07 março 2008

Um professor nunca mais será visto com os mesmos olhos

As lutas que os professores desenvolveram no período democrático da nossa vida colectiva não foram de modo a se verem privados de uma certa sacralização que sempre os beneficiou. Antes do 25 de Abril de vez em quanto lá havia um professor vítima da política salazarista de controlo absoluto do ensino desenvolvido na escola. A maioria calava-se.
O professor, fosse pago por quem fosse, era visto como o portador de um saber que era essencial para que nós progredíssemos. Beneficiava sempre de um sentimento afectivo positivo mesmo quando as circunstâncias da vida nos levavam a aceitar mal a escola. Os 1750 Escudos que um professor primário recebeu durante tantos anos eram uma referência para todas as outras profissões ditas intelectuais e não se destacavam delas como hoje.
A ligação que se criou nesses tempos entre alunos e professores genericamente ainda hoje se mantém. A mais íntima será com os professores do ensino primário já que o ensino era geralmente assumido por um só professor durante pelo menos um ano, mas muitas vezes durante mesmo os quatro anos de escolaridade.
As lutas que os professores foram desenvolvendo permitiram-lhes sem grandes custos alterar significativamente o seu estatuto de modo totalmente descabido em relação à maioria dos outros sectores profissionais. Beneficiaram do alargamento do ensino a todas as camadas sociais, assenhorearam-se da condução da política educativa, entraram em autogestão.
Mas os professores não têm sabido ser humildes, não tem sabido ser solidários com a restante população, não tem sabido ser leais para quem lhes confiou uma tarefa tão nobre e daí a dessacralização que se está a operar e que vai levar a que um professor nunca mais seja visto com os mesmos olhos de antigamente.

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Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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