A tudo nos habituamos. Até a ver silvas onde antes havia vinhas frondosas com cachos de saborosas uvas em vez de amoras. E aqui é que entronca o problema da agricultura e da sua viabilidade como factor económico.
O carácter de agricultura promíscua e de subsistência alterou-se para uma actividade menos intensiva, supletiva e quase residual, cada vez mais residual. Cada vez há menos espaço no mercado global e no terreno local para uma agricultura mercantil, que aqui só existiu a espaços.
Se pusermos o problema em relação a essa agricultura supletiva, facilmente constataremos que ela se adaptará aos novos tempos, introduzirá novas espécies para acrescentar à variedade que se pretende ter para auto-consumo e abandonará aquilo que se revelar mais trabalhoso.
Os pequenos pomares, só existentes em quintas mais cuidadas, generalizaram-se. Em contrapartida a criação de suínos e vacas diminuiu drasticamente estando a caminho da extinção.
Se colocarmos o problema da produção mercantil, a evolução tem sido no caminho da degradação do seu valor, não havendo compensação para os antigos rendimentos. O número daqueles que conseguem sobreviver com alguma dignidade só com esse trabalho diminui dia a dia.
Antigamente, mercê é certo de uma vida de sacrifícios de caseiros, jornaleiros e até de senhorios das terras, a lavoura ainda ia permitindo algumas economias. Entesourava-se em ouro, gado ou terras.
Os produtos das rendas que sobejavam do auto-consumo eram vendidos a intermediários locais que, devido à fraca dimensão da maioria das propriedades, tinham que ir juntando os seus produtos para posterior venda a armazenistas das cidades mais próximas.
Eram principalmente milho, feijão, tremoço e mais alguns produtos que em menor quantidade também se vendiam na feira aos habitantes locais e a pequenos intermediários que lá se deslocavam.
O gado era vendido preferencialmente na feira com destino a outras paragens mas com a melhoria dos transportes passou a ser também vendido e recolhido por intermediários nas cortes dos lavradores.
O leite era vendido para o consumo dos habitantes, para pequenas fábricas de manteiga e queijo, depois para a fábrica de queijo Limiano que veio a agrupar as fábricas existentes.
A Agros haveria de monopolizar a compra do leite por efeito do associativismo agrícola corporativo. A recolha era feita em postos, em salas de ordenha colectivas e raramente individuais. Mas depois de uma grande expansão territorial, houve um declínio rápido com o fecho de postos e salas de ordenha, devido à contenção de custos da Agros para fazer face à concorrência. Restam algumas vacarias de razoável dimensão.
O vinho era vendido directamente aos taberneiros ou a grandes armazenistas exteriores pelos maiores produtores mas também havia armazenistas locais que seleccionavam os melhores.
O Estado, através da Federação Nacional dos Produtores de Trigo, fazia mesmo fora dos períodos de racionamento, a recolha dos cereais de sequeiro que também cá se produziam, em especial nas terras mais altas.
Este comércio foi a base da economia local durante séculos e daí a importância das feiras neste contexto. Nos anos sessenta o sucesso da Adega Cooperativa na produção do vinho, em especial branco e de preferência adamado, levou pela primeira vez no campo limiano à monocultura intensiva.
As vinhas sempre tinham sido de bordadura com latadas feitas de madeira e posteriormente de ferro em T, colocados sobre esteios de pedra. A permissão de vinhas em latadas contínuas, feitas ao mesmo feitio ou em cruz, mais tarde em bardos, levou a uma alteração radical com dispensa de muita mão-de-obra e a exploração directa pelos proprietários das quintas.
Os erros cometidos pela Adega, a perca dos mercados tradicionais criados à volta das colónias de emigrantes, as campanhas contra o consumo de álcool que erradamente se associa só ao vinho, as campanhas contra o vinho branco por mais doentio, a deterioração da vinha de tinto e o pouco cuidado com ela, a grande variabilidade na sua qualidade e quantidade anuais, porque não, a melhoria do gosto dos consumidores, levou a rapidamente se depreciar o contributo do vinho para a economia local.
(Continua)
O carácter de agricultura promíscua e de subsistência alterou-se para uma actividade menos intensiva, supletiva e quase residual, cada vez mais residual. Cada vez há menos espaço no mercado global e no terreno local para uma agricultura mercantil, que aqui só existiu a espaços.
Se pusermos o problema em relação a essa agricultura supletiva, facilmente constataremos que ela se adaptará aos novos tempos, introduzirá novas espécies para acrescentar à variedade que se pretende ter para auto-consumo e abandonará aquilo que se revelar mais trabalhoso.
Os pequenos pomares, só existentes em quintas mais cuidadas, generalizaram-se. Em contrapartida a criação de suínos e vacas diminuiu drasticamente estando a caminho da extinção.
Se colocarmos o problema da produção mercantil, a evolução tem sido no caminho da degradação do seu valor, não havendo compensação para os antigos rendimentos. O número daqueles que conseguem sobreviver com alguma dignidade só com esse trabalho diminui dia a dia.
Antigamente, mercê é certo de uma vida de sacrifícios de caseiros, jornaleiros e até de senhorios das terras, a lavoura ainda ia permitindo algumas economias. Entesourava-se em ouro, gado ou terras.
Os produtos das rendas que sobejavam do auto-consumo eram vendidos a intermediários locais que, devido à fraca dimensão da maioria das propriedades, tinham que ir juntando os seus produtos para posterior venda a armazenistas das cidades mais próximas.
Eram principalmente milho, feijão, tremoço e mais alguns produtos que em menor quantidade também se vendiam na feira aos habitantes locais e a pequenos intermediários que lá se deslocavam.
O gado era vendido preferencialmente na feira com destino a outras paragens mas com a melhoria dos transportes passou a ser também vendido e recolhido por intermediários nas cortes dos lavradores.
O leite era vendido para o consumo dos habitantes, para pequenas fábricas de manteiga e queijo, depois para a fábrica de queijo Limiano que veio a agrupar as fábricas existentes.
A Agros haveria de monopolizar a compra do leite por efeito do associativismo agrícola corporativo. A recolha era feita em postos, em salas de ordenha colectivas e raramente individuais. Mas depois de uma grande expansão territorial, houve um declínio rápido com o fecho de postos e salas de ordenha, devido à contenção de custos da Agros para fazer face à concorrência. Restam algumas vacarias de razoável dimensão.
O vinho era vendido directamente aos taberneiros ou a grandes armazenistas exteriores pelos maiores produtores mas também havia armazenistas locais que seleccionavam os melhores.
O Estado, através da Federação Nacional dos Produtores de Trigo, fazia mesmo fora dos períodos de racionamento, a recolha dos cereais de sequeiro que também cá se produziam, em especial nas terras mais altas.
Este comércio foi a base da economia local durante séculos e daí a importância das feiras neste contexto. Nos anos sessenta o sucesso da Adega Cooperativa na produção do vinho, em especial branco e de preferência adamado, levou pela primeira vez no campo limiano à monocultura intensiva.
As vinhas sempre tinham sido de bordadura com latadas feitas de madeira e posteriormente de ferro em T, colocados sobre esteios de pedra. A permissão de vinhas em latadas contínuas, feitas ao mesmo feitio ou em cruz, mais tarde em bardos, levou a uma alteração radical com dispensa de muita mão-de-obra e a exploração directa pelos proprietários das quintas.
Os erros cometidos pela Adega, a perca dos mercados tradicionais criados à volta das colónias de emigrantes, as campanhas contra o consumo de álcool que erradamente se associa só ao vinho, as campanhas contra o vinho branco por mais doentio, a deterioração da vinha de tinto e o pouco cuidado com ela, a grande variabilidade na sua qualidade e quantidade anuais, porque não, a melhoria do gosto dos consumidores, levou a rapidamente se depreciar o contributo do vinho para a economia local.
(Continua)