04 março 2007

A indignação dos corcundas

A indignação, além de uma atitude legítima, fica bem, dá algum lustro às pessoas. Mas temos de ver que a indignação tem destinatários, e estes também têm o direito à indignação. A indignação também tem objectivos e estes se não justificam somente pela invocada independência de quem a manifesta.
Porque quem assume a defesa intelectual das razões que levam à indignação são sempre pessoas vinculadas a partidos, a visões próprias do mundo, a perspectivas particulares de vida e muito legitimamente defendem tudo isso, mas sem o direito de escamotear essas ligações, esses ressentimentos, esses ódios arreigados na sua alma impura.
Independentes, essa velha classificação dos “compagnons de routes” do Partido Comunista, homens capazes de ver as coisas de forma independente, não pode virar agora em classificativo asséptico, depois de o termos rejeitado quando provindo da esquerda, que quem o usa no presente tem o perfil dos homens de direita, que, como tal se deve assumir. Ver http://pontedelima.blogspot.com/2007/03/reflexo-de-fim-de-semana-o-centralismo.html
Mas como a indignação é um sentimento ténue, leve, suave, seria de esperar que os seus destinatários fossem acusados tão-somente de sentimentos do mesmo jaez, o que dando a volta a todo o argumentário dos contestantes nem sempre é o caso, os indignados lá vão atirando com a sua agressividade habitual.
Numa questão acordo: As concepções e leis dos burocratas, estejam no Porto em Lisboa ou nas associações que por aí proliferam, tratam-nos como números, mas tem uma coisa, se são honestos aplicam essa mesma bitola a todos. Não é a distância que alarga ou atrofia a sua bitola. Mas a distância continua a ser utilizada para nos desculparmos da nossa impotência.
A forma empírica, a olho, é que tem de dar lugar à forma parametrizada, à bitola, devidamente aferida, que tome em consideração factores que possa não comportar agora. Nós, por estarmos mais perto da realidade, podemos ir a ela buscar algum aspecto desprezado, acrescentar aí um toque Alto Minhoto, de sensibilidade telúrica, capaz de fazer alterar a lógica numérica pura.
Como força, nós podemos existir. Poderíamos mesmo admitir que se formasse uma força capaz de independência, capaz de se não “vergar em vassalagem ao poder e à lei dos burocratas”.
O problema é quem constituiria essa força? Mas como já não há virgens, como as marcas que ficaram do passado puseram esta região cheia de corcundas, não sei aonde se pode ir buscar a massa critica indispensável. Se soubesse …

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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