09 março 2007

O fim da Democracia Cristã e o isolamento de Daniel Campelo

Num recente entrevista ao Canal 13 da TV Cabo – O Porto Canal, Daniel Campelo afirmou peremptoriamente não se candidatar em 2009 à Câmara Municipal de Ponte de Lima.
Ter-se-ia precipitado porque viria a haver melhor ocasião para revelar essa intenção. É que nesta luta intestina que percorre o CDS-PP Daniel Campelo perdeu um trunfo de certo valor.
Daniel Campelo gosta de resolver questões, que diz pessoais, de modo igualmente pessoal. Caso Paulo Portas ganhe a liderança do PP, o que é o mais provável, Daniel Campelo teria então uma ocasião soberana para lhe bater com a porta na cara.
Se Daniel Campelo não tem qualquer peso político, teria que aproveitar o seu peso institucional para fazer valer os seus argumentos.
O CDS-PP, Partido nacionalmente considerado, ou pelo menos o seu ramo popular, tem uma ambição bem maior que a sua dimensão. Já o ramo democrata cristão acha que é realista agarrar-se às suas ideias mais genuínas mesmo sabendo que elas estão em decadência.
Ribeiro e Castro era a última reserva moral do partido, o representante da corrente democrata cristã, e com a sua política personalista fez recuar o partido trinta anos. Se o “pai” Freitas do Amaral já há muito se foi, Ribeiro e Castro ainda era o “filho” que conseguia manter algum respeito em casa, mas tem o destino traçado, os irmãos não aceitam o morgadio, a rebelião está em marcha.
Encontram-se frente a frente duas maneiras distintas de fazer política: Uma, defensora de que o futuro é dos grandes partidos, ideologicamente mais generalistas; Outra que pensará que a influência das suas ideias pode ser exercida por um partido pequeno que, para que elas tenham força, deve defender a sua identidade e não ceder a novas modas.
O apoio que Daniel Campelo dá a esta facção mais tradicionalista não calha bem com a sua prática política a nível concelhio em que o pragmatismo supera em muito as razões ideológicas, nem com a sua atitude no Parlamento.
Dando de barato que a atitude de Daniel Campelo ao assumir o lugar de deputado e ao viabilizar dois orçamentos de Estado não foi concertada, que a direita considerava o governo em queda, mas não suficientemente maduro (podre) para que vislumbrasse a hipótese de vencer novas eleições, poder-se-ia dizer que qualquer líder assumiria a mesma posição de Paulo Portas.
Ribeiro e Castro, em pleno uso do seu poder de liderança, seria mais duro, dado que, para essa direita, personalismo não é o mesmo que permissividade e indisciplina. Para um partido fortemente centralista, num tema tão importante não há lógica regional aceitável.
De qualquer modo não acredito que Daniel Campelo não tivesse em conta o interesse nacional. Poderia ter sido a inconveniência para a direita na queda, naquela altura, do executivo de Guterres que levou Daniel Campelo a não rejeitar dois orçamentos, mas com a infeliz desculpa de que eles iriam favorecer o Alto Minho, quando o que se imponha era justificar o mesmo acto com o interesse nacional.
Se na altura Daniel Campelo deixou a Paulo Portas a incumbência de defender o interesse nacional, agora, por mais razões que tivesse então, já não lhe vai ser possível assumi-lo e o bater da porta já não terá a repercussão doutros tempos.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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