24 janeiro 2008

Não haverá morte mais digna do que num corredor de hospital?

Os tempos em que era possível ter uma morte serena, em que as pessoas podiam assistir aos últimos momentos dos seus familiares mais próximos quase em conversa coloquial e o candidato à morte ainda pedia para todos se afastarem que queria dizer umas últimas palavras a quem durante toda a vida tinha sido mais importante para si, já lá vão.
Havia uma despedida, uma testemunha privilegiada que, com naturalidade comunicava aos outros o desenlace fatal que nos afastava de qualquer ligação a esta realidade vivida. Não sei em que percentagem as coisas assim aconteciam, mas presumo que também já não seria bem assim. O normal será chegarmos à hora da morte exaustos e sem tempo para estes preciosismos. A morte será quase sempre brutal, seja imediata ou não.
A agonia da morte sempre existiu, sempre foi um processo doloroso que nos apanha de surpresa, num momento inesperado mas a que nos juntamos a assistir. Este envio das pessoas moribundas para os corredores da morte dos hospitais é a coisa mais desumana mas ninguém assume hoje o facto de ter uma pessoa de idade em casa em agonia. Há sempre alguma esperança e não somos as pessoas indicadas para dizer se o processo já é irreversível.
Assim aquela morte edílica não se realiza em casa e muito menos nos corredores da morte dos hospitais. Morremos sempre abandonados num ambiente desolador, sendo tão só um número numa fila de condenados a sofrer. Têm que haver uma alternativa para este triste espectáculo, um tratamento específico para estes casos, uma nova dignidade para a morte.

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Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana