19 março 2009

A Vila mais antiga, uma pia mentira

Daniel Campelo reafirmou no JN de hoje o seu apoio a este slogan que ele próprio lançou há anos. Pelo menos no aspecto formal é uma pia mentira, daquelas a quem o tempo dá laivos de verdade. Como não fez mal a ninguém durante estes anos, só agora as vozes se levantam perante a mentira (pelo menos formal).
Vilas já havia muitos pelo menos desde que os romanos por cá andaram e foram lentamente substituindo a civilização castreja aqui construindo uma ponte, porque a mobilidade era um dos vectores da sua superior civilização. Mas não há vestígios de que aqui tenha existido qualquer povoado significativo, pelo menos na margem esquerda do rio.
Todos os povoados de certa dimensão ficam nas margens direita dos rios, o seu lado mais saudável, mais seguro, que o sol e o inimigo vinham do sul. Mas as povoações criam-se no contexto de uma dada organização estatal ou para-estatal, com uma lógica própria de defesa e distribuição populacional. Não estamos aqui perante um Estado Moderno, historicamente muito mais recente, mas duma soberania nem sempre absoluta, porém organizada.
D. Teresa, auto-proclamada Rainha do Condado Portucalense, achou por bem dar o foral a Ponte de Lima, pequeno burgo cuja dimensão verdadeira em população se desconhece, mas que geograficamente é diminuto. Este foral dá à população aqui residente e a este pequeno burgo direitos pouco vulgares, nomeadamente no trânsito de quem cá se queira deslocar, o que ao tempo era custoso.
O que não resta dúvidas é que, no contexto da criação de mais um Estado, que só viria a ser reconhecido vinte anos depois da outorga do foral, com uma independência só teoricamente dependente do Papado, que o haveria de reconhecer mais tarde, este foi o primeiro acto do género que foi praticado por quem se concedeu poder para tal, a Rainha D. Teresa.
A questão é um pouco estar a discutir se a criança já existe desde a fecundação ou somente com o nascimento, o que pode ser relevante nuns casos mas na maioria não é e em particular para quem espera a criança. Por facilidade de linguagem caímos, cai o Daniel Campelo, nesta pia mentira de em vez de dizer que é o mais antigo foral atribuído na fase de gestação de Portugal a um pequeno território ambicioso, dizer que é o mais antigo de Portugal concedido a um concelho.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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