27 outubro 2009

O esvaziamento dos discursos

As eleições têm o mérito sublime de esvaziar muitos discursos. Não esvaziam, claro, o do PC que se mantém fiel ao seu lema de propor que se inverta a política. Ninguém sabe o que quer dizer com isso, mas parece haver no espectro dos discursos políticos um espaço reservado para isso, para essa inversão sempre proposta, sempre adiada, sempre repetida.
Simplesmente o discurso catastrófico, que tornou a crise tema quase exclusivo, ou pelo menos à volta da qual tudo o resto tem que ser pensado, excepto, claro, aqueles, como os professores, que não querem saber da crise para nada, antes parece comprazerem-se em que à crise suceda a crise, dizia eu que o discurso catastrófico cedeu e deixou a crise como que órfão, sem pai e sem preceptor.
O grande sacerdote anda calado depois de ter minado já o caminho com as suas bombas retardadas. Os partidos classistas têm uma dificuldade evidente em traçar a fronteira dos proletários e dos outros, os partidos interclassistas que querem reservar um lugar no capitalismo do futuro para os micros, os pequenos e médios empresários esgotaram todos o seu discurso nas últimas campanhas eleitorais e têm agora uma mão cheia de nada para oferecer, prisioneiros que estão da lógica do grande capital, antes até do capital em grande, sem qualquer identificação senão a que lhe emprestam aqueles divinos gestores, super remunerados e super poderosos.
Por tudo isto as soluções para a crise surgem-nos sem ideologia, numa miscelânea intragável duma direita a oferecer o céu aos deserdados e uma esquerda a oferecer a defesa e a justa remuneração dos capitais amealhados, que aliás já não são nossos, estão todos hipotecados.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana