Ponte de Lima é um concelho rural, dizem.
A ruralidade é um dos valores que devem ser preservados, opinam.
Há que manter a todo o custo as características mais genuínas de uma viver já moribundo, defendem.
De toda a parte surgem recomendações, conselhos, opiniões.
Todos gostam de dar para este peditório virtual. Os de fora porque os santos da sua terra não fazem milagres. Os de cá por uma estranha subserviência que faz com que quase todos pensem igual.
Atribuído brilho a cabeças que descobriram o descoberto, todos querem partilhar esse brilhantismo. Não lhes interessa que se encandeiam com tanta luminosidade, que se deslumbram com tanto esplendor, que não vejam mais que isso, o que está para além da aparência.
Não será que vêm com olhos velhos uma realidade mutante?
Há olhos para ver o futuro. Quem no presente só vê o que nele existe de atávico, também só vê o passado através das visões que dele subsistem, cheias de encanto e beleza e não vê o que no presente se transforma.
Há quem diga que se não devem tirar as ilusões a quem as tem, que elas já são tão poucas. Entendemos que pior que isso é mantê-las.
Vejamos para já dois aspectos da questão: A ocupação profissional e os hábitos de vida dos habitantes do concelho.
Hoje quem vive exclusivamente da agricultura poder-se-á contar pelos dedos da mão em cada lugar. Se não estamos na média nacional, não faltará muito. A diferença estará no trabalho feminino.
Embora entre as camadas mais jovens, para baixo dos quarenta anos, a procura já seja por um emprego fora do meio rural, ainda há bastantes mulheres a trabalhar exclusivamente nesse sector. Mas poucos são os casais que vivem ambos dos rendimentos auferidos na lavoura.
O trabalho masculino é exercido essencialmente em sectores ligados à construção civil, ao comércio e às indústrias tradicionais. Imensa gente que cá habita trabalha fora do concelho e até do País.
As pessoas aproveitam o período pós-laboral, as que podem, e os fins-de-semana, os outros, para irem fazendo alguma lavoura, para terem alguma coisa na horta, terem algum vinho e um pouco de milho para as galinhas. E também para ter a terra bonita que no geral isso nos terá ficado de gerações anteriores mas dificilmente deixaremos às gerações seguintes.
A nossa inserção numa sociedade mercantil está feita, aquilo que é poesia para os olhos de alguns não pode ser imposto como obrigação para os outros. Recuperar e manter um quadro pastoril, agrícola em decadência acelerada não é tarefa para quem não é escravo da terra.
É verdade que as pessoas vão mantendo o que podem por gosto, mas o gosto é algo complexo que se forma ao longo da vida e que se não transfere já elaborado. Quem se transfere são as pessoas.
Os novos procuram os meios urbanos, a libertação das peias familiares, a desvinculação dos trabalhos mais penosos, a construção de uma vida cada vez com menos conexão aos meios naturais e mais integrada num mundo pensado e elaborado pelo homem.
Nos meios rurais ficam os velhos, os quase caquécticos, parcos em relações humanas, resignados e contemplativos, até que os alberguem num asilo, ou os padres lhes mandem a sopa a casa, que do espírito também já eles não sabem tratar.
Esta mudança silenciosa está à vista de quem queira abrir os olhos. Não para ver a paisagem, que essa extasia, mas para passar para além do deslumbramento, para as profundezas da alma, a voracidade da economia, a avidez dos corpos, a concupiscência dos espíritos.
A ruralidade é um dos valores que devem ser preservados, opinam.
Há que manter a todo o custo as características mais genuínas de uma viver já moribundo, defendem.
De toda a parte surgem recomendações, conselhos, opiniões.
Todos gostam de dar para este peditório virtual. Os de fora porque os santos da sua terra não fazem milagres. Os de cá por uma estranha subserviência que faz com que quase todos pensem igual.
Atribuído brilho a cabeças que descobriram o descoberto, todos querem partilhar esse brilhantismo. Não lhes interessa que se encandeiam com tanta luminosidade, que se deslumbram com tanto esplendor, que não vejam mais que isso, o que está para além da aparência.
Não será que vêm com olhos velhos uma realidade mutante?
Há olhos para ver o futuro. Quem no presente só vê o que nele existe de atávico, também só vê o passado através das visões que dele subsistem, cheias de encanto e beleza e não vê o que no presente se transforma.
Há quem diga que se não devem tirar as ilusões a quem as tem, que elas já são tão poucas. Entendemos que pior que isso é mantê-las.
Vejamos para já dois aspectos da questão: A ocupação profissional e os hábitos de vida dos habitantes do concelho.
Hoje quem vive exclusivamente da agricultura poder-se-á contar pelos dedos da mão em cada lugar. Se não estamos na média nacional, não faltará muito. A diferença estará no trabalho feminino.
Embora entre as camadas mais jovens, para baixo dos quarenta anos, a procura já seja por um emprego fora do meio rural, ainda há bastantes mulheres a trabalhar exclusivamente nesse sector. Mas poucos são os casais que vivem ambos dos rendimentos auferidos na lavoura.
O trabalho masculino é exercido essencialmente em sectores ligados à construção civil, ao comércio e às indústrias tradicionais. Imensa gente que cá habita trabalha fora do concelho e até do País.
As pessoas aproveitam o período pós-laboral, as que podem, e os fins-de-semana, os outros, para irem fazendo alguma lavoura, para terem alguma coisa na horta, terem algum vinho e um pouco de milho para as galinhas. E também para ter a terra bonita que no geral isso nos terá ficado de gerações anteriores mas dificilmente deixaremos às gerações seguintes.
A nossa inserção numa sociedade mercantil está feita, aquilo que é poesia para os olhos de alguns não pode ser imposto como obrigação para os outros. Recuperar e manter um quadro pastoril, agrícola em decadência acelerada não é tarefa para quem não é escravo da terra.
É verdade que as pessoas vão mantendo o que podem por gosto, mas o gosto é algo complexo que se forma ao longo da vida e que se não transfere já elaborado. Quem se transfere são as pessoas.
Os novos procuram os meios urbanos, a libertação das peias familiares, a desvinculação dos trabalhos mais penosos, a construção de uma vida cada vez com menos conexão aos meios naturais e mais integrada num mundo pensado e elaborado pelo homem.
Nos meios rurais ficam os velhos, os quase caquécticos, parcos em relações humanas, resignados e contemplativos, até que os alberguem num asilo, ou os padres lhes mandem a sopa a casa, que do espírito também já eles não sabem tratar.
Esta mudança silenciosa está à vista de quem queira abrir os olhos. Não para ver a paisagem, que essa extasia, mas para passar para além do deslumbramento, para as profundezas da alma, a voracidade da economia, a avidez dos corpos, a concupiscência dos espíritos.
2 comentários:
Ponte de Lima poderia ter explorações agrícolas de dimensão média e de tipo familiar (leia-se empresas agrícolas familiares), que empregassem 4 ou 5% da sua população e que se dedicassem a produções tradicionais (o que não significa arcaicas), com modos de produção certificados e circuitos de comercialização específicos.
Seriam apenas 4 ou 5 % da população, o que não é suficiente para atrair as atenções dos políticos, mas seriam mais algumas centenas de empregos, seria um património mantido, valor criado, ambiente preservado, paisagem valorizada e riqueza gerada. Nos dias de hoje agricultura já não tem que significar escravidão, uma exploração agrícola moderna tem preocupações ambientais, de bem-estar animal, mas também de bem-estar e conforto dos seus trabalhadores. Isso seria possível e desejável. Há conhecimento e matéria-prima, falta a vontade e a capacidade de ver um pouco mais longe.
Pedro Santos Vaz
eiravedra.blogspot.com
Concordo. Temos algum contratempo no tempo, no nosso clima, propício à propagação de fungos e outras pragas, e que dificulta a floração. Mas este e haverá outros problemas técnicos que serão resolvidos por gente que saiba da matéria. A maior dificuldade estará na comercialização, que é necessário vender. Se dizem que temos potencialidades para melhor fruta que a de Alcobaça, será mesmo assim competitivo? Tem razão que a agricultura tem que ser rentável. Mas a economia global coloca cá milho ao preço de há vinte anos, quando os factores de produção subiram tantas vezes.
Obrigado pela colaboração.
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