14 janeiro 2008

O capital liberal e o pensamento social

O grande mérito de José Sócrates foi ter conseguido convencer grande parte da opinião pública, com penetração em todas as camadas sociais, de que as facilidades de um passado recente tinham dado um mau resultado e que a situação só poderia ser invertida sujeitando-se todos a dificuldades que compensassem o desmazelo reinante.
Houve resistência, outros continuaram a fazer pela sua via e a ignorar o mínimo de solidariedade social, mas criou-se uma nova maneira de penalizar socialmente essas situações, o que favorece o seu combate. Esta chamada de atenção de Cavaco Silva, afinal igual à de tantos líderes mundiais, enquadra-se perfeitamente neste ambiente de denúncia de uma situação insustentável.
Não é legítima a apropriação individual dos bens da humanidade, seja feita ilegalmente, seja utilizando lacunas da Lei. A função dos bancos é permitir a acumulação de capital, repartir os riscos, permitir as grandes obras, manter a propriedade colectiva mas não entregar os bens acumulados em termos de benefício pessoal, seja de quem for.
Sem bancos, sem sociedades anónimas (diferentes de sociedades secretas) não se alcança a dimensão, não se atinge a flexibilidade necessária, o equilíbrio consistente, para que o sistema de crédito funcione. Sem honestidade dos responsáveis não há credibilidade que resista.
O ultra-liberalismo pregado como teoria no geral por quem nunca sentiu o peso de administrar um bem social, como Pacheco Pereira, ou por alguns sociais-democratas e socialistas que não querem molestar o capital e até esperarão por algumas migalhas é uma forma desavergonhada e insana de pensamento social. Será de combater sempre.
Mas o mais engraçado é que muitos destas sanguessugas atrevem-se a aplaudir a política de Sócrates, a qual só faz sentido num panorama de solidariedade social global. È imperioso que a não haver bom senso, haja legislação apropriada a estas situações.

7 comentários:

Mata-Ratos disse...
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Mata-Ratos disse...

Com o devido respeito pelas opiniões do meu preclaríssimo amigo Trigo, permito-me aqui discordar das suas avaliações sobre o mérito político de José Sócrates.
Primeiro porque ele não conseguiu convencer-nos da necessidade de nenhuma austeridade ou de fim do regabofe anterior. Que eu me lembre, se ele ganhou as eleições foi precisamente por ter convencido uma grande maioria do absoluto contrário, e pior, já sabendo que essas promessas muito dificilmente seriam cumpridas: isentar pagamento de portagens nas SCUT, criar 150 mil postos de trabalho, não tirar poder de compra às pensões mais baixas, melhorar o Serviço Nacional de Saúde, combater a corrupção, não aumentar os impostos, etc., etc., arrasta muitos infelizes. Infelizmente.
De facto, as políticas de austeridade - de Sócrates ou de qualquer outro político - só fazem sentido num panorama de solidariedade social.
Básico e elementar.
Todavia, não sendo visíveis até agora nenhuns sinais de que é esse o desiderato que está sendo perseguido, como bem o demonstram a furiosa política encerrista - porque meramente economicista - do Ministro da Saúde, o relaxamento com as Leis de combate à criminalidade, o amaciamento do novo Códido do Processo Penal, a manipulação dos dados estatísticos sobre o desemprego, a inflação e o crescimento económico, o desprezo pelos idosos e os mais desprotegidos, o enxovalho sistemático dos funcionários públicos e, dentre estes e de uma forma quase raivosa, os professores, agora quase reduzidos a uma reles condição de amas-secas, ou capatazes das escolas - locais que muito brevemente serão geridos por ineptos, coadjuvados por outros idiotas - pais de alguns alunos igualmente ilustrados -, simplesmente para obedecer a um modelo de escola que só se vislumbra em países da América Latina ou de África. Mas dizia eu, não sendo visíveis nenhuns sinais de abrandamento nas dificuldades dos sacrificados do costume, a gente começa a desconfiar, a descobrir o logro a que ele nos conduziu, mais uma vez, em nome de valores sociais justos e humanitários.
E aí o panorama de solidariedade social começa a escurecer, quase a ficar preto, a par com os anunciados lucros fabulosos dos grandes banqueiros, para aumentar a raiva e o desgosto de tantos ingénuos sonhadores que caíram na cantiga do bandido, mais uma vez. É neste momento que se tornam intoleráveis certas leituras e análises políticas que grassam por aí, nesse grande universo de influência rosa, e nas quais, sem qualquer intenção menosprezante de minha parte, penso que esta - embora involuntariamente, como é óbvio - se encaixa.
Pois é, caro amigo Trigo, quem nos dera a todos que fossem verdadeiras essas tuas leituras e que a criatura em referência não fosse o personagem que é, independentemente do Partido que representa!
Um abraço,
João Fonseca Lima

Mata-Ratos disse...
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Mata-Ratos disse...

As mensagens removidas pelo administrador do Blog, não o foram por mero exercício de intolerância do mesmo. Pelo contrário, foram removidas a meu pedido porque me enganei no envio de uma msg e também porque lhe roguei o favor de excluir uma outra - de caracter pessoal - que nehum interesse tinha para os demais leitores.
Por isso, o meu obrigado.
E um abraço.
J.F.Lima

(cá fico à espera da porrada!)

trigalfa disse...

Caríssimo.
As bandeiras eleitorais nunca me convenceram porque ninguém olha para elas. A maneira de ver a política antes de Sócrates e após Sócrates, mesmo que os Soares, os Ferros, os Alegres procurem revitalizar as suas visões poéticas de aristrocatas de esquerda, não é a mesma. Interessa na acção politica ser mais consistente, mais realista, mais coerente, mais socialista, mais internacionalista. À direita nada se vê que não sejam atoardas e fogachos. Há uma clara demarcação e uma trincheira aonde nos podemos hoje colocar, mal acompanhados por alguns, mas também com gente honesta. Desta trincheira se lançam bandeiras aos arruaceiros, flores aos líricos, tiros aos patos bravos. Cada um lança as suas vistas para quem lhe aprouver e dá tiros do lado em que se encontra melhor. Depois há os autofágicos que gastam as suas energias na rebelião permanente.
Manda sempre.

trigalfa disse...

Caríssimo
Como vi que havia repetição e mandavas eliminar não li o resto deste comentário - de caracter pessoal - que nehum interesse tinha para os demais leitores e que agradecia pois que repetisses se vires interesse nisso.
Grato

Mata-Ratos disse...
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Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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