12 janeiro 2010

Se casas não adoptas, parece ser um exagero

Há um grande descuido no uso de linguagem. A riqueza da língua portuguesa reside, diz-se, em que tem muitos termos para significar quase o mesmo. Mas só quase. Normalmente há um termo que se aplicará com mais precisão. A regra deve ser que a linguagem deve ser usada para nos exprimirmos de modo expressivo. E dá possibilidades para dizermos o que queremos sem necessidade de recurso a explicações suplementares, muito menos a interpretações autênticas.
Ao falar temos a pretensão de dizer logo tudo. Partimos do princípio de que o outro tem capacidade de o entender. Há muito iliteracia, mas isso só tem emenda por recurso à leitura atenta e perscrutadora. Falar raso, pelo menor denominador comum, também não é a melhor solução. Desde logo porque retira conotação ao discurso que se segue. De certo modo ao falarmos escolhemos aonde nos queremos encontrar com as pessoas, todas e quaisquer, e não aquelas que eventualmente queremos que nos ouçam.
Falar raso pode ser muito claro, mas é decerto muito pouco. Se a língua nos permite ser mais explícitos, mais expressivos, devemo-lo ser. Não devemos entender isso como um capricho. Por isso eu propus que se procurasse um termo que designasse desde logo o casamento homossexual. E, tendo-se adoptado a linguagem rasa, não se entende não haver adopção.
À união de dois seres, seja de que natureza for, mas que envolva sexo, chama-se casamento, desde que registada na conservatória respectiva. Há muito se deixou de exigir que a adopção fosse feita por casal com marido e mulher, embora se reconheça que essa seria o melhor ambiente em que uma criança poderia ser criada. Mas as contingências da vida nem sempre permitem que assim seja, pelo que, para a adopção, não é relevante o sexo praticado por um casal devidamente registado.
Quaisquer parceiros dum casamento devem ter o direito de se candidatarem, isolada ou solidariamente, à adopção. A adopção em si será um problema para quem for responsável por escrutinar entre os candidatos quem melhores condições forneça. Por mais interpretações autênticas que se dê ao casamento homossexual não há barreiras que possam resistir ao direito a ser considerado candidato à adopção. O problema linguístico subsistirá sempre. Com esta interpretação que vingou não será fácil permanecer esta discriminação.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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