04 maio 2008

De irracionalidade estamos plenamente cheios

A Humanidade parece encontrar-se num labirinto, tornado beco sem saída. Seguimos por um caminho e deparamos com um fim por efeito dos recursos limitados, do efeito de estufa, das coisas imprevistas. Então todos nos preocupamos em arrepiar caminho e seguir por nova via. Mas eis senão quando o mesmo problema com outra face se nos depara e nos vai retirando a esperança de prosseguir.
Por sorte algumas daquelas calamidades anunciadas estão posta definitivamente de lado. Que os medicamentos nos tornem cada vez mais dependentes parece ter sido um erro de análise que os factos vêm desmentindo continuamente. A esperança de vida aumenta, as condições em que se passa a velhice melhoram. Que os alimentos não iam chegar também parece não ser o caminho do apocalipse. O problema é agora e sempre a energia que nos ameaça esse domínio essencial.
Quer dizer que só há uma ameaça à Humanidade, ela própria, que nos prepara um fim bem menos digno. A ambição de todos os homens de esticarem os seus braços até ao infinito, de chegarem com as suas pernas ao insondável, de farejarem os odores do túmulo do universo, de olharem o esplendor das cores inimagináveis, de ouvirem o ribombar do nascimento das estrelas, de falarem com os seres voluptuosos das entranhas universais.
Ao homem não lhe chega estar, contemplar, sentir. Ao homem não lhe chega aquilo que a ambição dos outros já conseguiu, mas ir mais além. Ao homem não lhe chega ser racional, ambiciona que, quanto mais racional for, mais esplendorosas serão as suas construções que, para terem algum valor, terão que comportar dose suficiente de irracionalidade.
De irracionalidade estamos plenamente cheios. A irracionalidade de exigir aos governos, a todos os governos do mundo o máximo de progresso, o máximo gasto de energia e de condenarmos todos os malefícios que esta, aquela, aqueloutra e outra e mais outra e todas as energias directamente ou indirectamente farão ao universo.
Mas por incrível que pareça vemos mais depressa os efeitos indirectos do que os directos. A nossa esperança é que a crise alimentar, que dizem se avizinha, sirva para pensar no que está efectivamente mal e não só para a habitual lamechice nacional de querer virar todas as atenções para os pobres, com uma caridade de meia tigela. A pobreza de espírito está em todos e em especial nos ricos.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana