13 março 2007

Um Marques Mendes leviano e irresponsável

Quando aderimos ao Euro, já lá vão uns anos, criou-se a ilusão de que, criando-se um espaço económico único com uma moeda forte, todos seríamos ricos. O problema é que só alguns o viriam a ser. A convergência ficou-se por aí.
Quando eu ouvi dizer que a riqueza, fosse qual fosse o país em que se criasse, viria a beneficiar a todos fiquei estupefacto e apavorado. Como é que um governante podia ter o desplante de dizer uma barbaridade destas? Porque pior que não ter ilusões é ter desilusões.
Alguém houve que logo se aproveitou. Altos dirigentes do País e da máquina empresarial do Estado abocanharam o seu bom bocado, que, havendo um só bolo para todos, se veio a provar mais tarde, é o bocado que falta aos outros.
No geral os políticos entenderam-se pela necessidade de conseguir a adesão mais imediata de uma classe de privilegiados, dando-lhes remunerações e benefícios abusivos em detrimento do povo, que perdida esta corrida, jaz com alguma desilusão e até ameaça votar contra uma das mais grandiosas construções humanas de que há memória: a Comunidade Europeia.
A ilusão criada, ao se desvanecer pela força das circunstâncias, ao menos não foi suficiente para virar as pessoas contra a política, porque decerto sabe que haverá alguns honestos e outros que pelo menos serão bem intencionados. Mas há aí uma classe de políticos, velha e dura como um corno, cujas boas intenções, a não ser os já enganados, não enganam mais ninguém.
Nós já temos obrigação de saber bem aquilo que temos e de saber, acima de tudo, que afinal cada país se tem que haver com o que tem. Mesmo o dinheiro que vem da Comunidade não pode ser gasto naquilo que se quer, salvo alguns malabarismos contabilísticos que os há, que o Chico Esperto é nacional.
A paga de termos uma moeda única é a impossibilidade de termos moeda para emitir e para desvalorizar. A moeda é forte também é nossa mas não é só nossa, se não aonde ela já estava. A moeda forte é um colete-de-forças que nos não permite usar expedientes fáceis para nos tornarmos competitivos, tanto em relação aos nossos parceiros, quer em relação ao exterior.
A solução para os nossos problemas é produzir mais e acrescentar mais valor aos nossos produtos. Temos de vender mais, com mais valor e comprar menos, não digo comprar só o barato, mas sem a ilusão de que somos ricos.
Se as ajudas que nos dão as pusermos a ajudar ao consumo, e não para aumentar a nossa capacidade de produzir mais e melhor, estamos a contribuir apenas para que a ilusão perdure um pouco mais e alguns fiquem mais ricos.
O povo já se não deixa levar por falsas ilusões mas é conveniente pormos um nome a cada coisa. Valha-nos que, ao menos neste caso, nem precisamos de ser nós a dar o nome apropriado, que seria outro mas sejamos corteses, que Ferreira Leite disso se encarregou e para que se saiba atribuiu a Marques Mendes o bonito nome de irresponsável ao propor baixas de impostos.
Apoiamos porque a demagogia deve ter limites.

6 comentários:

O talassa disse...

"...a demagogia deve ter limites."

Só não percebo uma coisa. Como é que depois do que o José Sócrates Pinto de Sousa disse enquanto candidato e o que faz enquanto primeiro ministro, o Manuel Pires Trigo ainda está no PS?

A demagogia deve realmente ter limites!

trigalfa disse...

José Sócrates é dos poucos que percebeu a situação do País, depois que tomou posse. Os outros andaram a enganar as pessoas enquanto lá estiveram. E aqui até atribuo culpas ao Guterres que no segundo mandato andou um pouco à deriva, mas viu que falhou e foi-se embora. Os P.S.D. ainda aí andam a sobrevoar quais abutres, outros a trabalhar para um curriculum que lhes permita sonhar com outros voos.

O talassa disse...

Não sendo eu PSD, PS ou sequer CDS, sou monárquico e ponto, não entendo a sua discrepância de critérios. Sócrates soube depois de tomar posse a realidade do país, quer isto dizer então que era um mau candidato que qual cábula não preparava o dia seguinte caso ganhasse, ou seria, durante a campanha eleitoral, um demagogo que enganou as pessoas apenas para chegar ao governo?

Já Marques Mendes é demagogo por assumir um rumo que pensa ser o melhor, chegando ao ponto, veja lá, de não se limitar a dizer o tradicional “se fosse governo faria assim” e propôs de facto a sua visão na Assembleia da Republica com todas as repercussões daí inerentes.

Já agora e porque já reparei que gosta de analogias aviarias, já reparou como o governo Sócrates governa quais pavões, apenas para a imagem inchada de nada?

trigalfa disse...

Além de ser monárquico não lhe ficaria mal identificar-se claramente com uma das opções governativas que estão em causa, o que aliás faz sem o querer expressamente dizer, que o seu amor maior não é D. Duarte de Bragança mas afinal D. Mendes de Fafe, fraco almocreve alvorado em estribeiro-mor do P.S.D..
A verborreira deste Senhor nem sequer convence a tutelar Dama de Honor D. Ferreira Leite, que não está para que se perca tempo com este abencerragem que para ser Garnisé lhe faltaria a dignidade que um aguadeiro não tem.

O talassa disse...

Politicamente sou miguelista não gosto é de verborreia alinhada. A sua incapacidade de autocrítica ficou expressa na resposta que me deu. Lamento porque como seu leitor esta sua atitude desiludiu-me.

Deixo-lhe um texto de Pacheco Pereira, no seu blog abrupto, sobre o seu camarada Vitorino, espero que lhe sirva de alguma coisa.


"No dia dos dois anos de governação de Sócrates, Vitorino “explicou”, entre sorrisos, que tudo o que o governo está a fazer é inevitável, bom e eficaz. Que concentra as polícias no gabinete do Primeiro-Ministro, porque tem que ser e não há mal nenhum nisso (sorriso). Que aumenta os impostos, porque tem que ser e não há mal nenhum nisso (sorriso). Que ainda não há muitos resultados, porque tem que ser e não há nenhum mal nisso (sorriso). E por aí adiante. No balanço já longo dos seus comentários na RTP, quase nada disse que o afaste um milímetro da governação apesar dos jornalistas fazerem um hercúleo esforço para encontrar qualquer fugaz crítica, análise, objecção."

trigalfa disse...

Escolheu mal porque não morro de amores por Vitorino. Também acho que o riso não se cuaduna com qualquer exercício intelectual que pretenda analisar assuntos da gravidade da acção governativa. A seriedade, se não passa só, também passa pelo cariz. Mas não sou eu que lhe pago.
De certo que o passado interessa mas nestas questões a auto crítica
até nem é suficiente para que venha a ter razão no futuro. Há quem diga que o monstro foi Cavaco que o criou e Guterres que o engordou. Chega-lhe? O que agora conta é termos políticas para melhorar o futuro.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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