20 março 2007

Insatisfação e desconfiança na oposição

A desconfiança que se instala num primeiro momento é o pior que pode acontecer numa sociedade. Havendo desconfiança não há liberdade porque as pessoas é que terão que lutar para que se confie nelas. Por sua vez também elas serão levadas a desconfiar da sociedade no seu conjunto numa tentativa de inverter o ónus da prova.
Quando as pessoas se vêm encurraladas, de tudo acusadas, necessitando de continuamente provar uma inocência que nunca conseguem alcançar, ou pelo menos manter por muito tempo, é porque o Estado ou outros órgãos dirigentes se arrogam o direito de serem incólumes à crítica.
O modo de nos relacionarmos é uma característica que diz muito da qualidade de uma civilização. Nunca será possível por de lado toda a suspeição, mas quanto mais a conseguirmos manter arredada das nossas relações mais saudável é a nossa vivência.
Quando a desconfiança é inelutável, quando nos atinge de todos os lados, nos corrói a alma, que por vezes até nos deixa abúlicos, faz com que nós nos habituemos a conviver bem com a desconfiança alheia e mal com a nossa própria. Aí é mesmo necessário que dela nos libertemos.
Nunca haverá confiança absoluta porque não haverá nunca verdade absoluta. Mas se fizermos da nossa vida um caminho em direcção à verdade, estamos a contribuir para a instalação de um clima de confiança no relacionamento humano e para a promoção da paz.
A mudança no estado de satisfação/insatisfação de uma sociedade pressupõe sempre uma maior ou menor confiança em quem detém o seu poder dirigente, mas não implica necessariamente uma desconfiança generalizada. As forças políticas devem lutar contra essa situação.
Só as forças políticas totalitárias endemoninham certas franjas da sociedade para tentar justificar as suas políticas erróneas. Às forças políticas em geral cabe criar um clima de insatisfação, mas a sua eficácia só será prática se ao mesmo tempo se criar uma maior confiança nas pessoas que as representam e lhe dão corpo.
Nas actuais circunstâncias a alguma insatisfação que possa existir não corresponde uma mudança da confiança para a oposição. O drama que a direita vive, que nunca em alguma vez viveu é a irrelevância dos seus dirigentes, a pequenez da sua visão do futuro, a veleidade e superficialidade das suas propostas, a mesquinhez da sua conflitualidade interna.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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