30 janeiro 2010

O comunismo da classe média lusitana

A enfermagem era há largos anos uma profissão com necessidade de pouca formação, sem grande habilitação específica. Qualquer maqueiro no serviço militar podia exercer a profissão depois de o concluir. Depois passou a haver bacharéis e a seguir licenciados. Os velhos enfermeiros fizeram cursos rápidos de actualização e foram reclassificados. Não são doutores, nem meros licenciados mas têm direito ao vencimento destes.
Várias Universidades privadas e Politécnicos públicos dedicaram-se a formar enfermeiros o que deu origem a uma abundância nunca vista. Hoje os serviços públicos já têm enfermeiros em número suficiente. Tornou-se mais difícil o desdobramento de serviço por vários locais em lugares públicos e privados. Os enfermeiros reclamam agora um vencimento maior e progressões mais rápidas com equiparações a que se julgam com direito.
Marx propôs que o tempo fosse pago de igual modo àqueles que tinham que trabalhar para viver. Isso nunca foi aplicado em lado algum, sempre ouve diferenças mesmo nos Países sujeitos a regimes comunistas. A desigualdade formal não era tanta como actualmente em Portugal, mas também não o era no regime de Salazar. As escalas de vencimentos na função pública esticaram, esticaram e não se vê maneira de este processo parar.
Enfermeiros e outras classes profissionais reclamam agora uma igualdade, não já universal, mas entre os licenciados da função pública. Já têm canudo, outros equipararam-nos, todos querem pois ganhar como outros com canudo. O que cada um faz não lhes interessa. E possivelmente haverá outros com trabalhos de menor responsabilidade e que exigem menor dedicação e que são mais bem pagos. Mas os enfermeiros limitam-se a esta velha reivindicação comunista de serem todos pagos pelo mesmo diapasão.
Tudo que seja sindicato de não licenciado não tem hoje qualquer valor. Os partidos ditos de esquerda só se preocupam e apoiam pessoas licenciadas. Para os outros reivindicam apenas o subsídio de desemprego que tanto lhes bastará. Este corte que esta esquerda está a criar é a morte dela mesma. Esta esquerda só se refere à desigualdade entre Banqueiros e trabalhadores manuais de sectores em crise. A desigualdade entre os pobres e esta classe média trabalhadora é escamoteada.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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