08 março 2009

Alegremente ensandecido

Em tempos aos velhos era perdoado o seu desfasamento da realidade. Atribuía-se à senilidade esse efeito que assim se reconhecia não depender da vontade humana e ser um facto inultrapassável. Hoje já se prolonga a vida e o nosso estado de alerta em relação à realidade e as falhas dos velhos não são tão perdoáveis.
Há no entanto outro fenómeno que ocorre na velhice e perturba a nossa relação com os outros, não sendo de ordem fisiológica: É o ensandecimento. Este ocorre em pessoas que tiveram um percurso individual perfeitamente demarcável, que foram louvadas pelos seus méritos, mas que repentinamente se vêm incapazes de corresponder ao que a imagem que têm de si mesmos deles pede.
Estas pessoas têm um sentido agudo da realidade. Se forem de esquerda sabem claramente que a política dos últimos anos tem sido eminentemente defensiva, não havendo avanços no sentido dos valores de esquerda. O que essas pessoas não querem reconhecer é que não havia base sólida sobre a qual fosse possível construir uma política de esquerda e mesmo que se fizessem algumas tentativas de avanço seriam facilmente reversíveis.
Perante o descalabro da direita, começa hoje a haver hoje condições para pensar numa politica diferente e mais progressista, mas não se podem dar passos em falso, como aconteceu no tempo de Guterres. É necessário que a esquerda consiga atingir o poder na Europa e consiga afastar Barrosos e quejandos do poder para manter em respeito banqueiros e capitalistas.
Perante isto o poeta ensandecido o que faz: Enfrentar o partido a quem deve muito da sua imagem com pouco contributo próprio. Não vem mal ao mundo se desprezarmos os seres que se deixam ensandecer por falta de actividade intelectual, por se manterem fixados na imagem que um espelho qualquer lhes reflecte, por se acharem animicamente descompensados. Alegre fala só do passado porque acha que este lhe justifica as posições egocêntricas. O meu desprezo para Manuel Alegre.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana