01 janeiro 2008

Referendo – Não se confunda voto democrático e voto bondoso

A Comunidade pensou em ter um corpo de leis, regulamentos, regras, preceitos coerentes que permitissem a sua própria expansão sem necessidade de, em cada vez que nisso se pensasse, fosse necessário pôr em causa o já anteriormente adquirido.
Submetido o acordado a referendo em dois países fundadores, tal foi rejeitado, baseado sempre no princípio que as pessoas não encaram um referendo de forma isolada em relação às circunstâncias políticas internas e o princípio da bondade está longe de dar forma à intervenção política das pessoas. Afinal esta intervenção é tida como um substituto da guerra.
O voto é efectivamente uma arma e as armas têm a sua lógica própria. Quando se entrega uma arma a alguém nunca se sabe o que lhe passará na cabeça na altura que a utilizar. Por isso a democracia nunca será um domínio de meninos de coro, porque estes não levam a democracia a sério, no coro estão sempre a pedir armas, a querer ir a votos, a querer brincar com explosivos. A democracia não é governo na hora, opinião na hora, voto fora dos momentos apropriados.
De certo que, ao votarem contra, os franceses e holandeses não estavam a pôr em causa a necessidade de prescindir da obrigação de unanimidade para gerir a Comunidade, retirando em alguns questões o direito de veto ao seu governo e ao de todo e qualquer um dos países que à Comunidade vão aderindo.
Também não vou ao cinismo de pensar que eles estão definitivamente esquecidos dos valores europeus e cansados de subsidiar os mais fracos para melhorarem a sua condição. Fiquemo-nos pelos motivos unicamente caseiros, de dispensa, de alcova, de congestionamento da casa de banho.
Na verdade os Europeus dão a imagem de quem se recusa a pensar a sério a Europa. E mesmo que se diga que não são os valores europeus que eles querem pôr em causa, é esse o efeito prático da sua atitude. As pessoas conscientes, que se não deixam enredar em argumentos falaciosos e armadilhados, recusam-se a aceitar esta autofagia dos valores que pareciam mas efectivamente, talvez pela mudança geracional, não estão bem alicerçados.
Novos países querem aderir à Comunidade e para esses este espectáculo não é agradável. São os países que estão e não os que querem entrar que põe obstáculos ao abandono do princípio da unanimidade, justificável a seis mas perfeitamente absurdo a vinte e sete. Exige-se operacionalidade com o fim de alguns bloqueios. Este é o mais importante aspecto que está em causa e nós dizemos sim sem referendo.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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