20 janeiro 2010

O exemplo negativo do Haiti, de tão mau, pode ser aproveitado como tal

O medo faz regredir um povo a um estado civilizacional anterior. Numa primeira fase o medo paralisa, quem sobreviveu ao drama do Haiti ficou atónito, desorientado. Seguiu-se a anarquia dos procedimentos desconexos. Numa sociedade tão desorganizada como aquela, quem pode mexe-se, procura, tenta sobreviver. A maneira como o faz não é a que nos parece mais adequada, possivelmente, se nos víssemos numa situação semelhante, tentaríamos contribuir para organizar melhor a ajuda à sobrevivência.
No entanto a nossa sociedade é muito desigual. Haveria decerto pessoas capazes de estruturar e liderar formas organizadas de responder a uma catástrofe destas. Mas haveria decerto também quem se furtasse a ser parte do lado positivo da resposta e tenderia a contribuir para participar e mesmo organizar grupos de malfeitores que espalhariam a confusão.
Outrora os laços de vizinhança eram suficientes para dar uma resposta primária a uma catástrofe deste tipo. Hoje muitos desses laços estão perdidos e nas grandes cidades nem sempre se chegaram a criar ou ficam tão só pela organização de grupos juvenis de orientação variada, mas quase sempre pouco virados para a exemplaridade da participação cívica.
As crianças e os jovens são hoje educados fora dos parâmetros do medo que eram brandidos no nosso tempo e ainda bem. No entanto tem que haver uma compensação consciente para essa forma irracional de agir. Os jovens têm que ser educados incentivando a cultura dos sentimentos de partilha, solidariedade, de todos os que ajudem à coesão social.
O medo, o desespero subsequente, são os piores conselheiros. É necessário que tenhamos na nossa mente instrumentos de organização capazes de vencer o medo. Se os não possuímos somos tentados a tentar as respostas mais imediatas, mais à mão, e não nos apercebemos que, ao agir assim, estamos a dificultar a resposta que outros queiram dar. Mas quem é que numa situação desesperada vai confiar em hipotéticas ajudas?

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana