17 maio 2008

Estados de confiança de natureza diferente

A sociedade não existiria se entre as pessoas se não estabelecessem estados de confiança. A sua quebra não é qualquer drama porque outros irão resistindo e dando à sociedade o cimento que a mantém viva, que a não deixa desmoronar.
Um estado de confiança que se estabelece entre duas pessoas não é na maioria dos casos uma construção intelectual. Quando assim é torna-se necessário ver se há algum ascendente intelectual de uma das parte sobre a outra e se esse ascendente é reconhecido como tal. Porque só uma relação que se estabeleça em equilíbrio tem a solidez necessária.
Quando um estado de confiança se cria com base numa construção intelectual existe uma grande vantagem se houver necessidade da sua desconstrução. Não se trata de calculismo. Porque sabemos como e porquê se chegou a esse estado, também saberemos como desmontar a construção, sem que fiquem feridas expostas.
Não existe hipocrisia nesta espécie de relacionamento. Hipocrisia existe se um dos lados dá por adquirida a confiança sem que existam condições para tal, mas porque isso servirá os seus interesses imediatos. Este estado de confiança não é diferente neste aspecto. Só existirá se soubermos para que serve, se pudermos ter de alguma forma uma noção de certa proximidade entre os nossos caminhos futuros, ou tivermos a noção precisa do seu fim.
A verdade é que nós perdemos imenso tempo da nossa vida a querer demonstrar aos outros que devem confiar em nós. Podemos utilizar argumentos intelectuais mas, se não houver outra forma de convencermos os outros, nunca mais conseguiremos os nossos objectivos.
Na realidade a maioria das pessoas que tiveram sucesso neste desiderato conseguiram-no porque os outros pelas circunstâncias históricas em que estavam mergulhados já estavam previamente à espera de confiar em alguém que correspondesse aos seus sentimentos mais profundos. Não precisaram de fazer grande esforço. O lugar estava à espera de alguém.
Por isso muitas pessoas convencem mais enquanto estão caladas do que quando se exprimem, porque não souberam exprimir aquilo que os outros pressuponham elas representarem. O problema é que nós não podemos estar calados, nem devemos adoptar o discurso que agrade aos outros. Em condições normais o nosso discurso tem que confiar em si mesmo para eventualmente os outros confiarem nele.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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