02 março 2007

Como os liberais nos deitaram borda fora?

(Continuação)
Pensar em grande não se coaduna com as condições existentes no Alto Minho e a ilusão dos subsídios comunitários para a agricultura esvaiu-se nas suas terras sem ter contribuído para outra coisa que não para ir mantendo um consumo e o absurdo aparelho do Ministério da Agricultura. Ao ponto de muita gente de Lisboa ser paga pelos subsídios aqui destinados.
Hoje estamos na situação de excluídos que até o vinho já vai sendo retirado dos cardápios dos restaurantes, dado o seu carácter único e rapidamente perecível mas também pela agressividade dos concorrentes e pelo desinteresse dos senhores que dominam as novas redes de consumo. E hoje o Estado demite-se de interferir no domínio da concorrência.
Nós que por hábito apelamos ao Estado para tudo e responsabilizamos o Estado por dá cá aquela palha, não temos o discernimento para exigir na altura própria, antes de tudo ser irreversível. Depois queremos que o Estado apareça a curar as feridas em todo o lado, com braços para todos os problemas.
Antecipar os problemas é hoje a única forma de os resolver, que nós estamos sempre à espera que eles não assumam uma expressão dramática. Por isso nós exigimos que o governo intervenha naquilo que já é sua responsabilidade directa, o serviço nacional de saúde.
É necessário criar, manter, melhorar redes de cuidados primários, paliativos, de urgência e de emergência, estruturadas conforme as características próprias de cada uma, antes que as existentes se degradem significativamente e tendo em conta que estas foram feitas a partir de dados empíricos e subjectivos.
Ao Governo é pedido agora que use os dados que a ciência permite colher, os instrumentos de planeamento que tem ao dispor, a sensibilidade para adequar o remédio ao doente. Nem os factores concorrenciais são aqui tidos em conta, nem a rígida racionalidade económica, mas sim a solidariedade.
Os serviços do Estado serão sempre necessários, que a iniciativa privada nunca estará interessada em cobrir todo o território nacional. Assim a rede de cuidados de saúde não pode ser reduzida, como o foi a rede de recolha de leite à qual só interessam os pontos que dão lucro.
Mas também não pode ser expandida à sua antiga dimensão que a falta de qualidade não pode atingir os aspectos caricatos dos postos de saúde com um só médico e das ditas urgências que fazem menos serviços que faziam as farmácias de outros tempos.E isto que é necessário ter em conta, além das pessoas necessariamente, que neste ermo precisam da solidariedade de todos.
(Continua)

1 comentário:

Pedro Santos Vaz disse...

Interessante o seu artigo e revelador da decadência do nosso sector primário.
O número de animais diminuiu drástricamente nos últimos anos no concelho de Ponte de Lima. Tal facto seria normal e, podemo afirmá-lo, até desejável se implicasse mais modernidade na produção, mais qualidade, melhor bem-estar animal e maiores rendimentos para os produtores.
Infelizmente a realidade é em diferente. Primeiro fecharam os postos de recolha de leite, agora agonizam as últimas salas colectivas de ordenha (na galiza ainda as há, mas cá acabarão no fim do próximo ano), os pequenos produtores de carne não conseguirão ultrapassar as exigências do licenciamento das explorações e têm o fim anunciado, as vinhas serão arrancadas no plano de abate de 400 mil hectares de vinhas na europa.
É esta a realidade do nosso concelho.
A raça Minhota, cujo solar até é o concelho de Ponte de Lima, é ignorada, desprezada, subsiste agarrada aos subsídios e acabará com estes. a raça que deu fama aos queijos desta zona (devido aos seus altíssimos níveis de gordura e proteína) e que hoje nos dá pequenos grandes momentos de prazer gastronómico, está ameaçada. Uma associação afogada em dificuldades económicas e por isso inoperante e o desprezo das autoridades, só ajudam a acelerar o fim de uma raça que podia ser o motor e o emblema do desenvolvimento agrícola deste concelho.
eiravedra.blogspot.com

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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