09 janeiro 2010

Não se combate o desemprego com a velha noção de emprego

Há nos dias de hoje na imprensa um certo receio de não ter “razão”. Coloca-se todos os dias a jornalistas e comentadores o problema da linguagem e do ardil que o seu uso indevido pode constituir. Quase todos partem do princípio de que não podem ser acusados de tendenciosos e portanto terão “razão” ao colocarem-se ao lado do pensamento único que assola a imprensa e nivela todos os discursos.
Da forma como muitos assuntos são abordados na comunicação social, com diferenças tão ténues entre a maioria dos participantes, ficamos sem saber porque razões tais intervenientes se colocam em campos opostos. Ficamos com a ideia de que cada qual só se preocupa em provar que sabe manipular melhor a linguagem. Todos são capazes de o fazer a um nível de exigência muito semelhante.
Porém como é evidente as palavras não têm a mesma conotação quando utilizadas por pessoas de campos diferentes. A direita e a esquerda historicamente sempre valorizaram de maneira divergente certos temas que na actualidade parecem convergir. O desemprego sempre foi apresentado pela esquerda com uma calamidade social a banir e pela direita como tema a desvalorizar, apresentando-o como simples fundo de maneio do seu sistema de economia liberal.
A esquerda fez do emprego uma bandeira. A direita fez da camuflagem do desemprego uma exigência. As diferenças atenuaram-se sobremaneira. Hoje o desemprego é um grande hiato utilizado pela direita e pela esquerda da mesma forma alarmista. Se for para levar a sério, se for para manter esta preocupação, esta linguagem ganhará nova conotação, passará a ser usada como pensamento único em qualquer circunstância.
Ainda bem que a direita não mais poderá desvalorizar o desemprego. Todos teremos que o combater de modo permanente. Para isso a direita tem que abandonar a ideia de que dar emprego é uma benesse de rico para com o pobre, ou um direito que o pobre cobra ao rico. O emprego já não vai por aí. Dar emprego é antes uma obrigação da sociedade.
Nem sempre poderemos escolher o emprego. Mas também será bom que não fiquemos agarrados a ele toda a vida. Mesmo com pouco emprego o homem não esquece que a sua luta de libertação da grilheta do trabalho vai continuar. Qualquer dependência terá que ser temporária e funcional. O tempo de trabalho a qualquer preço acabou.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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