24 maio 2007

A Portugalidade está a um preço exagerado

A invocação de questões de origem étnica, etnológica, de proximidade, até de antiguidade nada acrescenta às possíveis razões para a regionalização. Respeitando e até louvando os estudos de pormenor que sobre esses aspectos se vão fazendo, não é por aí que chegaremos a algo de consistente que constitua uma mais valia irrecusável.
É que razões para nos separarmos, para ao menos nos demarcamos, sempre se arranjarão. Para nos unirmos é que é mais difícil. Faz-me lembrar os tempos de Salazar, os quais na área agrícola só agora se estão a modificar, em que a agricultura era estudada tão ao microscópio que havia regiões, sub-regiões e micro-regiões para tudo.
Aqui porque a vinha era a latada e ali de enforcado. Aqui porque as quintas eram delimitadas a muros de lei e acolá não. Aqui porque o gado tinha cornos, mais além era galego. Aqui porque a couve era galega, lá mais longe havia a penca de Chaves.
Quando queremos, tudo serve para nos zangarmos com o vizinho. Dir-se-á que os princípios não interessam, que os nascimentos se podem fazer em leito de palhas ou de mato. O aspecto principal é as consequências. Mas nós não queremos uma regionalização cujos fundamentos assentem na zanga.
A Lei determina e bem que haja um referendo, que haja um consenso tão vasto quanto possível, uma colaboração entre as partes e entre estas e o todo. Só há um princípio que a Lei não estipula e o devia fazer de forma vinculativa para todos:
Para dar seguimento à regionalização, o Sim no referendo teria que ocorrer em todas as regiões em que se quer retalhar o País. Não podemos obrigar uma região a existir se ela própria acha que não tem condições para tal, mas que já teria se englobada noutra ou com um a diferente partição.
Acima de tudo é necessário preservar a unidade nacional, garantindo a coesão territorial. Se Portugal nasceu a Norte, fixou cedo as suas fronteiras, cimentou cedo o uso de uma língua e de valores espirituais comuns, fortificou a sua coesão lutando em todas as zonas do País contra os adversários externos.
Portugal resistiu em uníssono contra a força centralizadora de Castela, garantiu de tal modo a sua identidade nos século XIV que, quando dinasticamente caiu na esfera espanhola, já as diferenças eram tantas que não era fácil suavizá-las.
De qualquer modo valeu-nos a derrota da Armada Invencível e toda a ajuda inglesa. Não se sabe se melhor ou pior, mas a história teria sido seguramente outra. São as contingências da sorte, do destino, do fado.
Em Portugal nunca ocorreu uma tentativa separatista com esse fim último. A Portugalidade faz-se sentir de S. Gregório a S. Vicente, nas Ilhas Atlânticas e até pelo mundo fora. O esforço desenvolvido pelos descobridores não foi feito pelos moradores da Ponta de Sagres, mas por todos sem distinção.
A produtividade do Minho em homens sempre se diluiu por Portugal, por Lisboa, pelo mundo. Aí não há diferenças. Lá fora os nossos casam-se mais entre si que cá dentro. A nossa fraca mobilidade interior é secular e já fez que nós só conhecêssemos o caminho do mar de Viana do Castelo a Lagos e das cidades ribeirinhas de Porto e Lisboa.
São movimentos que se não podem atribuir a má vontade dos políticos de hoje. Os nossos melhores cérebros seguem os mesmos caminhos há séculos de migração e emigração. Os nossos políticos, mesmo sem serem cérebros (serão?), são na maioria “provincianos”, até têm vaidade nisso.
Furtamo-nos à força centralizadora da Meseta Ibérica, o Planalto Castelhano, e caímos noutras. Os nossos primeiros barcos partiam de Sagres, mas quando passaram a trazer especiarias e oiro era de Lisboa que largavam e onde fundeavam. Pouco podemos fazer contra esta centralidade. Não podemos reescrever a história.
Podemos e devemos dizer que nem com Salazar houve um aparelho central tão vasto, tão forte, tão cheios de mordomias, tão convencido, tão afastado das realidades nacionais, tão parasitário, tão sugador de recursos.
Tudo o que for possível conquistar tem que ser efectivo e não por duplicação. As sanguessugas não podem passar de “produtoras” a “fiscalizadoras”. Ninguém pode ser cosmopolita à custa dos outros.
A regionalização tem que se fazer em prol de um Estado mais eficiente, enquadrada numa perspectiva nacional, que não podemos menosprezar mas que não nos pode sair ao preço por que está actualmente. A regionalização tem que constituir um reforço da nacionalidade.

6 comentários:

Unknown disse...

"Para nos unirmos é que é mais difícil. Faz-me lembrar os tempos de Salazar" - sem querer tirar importância ao presente artigo de "opinião" não pude deixar de aproveitar a "deixa" do não saudoso Salazar para comentar que, efectivamente, este é um blog que reclama pela centralidade ABSOLUTA e NÃO TEM LIMITES NO ALCANCE NEM DOS TEMAS..desde que devidamente controlados pelo Administrador..este tempo já foi caro Administrador. Claro que já deve saber ao que me refiro...apagar comentários que não vão de acordo com as sua opinião ou ideias?? deixar apenas aqueles que concordam consigo, serão amigos próximos? pela linha de pensamento, parece-me.. bloquear a possibilidade de alguém poder tecer algum comentário à suas opiniões? Que coisa tão feia!! Que tipo de ditadura preconiza? Como pode achar que às suas opiniões ou a este blog pode estar associado algum tipo de credibilidade?
Pode nem gostar de animais, ninguém o obriga a isso..mas deixe trabalhar quem gosta e quem tem vontade, força e determinação. Dedique-se a coisas mais construtivas e não se encoste na sua cadeira a destruir o trabalho dos outros, isso é o mais fácil. Ainda bem que há quem trabalhe..assim V. Ex.ª sempre tem o que criticar. Mais grave ainda é que critica sem conhecer realidades e factos lançando falsos argumentos...também isto não é lá muito bonito!! Olhe à sua volta, as novas gerações já não se identificam com a sua linha de pensamento, acorde!! Estão viradas para o desenvolvimento, para o futuro e para a preservação da natureza..Sim porque normalmente quem se preocupa com os animais (p. exemplo cães) também se preocupa com a natureza e vice-versa, até porque tenho uma ligeira ideia que as duas coisas até podem estar relacionadas... É possível conjugar as duas coisas, sabia?? Chama-se DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Ah !! grande chavão!!!pena que muitos falem dele e muito poucos o entendam. Que pena quando se confundem as coisas. Até agora existia uma Associação que tratava dos "incómodos" cães abandonados, os rafeiros, os de raça, etc.. ajudava aquelas pessoas que na falta de serviços públicos (obrigatórios), para dar resposta a esta necessidade, recorriam a Associação para resolver esses problemas, ou porque tinham encontrado um animal atropelado, ou por uma questão de higiene pública ou mesmo porque eram hospitalizadas e não tinham a quem deixar os seus animais..sim porque se os animais não têm sentimentos, estas pessoas que recorreram à Associação devem ter, ou também não? Bom, dizia eu, se até agora essa Associação era útil, agora, que existe um canil intermunicipal, já não o é? Mas porquê? A associação não vive dos subsídios das autarquias, nem de nenhum fundo público de financiamento? Sabia disso? Vive do seu trabalho e da ajuda de quem acredita em princípios nobres e tem a sensibilidade para respeitar e para entender que os animais também têm direitos. No fundo algo semelhante ao que se passa nos países desenvolvidos, já conheceu algum?
Sei que são muitas as questões colocadas e que provavelmente este meu "breve" comentário será sujeito a rigorosas normas de avaliação e censura, o seu destino, nesse blog, será certamente o do caixote do lixo. Mas pelo menos fica-me a satisfação de o ter escrito. Só para terminar e sem querer obviamente ofender alguém em particular, só me ocorre o seguinte comentário, cliché, eu sei, mas inevitável: quanto mais conheço os homens..mais gosto dos animais!

trigalfa disse...

Desconheço até se o seu anterior comentário era deste teor mas, se o era, lamento tê-lo eliminado. É que não alinho em campanhas e muitos menos aceito afrimações do teor da maioria das intervenções que foram colocadas neste blog.
Quanto ao texto criticado, educado como devem ser os comentários, só levantada duas questões pertinentes: A localização do canil provisório e do definitivo que só será uns metros acima e estou no meu direito e o cartaz do Campelo que poderia ter também feito a uma referência ao abandono dos câes por aqueles que nos visitam ao domingo. Antigamente eram os caçadores no fim da época de caça, hoje são os donos que não têm qualquer outro sentimento que não o da utilidade. Quando os cães, por qualquer razão, já os não satisfazem, abandonam-os. Esta preocupação correcta e sadia com oa animais abandonados pode ser preversa, é para este lado que eu chamo a atenção, se não acompanhada de campanhas que ataquem e critiquem seriamente o comportamento dos que infestam as nossas terras de animais abandonados. Ao dispor

trigalfa disse...

Eu sei que houve um ataque sistemático a este blog da parte de um outro blog o "patasepatinhas" que desinseriu o texto do contexto, achou graça pelo que parece. Quem não acha graça nenhuma que se diga que "quanto mais conheço os homens..mais gosto dos animais!" sou eu. Só se se refere aos homens que têm esse comportamento de abandono para animais que sempre foram criados em cativeiro e por isso não têm formas normais de sobreviver dignamente no ambiente natural, para mais já tão ocupado pelo homem. Quando se fala em morrer com dignidade mesmo para as pessoas essa situação não me abomina para os cães. É preciso respeitar as pessoas, dar lugar aos que querem resolver o problema doutra maneira, arranjar adoptantes,etc. Em cativeiro grupal não me parece ser defensável, mas são opiniões.
Obs: A Câmara tem ajudado muito a ALAAR e atribui-lhe um subsidio regular de 1.000 Euros anuais.

Fm Viana disse...

Devo reconhecer que o senhor trigalfa tem alguma imaginação. Essa do fantasma "patasepatinhas" ... não insulte ,ainda mais ,a nossa inteligência tenha mínimo de dignidade e não se acobarde! Nós continuaremos a defender o bem estar dos animais apesar de todos os "trigalgas" deste país e desta região em particular.A sua (in)formação é de tal forma rigorosa que continua a afirmar que o canil fica uns metros mais acima!! só prova que não o que está em causa nem do que fala. Lamenta ter "eliminado um comentário!e os outros, pelo menos 16, que em nada o ofendiam e que se idignaram com o seu texto. NÃo HOUVE QUALQUER DESCONTEXTUALIZAÇÂO o texto continua no seu blog é claro e visível. Como se atreve a afirmar que os comentários estão desinseridos do contexto? Bem me parece que, razão tem todos os que entendem que o senhor não merece qualquer credibilidade nem perca de tempo. Nem tema frontalidade mnem coragem de aceitar as opiniões dos que de si discordam. Pura e simplesmente censura-os não permitindo que a sua voz se faça ouvir junto dos seus "amigos" leitores.Tem vergonha do que escreve? Não!! Acho muito bem ! Então não tenha vergonha nem receio dos que de si discordam.
Cada esterelização custa, no mínimo 75€. A Alaar suportou centenas,e vacinas,antibioticos. Sabe quanto isto custa?Só está informado dos 1000€ de subsídio ? é pena que não elogie as centenas de socios, de anónimos e empresas que com sentido de responsabilidade ajudam ,apoiando e crititcando ,mas não tentando destruir nem describilizar o trabalho de quem ,no Distrito, se preocupa com as pessoas,mas também como bemestar e direutos dos animais. Continuo desejando-lhe muita saúde e felicidades
FM VIANA

Fm Viana disse...

"11 comments to "o blog alaar está no ar!"
Numa pesquisa de blogs, encontrei um de Ponte de Lima em que se insurje contra o canil de Cepões em boa hora conseguido pela ALLAR. Indignado com o tipo de linguagem utilizada contra os Senhores, resolvi responder mas, curiosamente ounão, até agora nada foi publicado. Se, como escrevi, o texto manifestava má criação e por isso tirava credibilidade aos argumentos aduzidos, a censura de que fui alvo - e certamente outras pessoas - , demonstram o carácter dos autores do referido texto. Lá diz sabiamente o povo: ' diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és '!... Desde logo referem que o canil de Cepões é obra de uma ' mulher obstinada ', o que desde logo parece esconder falta de Princípios e Valores do autor(es), para de seguida esgrimir com argumentos de uma fragilidade confrangedora! Mas, quem escreve como escreveu, a mais não é obrigado ... Será que no concelho de Ponte de Lima não existem criadores de cães ou caçadores que os tenham às dezenas? Será que a vizinhança andou com abaixo-assinados? Será que alguém se preocupou com os dejectos que alegadamente vão parar aos ribeiros ou rio? É que estamos a falar de terrenos privados e não públicos. Aliás, é louvável não só a atitude e esforço da ALAAR como de quem generosamente cedeu o terreno. Privado - repito!Ou será que os autor do infeliz texto no tal blog prefere ver os cães e gatos abandonados pela Vila e alimentarem-se nos sacos de lixo que, rebentados, sujam - isso sim! - as ruas e deixam odores desagradáveis? Haja bom senso e respeito e admiração para quem, de forma gratuita e voluntária, defendem os ' melhores amigos dos homens '. Pelo menos ... de alguns!...." ESTE É APENAS UM DOS EXEMPLOS DE COMENTÁRIOS CENSURADOS PELO SENHOR TRIGALFA QUE,EM ALTERNATIVA,FOI PUBLICADO NO BLOG DA ALAAR

trigalfa disse...

Brevemente esclarecerei melhor as minhas opiniões sobre o tema em causa. Não inventei qualquer teoria da conspiração. Veja
http://patasepatinhas.blogspot.com/
Não é comparando o Rio Labruja com a Ribeira dos Milagres que se analisa uma situação destas. O que me compraz é o bem de todos e dos animais também. Mas quem detém o poder de resolver estas questões é a Câmara que dá uma no cravo e três na ferradura. São estas incoerências que me preocupam, porque na formação da vontade colectiva tem que se ser frontal e claro, aquilo que a Câmara não está a ser. Tenho direito a no meu blog não aceitar insultos, tão só aquilo que constitua de algum modo um contributo para aquela vontade. Aqui vale mais a humildade do que o convencimento de quem, sem ter analisado as questões em todas as suas perspectivas e implicâncias, julga já ter a verdade toda. Obrigado

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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Ponte de Lima, Alto Minho, Portugal
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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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