Todos os que se apresentam à sociedade como gestores de expectativas têm de ser entendidos como só parcialmente responsáveis pelas consequências dessa gestão. Temos de saber como elas se formam em nós para sabermos aquilo que lhes pomos na mão.
As expectativas não se criam num dia, num ano, talvez não numa vida. As expectativas transmitem-se, herdam-se, na sua formulação entram amigos, os pais, as organizações, a sociedade em que se vive.
As expectativas sofrem das transformações veiculadas pelo ambiente geral, exigem adaptação, uma atitude activa de quem não quer ficar para trás, preso a moinhos que já não fazem qualquer aproveitamento da sua energia. Quem não procede assim é na literatura um Velho do Restelo e na política um salazarista ou um comunista, ou quem lhes veste a pele.
O abandono das expectativas é um processo doloroso e pode ser traumatizante se não se conseguir geri-lo convenientemente. Nunca é bom deixar chegar o dia em que essas expectativas têm, por força das circunstâncias, de ser efectivamente abandonadas, contra-vontade do próprio.
O bom senso dirá que se não deixe aquecer demasiado as expectativas, quando o mais provável é haver um arrefecimento súbito. O abandono das expectativas que possam ocupar a maioria do tempo de uma pessoa, que, digamos, passa a vida a trabalhar para elas, pode, por falta de uma alternativa evidente, próxima, compensatória e com o mínimo de viabilidade, levar a uma descompressão tal no imaginário pessoal que leve à desorientação, à perca de rumo, à falta de motivos e razões, inclusive, para viver.
Um outro problema surge quando nós entregamos a gestão das nossas expectativas, venham elas donde vierem, nas mãos de outrem, sejam políticos, gestores, amigos. As necessidades de abandono dessas expectativas cria revolta mas em termos pessoais é menos desgastante. Afinal podemos deitar as culpas a quem atribuímos as nossas expectativas. Esta atitude de muita passividade é a maior característica da nossa sociedade.
Uma nova classe de gestores de expectativas se criou uns anos após o advento da Liberdade. O Estado demitiu-se dessa função no campo do ensino superior e surgiram as Universidades Privadas. Estas assumiram não só a gestão do ensino ministrado, mas também a própria gestão das expectativas.
Muitos destes gestores deram a cara no programa “Prós e Contras” e, como bons gestores, procuraram levar a coisa para a brincadeira quando era a sério e levá-la para a seriedade quando seria ocasião de risota.
Portaram-se como qualquer português médio, mais não seria de esperar. Evoluíram também alguma coisa de modo que Salvato Trigo, em vez de falar de críticos de taverna, falou de críticos de café. É como quem já tenha saído mentalmente de Estorãos e agora esteja na Vila de Ponte de Lima. Mas é pouco falar das diferenças entre o ser e o ser considerado.
O Sr. Tribolet definiu bem de quem são as culpas para que o ensino privado continue a ser (considerado) coisa de brincadeira. Os visados não puseram o dedo na ferida porque têm medo de comprometer a sua vida, não se querem queimar nas labaredas que os políticos se mostram incapazes de travar e que têm obrigação de fazer porque foram eles que as atearam.
O sistema desenvolveu-se anarquicamente, tornou-se complexo, porque, mesmo com todos os problemas, as expectativas lá foram sendo geridas a contento de todos, dos que ganham com isso, dos que viram o povo satisfeito com a proliferação de “doutores”, dos “doutores” eles mesmos, mesmo que não arranjem trabalho facilmente, que os tradicionais filões, professorado, função pública, profissões liberais secaram.
Ninguém tem conseguido pôr o sistema a funcionar devidamente. Mas todos se atribuem boas intenções, ideias também vão havendo. O povo lança as culpas ao Estado e com razão, porque aqui se não trata até de gerir bem ou mal mas de pura demissão. As expectativas têm que ser geridas na sua quase globalidade pelo Estado, é o governo que vai a votos.
O Estado, não necessariamente o governo porque aqui cabem órgãos autónomos embora tudo ande misturado, tem de estar à cabeça para legislar, regulamentar, fiscalizar, avaliar. Aos gestores universitários que se deixe só a gestão corrente do ensino, todo igualmente subsidiado pelo Estado, e chega. Sempre haverá quem seja melhor que outro.
As expectativas não se criam num dia, num ano, talvez não numa vida. As expectativas transmitem-se, herdam-se, na sua formulação entram amigos, os pais, as organizações, a sociedade em que se vive.
As expectativas sofrem das transformações veiculadas pelo ambiente geral, exigem adaptação, uma atitude activa de quem não quer ficar para trás, preso a moinhos que já não fazem qualquer aproveitamento da sua energia. Quem não procede assim é na literatura um Velho do Restelo e na política um salazarista ou um comunista, ou quem lhes veste a pele.
O abandono das expectativas é um processo doloroso e pode ser traumatizante se não se conseguir geri-lo convenientemente. Nunca é bom deixar chegar o dia em que essas expectativas têm, por força das circunstâncias, de ser efectivamente abandonadas, contra-vontade do próprio.
O bom senso dirá que se não deixe aquecer demasiado as expectativas, quando o mais provável é haver um arrefecimento súbito. O abandono das expectativas que possam ocupar a maioria do tempo de uma pessoa, que, digamos, passa a vida a trabalhar para elas, pode, por falta de uma alternativa evidente, próxima, compensatória e com o mínimo de viabilidade, levar a uma descompressão tal no imaginário pessoal que leve à desorientação, à perca de rumo, à falta de motivos e razões, inclusive, para viver.
Um outro problema surge quando nós entregamos a gestão das nossas expectativas, venham elas donde vierem, nas mãos de outrem, sejam políticos, gestores, amigos. As necessidades de abandono dessas expectativas cria revolta mas em termos pessoais é menos desgastante. Afinal podemos deitar as culpas a quem atribuímos as nossas expectativas. Esta atitude de muita passividade é a maior característica da nossa sociedade.
Uma nova classe de gestores de expectativas se criou uns anos após o advento da Liberdade. O Estado demitiu-se dessa função no campo do ensino superior e surgiram as Universidades Privadas. Estas assumiram não só a gestão do ensino ministrado, mas também a própria gestão das expectativas.
Muitos destes gestores deram a cara no programa “Prós e Contras” e, como bons gestores, procuraram levar a coisa para a brincadeira quando era a sério e levá-la para a seriedade quando seria ocasião de risota.
Portaram-se como qualquer português médio, mais não seria de esperar. Evoluíram também alguma coisa de modo que Salvato Trigo, em vez de falar de críticos de taverna, falou de críticos de café. É como quem já tenha saído mentalmente de Estorãos e agora esteja na Vila de Ponte de Lima. Mas é pouco falar das diferenças entre o ser e o ser considerado.
O Sr. Tribolet definiu bem de quem são as culpas para que o ensino privado continue a ser (considerado) coisa de brincadeira. Os visados não puseram o dedo na ferida porque têm medo de comprometer a sua vida, não se querem queimar nas labaredas que os políticos se mostram incapazes de travar e que têm obrigação de fazer porque foram eles que as atearam.
O sistema desenvolveu-se anarquicamente, tornou-se complexo, porque, mesmo com todos os problemas, as expectativas lá foram sendo geridas a contento de todos, dos que ganham com isso, dos que viram o povo satisfeito com a proliferação de “doutores”, dos “doutores” eles mesmos, mesmo que não arranjem trabalho facilmente, que os tradicionais filões, professorado, função pública, profissões liberais secaram.
Ninguém tem conseguido pôr o sistema a funcionar devidamente. Mas todos se atribuem boas intenções, ideias também vão havendo. O povo lança as culpas ao Estado e com razão, porque aqui se não trata até de gerir bem ou mal mas de pura demissão. As expectativas têm que ser geridas na sua quase globalidade pelo Estado, é o governo que vai a votos.
O Estado, não necessariamente o governo porque aqui cabem órgãos autónomos embora tudo ande misturado, tem de estar à cabeça para legislar, regulamentar, fiscalizar, avaliar. Aos gestores universitários que se deixe só a gestão corrente do ensino, todo igualmente subsidiado pelo Estado, e chega. Sempre haverá quem seja melhor que outro.
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