23 abril 2008

O boato deixa sempre alguma sujidade

O boato progride melhor nuns meios do que noutros. Não digo que deslize melhor em meios mais atrasados para não ferir a sensibilidade de algumas pessoas que lá vivem e se deveriam portar de modo diferente, mas se sentem bem mergulhadas no mesmo mar de lama em que vivem muitos que infelizmente não têm meios para de lá sair.
Infelizmente até por razões políticas se exploram hoje os boatos e é uma das razões porque muitas pessoas “bem formadas” aparecem como os primeiros a lhes dar seguimento. Mas é o meio que vai caracterizar o boato. Este surge como a conjugação de dois ou mais factos que tem entre si alguma verosimilhança. É a imaginação do meio que vai criar uma série de outros factos que agregados vão dar origem ao dito boato. E este será tanto mais sujo quanto mais ordinário for o meio.
Para as pessoas ditas “normais” o boato pode não ter qualquer fundamento, mas há sempre quem veja ligações que muitas vezes não existem. Normalmente são as pessoas menos “vividas”, mais abstrusas, que têm uma imaginação mais fértil, mais doentia. Por isso os meios atrasados são os mais perigosos, não como geradores, mas como difusores do boato.
Com o faz por ignorância, não o fará por maldade. Mas como o boato deixa sempre alguma sujidade, a verdade é que nenhuma ignorância é inocente. Há muita gente sem qualquer hipótese de se limpar daquilo que resta, até quando o boato cai por ele. Aqueles que têm meios não se limpam facilmente, aqueles que os não têm conformam-se a esperar que o tempo lhes dê razão.
A maioria de nós gostaria de viver num meio sem boato. Para isso é necessário que as pessoas não tenham medo dele e o abortem à nascença ou desmantelem no seu percurso expansivo. É legítimo exigir o silêncio sobre um boato quando ele tem algum fundamento mas o facto que lhe deu origem pode ser resolvido dentro do meio que o gerou e em tempo útil, sem causar prejuízos aos envolvidos.
Não é legítimo querer manter com o estatuto de boato aquilo que é referido em organismos públicos. No caso da Santa Casa haverá generalizações abusivas, se há prejuízos já feitos há que os minimizar explicando a todos os intervenientes o que está em causa: a integração normal de alguns jovens com problemas numa sociedade fraterna.
Há também que excluir a grande maioria dos jovens internados dessa confusão que se criou, não deixando que a eles chegue alguma sujidade que paire no ar. Mas não é mandando calar, como alguns pretendem, que se consegue nem isso, nem a recuperação dos que enveredaram por alguma delinquência.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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