21 abril 2008

Humanistas à custa de quem?

A moralidade e a legitimidade do lucro são muitas vezes postas em causa. Numa coisa todos concordamos, o Estado não existe para dar lucro, não faz sentido. Para as restantes entidades parece que o lucro é legítimo. Mas será que as instituições que perseguem fins próprios do Estado, por exemplo as chamadas IPSS, moralmente devem ter lucro?
Uma boa gestão pressuporia que estas instituições mantivessem ou incrementassem o seu valor patrimonial somente através de donativos voluntários destinados a esse efeito específico. Tudo o que fossem subsídios do Estado, donativos para a manutenção deveria ser utilizado para esse fim.
Ninguém deveria receber subsídios para os meter na conta bancária. Aliás deveria ser utilizada uma conta bancária para cada fim e, quando se justificasse, feita a contabilidade analítica. Existe uma grande promiscuidade na gestão de fundos públicos por parte de algumas instituições privadas. Por mais que se diga que estas gerem melhor não estou de todo convencido.
Há instituições que se apropriam indevidamente de subsídios do Estado, que exigem dos apoiados jóias indevidas (Verdadeiro acaso, ao escrever estas linhas está a noticiar na RTP1 um caso destes na Santa Casa de Misericórdia de Santo Tirso). Infelizmente a Segurança Social não controla a movimentação de utentes que se verifica por exemplo nos centros de dia, subsidiando por protocolos desactualizados. Paga refeições que ninguém come.
Periodicamente a imprensa aborda um caso ou outro mas a cultura reinante é permissiva porque se entende que tirar ao Estado não é pecado, pelo menos quando a sua gestão é entregue a discípulos de uma qualquer religião. A religião não tem culpa pelos prosélitos que tem, mas não pode servir de capa a quem dela se serve.
Não podemos relativizar tudo, nem partir do princípio que dum lado estão os bons e do outro estão os maus. Há quem se sinta gratificado por ajudar, mas é necessário saber quem é que no fim sai ajudado, se é o utente se é a instituição. Esta constatação que nada tem a ver com aproveitamentos pessoais, parte do princípio que, sendo nós imperfeitos, podemos instituir sistema perfeitos, ou pelo menos mais perfeitos do que o somatório daquilo que em nós se pode entender como perfeito.
É fácil pedir rigor aos outros, difícil é praticá-lo. São fáceis as lições de humanismo, mas este não tem que ser contabilizado em qualquer conta de deve e haver. Façamos sim o débito/haver da ajuda que é dada num conjunto de situações semelhantes, porque isto de andar a dizer que tudo dá prejuizo não me convence a mim.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana