15 maio 2008

A sabedoria, a relatividade e a confiança

Estamos habituados a tudo discutir sem que tenhamos conhecimentos suficientes para o fazer. No entanto achamos isso normal porque todas as pessoas são chamadas a opinar sobre todas as questões e ninguém gosta de passar por ignorante. Aliás, valendo em democracia o voto de um ignorante tanto como o voto de uma sábio, ou tido como tal, não poderia ser de outra maneira, todos têm o direito de discutir tudo.
Depois há um campo de análise pela objectividade em que as coisas se misturam muito de tal modo que entre opiniões e interesses não é fácil distinguir. No extremo podemos ter um sábio que age em determinado domínio pelo interesse mais mesquinho e um ignorante, até por não ter interesses específicos nessa área, que dá a mais sábia opinião.
Esta relatividade não nos pode levar a querermos ser ignorantes e a dizer que todas as opiniões são iguais, antes nos deve pôr alerta para sabermos o que está por trás da opinião de cada um. No entanto esta situação tem levado a um clima de suspeição que impõe restrições inaceitáveis à prática na actividade económica e cria desconfianças intoleráveis na vida social.
As chamadas figuras públicas, que se não podem furtar a uma certa devassa da sua vida privada e não privada, possivelmente incoerente com a do presente, já estão normalmente preparadas para isso e elas próprias dão ideia de uma permissividade que quase sempre não tem correspondência com a realidade. A devassidão é mais própria de pessoas que vivem em mundos de certo modo delimitados e com regras muito próprias.
Permanentemente estamos obrigados a pôr a questão se alguém está a falar a verdade, se não está a esconder as suas verdadeiras intenções, se tem o grau de honestidade que permita confiar nele, se acha ter o grau de impunidade que lhe permita dizer o que quer. Mas estamos ainda obrigados a não ferir susceptibilidades e não meter todos na mesma panela.
Mesmo que não queiramos, somos desconfiados, embora de modo diferente em relação a cada um. Isto impõe-nos que tenhamos a sensatez suficiente para saber a panela em que devemos meter cada pessoa que se nos depara. Quando ela não está em panela que nos agrade só temos que deixar passar. Cada qual, mesmo na Internet, só consegue uma vivência sã no mundo em que confia.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana