03 março 2007

A que fidelidade devem os autarcas obediência?

(continuação)
Os autarcas ficam por vezes entre dois fogos: a população que reclama algo e o governo que pretende o inverso. Os eleitos em lista independente são-no na realidade e só devem obrigação às suas ideias. Já a eleição em listas partidárias impõe a fidelidade a certos princípios comuns ao grupo político.
A existência de partidos políticos e a sua participação nos órgãos autárquicos não podem ser vistas só como a possibilidade de alavancar alguns pretendentes a esses cargos de poder, mas como a forma de partilhar princípios com pessoas de dentro e fora da sua autarquia e com participantes em órgãos de poder de âmbito mais amplo, de tipo associativo ou não.
O problema põe-se quando, na perspectiva do autarca, os princípios por si aceites, que na postura socialista partem sempre de uma solidariedade tão vasta quanto possível, não resistem à ocasional contradição entre os dois lados daquela balança. É vulgar acontecer que muitos eleitos, passada a fase eleitoral, entram em roda livre e se estão marimbando para os princípios que terão presidido à sua eleição.
Mas mesmo postos de lado princípios, existe sempre uma solidariedade prática que nos é imposta pela lealdade que devemos ter para com aqueles que partilham interesses semelhantes, representados em associações de participação comum. Mas às vezes até para esta lealdade se marimbam.
A perspectiva partidária, que é mais importante quando coincide com a representada pelo governo, pode não ser correcta e neste caso é legítimo ao autarca desvincular-se das suas obrigações partidárias. Mas os autarcas, colocados no seu lugar à base da defesa de uma dada perspectiva partidária, não podem actuar injustificadamente e sem aplicar a solidariedade partidária.
Cabe aos autarcas contribuir para, no trabalho partidário, se chegar à formulação de uma vontade colectiva que possa ser um cimento solidário a apresentar às populações e no trabalho autárquico conciliar os interesses, mesmo não aferidos, da população que representam com aquelas orientações partidárias de que devem fazer parte e aceitar solidariamente.
Necessariamente que muitas vezes podem estar em causa objectivos melhor analisados numa perspectiva mais genérica, mais regional ou nacional, mais solidária, que ultrapasse a perspectiva imediata da população e aí se pode fazer a prova da qualidade de um autarca, não demagogo e exibicionista. O bom autarca não é aquele que cavalga a primeira contestacão, é aquele que abre perspectivas inovadoras.
Veja-se como Daniel Campelo, ao cavalgar a contestação ao fecho da fábrica da Lacto-Lima, nada conseguiu e afugentou os empresários de Ponte de Lima.
(continua)

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana