25 março 2007

Sacralização dos demónios e diabolização dos santos

Umas premissas político-ideológicas, uma mistura de duas realidades distintas, umas conclusões desajustadas, salvam-se estas por si. Com elas o João Carlos redime-se mas não em absoluto http://pontedelima.blogspot.com/2007/03/reflexo-de-fim-de-semana-os-perigos-do.html.
Enquanto a nossa preocupação única, obsessiva, for substituir Daniel Campelo, não estamos a prestar nenhum contributo válido à democracia e ao confronto de ideias e opiniões.
O mal do P.S.D. é que perdeu dois mandatos para Daniel Campelo por pequenas margens e por força das suas más opções pessoais. E perdeu outros dois mandatos porque foi reduzido à insignificância, pela debandada dos seus quadros, por motivo da força compressiva do Queijo Limiano e da construção televisiva de uma imagem retórica.
O P.S.D. tem pressa da desforra, alguns p.s.d.’s pelo menos, mas terão que ter paciência, vai custar-lhes reconstruir o aparelho político e vão ter mais concorrência. Mas acima de tudo vão ter que colocar os pés nesta terra.
Estamos tão longe de Lisboa (como estaríamos do Porto, não se vão aproveitar os regionalistas) que lá só há lugar para uma pessoa de Ponte de Lima, o homem do Queijo Limiano.
Nós herdamos esta dificuldade, aqui parece que também há um só homem, e pior ainda não é lá que podemos derrubar Daniel Campelo, é neste lugar recôndito, bravo e de brandas memórias, de que ele assumiu a condição de líder natural.
Não curando de saber o que há de ridículo na imagem que, lá em Lisboa, Daniel Campelo tem, nem em quanto ela terá contribuído para o anedatório nacional, era bom que o deixássemos andar, percorrendo o seu caminho e estudarmos o que cá leva as pessoas a nele confiar.
Por nós, com o nosso modesto saber, vamos contribuindo para a formação de uma “massa critica”, suficientemente evoluída para ter respostas, não só textuais, mas técnicas, actuais e numa perspectivas do futuro. E para que “surjam” pessoas em quem possamos confiar, verticais e não que sobrevoem. As asas que elas possam ganhar não nos devem tapar o Sol.
Há pessoas que se transfiguram, mas as populações também transfiguram as pessoas por força dos cargos que elas ocupam. Digamos que há um discurso ao dispor de quem assume o poder, de quem o exerce sem escrúpulos. Se uns vêm arrogância e prepotência, outros só vêm uma identificação perfeita entre a personagem e o lugar que ela ocupa.
Esta é a cultura que tem que ser mudada. Sem a exigência de uma escrupuloso desempenho e sem uma clara dissociação entre pessoa, desempenho e cargo, sem isso não há uma intervenção cívica que torne transparente a relação entre eleitos, e até a administração em geral, e a população que elege ou delega a execução de determinadas funções.
Daniel Campelo não é o Santo nem o Demónio. Todos nós temos a nossa quarta parte de responsabilidade como pais da “criatura”. Se ele usou um discurso maniqueísta é porque na Vereação Camarária e na Assembleia Municipal não teve oposição consistente no seu discurso ou a oposição limitou-se a raras fogachos entre períodos de um seguidismo atroz. Que roça o limite da “tacanhez”.
Simplificando, e assumindo estes fracos epítetos, não se espantem com a sacralização dos demónios e a endemoninhação dos santos. Um demónio a sério sempre foi melhor santo. A um demónio a brincar ninguém vai querer sacralizar.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana