18 fevereiro 2010

A direita não precisa de telemóvel para se entender

Há na sociedade imensos poderes que não necessitam de se manifestar para garantir a sua sobrevivência. O seu peso não deriva da sua truculência, mas alicerça-se no domínio de centros nevrálgicos da nossa actividade social, cultural, económica, financeira, informativa.
Perguntar-se-á que poderes se movem no presente momento para alcançar o poder mais absoluto, o político. Grupos económicos que se sentem prejudicados, radicais da direita que se não submetem a ficar sem o seu poder secular, grupos religiosos necessitados de pôr o Estado a defender os seus valores, esquerdistas favoráveis à política de terra queimada?
Depois do tropeção de Santana Lopes, Sócrates conseguiu uma maioria temporária que foi sendo minada de todos os lados, perdendo as suas franjas mais vulneráveis às pressões mediáticas e a outras oriundas de vários poderes à direita e à esquerda. Foi sem grande surpresa que Sócrates perdeu a maioria absoluta, embora a maioria dos votos os tenha perdido para a extrema-esquerda.
Porém após esta recolocação de forças no palco político seria da mais pura inocência pensar que o futuro viria a ser resplandecente para Sócrates. O que surpreende nesta questão é a força com que a direita aparece e a perca de impacto que a extrema-esquerda vem manifestando. O que está a sobressair é o domínio que a direita tem na comunicação social. São os jornalistas da direita que aparecem como os heróis desta comédia que pode ser trágica.
Por este andar a voz que a extrema-esquerda tinha ou aparentemente tinha é calada ou se vai travestir. Afinal só tínhamos uma extrema-esquerda no estilo e tudo se resume a uma trupe de direitinhas do pior calibre. Na dúvida vai-se instalar entre os jornalistas a velha certeza de que, com o perigo de desemprego que hoje existe, é melhor estar com os patrões, não fazer grande barulho, que o mesmo é dizer que se deixe que seja a direita mais retrógrada a surgir a levantar bandeiras nesta ocasião.
Perante tanto poder que a direita possui, seria legítimo esperar que nunca a extrema-esquerda o ajudasse a solidificar. Esta actual bisbilhoteirice, esta procura de saber quem movimenta os cordéis, quem mobiliza forças para a direita ou a esquerda, é da parte desta um suicídio político. A velha direita, que de alguma maneira precisou da esquerda de forma instrumental, espreita calada e o quanto quieta quanto possível para receber de volta o seu poder inescrutinável.
A direita tem uma vantagem enorme, decisiva, é que não precisa de telemóveis para se entender.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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