem a ver com a nossa economia, é-nos emprestada também.
Nada custaria à Comunidade Europeia pôr à disposição da Grécia um valor que a salvasse do problema financeiro que tem. Haveria pessoas que achavam isso possível por um princípio de solidariedade e até por um principio de unicidade do Estado que para todos os efeitos a Comunidade é, tendo poderes de soberania. O problema é que isso seria um precedente insuportável que não permitiria exigir a outros no futuro a defesa de umas contas públicas saudáveis. Temos de contar com nós próprios e se algumas ajudas são razoáveis não é por elas que resolveremos os nossos problemas.

21 fevereiro 2010

A necessidade de um compromisso intelectual vinculativo

Discutir assuntos económicos pressupõe o domínio do conteúdo e o conhecimento dos números que o caracterizam. Além disso há que ter em conta que só podem ser comparáveis valores que se refiram a grandezas da mesma natureza. No facilitismo habitual das discussões entre políticos, que não ultrapassam por vezes a qualidade das discussões de café, normalmente só se pretendem atingir efeitos imediatos e isto através da manipulação de números e das variáveis que não têm sustentação real.
Os próprios economistas não clarificam devidamente a questão, mas neste caso parto do princípio de que eles pensarão que não precisam de explicar tudo porque nós já saberemos alguma coisa. Daí nos darem o trabalho de ter que ouvir muita gente, escutar e esmiuçar, ligar e fundir várias informações para obter um conhecimento consistente das coisas. Não fazendo este trabalho ficaremos sem conhecimento capaz, teremos uma visão deficiente da realidade, tiraremos conclusões precipitadas, julgaremos os outros com base em postulados mal construídos.
Na política muitas vezes, para não dizer quase sempre, apoiaremos alguém em detrimento de outrem num estado de incerteza que deriva de não sermos sabedores de todas as forças em jogo, de todos os valores em causa. Na política somos muitas vezes convencidos a adoptar uma trincheira, a empenharmo-nos de modo absoluto na vitória de alguém. Outros o fazem, faz falta que nós o façamos, mas mantenhamos a flexibilidade que nos permita não ficarmos intelectualmente amarrados a todas as decisões do escolhido.
Se na nossa sociedade se dá mais importância a compromissos morais que a compromissos intelectuais é natural que nós aceitemos isso. No entanto a importância dos compromissos intelectuais não deriva só da perca de importância dos compromissos morais, de vermos aqueles que mais responsabilidades têm a desrespeitá-los continuamente. Deriva também da necessidade de não ficarmos presos ao erro se o intelecto nos mostra outro caminho e esse poderá vir a ser moralmente melhor.

20 fevereiro 2010

A Madeira precisa da nossa solidariedade

As inundações na Madeira são gravíssimas, mas dentro da sua natureza são só mais um caso a ter em atenção. Há certos erros que são comuns a esta e outras situações da mesma natureza. O que lá aconteceu pode acontecer cá e em toda a parte. Além da melhoria das previsões e do seu tempo de antecipação, há outros factores para os quais nós podemos contribuir.
Um dos problemas mais graves deriva da construção de casas nas linhas de água. Outro dos problemas é a limpeza dessas mesmas linhas. Lixos derivados da presença humana, mas também detritos vegetais que a própria natureza vai gerando, movimentações de terras e rochas e mesmo a construções de pequenos diques que podem contribuir sempre para que se multiplique o efeito de derrocadas que neles possam ocorrer.
As pessoas atiram lixos preferencialmente para as linhas de água, convencidas que dele se livram bem dessa maneira. O problema é que pequenos lixos, como plásticos, servem para que se criem barreiras artificiais que, quando vencidas, já acumularam um poder imenso. Há uma imagem da Madeira em que se vê uma frente de água de tal dimensão que só pode ser o resultado de várias acumulações ocorridas no percurso de toda a ribeira.
No tempo em que a grande maioria da população se dedicava à agricultura os confinantes com as linhas de água eram obrigados a mantê-las limpas e nas dimensões apropriadas. Hoje a ganância faz com que as pessoas se queiram apropriar do espaço das próprias linhas de água. Embora a legislação não tenha sido alterada, ela já não é respeitada há muito.
A canalização dos ribeiros é outra prática que agrava os problemas de impermeabilização dos solos. Além de muitas canalizações não serem da dimensão necessária, elas contribuem para aumentar a velocidade das águas se não tiveram as características técnicas apropriadas, que é o que acontece geralmente.
Na Madeira todos os problemas são mais graves. A inclinação dos terrenos é superior à maioria do Continente. A nossa solidariedade com a Madeira é total. Além de lamentarmos os mortos, tem de haver uma ajuda rápida e eficaz, até porque o turismo seria muito afectado se assim não fosse.

19 fevereiro 2010

Como resolver o conflito entre a liberdade de imprensa e de expressão?

As reuniões da Comissão de Ética da Assembleia da República têm mostrado à evidência que os objectivos com que foi convocada vão sair gorados. Os comentadores mais atentos e interessados já se sentem mesmo incomodados perante um espectáculo que está longe de proporcionar aquele eco que correspondesse ao alarido que os partidos da oposição fazem à volta de não factos, de não problemas.
Ainda ninguém manifestou qualquer falta de liberdade no domínio da expressão do pensamento de cada um. Como não está em causa a liberdade de imprensa parece não haver assunto. Se há liberdade de imprensa ninguém é obrigado a pagar ao Mário Crespo para que ele ocupe um espaço bem caro do Jornal de Notícias para dizer as baboseiras que lhe vêm à cabeça.
Também ninguém pode ser impedido de ter proprietário de um órgão de informação. No entanto as incursões de pessoas de outros Países no panorama da imprensa nacional têm dado mal resultado. Que outros interesses, além do lucro, essa gente terá? Os espanhóis da TVI, perante o problema dos resultados a nível do universo das suas empresas, pensaram logo em descartar-se desta. Tal levou a uma luta feroz pelo seu controle.
Alguns dos primeiros accionistas do Jornal Sol quiseram vender as suas participações. Estes angolanos que as compraram serão testas de ferro, aventureiros, agitadores? Pelos vistos ninguém sabe. Não, de certeza que alguém sabe. Pelo menos para já a jornalista mais em voga daquele semanário sabe que tem mão livre para escrever o que lhe parecer o mais adequado à sua mente maquiavélica. Sabe que os proprietários não serão obstáculo.
Já tínhamos dificuldade em saber das intenções de nacionais que conhecemos há muito. De angolanos sem qualquer ligação com a nossa sociedade será muito mais difícil ainda virmos a saber das suas intenções. Teremos de esperar algum tempo, mas decerto que se vai descobrir quais os intuitos destes senhores. Pelo menos um dia chegará em que eles descobrirão que estes casos bombásticos não garantirão a sobrevivência do Jornal.
Garantir a liberdade de imprensa não é tarefa fácil e isso dá origem à libertinagem quando por esse via se quer também assegurar a liberdade de expressão. Haverá sempre uma contradição entre as duas liberdades. João Jardim disse que financia o Jornal da Madeira para assegurar a liberdade de expressão. Querem melhor contradição.

18 fevereiro 2010

A direita não precisa de telemóvel para se entender

Há na sociedade imensos poderes que não necessitam de se manifestar para garantir a sua sobrevivência. O seu peso não deriva da sua truculência, mas alicerça-se no domínio de centros nevrálgicos da nossa actividade social, cultural, económica, financeira, informativa.
Perguntar-se-á que poderes se movem no presente momento para alcançar o poder mais absoluto, o político. Grupos económicos que se sentem prejudicados, radicais da direita que se não submetem a ficar sem o seu poder secular, grupos religiosos necessitados de pôr o Estado a defender os seus valores, esquerdistas favoráveis à política de terra queimada?
Depois do tropeção de Santana Lopes, Sócrates conseguiu uma maioria temporária que foi sendo minada de todos os lados, perdendo as suas franjas mais vulneráveis às pressões mediáticas e a outras oriundas de vários poderes à direita e à esquerda. Foi sem grande surpresa que Sócrates perdeu a maioria absoluta, embora a maioria dos votos os tenha perdido para a extrema-esquerda.
Porém após esta recolocação de forças no palco político seria da mais pura inocência pensar que o futuro viria a ser resplandecente para Sócrates. O que surpreende nesta questão é a força com que a direita aparece e a perca de impacto que a extrema-esquerda vem manifestando. O que está a sobressair é o domínio que a direita tem na comunicação social. São os jornalistas da direita que aparecem como os heróis desta comédia que pode ser trágica.
Por este andar a voz que a extrema-esquerda tinha ou aparentemente tinha é calada ou se vai travestir. Afinal só tínhamos uma extrema-esquerda no estilo e tudo se resume a uma trupe de direitinhas do pior calibre. Na dúvida vai-se instalar entre os jornalistas a velha certeza de que, com o perigo de desemprego que hoje existe, é melhor estar com os patrões, não fazer grande barulho, que o mesmo é dizer que se deixe que seja a direita mais retrógrada a surgir a levantar bandeiras nesta ocasião.
Perante tanto poder que a direita possui, seria legítimo esperar que nunca a extrema-esquerda o ajudasse a solidificar. Esta actual bisbilhoteirice, esta procura de saber quem movimenta os cordéis, quem mobiliza forças para a direita ou a esquerda, é da parte desta um suicídio político. A velha direita, que de alguma maneira precisou da esquerda de forma instrumental, espreita calada e o quanto quieta quanto possível para receber de volta o seu poder inescrutinável.
A direita tem uma vantagem enorme, decisiva, é que não precisa de telemóveis para se entender.

17 fevereiro 2010

A escolha de um homem de prestígio

A escolha de Victor Constâncio para vice-governador do Banco Central Europeu demonstra o seu prestígio profissional. Como se justifica então a vergonhosa encenação feita na Assembleia da Republica para o achincalhar? Como se justifica que um Nuno Melo qualquer tenha atingido uma popularidade tão grande à custa de agressões verbais não corroboradas pela Chanceler Alemã que, diga-se, é a chefe incontestada do seu grupo político? Qual destas personagens terá razão? Andará a Alemã distraída? Claro que não.
Diga-se que, quando a direita é maioritária na Europa e dado o seu peso a nível das Nações Unidas, os ex-dirigentes socialistas têm sido “aproveitados” em missões de grande importância a nível internacional. Da direita nacional tivemos o Cavaco Silva a ser ignorado durante dez anos no panorama internacional e como excepção destaca-se apenas o Durão Barroso, como homem da diplomacia habituado a ser reverente e respeitoso de modo a conciliar os interesses dos lideres poderosos da Europa.
Victor Constâncio foi acusado aqui de não ter supervisionado e fiscalizado de modo eficaz a Banca nacional e foi convidado para cargo idêntico no BCE. Isto demonstra a ignorância dos Nunos Melos deste País. E diga-se que se uns meses antes da crise o Victor Constâncio ousasse pôr em causa a rectidão e seriedade dos banqueiros levantar-se-ia toda a direita nacional a clamar contra um atentado à livre iniciativa e à economia nacional.
Victor Constâncio deveria ter esmiuçado melhor as contas dos Bancos, é verdade, mas a Lei não lho permitia explicitamente. E, quando os procedimentos não estão explicitamente autorizados na Lei, cai o Carmo e a Trindade quando aqueles se implementam. A Banca exige reserva, comedimento nos processos e na informação.
Se os banqueiros aproveitaram isso para retirar dividendos indevidos faltaram à confiança que lhes é devida devem ser penalizados por isso. O espectáculo feito na Assembleia da Republica por deputados demagogos só se entende como uma tentativa de encobrir os verdadeiros crimes dos banqueiros e de retirar deles o enfoque da opinião pública. Na verdade parece terem-no conseguido.
O caso Victor Constâncio é só mais um demonstrativo da mesquinhez, inveja e vingança rafeira, características de todos os falhados nacionais.

16 fevereiro 2010

O P.S.D. precisa de uma maior cura de oposição

Na escolha do futuro líder do P.S.D. os seus militantes inclinar-se-ão nestas circunstâncias para o mais agressivo, não necessariamente para aquele que tenha mais hipóteses de construir uma alternativa ao P.S., nem sequer talvez para aquele que tenha hipóteses de vir a obter melhores resultados. Os ânimos estão tão acirrados que muitos adeptos do P.S.D. antes querem perder com um candidato truculento do que ganhar com um candidato mais soft, mas mais sério.
Mas também haverá aqueles que acham que um candidato do género bombástico, imediatista, pragmático será o mais adequado numa altura em que se coloca a hipótese de eleições a curto prazo. Assim não seria necessário elaborar grandes programas, justificações consistentes porque não seria preciso convencer ninguém, tão só seria preciso ocupar o vazio. Porém tal estratégia já provou com Ferreira Leite não ser vencedora.
Para quem ainda não retirou todo o crédito a um partido tão volátil como o P.S.D. o desejo seria que elaborasse um programa e uma metodologia que estaria disposto a aplicar na governação do País e não tivesse pressa porque os exemplos anteriores são prejudiciais para si, não tendo levado a resultados positivos também para o País. A situação é porém favorável ao deserto de ideias a que todos nos habituarem.
Para quem faz do P.S.D. a fonte de toda a força da direita neste País e portanto deseja que ele vá definhando, mesmo que com benefício de uma direita mais radical instalada no C.D.S., é natural que deseje para candidato do P.S.D. o pior de todos os que se anunciam. Mas mesmo a estes se deparam duas cambiantes: Podem querer um candidato perdedor ou um candidato que ascenda ao poder pela sua demagogia e se venha a estatelar a curto prazo.
É verdade que sem passar por certas experiências nunca mais as abominaremos. Abominamos o Comunismo porque se mostrou de modo claro a toda a gente o seu carácter perverso. Abominamos o Salazarismo porque sabemos o que ele representou de atraso, sofrimento e apatia. Mais recentemente Santana Lopes foi a vítima do confronto do voluntarismo com a realidade. Outro candidato voluntarista pode ter por esta razão poucas hipóteses.
O P.S.D. não se apresenta em condições de ascender ao poder. Será pois melhor ficar arredado deste por mais uns tempos.

15 fevereiro 2010

Escrúpulo democrático só com democratas

Num País de longa tradição democrática nada seria como na Madeira. Assim deveria falar Alberto João mas não falou. Trocou a Madeira pelo País inteiro e os jornalistas ouviram submissos e reverentes. A não ser o João Jardim ninguém mais tem um Jornal ao seu dispor e ninguém a não ser ele lança tantas diatribes contra a imprensa que o não bajula.
Numa sondagem recente mais de 80% das pessoas inqueridas insurgiu-se contra mais dinheiro para a Madeira e já é sabido que a maioria das pessoas acham o João ridículo, um palhaço que à custa disso vai levando a sua avante. O que é caricato é que o P.S.D. se deixe enredar por este chantagista pitoresco e medíocre.
Mas também o B.E. e o P.C. se sentem lisonjeados que o João lhes dê lugar num governo do País que se possa formar para afastar o P.S. Não deixaria de ser bonito ver o Louça e o Jerónimo dando o braço a um Rangel qualquer apostado em liquidar de vez qualquer hipótese de haver em Portugal um pouco de socialismo.
A hipótese não está afastada. Os comunistas são traiçoeiros e os bloquistas são aprendizes de feiticeiros. Na sua sanha de ver derrotado o Partido Socialista são capazes de tudo. Antes a direita real a este Partido Socialista que faz fretes à direita, dirão. Vão por aí que vão bastante mal. Se pensam herdar a bandeira do socialismo e com ela fazer uma oposição tenaz à direita podem vir a ter sorte. Mas ficarão demasiado sós e não chegarão a lado algum.
A esquerda não pode continuar nesta caminho suicida. A sua exigência tem limites e não pode pôr em causa a sua sobrevivência. O sonho de construir um Estado Socialista irreversível na sua estrutura já ruiu há mais de vinte anos. O que nos resta é lutar por manter formas de intervenção política que não permitam uma nova ditadura do capital, isto é, incentivem todos a explorar os sentimentos de partilha e de solidariedade.
Sócrates cometeu erros? Terá, mas a direita é toda ela um erro. De momento só há uma alternativa, colocarmo-nos sob o jugo dos malabaristas do P.S.D. e isso tem a minha recusa. Entre Joaquim Coimbra, João jardim, Paulo Rangel e toda a camarilha que gravita à volta do P.S.D. e Sócrates eu estou ao lado deste. O escrúpulo democrático só tem que ser assumido pelos democratas quando todos o respeitarem.

14 fevereiro 2010

As virgens pudicas e irresponsáveis da oposição

A dita voz popular sempre se caracterizou por um julgamento simplista das coisas. Sem grande profundidade cometem-se erros, ignora-se muita informação, usa-se os sofismas mais desavergonhados com uma inocência quase absoluta. Os políticos adoptaram esta mesma posição só que neles isso só é possível com muito pouca-vergonha, ao contrário da imagem de virgens pudicas que pretendem transmitir.
Genericamente os políticos quando estão na oposição colocam uma esponja sobre o seu passado, fazendo o possível por ignorar o seu próprio contributo para a forma errada como muitas das questões que se põem ao Estado são encaradas. Muitos trataram de forma displicente certas questões que hoje lançam para a frente da batalha como problemas que já deviam estar resolvidos há muito e portanto se têm que resolver de imediato.
Hoje o que se discute preferencialmente são duas questões que estão longe de ser únicas, mas que atingiram o monopólio da agenda política. A questão do deficit tem origem numa crise exógena agravada pelas condições próprias do nosso sistema económico. Estas condições tem muito de histórico, as suas responsabilidades teriam que ser assumidas por muitos políticos ao longo da história desde a época dos descobrimentos ao salazarismo ao PREC ao cavaquismo ao guterrismo.
A outra questão é a da liberdade num Estado de Direito. Há aqui uma questão de construção de um edifício judicial, com leis, práticas, vícios que nunca foram superados, mas que são responsabilidade de todos. E aqui será sempre difícil chegar a uma base segura dado a nossa permanente deambulação entre um pródigo facilitismo e benevolência e um exigente rigor e justicialismo que não permitem uma solução estável.
O problema da liberdade também se tem que colocar a um nível global, temos que saber se nesta sociedade é possível eliminar os vícios de intervencionismo do Estado que ainda subsistem, como vamos controlar os vários poderes, entre os quais os políticos e os económicos, que interferem directa e indirectamente, através da influência e da posse, sobre os meios de comunicação social e sobre a liberdade em geral.

13 fevereiro 2010

A partir de agora nada se poderá esconder

Um sapiente magistrado de Aveiro botou um despacho que se insere perfeitamente no sistema justicialista, sistema que utiliza a comunicação social como habitáculo e a opinião pública mais estrondosa como a fonte de toda a justiça. Para ele as escutas indiciam um interesse dos meios ligados a José Sócrates em providenciar pela alteração do domínio de alguns órgãos de informação.
Naquilo que tal magistrado acha poder estar algo de ilegal é na utilização de meios do Estado para sustentar essa pretensão. Sendo a imprensa um negócio difícil e em muitos casos deficitário esse magistrado estranha o interesse da PT e lança a suspeita de que esta só estaria interessada em avançar para tal negócio de viesse a receber contrapartidas do Estado em devido tempo.
Tal suspeita só pode vir de uma mente tendenciosa porque não haverá empresa mais envolvida no negócio das comunicações do que a PT e até seria mais adequado perguntar a outras empresas que não tinham ligações ou tinham ligações ténues a essa linha de negócios porque é que a seguem. Belmiro de Azevedo é um caso em que essa questão se pode pôr até porque ele tem dito que está disposto a vender o “Público” a quem queira perder dinheiro. O que levará vários barões do P.S.D. como o Joaquim Coimbra a investir no “Sol”? Puro altruísmo?
Infelizmente muitos elementos da magistratura portuguesa andam a levantar processos de intenção em vez de trabalharem com os elementos que lhes são facultados sem os submeter à devassa dos meios de comunicação, sempre ávidos de se imiscuírem na vida privada, social e de negócios das pessoas, preferencialmente das figuras públicas.
Mas também ninguém duvidará. A partir de agora tudo vai ser diferente. Se apanharam o Poder sem véu, desnudado, muitos outros poderes vão ser postos a nu. Mas leve-se em conta que os métodos utilizados não podem ser bons ou maus conforme quem os usa. Se a imprensa vai poder impor a sua transparência a outros domínios muito se saberá. Até que ponto se vai poder fazer justiça é que é problemático. Nada se poderá esconder.

12 fevereiro 2010

Do saco de gatos saiu um zaganeiro

Do saco de gatos que é o P.S.D. saiu um gato assanhado, Paulo Rangel. Este bichano demagogo quis antecipar-se à apresentação da candidatura de Aguiar Branco prevista parar sexta-feira. Uma jogada de antecipação tão evidente que o seu efeito será provavelmente nulo. Hoje já ninguém anda desprevenido para embarcar no primeiro cacilheiro que lhe aparece.
A sua insistência em rotura, rotura e mais rotura só revela que terá sido ele o conselheiro mor de Ferreira Leite que veio logo de início com esse discurso mas teve que inflectir para não ficar desacreditada. Será que este desbocado acredita mesmo que o povo acredita em profetas da desgraça?
Passos Coelho vai ter pois com quem discutir o rumo a tomar pelo P.S.D. Espero que venha a ser definido qual a doutrina política que os anima, em que lado do neo-liberalismo cada um deles se situa, qual a posição de cada um em relação ao sistema de segurança social, particularmente em relação ao sistema de reformas de que as pessoas possam vir a beneficiar na sua velhice.
Estes e muitos outros temas, em que a educação e a saúde são as mais relevantes, são aqueles em que estes candidatos demonstrarão se estão a favor da capitalização total da sociedade ou prevêem poder existir algum espaço para a solidariedade. Isto de se procurar saber qual é o mais anti-Sócrates é uma curiosidade mórbida. O que interessa saber, para o que devemos estar mais atentos é para o grau de anti-socialismo que cada um transporta.
A direita tem um dilema que a tolhe. Se tudo se clarificar, se se mostrar ao povo na sua nudez é natural que perca apoios daqueles que conseguem influenciar enquanto se mantém esta nebulosa sobre as suas reais intenções. Até aqui a direita tem-se visto bem a causar confusão, a sua ambição era chegar ao poder com um cheque em branco, mas vai ter que dizer ao que vem se quer ter hipótese de ser mais do que um estorvo para o País.

11 fevereiro 2010

Há liberdade de expressão. Liberdade de imprensa é que pode não haver.

Discute-se agora a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, eventualmente outras liberdades, consignadas ou não na Lei. Quem lança a discussão é a direita coadjuvada pela extrema-esquerda. Em condições normais seria de os mandar assustar pardais, mas também não custa abordar um assunto que é sempre inesgotável.
A liberdade de expressão, até dados os meios ao dispor de todas as pessoas, não é posta em causa nas sociedades livres. Todos podem expressar a sua opinião, claro que nem todos a poderão expressar pelo meio que gostariam. A televisão, a rádio, os jornais não chegam para todos e ainda são estes meios que dominam o panorama da comunicação social em Portugal.
O que está pois em causa nas actuais circunstâncias não é a nossa intervenção directa, mas a participação que outros por nós e na nossa opinião deveriam ter, e não necessariamente para expressar a nossa opinião. O grande problema que está agora em causa é que esse espaço de opinião foi ocupado por jornalistas, alguns somente ditos, e que aproveitam esse facto para vinganças e afirmações pessoais pouco consistentes.
A confusão entre jornalismo que assenta na investigação de factos e na sua divulgação e o jornalismo que assenta na opinião, mas que deriva muito para a especulação dá sempre origem a dúvidas e incertezas. A dúvida sobre o papel de alguém que se apresenta como jornalista e que avança certezas e julgamentos que põe em causa o carácter das pessoas não deve existir.
Os directores dos meios de comunicação preocupam-se normalmente com as dúvidas que se levantam e fazem tudo para que a separação dos papéis seja clara. A deontologia profissional também aconselharia que assim fosse. No fundo toda a gente diz que a Moura Guedes é louca, mas muitos gostam das suas palhaçadas. O certo é que ela está de baixa, faz uma vida social normal e qualquer lavrador apanhado a dar milho às galinhas é penalizado por o estar a fazer. Mandem-na trabalhar, como jornalista se lhe acham qualidade.

10 fevereiro 2010

Quem precisava da mordaça?

Quando a direita, e mesmo a extrema-esquerda, vem falar de mordaça na comunicação social fá-lo com uma desfaçatez incrível. A direita sempre dominou a imprensa, é proprietária da maioria dos seus orgãos. Ela manipula à descarada, exerce a influência que a sua posição lhe permite, mais aquela que ultrapassa o seu poder legítimo, já para não falar do legal. A extrema-esquerda tem sido beneficiada por uma questão de estratégia da direita, para exercer a efeito de tenaz sobre o partido socialista.
A direita faz o seu papel, a que ninguém de boa fé fará corresponder qualquer respeito pela ética, pela legitimidade, mesmo pela legalidade, quando isso defende os seus interesses. A extrema-esquerda poderá vir um dia a rever a sua posição, quando a direita estiver no poder. Se partirmos do princípio de que há princípios de esquerda, não será possível descortiná-los na actuação da extrema-esquerda. A sua incoerência é óbvia.
A arruaça que a direita promove mereceria, por uma questão de higiene mental, de uma mordaça e talvez embevecida em pimenta. Porém quando possível é melhor dar ao desprezo toda esta canalha traiçoeira e indigna. A esquerda não estará isenta de algumas culpas, mas não se pode querer que os seus membros sejam exemplos de virtudes porque à direita é que eles não existem. Mesmo comparativamente a esquerda não fica mal no retrato.
Mesmo assim quando a direita consegue que todos os holofotes se virem para a esquerda estamos mal. Quando os deputados do partido socialista se permitem permitir que um Nuno Melo qualquer monopolize a comissão de inquérito para o caso BPN na qual aquele quis que o polícia (Vítor Constâncio) fosse culpado de todos os crimes dos criminosos Dias Loureiro e Companhia. Felizmente que cá o fumo para confundir o caso produziu algum efeito, mas na Comunidade Vítor Constâncio não viu o seu prestígio afectado.
Quem precisava de mordaça era o Nuno Melo e o Rangel que só vomitam asco no Parlamento Europeu.

09 fevereiro 2010

Com o Euro os pobres serão cada vez mais pobres. Poderemos sair do Euro?

Um analista internacional terá dito que alguns países que pertencem à zona Euro podem ter que a deixar por duas razões: Por a sua economia não suportar uma moeda tão forte e porque essa seria uma forma de evitar a contaminação das outras economias. Há quem diga que isso seria impossível, que depois de entrarmos não há porta de saída.
Essencialmente não é fácil, nem será mesmo possível reverter os efeitos que a nossa entrada na zona euro implicou na nossa economia. Mesmo que o país resolvesse criar uma nova moeda para uso interno nunca poderia ser imposta a conversão automática dos valores existentes nos bancos de euros para essa moeda. Quando Portugal afastou o Escudo não houve ninguém que lhe desse guarida, mas o Euro tem valor assegurado na Comunidade Europeia.
O Estado passaria a contratar internamente e a pagar nessa nova moeda e o seu valor depreciar-se-ia em relação ao Euro o que diminuiria as suas responsabilidades. Mas o Estado teria que pagar as suas dívidas contraídas no exterior em Euros e a fazer contratos externos nessa moeda.
Quanto às empresas necessariamente que estas iriam poder optar por trabalhar numa das moedas, sendo-lhes facultado continuar com o Euro, mas as suas relações com o mercado teriam que ser sempre na nova moeda local. Aquelas que tivessem que ser concorrenciais no mercado interno teriam que mudar de moeda, mas aquelas que trabalhassem essencialmente para a exportação poderiam funcionar em Euros. Umas e outras pagarão aos seus empregados na nova moeda e aos gestores em Euros.
Esta situação custa a entender, mas na prática já é o que se passa. A pressão do Euro far-se-ia sempre exercer, mesmo sem ser a moeda única. Uns passaram a viver bem com Euros e viviam menos bem com Escudos. Outros continuaram a viver mal com Euros, tal qual já viam mal com Escudos. A moeda Euro vai continuar a tornar os pobres mais pobres porque, não havendo riqueza a distribuir e os poderosos querem continuar a ser ricos, os pobres terão que ser cada vez mais pobres.

08 fevereiro 2010

Como devemos circular nas rotundas


Quem chega a qualquer rotunda vê comportamentos diferentes, uns por ignorância, outras por espertismo, mas que levam sempre a confusões desnecessárias e chatices evitáveis. A imagem acima, fornecida pelos próprios serviços oficiais, esclarece como devemos proceder e era bom que as escolas a tivessem em conta nas suas aulas. Tenho visto muitos carros de escolas de condução a proceder incorrectamente.
. Um exemplo típico é a rotunda de S. Gonçalo na qual e bem o acesso pelos vários lados está dividido em duas faixas, mas a que falta pintar no chão o uso que cada uma delas deve ter. Quem vem do lado de Sabadão deve-se encostar à direita se quer seguir para a estrada de Viana, caso contrário deve encostar-se à esquerda. Como se vê pela imagem quem queira sair da rotunda só deve passar à faixa exterior imediatamente a seguir à saída anterior à que vai usar.
Não se justifica o espertismo de esperar para ver se quem segue à nossa frente vai pela esquerda para nós irmos pela direita, mesmo que não queiramos sair na saída imediata ou ele vai pela direita e nós seguiremos então pela esquerda, quando é evidente que o parceiro da direita nos vai apertar dentro da rotunda porque ele não vai querer sair na saída imediata.

07 fevereiro 2010

A política do espreita e do escuta

As escutas, processo desde que há comunicações usado para fazer espionagem e perseguição política, aparecem ciclicamente nos jornais e telejornais de modo intencional para produzir efeitos na acção política. Mas agora aceita-se qualquer escuta, seja no restaurante mais luxuoso de Lisboa ou numa tasca transmontana. Ou, pelo contrário, recuperou-se um processo muito em voga no tempo de Salazar. Nessa altura ninguém podia estar descansado em lado algum porque havia o temor de estar um bufo à escuta. Hoje os bufos esmeram-se neste tipo de espionagem.
Porém o que mais espanta nesta devassa da vida privada das pessoas é a selectividade com que as escutas são reveladas, a escolha dos tempos, dos temas, das personagens. Depois é a escolha das pessoas a quem é dado conhecimento prévio das escutas, para que essas pessoas vão preparando o terreno para a revelação pública. Pelo que se sabe agora M.F. Leite saberia do teor das escutas praticamente desde que elas foram feitas.
A pressão a que tem estado sujeito José Sócrates por todos os motivos, uns normais, outros claramente fabricados, outros ainda manipulados tem levado a que ele, em conversas privadas, expresse estados de alma que não sendo aceitáveis como actos políticos são perfeitamente compreensíveis que se expressem quando uma pessoa encontra amigos com quem tenha relações mais estreitas.
Os políticos da oposição todos se armam em seres perfeitamente racionais, assépticos, como se não fizessem mal a uma mosca. Na realidade são perversos, inamistosos, convencidos, agressivos. As relações de M.F. Leite com a imprensa revelam um carácter exacerbado, intempestivo, acrimonioso. Porém a imprensa não releva quem tem com ela uma relação franca e de respeito mútuo. A imprensa tem-se deixado arrastar pelo espectáculo e pela conflitualidade.

06 fevereiro 2010

A trincheira do P.S.D. está em terreno minado

A actual direcção do P.S.D. tem uma ambição suprema: Deixar a situação política numa trincheira que, não podendo ser em terreno adversário, seja pelo menos numa parte favorável do seu terreno. Não quer saber do interesse nacional. Acha que o seu problema interno é mais importante, precisa de clarificar com urgência a sua situação, acha que a herança a deixar à próxima direcção deve ser suficientemente forte para lhe dar uma margem de manobra razoável.
Sendo a Madeira o único terreno favorável ao P.S.D. é lá que estão acantonadas as suas forças. A direcção do P.S.D. sente-se reconfortada. Muitos militantes sentir-se-ão desconfortáveis, mas também não se sentem comprometidos. Pelo contrário, se as coisas correrem mal vai ser de escacha pessegueiro a bater nestes desgraçados que têm estado à frente do partido.
Para o P.S. há que aproveitar a situação. Tendo o P.S.D. recuado para a sua zona de acantonamento só lhes resta mantê-lo sobre fogo suficiente para que se não liberte dessa colagem a tão execrável ser como o João. O P.S.D. dificilmente conseguirá passar para um sistema de política construtiva ao ter que justificar permanentemente esta anomalia legislativa que agora patrocina. A situação será desagradável para o P.S. pela mudança que implicará na sua postura frontal e objectiva, mas tem sempre a desculpa de a não ter criado.
A situação mais favorável para o País seria o veto de Cavaco Silva, mas tal mostra-se improvável. Poria em causa o apoio do P.S.D. à sua recandidatura. O P.S.D: da Madeira tomaria decerto posições mais radicais. Cavaco Silva não quererá hipotecar uma relação que não tempo sido fácil e a que ele tem tentado dar a ambiguidade suficiente para o não comprometer. Mas é evidente que no limite ele tenderá a comprometer-se com o seu partido e deixar o P.S. sozinho com os problemas do País.

05 fevereiro 2010

Os pequenos monopólios caseiros são nossos inimigos

Noutros países é comum ouvirem-se apelos constantes ao consumo de produtos nacionais. Cá só esporadicamente tais apelos se ouvem. E pelo que se vê caem em saco roto. As pessoas poderão dizer que os produtos chineses são mais baratos, que mesmo marcas com reputação firmada produzem na China os seus produtos, às vezes dá trabalho saber com precisão quem produziu, mas acaba-se por descobrir que vem do Extremo Oriente, há mesmo quem não cumpra todas as regras de identificação dos produtos.
Além daqueles que se instalam na China de armas e bagagens, há sempre alguém disposto a mandar fazer lá aquilo que cá se faria por mais uns tostões. Porém quem faz mais dano à nossa economia são os grandes armazenistas e as grandes superfícies comerciais. Estes estão pura e simplesmente marimbando-se para a nossa economia, só vêm a margem comercial e a comparação com a concorrência.
O problema do leite é o resultado da ganância das grandes superfícies. O optimização das condições de produção já tinha levado o País a concentrar toda a produção em grandes unidades, localizadas preferencialmente no litoral norte do país, destruindo de vez toda a agricultura de subsistência a que a lavoura estava habituada. Os grandes monopólios da distribuição não se importaram de comprar os excedentes doutros países a preços de saldo para usufruírem assim de lucros extraordinários.
É difícil pedir sacrifícios à população quando o sector intermediário, incluindo o sector financeiro, preocupado apenas com os seus lucros, recorre a todos os mercados para obter ao mais baixo preço todos os produtos, inclusive aqueles que concorrem com produtos dos sectores mais vulneráveis da economia nacional.
Pode haver um benefício para a população que compra agora um produto mais barato, mas será temporário pois não há qualquer garantia que esse preço se mantenha no futuro. Depois corre-se o risco de destruir de modo irreversível um sector produtivo inteiro, incapaz de temporariamente concorrer com produtos estrangeiros em saldo, mesmo que a prazo seja viável e competitivo. De qualquer modo é vital para a economia nacional manter este e outros sectores produtivos.

04 fevereiro 2010

A necessidade de poupança e inovação

Não havendo aumento do mercado a que a nossa economia aceda, não havendo aumento da produtividade desta economia, ela estagna. Se ainda por cima há produtos inovadores que são lançados no mercado com proveniência em outras origens e a nossa economia não está na linha da frente da sua produção então ela vai regredir, perde valor.
Não há muito tempo ainda se clamava pelo aumento da produtividade, era a nossa salvação, porque nos poderia pôr a produzir mais e logo tornava-nos mais competitivos no mercado global. A capacidade de produção instalada seria suficiente. Hoje muito dessa capacidade está inoperante e chegou-se à conclusão que nas indústrias de mão-de-obra intensiva estamos em desvantagem, não devido a problemas de produtividade, mas de condições de trabalho, que são absolutamente distintas. A competitividade directa está perdida.
Para agravar a questão os países emergentes tem agora capital para investir nas indústrias de capital intensivo pelo que não faltará muito tempo dominarão estas também. Mas além disso esses países já não se vão limitar a copiar os mais industrializados e avançados mas decerto que vão inovar o suficiente para se colocarem num patamar superior à economia ocidental.
Certos países de que se destaca os E.U.A. e alguns dos pertencentes ao G8 tem dado cartas na distribuição internacional do trabalho. O G20 é um primeiro passo para reposicionar a ponto de equilíbrio mundial, mas decerto não será o último. Para sobrevivermos não há mercados fechados, nem produtividade que chegue. Poupança, Inovação e agradecíamos uma política europeia solidária e que vise a coesão social são as nossas hipóteses de ultrapassagem desta crise nacional agravada.

03 fevereiro 2010

A inabilidade da esquerda em fazer frente à direita

A direita está há séculos no poder. Dizem que o povo português vota à esquerda, mas a ideologia dominante é de direita. A esquerda continua a não saber construir o seu futuro. O falhanço do guterrismo e a nova configuração da esquerda que se foi afirmando levava a pressupor que uma nova esquerda viria aí para ajudar na rectificação do caminho que tinha sido adoptado. No entanto essa esquerda vai caindo nas armadilhas que a direita lhes vai pondo.
O sonho da direita é reduzir o P.S. ao nível dos partidos de extrema-esquerda. O sonho da extrema-esquerda é reduzir o P.S. à sua dimensão. O colocar em causa a liderança da esquerda não constitui qualquer problema para os extremistas. Assumem o papel de incentivar o povo à reclamação, mas com um discurso primário que o povo aceita, sem pensar, que isso só vai acontecer quando a crise for séria.
A direita sabe encaminhar a discussão para os assuntos que domina. Habitualmente nos momentos decisivos a esquerda claudica, desaparece, mergulha na sua própria inconsequência. O facto da extrema-esquerda ter tomado conta da palavra não garantiu resultados duradouros. A extrema-esquerda ainda se não apercebeu que percorre terreno minado e que os seus entusiasmos não contagiam, vão-se revelar passageiros.
Há na extrema-esquerda uma alucinação, uma ânsia de derrotar, de deitar abaixo, de humilhar quem se arroga ser de esquerda e não se enquadra nos seus cânones. O caminho da extrema-esquerda está cheio de cascas de banana que nem sempre ela consegue evitar. A extrema-esquerda faz muitas vezes favores à direita que esta nunca lhe faria.
A direita está preparada para gerir os seus desafios. A extrema-esquerda ainda não e pode deitar tudo a perder.

02 fevereiro 2010

Crespo faz jus ao nome

Uma outra cena, agora com três ministros, e entre eles o primeiro, e um homem da TV, todos a conspirarem num jantar perante imensa gente, a falar alto e com bom som contra o Mário Crespo era agora o tema duma crónica deste escrita e paga pelo JN para ser publicado no dia 1 de Fevereiro. O JN resolveu não publicar, achou que o seu tema excedia em muito o que seria de esperar de um artigo de opinião e eis aí os falsos profetas a falar de censura.
Mário Crespo excede-se claramente na apresentação do seu jornal na Sic-Notícias. Assume-se claramente como parte, tendo e fazendo por mostrar a sua interpretação própria dos acontecimentos. Encontrou agora um programa “O Plano Inclinado” apropriado para explanar as suas ideias e aí tudo bem. Já os seus artigos de opinião no Jornal de Notícias revelam uma agenda escondida, um programa de luta, um objectivo a atingir.
Falei em
Mário Crespo quer fugir à dicotomia e derrubar os dois pela estranheza que o tipo de linguagem de Mário Crespo me causava. Agora apareceu pelos vistos quem o queira ajudar neste seu propósito messiânico. Anda por aqui muita gente e querer protagonismo, alguns a quererem ser profetas e uns poucos a quererem ser o Messias. Não farão senão o papel de Judas, mas que são persistentes, lá isso são.
Nota-se em Mário Crespo uma ambição que extravasa em muito o seu papel na Sic. Só que, como muitos, só encontra perspectivas de conseguir atingir um objectivo a que possa atribuir grandiosidade derrubando alguém que detenha poder bastante. Muitos de nós, na impossibilidade de fazermos algo de positivo viramos automaticamente a mira para uma negatividade avassaladora. Só que bater em criminosos, em gananciosos não dá louros. Louros esperam-se para quem derrube governos.
Há uma grande confusão em relação àquilo que são opiniões e aquilo que são pretensos factos que se querem introduzir em artigos de opinião para que sejam dados como factos consumados. Quem é jornalista não é inocente ao promover esta mistura. Mário Crespo é suficientemente esclarecido para saber isto, mas há realmente propósitos impositivos.

01 fevereiro 2010

A esquerda nada conseguiu contra as multinacionais

As forças políticas fazem esforços inauditos para introduzir ou manter na agenda política determinados assuntos que acham que, pela perspectiva pela qual estão a serem vistos, lhes trarão benefícios imediatos. Um assunto que de momento é desagradável é evitado ao máximo. Mas o mais grave é que se fixou que historicamente determinados assuntos são mais de esquerda ou mais de direita e a realidade vai-se encarregando de desfazer essa vinculação já tida por definitiva.
O deficit das contas públicas é dos tais assuntos cujo valor como objecto de discussão é atribuído à direita e que portanto a esquerda deve evitar. Jorge Sampaio disse mesmo que “havia mais vida para além do deficit”. Como todas as afirmações em política esta não tem carácter absoluto, podendo até vir a ter um carácter negativo. Sócrates desfez este tabu e preocupou-se com o deficit o que para a esquerda foi um sacrilégio. O deficit é agora um assunto a que a esquerda se não pode esquivar.
Sempre se disse que Sócrates fez a política que a direita gostaria de ter feito, que Sócrates retirou ao P.S.D. o seu programa, as suas possibilidades de vir a ascender à área de governação por não ter uma política diferente para mostrar. A esquerda recusou-se a discutir os benefícios que a política prosseguida por Sócrates trouxe para o País e atribuir-lhe pelo contrário a origem de todos os males. Sócrates não evitou todos os males, mas evitou males maiores.
Porém estes males vieram por outra banda, extravasaram os parâmetros que eram tidos por seguros e a que alguns até acharam excessivos. Um dos males maiores foi o abandono que as multinacionais fizeram deste País. Já não pagavam ordenados famosos, mas mesmo assim trocaram-nos por outros países mais baratos ainda. Muitos dos que acreditaram nas virtudes dos ataques às multinacionais lamentam agora não se lhes ter dado outra oportunidade. Multinacionais estais perdoadas.
As multinacionais sempre se portaram mal, é verdade. Mas não foram os ataques que lhes foram feitos que as afugentaram. Foram explorar outros mais fracos do que nós. Em muitos casos pouco terão ganho com isso porque tiveram que vender mais barato, eventualmente terão alargado o mercado. Em resumo a esquerda pode lavar a mãos que nada conseguiu por via da sua luta.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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