23 outubro 2009

Os sentimentos numa sociedade dominada pela economia

Há uns poucos séculos atrás as crianças eram coisas sem valor. Os poderosos entregavam-nos às amas, depois a preceptores, os afectos eram nulos. Os pobres deixavam-nos arrastar na terra e na lama ao cuidado dos mais velhos e vizinhos. Eram um encargo irrelevante, a ter em conta só no termo de outros mais imediatos.
O capitalismo deu às crianças o valor que têm os futuros trabalhadores. Valor relativo, simples peças necessárias na engrenagem da produção. Hoje, e cada vez mais, as crianças têm o valor de já serem efectivos ou pelo menos potenciais consumidores, e de virem a ser produtores, elementos de pleno direito de uma economia, seja ela qual for.
Criou-se mesmo um temor de que a ausência de crianças possa representar falta de trabalho e de rendimento no futuro para suportar o pagamento das pensões de quem hoje trabalha. A crer no passado, a sociedade estaria a marimbar-se para as crianças, o que quer é manter o seu equilíbrio. O lado positivo é que esta situação levou à criação doutros sentimentos positivos em relação às crianças e não já sentimentos de compensação.
Cada vez mais cada pessoa é uma unidade básica da economia, com direitos e deveres, que não pode ser ignorada, marginalizada, excluída, antes tem que ser considerada nas suas características e potencialidades. Quando uma pessoa é incapaz de encontrar o seu lugar é a sociedade que tem de encontrar um lugar para ela.
Cada pessoa existe, não para que seja objecto de caridade, de perdão, de exclusão, para estar ao sabor de sentimentos pessoais, subjectivos, tendenciosos, mas para ser objecto de apoio, de condescendência, de inclusão, para ter sempre a seu lado uma ajuda solidária e institucional, ter um papel a desenpenhar.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana