10 março 2008

A invocação dos mortos na ajuda aos vivos

Um morto deixa sempre uma herança. Ao morrer atrás de si deixou uma vida, um percurso, ideias mais ou menos avulsos, mais ou menos coerentes, mais ou menos consistentes. Um morto não tem porém a versatilidade de um vivo para sabermos a sua ideia sobre um aspecto qualquer da actualidade.
Como o morto está morto para todos os efeitos, no aspecto das ideias não há herdeiros que se possam arrogar do direito de o ser, mesmo que haja quem procure estar mais próximo do procedimento que o morto adoptaria se fosse por acaso ainda vivo. Então no seu passado temos que procurar a situação mais parecida com a actual e ver qual a atitude que o morto tomou.
Pode ter sido no princípio, no meio ou no fim, mas a verdade é que há sempre uma décalage que o próprio, se fosse vivo, se encarregaria de gerir e que nós só por aproximação poderemos imaginar. Como é evidente nunca poderemos estar seguros de ter uma interpretação coincidente.
Os mortos invocam-se para nos dar razão, o que pressupõe que consigamos convencer os outros de que a nossa maneira de ver é a mais correcta. Mas os mortos também se invocam para nos dar força, o que é uma manifestação de confiança. Quem invoca os mortos para lhe dar força fica sempre a ganhar em relação a quem os invoca para ter razão.
Os comunistas invocam Cunhal para lhes dar força. Santos Silva invoca-o para lhe dar razão. Mas Santos Silva ainda cometeu outro erro. Colocou este sacripanta do Nogueira ao lado de Cunhal. Foi a maior ajuda que lhe podia ter dado. Ter Cunhal ao seu lado sem necessidade de provar que ele lhe daria razão vai-lhe afectar positivamente o ego.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana